Pronunciamento de Zequinha Marinho em 03/09/2025
Discurso durante a 107ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Preocupação com os impactos da criação de Áreas de Preservação Ambiental – APAs – no Estado do Pará sobre obras estratégicas e sobre a manutenção das atividades produtivas, defendendo o desenvolvimento sustentável aliado à realidade local. Solicitação de audiência pública na CRA para debate com os setores afetados.
- Autor
- Zequinha Marinho (PODEMOS - Podemos/PA)
- Nome completo: José da Cruz Marinho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca },
Infraestrutura,
Meio Ambiente:
- Preocupação com os impactos da criação de Áreas de Preservação Ambiental – APAs – no Estado do Pará sobre obras estratégicas e sobre a manutenção das atividades produtivas, defendendo o desenvolvimento sustentável aliado à realidade local. Solicitação de audiência pública na CRA para debate com os setores afetados.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/09/2025 - Página 58
- Assuntos
- Economia e Desenvolvimento > Agropecuária e Abastecimento { Agricultura , Pecuária , Aquicultura , Pesca }
- Infraestrutura
- Meio Ambiente
- Indexação
-
- PREOCUPAÇÃO, CRIAÇÃO, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, RIO TOCANTINS, ESTADO DO PARA (PA), INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO), RISCOS, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, SUBSISTENCIA, FAMILIA, POSSIBILIDADE, DEFESA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, AUSENCIA, PREJUIZO, PRODUTOR RURAL, SOLICITAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), COMENTARIO, PROBLEMA, ATUAÇÃO, FUNDAÇÃO NACIONAL DOS POVOS INDIGENAS (FUNAI), REGIÃO.
O SR. ZEQUINHA MARINHO (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - PA. Para discursar.) – Muito obrigado, Presidente.
Eu retorno à tribuna da Casa, hoje, nesta quarta-feira, para manifestar minha profunda preocupação com a criação da APA do Paleocanal do Rio Tocantins, bem como da APA e do Monumento Natural do Bico do Papagaio, cujas consultas públicas foram realizadas pelo ICMBio no final do mês passado.
É fundamental que esta Casa e toda a sociedade brasileira compreendam as implicações dessa medida para o desenvolvimento do nosso estado e para a vida de milhares de famílias paraenses. Embora a preservação ambiental seja um valor inquestionável e uma necessidade premente, a forma como essas propostas estão sendo conduzidas e seus potenciais impactos geram grande preocupação para todos nós.
Não podemos ignorar que a criação dessas novas APAs – APA é área de preservação ambiental –, em particular a do Paleocanal do Rio Tocantins, pode ser utilizada como um instrumento para inviabilizar obras estruturantes e essenciais para o desenvolvimento logístico e econômico do nosso Estado do Pará e do Brasil, como, por exemplo, a derrocagem, ou o derrocamento, do Pedral do Lourenço e a plena operação da Hidrovia Araguaia-Tocantins.
O projeto da APA do Paleocanal do Rio Tocantins abrange regiões dos Municípios de Marabá, Itupiranga e Nova Ipixuna, onde se concentram 56 lagos em uma área de 31.736,9 hectares. Apesar de o Pedral do Lourenço não estar dentro do projeto da APA do Paleocanal, é preocupante que essa movimentação tão repentina do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente venha inviabilizar tanto a obra do derrocamento quanto a hidrovia, que prometem, naturalmente, impulsionar o escoamento da produção, reduzir custos e gerar empregos, trazendo prosperidade para toda aquela região.
Já a APA do Bico do Papagaio impacta os Municípios de Marabá, Bom Jesus do Tocantins e São João do Araguaia, todos no meu Estado do Pará. Além deles, serão afetadas as cidades tocantinenses de Esperantina, São Sebastião do Tocantins e Buriti do Tocantins e as cidades maranhenses de São Pedro da Água Branca e Vila Nova dos Martírios. Nós estamos falando de uma área de 96.724,92 hectares.
É crucial, Sr. Presidente, desmistificar a ideia da criação dessas APAs porque, embora no papel pareça compatível com propriedades privadas e atividades agropecuárias, na prática traz uma série de problemas e inseguranças para quem vive e produz na região há décadas. Primeiro, por exemplo, a insegurança fundiária: muitas famílias que ocupam e produzem nessas áreas há gerações não possuem o documento definitivo de suas terras. A criação de uma APA sem o processo prévio e eficaz de regularização fundiária agrava essa insegurança, deixando milhares de produtores à mercê de interpretações e restrições que podem levá-los à perda de suas áreas, isto é, das suas terras.
O que mais nos preocupa também são as restrições produtivas. Em todas essas APAs, são demarcadas as áreas que podem ser de produção, assim como aquelas que devem permanecer intactas, e aí, se tiver algum produtor em algum lugar indevido, esse produtor vai ter que se retirar dali.
Então essas restrições produtivas trazem um problema sério à economia local. Em grande parte, é baseada na pecuária de corte e de leite. As restrições impostas por uma APA, mesmo que flexíveis na teoria, podem inviabilizar essas atividades na prática, comprometendo a subsistência e o futuro de comunidades inteiras que dependem diretamente da terra.
Depois, a falta de diálogo também me preocupa. É inaceitável que um processo de tamanha relevância seja conduzido sem um diálogo verdadeiro e inclusivo com todas as comunidades e associações diretamente afetadas. Relatos que correm hoje naquela região indicam que nem todos foram devidamente consultados, gerando um sentimento de exclusão e também de desconfiança.
Outra coisa que me preocupa é o risco de perda de terras. As exigências e burocracias impostas pelas APAs podem ir além do que já prevê o Código Florestal, colocando em risco a permanência de produtores em suas terras, mesmo aqueles que já cumprem a legislação ambiental vigente.
Quero deixar claro que não somos contra a preservação ambiental. Pelo contrário, defendemos um desenvolvimento sustentável, que concilie a produção com a conservação dos nossos biomas. No entanto, a preservação não pode significar prejuízo para quem já vive e produz na região há décadas, repito, para quem construiu sua vida e sua história naquela terra.
O que falta, nesse processo, é transparência e diálogo verdadeiro com as comunidades. Por isso, estamos solicitando a realização de uma audiência pública, a pedido dos produtores rurais, na Comissão aqui do Senado Federal, a Comissão de Agricultura e de Reforma Agrária, no próximo dia 10 de setembro, e terá como convidados o ICMBio, os Prefeitos e Vereadores de todos os municípios impactados e representantes dos produtores rurais, através dos seus sindicatos rurais.
Recentemente, lá em Marabá, quando os produtores chegaram, o que estava presente lá não tinha nada a ver com o produtor rural. Tínhamos muitos pescadores, muita gente extrativista, menos produtor rural. Produtor rural é quem trabalha, quem produz, quem gera a economia, e esses estão sendo esquecidos de serem consultados. Por isso, estão vindo aqui a Brasília, pelo menos a sua representação, para dizer o que sentem com relação à criação dessas áreas de preservação ambiental.
É preciso ouvir, compreender realidades locais e construir soluções que garantam a proteção ambiental sem penalizar o produtor rural e sem imobilizar ou inviabilizar o desenvolvimento econômico. Não podemos permitir que a burocracia e a falta de sensibilidade social se sobreponham à vida e ao futuro de tanta gente, gente boa, gente que trabalha, gente que produz, gente do bem.
Nós já estamos, digamos assim, preocupados com a questão Funai, que impacta essa região de forma muito profunda. Estamos tentando trabalhar para evitar essa tragédia com a Funai e, de repente, somos surpreendidos com a criação de área de preservação ambiental em região que é região exclusiva de produtores rurais.
Na questão da área de preservação, tem que ter floresta para ser preservada. Não se preserva capim, não se preserva – como se diz lá no meu interior – "braquiarão". A gente precisa fazer isso, mas fazer com muito critério, para evitar as aberrações que a gente vive no Estado do Pará com relação a essas criações, digamos, repentinas, muito românticas, com relação à questão ambiental. Todos nós precisamos trabalhar com o senso da responsabilidade e da sustentabilidade, mas isso não pode inviabilizar a vida, o alimento e a permanência na terra.
Muito obrigado, Presidente.