Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação contrária ao Projeto de Lei no. 2234/2025, que dispõe sobre a exploração de jogos e apostas em todo o território nacional, com destaque para a carta de repúdio do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb) sobre o referido projeto.

Autor
Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Religião:
  • Manifestação contrária ao Projeto de Lei no. 2234/2025, que dispõe sobre a exploração de jogos e apostas em todo o território nacional, com destaque para a carta de repúdio do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb) sobre o referido projeto.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2025 - Página 72
Assunto
Outros > Religião
Indexação
  • REPUDIO, LEGALIZAÇÃO, PROJETO DE LEI, JOGO DO BICHO, CASSINO, BINGO, CORRIDA DE CAVALO, APOSTA, MOTIVO, FAVORECIMENTO, LAVAGEM DE DINHEIRO, CRIME ORGANIZADO, CORRUPÇÃO, TRAFICO, DROGA, AUMENTO, VICIO, JOGO DE AZAR.
  • LEITURA, CARTA ABERTA, AUTORIA, CONSELHO, DENOMINAÇÃO, IGREJA EVANGELICA, REPUDIO, PROJETO DE LEI, LEGALIZAÇÃO, JOGO DE AZAR.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Paz e bem, meu querido irmão Senador Carlos Viana, do Estado de Minas Gerais.

    Você sabia que eu sou mineiro também, não é? Eu sou cearense, mas sou mineiro também, porque recebi o título de cidadão de Pedro Leopoldo, ali pertinho de Belo Horizonte, terra do Chico Xavier...

    O SR. PRESIDENTE (Carlos Viana. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG) – Parabéns, muito merecido!

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... e eu fico muito feliz em ser o seu conterrâneo.

    O SR. PRESIDENTE (Carlos Viana. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG) – Minas Gerais fica muito satisfeita de tê-lo como nosso Senador.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Que bom, que bom!

    Muito obrigado, Senador.

    A Senadora Margareth Buzetti acabou de subir à tribuna e falou de humanidade de forma ímpar. Eu fico até um pouco constrangido de falar depois dela, porque ela foi tão assertiva! E falou com o coração. Mas eu vou falar sobre um tema de humanidade também.

    Eu aprendi, Senador Carlos Viana, com os colegas aqui, com a sabedoria de cada um deles, que já estão há muitos anos aqui, que chegam e dizem: "Rapaz, quando um assunto é tocado, chega para a gente e a gente diz: ih!, é porque a coisa não é boa, a coisa vai dar problema". E o assunto em que eu vou tocar aqui hoje é um desses, é um desses que deixa o cidadão de bem constrangido, porque a gente sabe o caminho da tragédia que vai acontecer.

    Nós tivemos a oportunidade aqui, em 2023, de fazer a votação das famigeradas casas de apostas, das bets. O senhor votou contra, eu também, fomos vinte e poucos Senadores, trinta. Eu vou falar uma coisa para vocês: tudo que está acontecendo hoje eu avisei, eu alertei. Você pode pegar nas notas taquigráficas aqui que você vai ver: endividamento, casamento desfeito, famílias devastadas, perda de emprego, porque sai de uma atividade produtiva e vai para os magnatas. E sabe o que mais? Suicídio, que é uma pandemia, Senadora Margareth Buzetti, nos dias de hoje, que parte o coração de qualquer um.

    Nós estamos prestes a ver, esta Casa, pelos rumores que a gente ouve de colegas preocupados – e a sociedade, então, nem se fala –, como a gente diz lá no Nordeste, além da queda que a gente teve com as bets, o coice que será o Senado, a essa altura do campeonato, vir deliberar sobre bingo, cassino e jogo de bicho aqui neste Plenário. Olha, eu vou falar uma coisa para vocês: seria a comprovação de uma maldade, a comprovação de uma falta de mínima sensibilidade, porque a tragédia está exposta, está completamente exposta.

    Eu nunca ouvi falar em suicídio coletivo aqui no Brasil, era um caso lá, outro acolá, e o que a gente está vendo quase semanalmente nas manchetes dos jornais é suicídio coletivo. Mata cachorro, mata irmã, mata mãe, por quê? Por dívidas.

    E às bets vão desde adolescentes até 49 anos, esse é o público-alvo desse grupo econômico, dessa atividade. O cassino, o bingo e jogo do bicho pegam de 49 anos até a velhice.

    Nós não podemos virar o país da jogatina.

    Eu quero parabenizar pelas manifestações que chegam aqui, cada vez com mais força, as entidades da sociedade civil, repudiando que o Senado tenha a audácia de falar nesse assunto neste momento que a gente vive, de uma tragédia humanitária das casas de apostas.

    Eu trago aqui uma carta de repúdio do Cimeb sobre a aprovação da jogatina:

O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb), através da liderança evangélica, vem por meio desta carta [que foi divulgada hoje, falar, exatamente] repudiar qualquer tentativa de aprovação do PL de bingos, cassinos e jogo do bicho pelo Senado Federal, com as seguintes considerações [olha só como também são muito serenos e muito objetivos aqui nesta carta]:

I. Preocupação com os efeitos colaterais, tais como: endividamento da população, vícios relacionados ao jogo, diminuição da atividade econômica com reflexos sobre o emprego em toda a cadeia produtiva;

II. Os impactos devastadores nas famílias, sobretudo aos mais pobres. O vício não é apenas um problema individual, mas social e de políticas públicas, afetando a saúde mental, financeira e até mesmo a segurança familiar;

III. O Brasil enfrenta diversos desafios relacionados à corrupção e à falta de fiscalização em diversos setores, e a legalização dos bingos e jogos de azar abriria ainda mais portas para atividades ilícitas tornando extremamente difícil garantir a transparência e a integridade sobre esse setor. É de conhecimento de todos que a aprovação desse PL [projeto de lei] será instrumento para lavagem de dinheiro do narcotráfico, crime organizado e da corrupção; [ e, por último]

IV. Existe parecer técnico da Polícia Federal, PGR e Sindifisco contrário à aprovação desse PL pelos motivos expostos no item anterior.

Pelo exposto, é que nós líderes evangélicos [e aí eu vou citar o nome deles aqui] entendemos que esse pretenso Projeto de Lei precisa ser rejeitado pelo bem de milhões de brasileiros. Não mediremos esforços para informar aos evangélicos do Brasil, na época das eleições, sobre senadores que votarem a favor dessa barbárie.

Rio de Janeiro, 1º de julho de 2025.

    Na verdade, foi ontem, não é?

    Então, assinam aqui esta carta: Silas Malafaia, Samuel Câmara, Renê Terra Nova, Samuel Ferreira, Abner Ferreira, Robson Rodovalho, César Augusto, Estevam Hernandes, Jorge Linhares, Ezequiel Teixeira, Marco Antônio Peixoto, Marcus Gregório, Jabes Alencar, Abe Huber, Marcos Galdino e Silmar Coelho.

    Esses são os evangélicos.

    Olha só o que aconteceu com a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), que fez uma nota similar, trazendo também outros dados técnicos – e quero obedecer ao tempo, como a minha querida Senadora também obedeceu, então não vou ler hoje, vou deixar para ler na semana que vem. E os espíritas brasileiros, que pouco se manifestam sobre temas legislativos, fizeram uma nota também, muito firme, contra a liberação de bingo, de cassino, da jogatina.

    Então, nós temos as principais religiões do Brasil fazendo uma união nesse sentido e entidades que inclusive não foram citadas aqui, como o Coaf, que também se manifestou, e a Associação dos Delegados da Polícia Federal.

    Nós precisamos, Sr. Presidente... Isso não é tema, isso não é prioridade do povo brasileiro. Isso é prioridade de quem? Interessa a quem? Emprego não gera, já está provado. Já trouxe aqui, dezenas de vezes, os dados. Não gera emprego; pelo contrário, tira emprego da atividade produtiva. O cara que ia comprar um tênis para a filha no dia do aniversário não vai ter dinheiro para isso. O comércio cai. Quem vai levar a família para comer uma pizza no domingo não vai, porque não tem dinheiro. Então, o comércio perde com isso, porque está indo para o pessoal que tem a banca.

    Quem é que ganha? É o turismo que ganha com isso? Não ganha o turismo. A meca da jogatina é Las Vegas. Eu fui três vezes estudar...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... visitar universidades, conversar com pesquisadores... Lá, para você ter uma ideia, 14% de quem visita Las Vegas sabe quem são? São estrangeiros. Aí você diz: "Estrangeiro?". E 86% são americanos. Dos estrangeiros que vão a Las Vegas, desses 14%, só 4% vão jogar. Então, não gera emprego. Se você tem na França, tem em outros países... Quer dizer que vai acordar um espanhol e dizer: "Ó, estou com vontade de jogar hoje, eu vou para o Brasil jogar". Para com isso! Se ele tem do lado dele!

    Então, isso aqui é porta escancarada para lavagem de dinheiro, corrupção, prostituição infantojuvenil – porque, se vem de lá, vem com outros interesses –, tráfico de droga, de arma...

    O Brasil já tem problemas demais, Sr. Presidente. O senhor, como Líder da bancada evangélica no Senado, tenho certeza de que vai trabalhar no sentido de que o Brasil não analise esse tipo...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – O Senado da República, tão contestado pela população, que faça um gesto de humanidade com a população não deliberando, num momento crítico como o que a gente vive, um projeto tão ruim, tão maligno para a população brasileira como esse.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2025 - Página 72