Discurso durante a 110ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear o Sr. Assis Canuto.

Autor
Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Confúcio Aires Moura
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem, Política Fundiária e Reforma Agrária:
  • Sessão Especial destinada a homenagear o Sr. Assis Canuto.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2025 - Página 18
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Economia e Desenvolvimento > Política Fundiária e Reforma Agrária
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CIDADÃO, ASSIS CANUTO, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, COORDENADOR, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), COLONIZAÇÃO, Reforma Agrária, TERRITORIO FEDERAL DE RONDONIA, ESTADO DE RONDONIA (RO).

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Para discursar.) – Pelo que vi aqui, a maioria dos presentes são da família do Canuto. Quero cumprimentar todos os seus familiares queridos; cumprimentar todos os demais amigos do Assis Canuto que se fazem presentes nesta solenidade, nesta sessão de homenagem a uma figura histórica, lendária do nosso estado; cumprimentar o Sr. Presidente desta sessão, Jaime Bagattoli; o Senador Marcos Rogério, lá do Estado de Rondônia; o Senador Valdir Raupp; os demais presentes; as duas mulheres na mesa: a Sandra Melo, esposa do Bagattoli, e a Sra. Lenita Simões Canuto. Todos sintam-se cumprimentados.

    Eu imaginei que seria... Eu faço muito discurso aqui no Plenário, mas o meu tema é educação. Eu sou médico, mas o meu tema é educação, porque eu acho que, se nós não desenvolvermos a educação, o nosso país não vai se desenvolver, como o Canuto prognosticou aqui. Eu acho que a educação é o fundamento do desenvolvimento real de qualquer país no mundo, e todos os países que prosperaram foi através da educação.

    Eu uso muito o Plenário aqui para falar de educação, mas hoje eu imaginei que falar em uma homenagem fosse a mesma coisa de falar da rotina, do dia a dia aqui, como eu uso aqui o Plenário, mas eu senti muita dificuldade de falar do Assis Canuto. Por exemplo, falar da biografia não precisa, porque, se você abre no Google, na inteligência artificial, você vê todos os detalhezinhos do Canuto. Não precisa eu vir aqui falar que ele nasceu em tal data, nasceu aqui, acolá; disso não vai precisar, porque a gente já sabe. Isso é muito importante.

    Mais fácil seria que, além do Canuto, porque eu sei que nasceu em Goiás, foi para São Paulo, estudou bastante, se arribou para Rondônia, como a gente dizia naquela época, para iniciar uma vida de aventuras... Era mais um jovem aventureiro que tinha tudo para quebrar a cara, porque a gente ia para lá numa aventura mesmo, como ele falou, de sonho e esperança, mas ele não sabia que ia dar certo, ele não sabia que ia morar naquela floresta fechada, com todo o ambiente inóspito e toda aquela dificuldade, como ele relatou aqui tão delicadamente, tão suavemente, de uma maneira tão pacificada.

    O Canuto não fez a mesma epopeia do Rondon. Ele fez quase igual por outras formas. Ele não esticou nenhum cabo telegráfico, ele não atravessou nenhum rio a nado, assim mesmo se justificou pelas suas ações heroicas. Ele falou aqui que andava num teco-teco sem porta... amarrada com uma corda, jogando bolacha com uma carta para os seringueiros extrativistas. Então, isso é uma epopeia, isso não existe, dá um livro maravilhoso contar essas histórias. E aqui um dos meus antecessores falou que ele é um ótimo contador de histórias; no vídeo, o Dr. Amadeu falou que ele é um ótimo contista. Então, acho que ele poderia escrever agora bastante para a gente ver essas histórias escritas e publicadas no Estado de Rondônia.

    Mas será que eu não estou exagerando, gente, com esse meu discurso de dizer que Canuto é um herói vivo? Não. Ele é um herói vivo, de verdade. Por que só herói morto? Ele é um herói vivo. Ele falou aqui e o Bagattoli na introdução explicou muito bem: era um jovem com seu diploma debaixo do braço, que podia ficar perto, lá em São Paulo mesmo; podia ir para o Paraná, onde está a sua família; podia ir para Goiás, onde é a sua origem; ou até ficar lá mesmo por São Paulo, onde ele estudou – muitos colegas estão por lá, onde tudo já era consolidado e certo. Mas, sei lá como, foi puxado por um cabo de aço invisível, tracionado para ir para o Território Federal de Rondônia, que tinha uma população muito pequena, mais concentrada em Guajará e Porto Velho.

    Era um jovem teimoso, rebelde. Essa rebeldia dele é que fez com que ele hoje fosse homenageado, porque ele era realmente um sujeito insurrecto, ele realmente se insurgiu lá na sua família: "Eu vou lá para o Norte!". "O que você vai fazer no Norte?" "Eu vou para o Norte!" E foi para o Norte: "Vou tentar a vida por lá". É como a gente dizia naquele tempo: vou tentar a vida por lá. Como se ali tivesse a sua missão de vida e existência, até como uma profecia – até como uma profecia. E ele lá... Nosso hino fala – talvez seja isso –: "Quando [...] [o] céu se faz moldura". Será que foi isso que puxou Canuto para lá? O céu fazendo moldura?

    Ele chegou lá no Incra, nos anos de chumbo, e ajudou a elaborar um novo mapa geopolítico do território, imaginar coisas, imaginar futuros incertos. E o Incra, naquele tempo, Jaime... Eu cheguei lá, eu era médico recém-formado, ali procurando emprego. Hoje é fácil, hoje o médico... a pessoa está buscando bolsa, o Mais Médicos... A gente vai para o interiorzão, para o sertão com um salariozinho de R$12 mil a R$16 mil.

    Eu falei: "Eu quero morar é num lugar absurdamente isolado". Eu tinha esse sonho na minha cabeça, assim como o Canuto, meio doido. Então vamos entrar para um lugar isolado. E eu fui para lá também quando a cidade não existia! Não existia cidade, assim como o Canuto falou aqui. Não existia cidade. E o Incra era poderoso.

    Onde é que eu fui bater na porta, para procurar emprego de médico? Porque não tinha o Mais Médicos. Em vez de ir ao Governo do estado, cujo Governador do território, naquela ocasião, era o Humberto Guedes, eu fui no Incra. O Incra era poderoso, tinha dinheiro, tinha avião, alugava, tinha movimento, contratava gente. Eu falei: eu vou caçar um emprego lá no Incra. E eu fui lá com o Galvão Modesto, o Galvão Modesto. Esperei lá umas quatro horas, era assim de gente para falar com o homem. Mais importante que o Governador. Canuto também já era lá o figuraço do Incra, naquela ocasião. O Incra tinha dinheiro, tinha estrutura, tinha realmente uma condição excelente, competia com o Governador do estado.

    Canuto é um homem prático, prático. Ele é mais de fazer e usar até as mãos, usar as mãos. Quando a gente pega para fazer uma coisa com as mãos, é difícil você esquecer. É igual médico: a gente aprende a operar cortando. Vai fazendo, vai fazendo, faz uma, faz duas, faz cinquenta, faz mil, aí você fica habilidoso. As mãos ensinam. Ele aprendeu com as mãos, não é mesmo? Então, mesmo assim, chegou à Câmara Federal e foi legislador. Acho que foi por uma circunstância, assim como eu.

    Quem que falou que eu poderia ser Senador, Governador, Deputado? Nunca imaginei essas coisas. Isso é uma circunstância da vida, que vai empurrando a gente; a gente nem sabe por quê, mas vai. E vai, a gente vai andando. E parece que não volta mais atrás. Política é terrível, é um vício horroroso, mas é isso mesmo.

    Eu estou aqui hoje para dourar ainda mais essa biografia do Canuto. Sem espumas, sem papel picado, sem bandas, sem liras, mas para aplaudir com veemência todo o merecimento que devemos a esse cidadão. Ele, do alto da sua simplicidade, avesso a honrarias, deve ficar aqui com uma alegria recolhida, escondida dentro do seu coração, dizendo assim, para ele mesmo: "Mas precisa disso mesmo pra mim?". Não, amigo, aqui está presente o grito do agradecimento à sua pessoa, a exaltação do que você fez sem esperar nenhum louro, nenhuma glória, nenhuma sessão solene para aplaudir de honrarias o exato e o fundo cumprimento do seu dever. Ele foi exato e cumpriu bem o seu dever.

    Não se pode apagar a história, Canuto. Eu o imagino rodando por Rondônia, nos dias atuais, você andando no seu carro, andando por Rondônia ao léu, parando e olhando, encontrando o seu sonho e a realidade do dia a dia, imaginando os seus mapas, sobre os quais você ficava lá debruçado, seus ângulos, seus azimutes, ainda teóricos, para encontrar-se agora num estado prático, bonito, elegante e próspero. Os seus "nuares", que eram os núcleos das suas agrovilas, plantadas no mato, que eu acho que você copiou esse modelo dos kibutz israelenses – com certeza, você fez um estágio, fez uma pós-graduação em Israel –, hoje são cidades lindas. Lá onde era uma agrovilazinha simples hoje é uma cidade bonita. Seus riscos feitos na floresta com seus teodolitos carregados às costas são fazendas, são distritos, são cidades, são campos produtivos. Os pioneiros daquela época compuseram uma mestiçagem do Estado de Rondônia, e é um povo bonito, é um povo misturado. Qual é a genética do rondoniense? É a genética do Brasil. E deixaram um legado maravilhoso em um povo inteligente e trabalhador. O seu sonho, Canuto, se transformou numa realidade inimaginável.

    Essa homenagem aqui é justa e é merecida. Bem que poderia sair daqui com uma medalha de ouro no seu peito, mas, não, você sairá daqui com palavras, palavras espontâneas dos seus amigos, dos seus admiradores, e verdadeiras, de quem lhe conhece e quem lhe admira. Rondônia tem um dever cívico de escrever seu nome no panteão da sua história, ao lado de Rondon, ao lado de Sílvio de Faria, que foi seu chefe, ao lado de Jorge Teixeira de Oliveira e de Jerônimo Santana, como um dos seus construtores mais ilustres.

    Onde andarão os seus mortos pioneiros? Onde andará Vicente Homem, Belisário Coelho, José Viana, Geraldo Jotão, Pedro Kemper, Josino Brito, Lúcia Tereza, Esron Penha de Menezes, Máximo Vilar, Francisco Salles, Vicente de Paula e tantos e tantos e tantos outros, afora os seus colegas de trabalho já desaparecidos? Desçam todos de onde estiverem e venham para cá nos ajudar a aplaudir aquele que vocês conheceram! Venham, almas guerreiras, me ajudem a aplaudir solenemente esse grande brasileiro que é Assis Canuto! Parabéns! Canuto, você merece!

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2025 - Página 18