Pronunciamento de Paulo Paim em 10/06/2025
Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexão, a partir da obra do psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm, sobre os impactos humanitários dos conflitos armados em curso no mundo, com destaque para o agravamento da miséria, da fome e das mortes entre populações civis, especialmente crianças.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Conflito Bélico,
Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
Direitos Humanos e Minorias:
- Reflexão, a partir da obra do psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm, sobre os impactos humanitários dos conflitos armados em curso no mundo, com destaque para o agravamento da miséria, da fome e das mortes entre populações civis, especialmente crianças.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/06/2025 - Página 13
- Assuntos
- Outros > Conflito Bélico
- Política Social > Proteção Social > Desenvolvimento Social e Combate à Fome
- Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
- Indexação
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- COMENTARIO, EXISTENCIA, GUERRA, INVASÃO TERRITORIAL, RESULTADO, CONFLITO, IDEOLOGIA, NATUREZA POLITICA, DISPUTA, TERRITORIO, PROBLEMA, GRUPO ETNICO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, CONSEQUENCIA, MORTE, DOENÇA, CRIANÇA, AUMENTO, FOME, MUNDO.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Para discursar.) – Sr. Presidente Confúcio Moura e Senador Marcos Astronauta, que está aqui no Plenário, o planeta está num clima de guerra, e esse é o motivo do meu pronunciamento no dia de hoje.
Sr. Presidente Confúcio Moura, Senadores e Senadoras, eu poderia afirmar que o mundo sempre esteve mergulhado em conflitos armados, guerras, disputas de poder e atos de desumanidade, nos quais a fome e a miséria tingiam o cenário com suas cores mais sombrias, mais tristes. Contudo, reafirmo enfaticamente: que tempos vivemos hoje!
A obra do psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm permanece incrivelmente atual, ressoando intensamente no presente e nos debates conjunturais. Ele faleceu. Falecido em 1980, Fromm conduziu seus estudos e análises de forma visceral, em clara crítica à sociedade e à condição humana. Ele afirmou, abro aspas: "Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da raça humana depende de uma [...] [mudança radical no] coração [...] [humano]". Ele escreveu isso em plena Guerra Fria, um período marcado por discussões sobre guerra nuclear, espionagem internacional, golpes de Estado e avanços tecnológicos, como as viagens ao espaço.
Hoje, Presidente e Senador Marcos Pontes, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) e de outras instituições que monitoram os conflitos no planeta, há mais de 50 guerras e confrontos armados em curso no mundo, motivados por disputas territoriais, interesses econômicos, diferenças ideológicas, rivalidades políticas, questões étnicas e religiosas, além da luta por recursos naturais, como petróleo e água. Sublinho aqui a geopolítica. Em várias partes do planeta, vidas são ceifadas em disputas pela posse da água. Esses conflitos geram milhões de refugiados e migrantes não apenas em razão da violência, mas também devido a crises ambientais como enchentes e secas. Destacam-se regiões como – não tem como não citar, nós estamos assistindo – Ucrânia e Rússia, Palestina e Israel, Iêmen, Síria, Gaza, e aí vamos. Poderíamos citar aqui uma dúzia de países africanos, poderíamos falar da Caxemira, disputada por Índia e Paquistão. O número de conflitos flutua ao longo do tempo, conforme surgem novas tensões ou – tão falados, mas não acontecem – acordos de cessar-fogo. Com o desespero e as mortes, vem o quê? A fome e a miséria.
As imagens do Oriente Médio, especialmente na Faixa de Gaza, são estarrecedoras: crianças mortas ou mutiladas, famílias inteiras destruídas. A ONU estima que uma criança morre a cada dez minutos na região. As que sobrevivem enfrentam a ausência, repito aqui, de água potável, alimentos, pão, remédios, medicamentos, sucumbindo e morrendo com a força da fome e a destruição.
Os dados globais são alarmantes. Entre 2019 e 2022, no mundo todo, 12.193 crianças foram mortas em conflitos armados. Vejam: entre 2019 e 2022. E, agora, somente entre outubro de 2023 – outubro – e fevereiro de 2024, na Faixa de Gaza, 12,3 mil crianças perderam a vida – 12,3 mil crianças perderam a vida! Vejam: em praticamente menos de um ano, 12,3 mil crianças perderam a vida, isso sem contabilizar as vítimas de outras faixas etárias. As maiores vítimas, invariavelmente, são crianças, mulheres e idosos.
Senhoras e senhores, os líderes empreendem muitas ações que lhes permitem fingir que estão fazendo algo eficaz para evitar uma catástrofe maior. Não é verdade! É uma luta pelo poder. Conferências intermináveis, resoluções, conversas sobre desarmamento, tudo dá a impressão de que reconhecem os problemas e de que algo está sendo feito para resolvê-los.
Fromm sustenta que nossas consciências foram anestesiadas e que o egoísmo, amplificado por sistemas desiguais, faz com que líderes valorizem mais o sucesso pessoal do que a responsabilidade social. Isso, Sr. Presidente, eu considero muito, muito grave.
A fome afeta milhões em todo o mundo: mais de 800 milhões de pessoas vivem nessa situação. Os conflitos e as guerras estão entre as principais causas. A insegurança alimentar, moderada ou grave, impacta mais de 2,3 bilhões de pessoas – mais de 2,3 bilhões de pessoas no mundo em insegurança alimentar moderada ou grave. Que mundo é este onde apenas uma parcela pequena da população tem acesso a benefícios básicos como saúde, alimentação, moradia e, eu acrescento aqui, trabalho digno?! Nem vou falar de condições de vida decente, nem vou falar aqui da insegurança, da morte permanente pelos conflitos em países onde, aparentemente, não tem guerra. Podemos olhar aqui agora o Brasil mesmo e os Estados Unidos, por exemplo, com os conflitos que estão acontecendo lá agora.
Enfim, ter ou ser, eis a questão. Ter o que não nos pertence, apropriando-nos do alheio, ou ser o que somos, a força vital em ajuda mútua?
Penso que a única saída para a humanidade é o amor pulsando no coração. O amor é a resposta para os problemas da existência humana.
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) – Uma palavra tão pequenininha, Sr. Presidente, resumiria tudo, que é a palavra amor, se fosse entendida, compreendida e vista com tudo aquilo que ela abraça e representa, mas não! Prevalecem o ódio, a violência, o espancamento, o assassinato, o feminicídio, a briga, porque é negro, é branco, é índio, é migrante, é imigrante, como estamos vivendo aí em tantas partes do mundo.
Sr. Presidente, é um resumo que eu fiz aqui, rápido – fiquei nos meus dez minutos.
E agradeço muito a tolerância de V. Exa.