Pronunciamento de Marcos Rogério em 08/09/2025
Discurso durante a 110ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a homenagear o Sr. Assis Canuto. Relato das dificuldades enfrentadas pelas famílias que iniciaram a ocupação de Rondônia na década de 1970.
- Autor
- Marcos Rogério (PL - Partido Liberal/RO)
- Nome completo: Marcos Rogério da Silva Brito
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Homenagem,
Política Fundiária e Reforma Agrária:
- Sessão Especial destinada a homenagear o Sr. Assis Canuto. Relato das dificuldades enfrentadas pelas famílias que iniciaram a ocupação de Rondônia na década de 1970.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/09/2025 - Página 21
- Assuntos
- Honorífico > Homenagem
- Economia e Desenvolvimento > Política Fundiária e Reforma Agrária
- Matérias referenciadas
- Indexação
-
- SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CIDADÃO, ASSIS CANUTO, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, COORDENADOR, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), COLONIZAÇÃO, Reforma Agrária, TERRITORIO FEDERAL DE RONDONIA, ESTADO DE RONDONIA (RO), EX-DEPUTADO, DEPUTADO FEDERAL.
O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, nobre Senador Jaime Bagattoli, a quem cumprimento pela iniciativa desta importante sessão solene de homenagens.
Cumprimento com muita alegria todos os que compõem a mesa neste momento, de modo especial, o nosso homenageado Assis Canuto. É uma alegria e uma honra ter o Canuto conosco.
Cumprimento a D. Lenita Simões Canuto, que hoje compõe o dispositivo de honra à mesa do Senado Federal, num momento histórico e extremamente cheio de significados, tenho certeza, para a vida e para a trajetória de Canuto, essa trajetória que é construída ao lado da senhora. Então, esta é uma homenagem feita a duas figuras ilustres a que Rondônia tem muita gratidão e respeito pelos feitos no meu Estado de Rondônia. (Palmas.)
Quero cumprimentar a Sandra Melo, nossa Presidente do PL Mulher do meu Estado de Rondônia.
Quero deixar aqui uma saudação de modo muito especial a cada um dos senhores e das senhoras que comparecem a esta sessão de homenagem. São tantas pessoas, muitos que conheço.
Quero fazer um registro especial para a Profa. Antônia. Muito obrigado pela presença. Hoje, eu me senti duplamente homenageado aqui com a presença da Professora e com as falas do Canuto.
Eu tinha feito aqui um esboço, um roteiro para compartilhar nesta sessão de hoje, mas, ouvindo o Canuto aqui, eu estou sendo provocado a abandonar o script, porque eu espero ter a longevidade que o Canuto tem e ainda terá por muito mais tempo, mas com a qualidade da memória que ele tem, do raciocínio que ele tem, com o conhecimento que ele expõe... A sua fala aqui hoje, Canuto... O Senado Federal lhe oferece esta homenagem, este reconhecimento, mas a sua presença aqui e a sua fala aqui é que nos homenageiam, homenageiam o Estado de Rondônia. Você traduziu aqui não apenas uma boa parcela da história do Estado de Rondônia, mas ainda trouxe a visão de quem conheceu Rondônia no seu começo, no como foi concebida, no como foi feita, no como foi construída, edificada cada uma das regiões, e conectou esse passado heroico, histórico, estrutural com uma visão de alguém que está olhando à frente do seu tempo.
E, como você mencionou aqui – é verdadeiro, quero dar testemunho disso –, a exemplo de muitas outras famílias, a minha família foi para a Rondônia dentro desse contexto. Oriunda do Estado do Espírito Santo, ela chegou lá na década de 70 e foi viver no campo, na roça. Na verdade, essa era a sina, esse era o caminho de quem vinha de fora. Eram motivados por um chamado do Estado brasileiro naquele tempo, pois havia um lema que ficou muito conhecido na época: o integrar para não entregar. Era um chamamento feito àquela região do Brasil que precisava ser ocupada, que precisava ser desbravada. E quem colocou ali a disposição de fazer isso acontecer foram pessoas como o Canuto. O Canuto foi o grande nome.
Dias atrás, eu estava numa sessão de homenagens na Assembleia Legislativa, Deputado Alan, que homenageava outro pioneiro no Estado de Rondônia, o Sr. Assis Gurgacz, e a história da Eucatur. No seu livro retratando recortes da história de Rondônia, uma boa parte do livro, Senador Raupp, falava do Assis Canuto.
Era uma empresa que começou a fazer o transporte de passageiros da região do Paraná para o Estado Rondônia, que levava daquela região do Brasil para lá famílias que iam para ocupar a terra, para trabalhar, para produzir. E lá quem é que estava para receber a partir do PIC Ouro Preto? Assis Canuto. Era quem recebia, era quem orientava, era quem encaminhava, dava oportunidade, dava apoio, dava assistência.
E com isso nós começamos... Eu cheguei um pouco depois, eu já nasci em 1978, eu nasci um ano depois que Ji-Paraná se tornou Ji-Paraná, porque em 1977 ela foi emancipada, em 1978 eu nasci, mas essa história já estava em curso, essa construção já estava sendo feita.
Então, quantas famílias foram para lá motivadas por esse chamamento, mas que só tiveram a condição de se estabelecerem e de encaminharem a sua vida porque lá encontraram o Assis Canuto, um homem visionário, destemido, conectado com aquela região? Sabendo também das dificuldades de quem vinha de fora, da desorientação, da falta de acesso, da falta de condição, então, ele encaminha, ele dá oportunidade, ele auxilia, ele ajuda. E foi com essa visão, foi com esse amor ao início daquele estado que Assis Canuto, a exemplo de outros nomes que a gente tem, mas ele foi um pioneiro nesse campo, fez de Rondônia o que Rondônia é hoje.
Ele citou aqui – eu não vou mencionar os municípios – as regiões que passaram a surgir a partir dessa expansão da política de colonização que o Incra fazia à época e que fez nascer a região do Cone Sul de Rondônia, que hoje é uma região das mais valorizadas do ponto de vista da produção, é uma região estratégica para o desenvolvimento econômico do Estado de Rondônia, mas ele não fez isso apenas em Ouro Preto: esteve à frente do Incra em Rondônia, no Acre, fez isso por diversos municípios.
E algo que me chama a atenção... E quem olha para a história hoje, quem olha para o Estado de Rondônia hoje, às vezes, há um tempo, Gonzaga, pudesse dizer: "Mas teve região de Rondônia que foi pensada, que foi colonizada e que, de repente, nem deveria ter sido, porque a terra é fraca, a terra é ruim". E Rondônia tem isso, Rondônia tem regiões diferentes, terras com perfil de solo diferente: você vai à região do Cone Sul, tem uma terra muito forte, muito produtiva; você chega a uma região da 429, já tem uma terra um pouco mista, mais diferente, mas é uma terra também de regiões planas; você vai à região da Grande Ariquemes – estava aqui o Governador Confúcio –, você pega ali Cujubim, você pega lá Rio Crespo, vai ao lado de Machadinho, terra mista, terra fraca. Até pouco tempo atrás, alguém chegava lá: "Mas terra aqui não vale muita coisa", mas, lá atrás, alguém ousou falar: "Não, vamos estabelecer aqui o modelo, vamos trazer para cá o desenvolvimento também", e assim o fez na minha região de Ji-Paraná, com característica também diferente, que é a cidade também do Canuto, só que o tempo passa, muda a cultura produtiva do Estado de Rondônia, avança-se o processo tecnológico, a informação, os instrumentos.
Na época, quando nós chegamos a Rondônia, não tinha estrutura para poder desbravar, não; era na força do braço mesmo, era na força bruta. Meu pai abriu matas no machado, na foice e no machado. Não tinha, como hoje, trator, não tinha essa coisa toda, Miguel. Isso é coisa da modernidade. Na época era na força do braço, era na foice e no machado. Àquela época, a maneira como você preparava o solo para produzir, com as informações que tinha, era fogo. Todo ano era fogo, pasto, né? Chegou a um determinado momento, é fogo para o pasto voltar melhor. Então, era uma cultura, não tinha muita informação, esse negócio de mata ciliar, de encosta, não sei o quê... Não tinha informação, não tinha orientação.
Hoje, a gente vê essa política, essa narrativa que insiste em criminalizar o homem do campo, que é de tratar o homem do campo como criminoso, mas foi nessa época lá de trás que esses bravos brasileiros, abrindo mão de suas cidades, das suas origens com muito mais conforto, foram para lá desbravar. Se Rondônia é o que é hoje, o é em razão de homens como Canuto e aqueles pioneiros que acreditaram no chamado e transformaram Rondônia nesse estado, que é uma potência na produção, produzindo alimento para o Brasil e para o mundo. Muitos são chamados hoje como se fossem criminosos, mas naquele tempo era o que tinha.
Quanto à mudança na cultura de produção – que eu queria dizer aqui –, fez-se a expansão no estado todo. Hoje você tem talvez, sobretudo, a influência de quem produz a soja, que levou para Rondônia a cultura da mecanização, a cultura da correção do solo, e hoje Rondônia não tem terra ruim. Você pode ter terra menos produtiva, porque ainda alguém não ousou inovar e fazer a correção.
Hoje, de ponta a ponta do Estado de Rondônia, nos quatro cantos, o estado produz, produz muito e produz até mais do que aqueles estados que lá atrás foram para nós referência. Aquele estado que era fim de linha hoje não é mais fim de linha, não é mais apenas um corredor logístico e econômico, não. Nós produzimos lá, nós temos um porto lá, nós temos uma estrutura que sai de lá e nós temos o Pacífico logo do lado ali, Miguel, que você tanto falou, hoje tem lá o Porto de Matarani, tem Xancai mais em cima e o corredor logístico da nossa produção saindo por ali. Não somos fim de linha; nós estamos num ponto estratégico para o desenvolvimento daquela região.
Mas isso tudo, esse ambiente de oportunidade, quem criou? Canuto. Canuto foi o grande entusiasta, o grande operador dessa obra que ainda está em construção, evoluindo. Eu não quero ser extensivo aqui, mas o Canuto me trouxe memórias. Por isso é que eu estou buscando falar aqui alguma coisa sem... O Canuto me trouxe memórias da minha infância, porque, quando a minha família chegou ao Estado de Rondônia, a gente não foi morar numa fazenda, não foi morar num lugar com estrutura, não. Nós fomos morar lá no setor Riachuelo. Meu pai passou por 78, 82, depois cresci, já na Linha 86, na divisa com a Funai.
E como é que era a vida lá? – porque: "Ah, o Incra deu terra, deu tudo; então, tinha casa boa, tinha energia elétrica, tinha televisão, tinha tudo". Não tinha nada – não tinha nada. Só tinha o endereço riscado lá. Você vai lá, mete o picadão, faz tudo e tal; o resto é contigo, se vira. E, aí, lá se ia construir uma casa de madeira, tirada da própria mata, da própria floresta, casa cercada de tábua, de lasca de coqueiro – a nossa não era nem de tábua, não; era lasca de coqueiro. Rachava o coqueiro, pregava as lascas, e aquilo era a casa. A cobertura era de tabuinha. E um detalhe: para você rachar a madeira de forma mais fácil, você rachava a madeira mais verde. E você cobria com aquela madeira verde. Aí o sol vinha, no período da seca, e secava tudo. Quando vinha a chuva do ano seguinte, a tabuinha murchava, e aí começava uma operação de guerra dentro de casa. Se a chuva fosse à noite, você tinha que ficar virando a cama para lá e para cá, porque ia pingar dentro de casa e molhar a cama toda. E não era cama de colchão moderno, não. A cama também era feita sobre madeira, com lasca de coqueiro, palha de arroz – outros colocavam até milho. E era desse jeito. Era uma vida simples, sofrida. O piso da casa como é que era? O piso era de terra, mas era chique, era moderno, era colorido. Tinha a cozinha com piso de barro branco, e a sala com piso ecológico. Talvez aqui muitos nem saibam – os mais antigos talvez –, mas como é que era o piso ecológico, Canuto? Era a bosta de boi. E aquilo ia passando com o tempo e ficando um piso aveludado, macio. (Risos.)
Essa era a vida no campo. Era uma vida de simplicidade, era uma vida humilde. Energia? Nem sonhar! Não tinha energia, não. Nas casas em que a modernidade tinha chegado, tinha lá um lampião, que normalmente se colocava no meio da sala para a cozinha, com uma vara estendida. E aí a camisinha ficava em cima, o acendedor ficava em cima, e ele clareava a cozinha e a sala. Para sair à noite, era uma lata. Alguém fazia... Quem vinha da cidade, chegava ao sítio, não conhecia e não sabia, pensava que era uma assombração: alguém saindo com aquela "lamparinona", com um pavio fumegando o caminho. Não tinha, não... Era uma vida sofrida, humilde, mas que nós enfrentamos.
Mas nesse contexto de sofrimento, muitos que tiveram essas oportunidades – João Duarte está aqui, um pioneiro do nosso estado, lá da minha cidade também, e a Tati, obrigado pela presença de vocês –, muitos que chegaram naquela época e que tiveram que enfrentar essa dura realidade não deram conta de ficar, não deram conta de permanecer. Mas, felizmente, muitos ousaram, insistiram e transformaram aquele território inóspito no que é o Estado de Rondônia hoje. Hoje, quem vai ao Estado de Rondônia e olha para aquilo tudo lá transformado não imagina como foi lá atrás. Isso foi graças ao trabalho de homens como Canuto, graças ao trabalho de pioneiros, como foi o caso – e eu humildemente cito aqui – da minha família, que veio de fora, só com um sonho na bagagem, em cima de um caminhão pau de arara.
Então, essa homenagem que hoje é prestada ao Sr. Assis Canuto, um amigo, traduz um pouco da história do Estado de Rondônia, porque a história do Canuto, essa história, Lenita, a história de vocês – não a história do Canuto apenas –, a história de Canuto e Lenita se confunde com a história do desenvolvimento do estado de Rondônia, com o progresso do Estado de Rondônia.
Então, eu queria hoje, aqui, mais do que fazer qualquer outro tipo de manifestação, render homenagens e reconhecimento a esse casal que escolheu Rondônia e fez Rondônia ser o que Rondônia é hoje.
A palavra que eu tenho, como filho daquele estado, como alguém que nasceu lá... Se tudo isso que Canuto fez naquele momento não tivesse acontecido, talvez eu não tivesse nascido lá, talvez a família tivesse ficado no próprio Espírito Santo. Mas foi um trabalho como esse, pioneiro, ousado, acreditando num ideal, que fez com que famílias, como a minha família, saíssem de suas bases no Espírito Santo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e em tantos outros estados e fossem para o nosso estado desenvolver aquele canto do país, que, para mim, hoje, é um dos melhores lugares do mundo para se viver, o meu Estado de Rondônia. Eu tenho amor àquela terra.
Finalizo a minha fala aqui, deixando uma saudação, um abraço a cada um dos familiares – eu conheço muitos. Aqui, em Brasília, tive a alegria de conviver com o Canuto, que foi Ministro ainda no Governo do Presidente Bolsonaro, e sei do orgulho que ele tem da família.
O Canuto aqui, hoje, nos deu uma lição de memória. Além do discurso improvisado, numa extensão e profundidade que nos enchem de orgulho e de emoção, ele passou o olho aqui, mencionando os amigos, mencionando os familiares, falando o nome. Que presente nós temos de ter um brasileiro, um pioneiro como Assis Canuto! Muito obrigado. Rondônia deve muito a você. O Brasil deve muito a você. As contribuições que você deu, no passado, ao Estado de Rondônia têm marcas lá até hoje. Você vem, nessa homenagem hoje, e não apenas lembra o passado, mas também aponta um farol para o futuro de que o Estado de Rondônia precisa para continuar progredindo e dando certo.
Muito obrigado! Rondônia deve muito a você!