Pronunciamento de Plínio Valério em 23/09/2025
Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Denúncia de supostos abusos da Polícia Federal em operações nos Municípios de Manicoré-AM e Humaitá-AM, com alegações de crimes ambientais e violência contra comunidades extrativistas, e anúncio de diligência da CDH para apurar os fatos.
Crítica à suposta omissão do Governo Federal no combate ao narcotráfico e alerta para possível favorecimento de grupos estrangeiros com a futura concessão da hidrovia do Rio Madeira.
- Autor
- Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Direitos Humanos e Minorias,
Direitos Individuais e Coletivos,
Meio Ambiente,
Mineração,
Segurança Pública:
- Denúncia de supostos abusos da Polícia Federal em operações nos Municípios de Manicoré-AM e Humaitá-AM, com alegações de crimes ambientais e violência contra comunidades extrativistas, e anúncio de diligência da CDH para apurar os fatos.
-
Governo Federal,
Meio Ambiente,
Mineração,
Relações Internacionais:
- Crítica à suposta omissão do Governo Federal no combate ao narcotráfico e alerta para possível favorecimento de grupos estrangeiros com a futura concessão da hidrovia do Rio Madeira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/09/2025 - Página 53
- Assuntos
- Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
- Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Individuais e Coletivos
- Meio Ambiente
- Infraestrutura > Minas e Energia > Mineração
- Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
- Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
- Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
- Indexação
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- DENUNCIA, ABUSO DE PODER, POLUIÇÃO, CRIME, MEIO AMBIENTE, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MANICORE (AM), HUMAITA (AM), DEFESA, DIREITOS HUMANOS, COMUNIDADE RIBEIRINHA, EMPRESA DE MINERAÇÃO, COMENTARIO, DILIGENCIA, Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
- DENUNCIA, GOVERNO FEDERAL, OMISSÃO, COMBATE, TRAFICO INTERNACIONAL, ENTORPECENTE, CRITICA, PRIVATIZAÇÃO, RIO MADEIRA, ENTREGA, SOBERANIA NACIONAL, RECURSOS MINERAIS, OURO, REGIÃO AMAZONICA, FAVORECIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Rogério Carvalho, Senadoras, Senadores, estou chegando há pouco, agora, do Amazonas – vim direto do aeroporto para cá –, e quero fazer um registro, um agradecimento à Senadora Damares, Presidente da Comissão de Direitos Humanos desta Casa.
Eu fiz um requerimento pedindo que nós da Comissão fizéssemos uma diligência nos Municípios de Manicoré e de Humaitá, aqueles dois municípios que infelizmente foram – eu não quero usar a palavra "estuprados", para não confundirem – massacrados em seus direitos humanos. A Polícia Federal chegou ali e cometeu vários crimes ambientais. Eu mostrei isso aqui, na tribuna, já, com fotografias – infelizmente não pôde ser vídeo, mas fotografias, sim; já mostrei isso aqui. E nós vamos lá, na quinta-feira: a Senadora Damares e eu, com a equipe, vamos lá, na quinta-feira, a Humaitá e, na sexta-feira, a Manicoré, para ver de perto aquilo que eu já sei de longe, porque conheço o sofrimento do meu povo, sofro a humilhação por que o meu povo passa sempre, sei da dificuldade de morar no estado mais rico do Brasil e de viver na pobreza.
Aquilo que a Polícia Federal fez exorbitou tudo, tudo. Uma operação digna de filme de Hollywood. E eu conjecturei aqui e vou conjecturar de novo, porque conheço a nossa realidade e conheço com quem eu estou tratando. Primeiro, são cenas de explosão de flutuantes de famílias que praticam extrativismo mineral há décadas – extrativismo mineral previsto na Constituição, para que cooperativas possam fazê-lo. As migalhas, os gramas extraídos ali por essas famílias – e são até milhares, chega a milhares – só servem mesmo para o mercadinho, para o açougue e para a drogaria. Não sobra para uma bicicleta.
São décadas. Ficam ali no porto da cidade, na frente de todo mundo. Pois a Polícia Federal foi, no caso de Manicoré, e explodiu em série – é filme de Hollywood, explodiu em série –, com helicóptero jogando bomba de gás lacrimogêneo, e aterrorizou a cidade. Senadora Margareth, no dia da padroeira, Nossa Senhora das Dores, dia santo. A procissão sairia duas horas depois. Fizeram num dia santo, num domingo, de propósito, para dizer: "Quem manda aqui somos nós, nós vamos fazer, e não tem quem diga o contrário". Pois tem quem diga o contrário. Este Senador diz, sim; diz e vai continuar dizendo: abuso de poder, crime ambiental.
Destrói com bombas aquilo que é de madeira, e a madeira, que é leve, fica na superfície, o óleo diesel fica na superfície. A madeira pesada, o alumínio e o ferro vão para o leito do rio. E a fumaça, se eu pudesse mostrar – cheguei agora, vim correndo, não trouxe nem a fotografia –, polui o ar. Tudo em nome de proteger o meio ambiente. Cretinice, hipocrisia elevada ao grau maior. Você vai proteger o meio ambiente explodindo, causando fogo, fumaça, óleo diesel.
O que está acontecendo? Aquela comunidade já não pode mais pescar. Eu sei que o grito do meu povo, eu sei que o grito da minha gente não ecoa. Vocês não sentem a dor da minha gente. Podem até sentir dor de alguém que afetou alguma coisa aqui no Sul e no Sudeste, mas nós sofremos, sim, é a nossa realidade.
Por isso é que eu estou aqui, agradecendo à Senadora Damares, que, de pronto, aprovou. E nós vamos lá, Senador Rogério, ver de perto, repito, aquilo que eu sei de longe. Nós vamos in loco, fazer os vídeos, trazer as fotos, que já estão aqui. Cabe muita coisa aí, sim – cabe –, inclusive punir o agente público. A Polícia Federal é um agente público, é um servidor público que cometeu crime ambiental.
Eu vou lhe mostrar, Senadora Margareth, os vídeos e as fotos. São coisas inacreditáveis para o resto do Brasil; para nós, não. E eu sempre quero tachar isso aqui, porque aquele povo é indefeso, não tem arma naquele flutuante, a não ser a faca para cortar o peixe, cortar a carne. Não tem arma. Sabe quem tem arma? O narcotráfico. Sabe quem tem balsa que tira quilos de ouro durante a semana? O narcotráfico. E vocês jamais vão ver helicóptero, fuzil, agente encapuzado combatendo narcotráfico – jamais –, porque: com os humildes, leões; com o narcotráfico, gatinhos. Essa é a nossa realidade.
Eu moro no mesmo estado que, há poucos dias, teve que aceitar – e eu ainda não aceitei – que vendessem uma mina com urânio, nióbio, terras-raras para um grupo chinês.
Eu sou de um estado em que 60% da população vive abaixo da linha da pobreza; eu sou de um estado que é maior do que o Nordeste todo junto; eu sou de um estado que tem todo tipo de minério; eu sou de um estado em que a capital, Manaus, com mais de 2 milhões de habitantes, não tem uma estrada – por via terrestre, não nos permitem ligar ao resto do Brasil. Por isso é que eu agradeço a Deus – de manhã, de tarde e de noite, e da tribuna – por ter me tornado Senador da República, porque aqui, pelo menos, eu posso extravasar, falar, mostrar, denunciar, exigir que nos tratem com decência.
E passo agora por esse tratamento dado aos Municípios de Manicoré e Humaitá. Nós temos um município lá em que o ouro corre normal, o narcotráfico domina, é fronteira com a Colômbia. A Polícia Federal não vai lá. Lá, quando vocês ouvirem falar "destruiu balsa", é mentira! Aquilo não é balsa, aquilo é um flutuante com uma bomba para extrair migalhas, para extrair gramas de ouro.
E eu vou conjecturar num outro aspecto agora. Há poucos dias, o Governo Federal anunciou a privatização do Rio Madeira – privatização do Rio Madeira. A licitação vai vir, a JBS vai ganhar, ou então vai ganhar um grupo chinês. É o mesmo rio onde explodiram esses flutuantes que extraem ouro do leito.
Imaginem só um grupo chinês ganhando a licitação de privatização do Rio Madeira: vão ter que cascavilhar o rio; vão ter que alargar o rio; vão no leito, com dragas modernas que só os chineses têm, e vão encontrar o quê? Aquilo que meus conterrâneos perderam e que extraem – que são migalhas, gramas – eles vão encontrar aos quilos. Ou seja: o Governo Federal está preparando o caminho para poder privatizar, entregar o rio, que tem muito ouro, a um grupo estrangeiro ou à JBS.
Está registrado nos Anais desta Casa o que eu acabo de dizer, e a responsabilidade do que eu disse eu assumo – eu assumo. É conjectura? É, mas eu sei do que estou falando.
Imaginem só um grupo chinês ou a JBS tendo que alargar, trabalhar no leito, dragar o leito do rio. Olhem só: se uma bomba simples vai lá e pega grama, então imaginem uma draga.
E o Rio Madeira é por onde passa todo grão, toda a soja passa por ali. Agora imaginem só nós ribeirinhos pagando pedágio. "Ah, não! Não vai pagar pedágio quem mora lá". Sim, vai sim.
Os rios, para quem não sabe...
Eu encerro o meu discurso.
Para quem não sabe, eu não vou cansar de dizer isto aqui: na Amazônia – entendam vocês do Brasil –, no Amazonas, nós não trafegamos, nós navegamos. Os rios são nossas estradas que nos libertam e que nos levam a outros lugares, porque estrada nós não temos. Nós navegamos, nós não trafegamos. Nós vamos ter que navegar no rio privatizado. Eis aí a nossa realidade. Eis aí, Presidente Rogério, por que eu grito tanto. Eis aí por que eu não me canso de gritar, porque é em defesa de toda uma população.
Senadora Damares, Presidente da Comissão de Direitos Humanos, e eu, da Comissão, iremos a Manicoré, iremos a Humaitá, para ver de perto o que sabemos de longe, para denunciar e para exigir providências; se não vierem, paciência. Eu quero é só cumprir com a minha missão aqui, que é a de defender o estado que me tornou Senador da República, o Estado do Amazonas.
Obrigado, Presidente.