Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Avaliação da importância da mobilização pacífica da sociedade civil nas celebrações do Dia da Independência do Brasil, como instrumento de fortalecimento da democracia. Apelo à fraternidade, à ética e à espiritualidade como fundamentos para a superação dos conflitos nacionais, com inspiração na trajetória do Dr. Bezerra de Menezes e nos exemplos de líderes pacifistas da história.

Autor
Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Organização Federativa { Federação Brasileira , Pacto Federativo }:
  • Avaliação da importância da mobilização pacífica da sociedade civil nas celebrações do Dia da Independência do Brasil, como instrumento de fortalecimento da democracia. Apelo à fraternidade, à ética e à espiritualidade como fundamentos para a superação dos conflitos nacionais, com inspiração na trajetória do Dr. Bezerra de Menezes e nos exemplos de líderes pacifistas da história.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2025 - Página 35
Assunto
Organização do Estado > Organização Federativa { Federação Brasileira , Pacto Federativo }
Indexação
  • DESTAQUE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DIA NACIONAL, INDEPENDENCIA, BRASIL, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA, DEFESA, ANISTIA, ACUSADO, TENTATIVA, GOLPE DE ESTADO, DEPREDAÇÃO, EDIFICIO SEDE, PRAÇA DOS TRES PODERES, CRITICA, POLARIZAÇÃO POLITICA.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Paz e bem, meu querido irmão Senador Confúcio Moura; Senador Chico Rodrigues também, que fez um belo pronunciamento; Sras. Senadoras, Srs. Senadores – muitos estão vindo dos seus estados para Brasília de hoje para amanhã –; funcionários desta Casa; assessores; e, sobretudo, brasileiras e brasileiros que nos acompanham nesta tarde de segunda-feira, dia 8 de setembro.

    Já, já, eu vou falar um pouco sobre esta data, emblemática também, mas a de ontem é hors-concours. Ontem nós tivemos uma celebração – eu posso dizer assim – bem forte, de forma pacífica, de forma respeitosa e bonita, por ambos os movimentos: de manhã, o pessoal mais ligado a movimentos sindicais, o Grito dos Excluídos, que fez uma manifestação pacífica também, isso é importante que se diga; e, à tarde, pelo menos na maioria das capitais, onde a gente pôde ver, nas grandes cidades, também um movimento lindo, com as cores do Brasil, brasileiros de todas as idades demonstrando o seu sentimento de amor à pátria. Isso nos traz uma energia, quando a gente vê os brasileiros clamando perdão, quando os brasileiros valorizam uma democracia de verdade, querem isso para os seus filhos e netos.

    Eu tive, Senador Confúcio, a oportunidade de viajar pelo interior do Ceará, desde quinta-feira da semana passada, e foi muito marcante o que eu vi nas prefeituras do interior, a organização das escolas fazendo ali na última hora os ensaios para o Sete de Setembro – é cívico. O senhor, como Governador, participou inúmeras vezes e sabe do carinho com que toda sociedade abraça esse momento do Sete de Setembro.

    Eu tive a oportunidade de ir, ontem, na Praça Portugal, junto com os meus conterrâneos. Tive que sair mais cedo, antes do final do evento, fiquei ali até umas 4h30, corri para o aeroporto e fui o último a embarcar, porque eu tinha que estar aqui hoje. Nós vamos ter a CPMI para ouvir o Ministro Carlos Lupi daqui a pouco, e eu tinha que chegar cedo para me preparar.

    Mas, quando eu estava ali conversando com as pessoas, nem subi no trio, fiquei ali conversando no meio do povo, ouvindo um, ouvindo outro, aí um senhor me puxou e me disse assim: "Mas olha, será que adianta a gente vir mesmo para cá? A gente já vem... Todo mês quase tem manifestação para isso, para aquilo". Aí eu disse: "Olha, uma coisa é certa, o senhor está conversando comigo aqui, olha que oportunidade, estou ouvindo-o e o senhor vai me ouvir; claro que adianta. Isso repercute dentro do Congresso Nacional também, mas, sobretudo, um movimento na sua família, na sua cidade, Afinal de contas, nós somos irmãos, estamos juntos". E eu achei bacana os olhos dele ali – um senhor já de um pouco de idade – se enchendo de esperança, de fé novamente. A gente conversou uns cinco minutos e ele saiu convencido de que é importante a gente, de forma ordeira, pacífica, respeitosa, manter-se mobilizado, que a gente se mantenha mobilizado por aquilo que a gente acredita.

    Ontem, Presidente, eu considero que o espírito da celebração da nossa independência foi no sentido de se conseguir uma anistia para essas pessoas do dia 8 de janeiro. Ontem eu acho que isso tocou profundamente a alma das pessoas. Movimento gigante. Se o senhor vir as imagens ali da Praça Portugal, em Fortaleza... A gente saiu descendo até a Beira-Mar, e você olhava assim, não via o fim. São Paulo, então, nem se fala! Pelas imagens, a gente viu em São Paulo. E eu saí muito energizado para vir aqui cumprir meu dever.

    E, Sr. Presidente, hoje é um dia também muito especial, é um dia em que em algumas capitais brasileiras é feriado hoje. No Estado de Tocantins é dia da padroeira Nossa Senhora da Natividade e hoje é feriado. Em Vitória, no Espírito Santo, também, pelo dia de Nossa Senhora da Vitória, lá. Em São Luís do Maranhão, no Nordeste, Nossa Senhora da Natividade também. E interessante que lá, o que a gente percebe aqui... E, em Curitiba, hoje também é feriado, que é o dia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

    Sr. Presidente, é sobre luz que eu queria falar hoje. Nos últimos dias, eu me recordei, nesta tribuna, da figura de um grande político espiritualista, abolicionista, que é, para mim, um referencial social e político profundo: Dr. Bezerra de Menezes. O senhor estava presidindo a sessão e foi graças à sua abnegação que a gente pôde realizar a sessão naquela sexta-feira, dia 29 de agosto. O Presidente Davi Alcolumbre também foi muito bacana, autorizou, e a gente conseguiu fazer a sessão. E, de lá para cá, eu venho fazendo profundas reflexões. Onde é que nós estamos caminhando? Para onde nós estamos indo? E, estudando um pouco, relembrando até de um filme que eu tive a oportunidade de produzir, do Dr. Bezerra, mas eu fui atrás do material, ele ocupou o cargo de Deputado Geral, com dois mandatos, de 1861 a 1863 e de 1878 a 1881. Ele foi Vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, de 1867 a 1873, quando recebeu, pela sua humanidade e generosidade, o título de Deputado dos Pobres.

    Ao longo do meu mandato, eu tenho buscado inspiração em sua trajetória. Por isso, assumi posições firmes contra a liberação do aborto, a legalização da maconha, das drogas, contra a ampliação do uso de armas de fogo e contra toda forma de corrupção. Ele é cearense, nasceu em Jaguaretama, o Dr. Bezerra de Menezes, mas a vida inteira dele, praticamente, onde ele ficou conhecido nacionalmente foi no Rio de Janeiro.

    No dia 29 de agosto agora, data do seu nascimento, encontrei aqui, saindo do Plenário – já tinha uma reunião marcada; na verdade, o Presidente era o Paim, ele estava presidindo naquele dia, a gente se encontrou aqui e o Paim já o conhecia – o Ulisses Riedel, que é um grande humanista. Eu tive a oportunidade de conhecê-lo e de organizar com ele, ajudar no Fórum Espiritual Mundial, de Fortaleza e de Teresina, isso 20 anos atrás, quando eu nem sonhava em ser político. E foi muito bonito, a ex-Senadora Heloísa Helena foi convidada, o Senador Cristovam Buarque – foi quando eu o conheci também nesse evento –, vários nomes da política brasileira, aquelas lideranças religiosas, espíritas, evangélicos, católicos, budistas. Foi um negócio lindo, o evento foi um negócio bonito. A gente estava aqui, depois fomos conversar no gabinete, trocamos ideias sobre este momento difícil que vive a humanidade, de muita provação, porque a gente está numa fase, nós espíritas, eu sou espírita, eu digo que a gente está numa fase de regeneração, em que o mal está muito se mostrando.

    Muita gente diz que o mundo está de cabeça para baixo, é guerra em todo lugar. Hoje mesmo tivemos mais atentados terroristas lá em Jerusalém, uma série de situações, países se juntando num bloco, possivelmente a queda de um império nós estamos vivenciando, a dos Estados Unidos; a forma de fazer política, às vezes com um pouco de truculência, que você vê ali e acolá, e você precisa ter muita serenidade neste momento para não sair da sua frequência. Às vezes a gente sai, somos humanos.

    Mas, na reflexão do aniversário do Dr. Bezerra, conversando com o Ulisses, eu disse "Olha, eu tenho que dar um salto quântico, está na minha hora". E o Dr. Bezerra, que também é considerado o médico dos pobres, viveu num tempo de intensos embates entre conservadores e liberais, mas sua postura abolicionista sempre foi marcada por ética, fraternidade, espiritualidade e, sobretudo, pela busca da união.

    Sua visão da abolição estava muito ligada à ideia de irmandade universal. Todos os seres humanos, como filhos de Deus, iguais em essência espiritual. Ele entendia, o Dr. Bezerra, que a escravidão era um grave equívoco moral, contrário à lei divina e à evolução espiritual. Diferentemente de abolicionistas combativos, Bezerra se pautava mais pela compreensão, pela persuasão ética e espiritual, evitando ataques pessoais ou denúncias inflamadas contra os defensores da escravidão.

    Procurava sensibilizar corações e consciências, pregando o amor, a dignidade e a justiça. Isso se harmonizava com a sua vida como médico caridoso e como dirigente espírita. Ele buscava construir pontes, não antagonismos.

    Na política imperial, havia, de fato, uma polarização entre o Partido Liberal e o Partido Conservador, escravagista.

    Bezerra de Menezes, no campo liberal, como eu disse e reafirmo desta tribuna, foi abolicionista pela via ética e espiritual, defendendo a irmandade humana e a justiça, sempre com respeito e evitando posturas de conflito. Sua forma de atuação refletia os princípios do espiritismo: ética, fraternidade, diálogo e sensibilidade moral.

    Refletindo nos últimos dias, eu percebi que os grandes líderes da humanidade trilharam sempre o caminho da reconciliação, não da divisão.

    Jesus ensinou o perdão, a tolerância e a compaixão.

    Martin Luther King Jr. enfrentou o racismo sem recorrer à violência.

    Gandhi libertou a Índia pela força da verdade e da paz, o ahimsa.

    Esses exemplos tocaram o meu coração. A vida me levou por caminhos para conhecer bem a vida desses pacifistas, estudar bem, lá atrás. E, ultimamente, tem me vindo muito à tona, neste momento de sombras que a gente está vivendo no planeta. Então, eu acho que a gente tem que buscar esses referenciais.

    Eu sinto nascer dentro de mim uma nova força, Presidente, capaz de inspirar uma verdadeira autotransformação. Por isso o meu pensamento e o meu compromisso estão na espiritualidade, que tem como base a fraternidade universal, que não poderá existir sem, obviamente, que exista justiça neste país, que exista caridade também.

    Eu me lembro do grande educador brasileiro Anísio Teixeira que dizia, abro aspas, "não tenho compromisso com o que eu disse ontem, meu compromisso é com a verdade que descubro hoje".

    A mensagem de Anísio é de uma humildade intelectual, compreendendo que o pensamento deve ser dinâmico, sempre aberto a novas ideias, não sendo prisioneiro de dogmas, nem das próprias afirmações passadas.

    Lembro-me também de Saulo de Tarso, que passou de perseguidor a apóstolo ardoroso após seu encontro com Cristo no caminho de Damasco, tornando-se São Paulo, grande difusor, o maior de todos, da mensagem cristã.

    A partir dessas reflexões, Sr. Presidente, que tenho feito nestes dias, eu decidi então fazer uma revisão sincera da minha trajetória e assumir perante mim e as pessoas que me seguem, que acreditam nessa forma de construção, especialmente a Deus, um compromisso renovado: viver e atuar de forma firme, alinhada ao amor, ao perdão, à compaixão e ao reconhecimento de que todos, inclusive aqueles que parecem equivocados, são meus irmãos. Compreendo que não será com denúncias, ataques e confrontos que iremos criar uma humanidade saudável, mas, sim, com a construção de uma mentalidade de respeito, irmandade, fraternidade e muito amor. É urgente cultivar essa mentalidade também em políticas públicas que promovam a justiça, a caridade, o amor ao próximo, enfrentem a fome e a miséria.

    Percebo a importância da atuação dos partidos, cada um contribuindo com suas percepções para encontrar democraticamente o pensamento da maioria, com valorização do Estado de direito. Vejo que devo atuar com o que me caracteriza em meu íntimo, com meu espírito, com a minha alma, com a minha espiritualidade.

    A gente vê hoje, Sr. Presidente, o Brasil muito dividido. Ontem, nesse evento, eu já estava de saída para o aeroporto, uma multidão ali, e cumprimentando, não dava mais tempo, fui correndo, mas teve um senhor que me parou quase na hora de entrar no carro. E ele chegou e disse para mim outra coisa, um senhor de mais idade, o que me preocupou. Ele disse o seguinte: "Olha, não tem jeito isso aqui. Lembra que Jesus entrou no templo chutando o pau da barraca? Tem que ser assim". Eu disse: "Mas o senhor acha que é por violência que vai se resolver alguma coisa?". Ele disse: "Acho. Não tem jeito com essas pessoas, tem que ser assim". Eu digo: "Olha, o senhor está equivocado".

    E aí, o meu grande erro, falei rapidamente, senão eu ia perder... A nossa equipe está localizando, tem uma foto, na hora que eu estava entrando no carro, pegaram e localizamos a foto para entrar em contato com ele, porque eu acho que tem que conversar, a gente tem que gastar um tempo para conversar, desarmar esse espírito. Não é assim que a gente vai resolver. A conversa tem que ser de ideia para ideia, e não contra pessoas. A gente pode ir contra as ideias, mas respeitando as pessoas. Violência vai trazer o quê? Divisão. Este país não merece, ninguém aguenta mais briga.

    Então, Sr. Presidente, caminhando aqui para o encerramento, eu quero dizer que atuarei com todos os Parlamentares, de todos os partidos, como irmãos. Atuarei na revisão da unidade da vida, da irmandade de todos os seres humanos e procurarei, com humildade e empatia, entender o outro, pela escuta atenta, pela percepção de que podemos estar equivocados em nossas certezas e de que, mesmo estando convencidos em nossas posturas, é essencial o relacionamento respeitoso.

    A história da humanidade tem sido de lutas, com narrativas em que cada parte entende ter razão, mas com consequências de violências, mortes e desumanidade.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Isso precisa ser superado, sim, e não há outra forma de superar senão pela visão espiritual da irmandade de todos os seres e pela atuação concreta e efetiva de apoio mútuo de trabalho fraternal pelo bem-estar de todos.

    É importante defender a democracia, mas uma real democracia que por natureza deve ser ética, com liberdade, com oportunidades reais para todos, conquistas sociais fundadas na cooperação e na solidariedade. A democracia não deve ser vista, não, meramente como uma organização social de disputa, de competitividade e de vitória dos mais fortes, pois isso é uma visão desumana e irracional. A democracia verdadeira, Sr. Presidente, é de uma sociedade em que seus cidadãos se sintam e atuem como em uma irmandade.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É a realização de seres verdadeiramente humanos, sensíveis e comprometidos com o bem-estar de todos. É a democracia da partilha, e não da competição. Que Deus nos guie, nos proteja, nos ilumine e nos conceda forças para nos tornarmos servidores da compaixão, da fraternidade e da solidariedade, o único caminho para a regeneração de nossa humanidade!

    Sr. Presidente, eu lhe agradeço o tempo extra. Realmente isso tem levado à minha reflexão muito forte, e eu vejo que devo atuar com o que me caracteriza no meu íntimo mesmo, sabe? Por que eu vim aqui, com o meu espírito, com a minha alma e com a minha espiritualidade? Esse é o sentimento.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Eu lhe agradeço. Que Deus nos guie! Conto com a sua colaboração. O senhor é uma referência de serenidade, de observação, de reflexão. Estive no seu gabinete algumas vezes falando sobre temas, o senhor sempre muito atencioso, anotando, olhando com a sua equipe. Muito obrigado. Eu acho que a gente aprende uns com os outros, dessa forma, e eu acho que o Brasil está precisando urgentemente dessa coesão. Eu muito me preocupo com alguma coisa mais grave que possa acontecer na nossa nação, pelo sentimento de desespero de algumas pessoas que têm que ganhar, que têm que ser do jeito delas, e as coisas não são bem assim, né? Que Deus possa nos guiar, que Jesus, que é o governador do Brasil, na verdade, do nosso planeta, possa, junto com Ismael, nos levar para caminhos de paz e de harmonia!

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2025 - Página 35