Discurso durante a 114ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 80 anos do Conselho Federal de Medicina - CFM.

Alerta para os desafios impostos pela inteligência artificial e pelas chamadas “tecnologias duras” na prática médica. Defesa do equilíbrio entre avanços tecnológicos e a essência do trabalho médico como prática viva.

Autor
Rogério Carvalho (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: Rogério Carvalho Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Data Comemorativa, Homenagem, Saúde:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 80 anos do Conselho Federal de Medicina - CFM.
Ciência, Tecnologia e Informática, Saúde:
  • Alerta para os desafios impostos pela inteligência artificial e pelas chamadas “tecnologias duras” na prática médica. Defesa do equilíbrio entre avanços tecnológicos e a essência do trabalho médico como prática viva.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2025 - Página 12
Assuntos
Honorífico > Data Comemorativa
Honorífico > Homenagem
Política Social > Saúde
Economia e Desenvolvimento > Ciência, Tecnologia e Informática
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM).
  • PREOCUPAÇÃO, EXPANSÃO, UTILIZAÇÃO, INTELIGENCIA ARTIFICIAL, EXERCICIO PROFISSIONAL, MEDICINA, CATEGORIA PROFISSIONAL, MEDICO.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - SE. Para discursar.) – Obrigado, Sr. Presidente, meus cumprimentos a V. Exa. pela autoria do requerimento. Quero cumprimentar, na pessoa do Dr. Hiran Gallo, todas as autoridades aqui presentes, compondo a mesa de honra. Quero cumprimentar todos os colegas médicos e médicas. Independentemente da função que ocupam, todos, antes de mais nada, são médicos e médicas.

    Primeiramente, para mim, é uma satisfação muito grande estar aqui nesta audiência comemorativa dos 80 anos do Conselho Federal de Medicina.

    A medicina, para nós todos, é um divisor de água nas nossas vidas. Ao ingressar nesta profissão, a gente acaba mudando bastante a nossa perspectiva de vida. Tanto a minha quanto a da maioria daqueles que ingressaram nessa profissão, a perspectiva de vida e os rumos das nossas vidas se transformaram. Ainda é uma profissão extremamente conceituada, respeitada na sociedade, e esse respeito, esse conceito requer de cada um de nós a nossa cooperação para isso.

    Nesse sentido, os conselhos que foram criados por decreto e depois pela lei, de 1957, sancionada pelo Presidente Juscelino Kubitschek, que cria o Conselho Federal de Medicina e os conselhos regionais, foram um passo importante para a gente cumprir essa finalidade, que é proteger a sociedade, como disse muito bem o Dr. Hiran Gallo, e proteger a própria profissão para garantir que ela cumpra os seus desígnios, para garantir que ela seja de fato um instrumento em defesa da vida.

    Eu fico muito feliz de saber que, ao longo da história do Conselho Federal de Medicina e dos conselhos regionais, essa foi, na maior parte do tempo, não em toda a parte do tempo, porque não é fato que em toda a parte do tempo se acerta o tempo todo, mas, na maior parte do tempo, a atuação dessa autarquia especial. Eu quero começar a falar e reivindicar o lugar de instituição pública, porque é uma instituição pública definida por lei, comandada pela própria corporação, mas é uma instituição pública e tem um papel público, uma finalidade pública de garantir o interesse público. O interesse público nada mais é do que garantir que os profissionais tenham uma prática que caminhe no sentido da finalidade maior da profissão, que é a defesa da vida, a proteção à vida, o prolongamento da vida, tudo aquilo que diz respeito à vida.

    Aqui o Senador Nelsinho, da forma como ele sabe fazer, colocou com muita simplicidade, mas com muita profundidade, o desafio que a gente tem para o futuro, que é como lidar com uma captura e quase a transformação de uma tecnologia dura, a prática, o exercício e a produção de diagnóstico...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - SE) – ... a definição de conduta a partir do uso de inteligência artificial e até mesmo da captura de todo o conhecimento sobre a forma de determinadas tecnologias que a gente chama de tecnologias duras.

    Vou concluir, Sr. Presidente, mas só queria concluir esse raciocínio.

    O SR. PRESIDENTE (Dr. Hiran. Bloco Parlamentar Aliança/PP - RR) – Eu lhe dei mais cinco minutos, meu querido amigo.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - SE) – Obrigado, Presidente.

    Então, diante dos desafios que a gente tem no futuro, diante dessas novas formas de captura do trabalho médico, nada vai substituir aquilo que está na dimensão humana.

    Eu, esta semana... Nunca tinha participado de um desfile cívico aqui em Brasília e me chamou a atenção o fato de ver um desfile organizado, um desfile que é quase uma equação matemática, e aquilo empolgava pelo volume e pela demonstração de força, e a gente via uma manifestação dos espectadores em relação ao desfile baseado na força e na organização. É uma forma de gerar, chamar a atenção e produzir algum tipo de emoção. Mas, no momento em que entrou um grupo, já quase no final, tocando instrumentos, com uma música que fala da vida e da história de nós brasileiros, aquilo mudou o tipo de manifestação das pessoas que estavam na avenida. E eu fiquei perguntando: por quê? Se não era muito organizado, se não era uma coisa muito cheia de disciplina, mas tinha algo muito diferente: era cheio de humanidade e de produção subjetiva.

    E ali me veio essa dimensão da matemática pura que estará representada na inteligência artificial, que estará representada nas novas tecnologias, que capturam a essência do trabalho médico, do trabalho em saúde, do trabalho humano de forma geral... Não vai substituir a dimensão transcendental que nós carregamos. E é essa dimensão transcendental... Não estou dizendo com isso que a medicina tem que caminhar para este caminho, mas isso só é possível na interação entre seres humanos e na atuação viva nossa no exercício de uma prática profissional. Portanto, estar vivo, exercer uma profissão com a nossa própria vida, com a nossa própria existência viva e transcendente, fará e continuará fazendo a diferença na cura, no cuidado, ou seja, na materialização de uma prática que vai prolongar, que vai restabelecer a autonomia e que pode curar as pessoas.

    Portanto, não temos como impedir, tampouco parece razoável impedir a evolução das tecnologias, mas elas, com certeza, precisam estar subordinadas ao comando e ao uso dos profissionais enquanto seres vivos que, com sua própria existência, vivem todas as dimensões, inclusive aquela que transcende a própria condição material que nos faz vivo. Que isso seja a essência a ser colocada no dia a dia das nossas profissões e, para isso, a gente precisa alcançar... Concluindo, Sr. Presidente, e agradecendo a V. Exa.. A gente precisa alcançar um grau de equilíbrio, de maturidade e de cooperação entre todos nós, para que a gente vença, preserve e mantenha a força e a importância dessa profissão na sociedade.

    Muito obrigado e parabéns pelos 80 anos. Eu me sinto feliz de fazer parte de uma organização tão importante e tão decisiva para a melhoria da medicina no nosso Brasil.

    Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2025 - Página 12