Discurso durante a 130ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa dos trabalhadores do garimpo familiar e das comunidades afetadas por operações ambientais realizadas no Rio Madeira, denunciando a suposta atuação controversa do Greenpeace e do Ministério Público Federal. Avaliação da necessidade de legalizar a atividade extrativista local.

Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Direitos Humanos e Minorias, Economia e Desenvolvimento, Meio Ambiente, Ministério Público, Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública:
  • Defesa dos trabalhadores do garimpo familiar e das comunidades afetadas por operações ambientais realizadas no Rio Madeira, denunciando a suposta atuação controversa do Greenpeace e do Ministério Público Federal. Avaliação da necessidade de legalizar a atividade extrativista local.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2025 - Página 44
Assuntos
Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
Economia e Desenvolvimento
Meio Ambiente
Organização do Estado > Funções Essenciais à Justiça > Ministério Público
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública
Indexação
  • DEFESA, TRABALHADOR, GARIMPEIRO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ENFASE, HUMAITA (AM), MANICORE (AM), MARGEM, RIO MADEIRA, CRITICA, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, DESTRUIÇÃO, DRAGA, CRIME, MEIO AMBIENTE, POLUIÇÃO, VIOLAÇÃO, DIREITOS HUMANOS, MULHER, CRIANÇA, GESTANTE, REGISTRO, DESEMPREGO, CRISE, NATUREZA ECONOMICA, PREJUIZO, PESCA, REPUDIO, GREENPEACE, NOTICIA FALSA, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, PREOCUPAÇÃO, VIGILANCIA, AMBITO INTERNACIONAL, REGIÃO AMAZONICA, AMEAÇA, SOBERANIA NACIONAL.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Chico Rodrigues, primeiro, quero pedir desculpas aos Senadores Marcio Bittar e Girão, por não continuar nesta prosa; merece que a gente fique aqui, que a gente endosse o que os dois falaram. Estou pedindo desculpas porque eu vou mudar o rumo da prosa, também há uma dor que não me machuca só o coração, machuca também a alma. Senador Chico Rodrigues, logo, logo, você vai saber do que eu estou falando.

    Senadoras, Senadores, com a Senadora Damares como Presidente da Comissão de Direitos Humanos, eu pude ver – e aqui um elogio mais uma vez, elogio rasgado à Senadora – que mulher corajosa, que mulher formidável. Nós dois pudemos ver, pessoalmente, a barbaridade perpetrada por órgãos ambientais e pela Polícia Federal na margem do Rio Madeira, em especial nas cidades de Humaitá e Manicoré.

    Já tinha colocado aqui, mostrei fotos, mostrei a situação do que estava acontecendo lá, mas, vendo de perto, Senador Chico Rodrigues, aquelas operações que acontecem em Roraima, que são igualmente covardes, lá no Amazonas foram mais de cem vezes covardes, porque foram também em cima de pessoas pobres, que precisam trabalhar. O avô passou para o pai, que passou para o filho. É o chamado garimpo familiar, é o chamado extrativismo mineral.

    A Defensoria Pública do Amazonas fez o seu papel, que merece elogio, tentando, junto ao Ministro do STJ que deu a ordem... E, diga-se de passagem, como é que isso foi feito, Greenpeace? E daqui a pouco eu falo sobre o Greenpeace, que foi quem acionou o Ministério Público Federal, que, por sua vez, cuidou da ação. O Ministério Público, sempre provocado por alguém, faz a ação. Pena que, quando é provocado por pessoas humildes, não age da mesma forma.

    E a Defensoria Pública continua tentando fazer com que essa operação não se repita até que possamos nós fazer algo por aquela gente.

    Eu vou atropelar, eu não vou mais repetir, eu vou resumir para você, brasileiro, para você, brasileira, para depois entrar nesse tema do Greenpeace. Foram lá, e você está lendo... O Ministério da Justiça distribuiu a informação, e você está lendo na Folha, no O Globo, está vendo em todos os lugares, e dão conta de que foram lá destruir dragas. E aí enchem a boca quando dizem dragas.

    Há pouco mesmo uma repórter me pediu para falar sobre as dragas destruídas. Olha as dragas destruídas aqui. São pequenas casas flutuantes, pequenas casas flutuantes que abrigam famílias – elas moram aqui. Elas extraem o ouro com uma mangueira de cinco bitolas, uma mangueira que não afeta. Eles chamam de dragas porque têm isso aqui improvisado de madeira, é uma espécie de guindaste, improvisado de madeira, bem aqui, vocês podem ver, de madeira, improvisado com madeira, com prego, isso aqui.

    Normalmente, essa casa de que eu estou falando – casa porque serve de moradia para as famílias –, tem 5m de largura por 10m de comprimento. Algumas delas são maiores e, nas que são maiores, eles fazem um mezanino e a família dorme ali; nessas menores elas dormem em rede mesmo.

    A operação foi lá, tocou fogo, mais de 1.500 bombas – 1.500 bombas! –, mais do que isso, para explodir o que eles chamam de dragas, o que na verdade não é, é pura mentira, é hipocrisia.

    Fumaça no ar, óleo diesel na superfície do rio e todo o material, motor, inclusive mercúrio, aquela quantidade de mercúrio pequena toda foi para o fundo, as baterias que eles usam para mexer com isso também foram para o fundo. Então, crimes ambientais de todas as dimensões e direitos humanos totalmente desrespeitados.

    Meu caro Chico Rodrigues, nós fomos juntos a Pari-Cachoeira, na CPI das ONGs, estivemos juntos lá com os índios parecis no Mato Grosso, acompanhando índios tutelados, índios não tutelados. Dói! Dói!

    A população atingida foi nos receber lá no porto – a gente chegou de avião e foi ao Porto. Mulheres com crianças perguntando para mim se eu tinha uma solução, o que ela ia fazer com a criança. E tem relato de mulher grávida dentro desse flutuante, dentro da residência – aquilo é residência – a quem o soldado encapuzado disse: "olha, sai, sai, sai, vaza, senão vai ter que sair daqui nadando" –; mulher grávida com criança!

    Crianças traumatizadas – e no interior não tem essa coisa de terapia psicológica, é difícil, é raro –, crianças que ainda choram para ir para a escola perguntando para a professora se a polícia volta para matar o pai, para matar a mãe. Crianças, gestantes, mulheres, trabalhadores.

    E agora são mais de mil que não sabem o que fazer. E para quem não sabe, para quem acha que isso aqui não tem importância, esse comércio, essa extração de gramas de ouro gera no comércio empregos: Manicoré, 3 mil empregos; Humaitá, 4 mil empregos. Já estão demitindo. O açougue vai deixar de receber, a farmácia vai deixar de receber, o mercadinho vai deixar de receber. Estou falando de economia, estou falando de um modo de vida, eu estou falando do que gera essa cadeia toda.

    Colônia de pescadores apavorados, e os pescadores estão apavorados por quê? Imaginem só o que é o som na água de mais de 1,5 mil bombas. O peixe sumiu, o peixe se escondeu. Então, as pessoas já não estão mais conseguindo pescar, sem contar aqueles que morreram.

    Documentos, documentos da família foram perdidos – documentos perdidos da família. Quem ousou pedir, quem ousou se humilhar para um guarda, para um soldado daquele para que pudesse tirar seus pertences da casa explodida foi atirado com bala de borracha.

    O que a gente viu ali, Senador Chico Rodrigues, é um negócio surreal, coisa de Apocalypse Now, e a gente só vê as notas exaltando a Polícia Federal, que, de forma covarde, foi lá e destruiu balsas.

    Eu já disse mil vezes: vocês estão mentindo para o Brasil, vocês estão mentindo, vocês que no jornal fazem isso, que na televisão fazem isso. Vocês estão querendo endeusar policiais covardes, que não têm coragem de enfrentar dragas. A draga, sim! Brasileiro, a draga, sim, a draga é uma coisa grande de 3 milhões, 5 milhões – é o que ela vale –, que extrai um quilo de ouro numa semana brincando. Mas lá essa operação não vai, e sabe por quê? Porque vão ser recebidos a bala.

    Esses pobres humildes que estavam ali no porto para participar da festa de Manicoré, festa da padroeira... também teve a violação do direito de cultuar, do direito de praticar religião. Eles foram impedidos da procissão, foram impedidos de ir à missa. Então, o que vocês imaginarem foi praticado ali.

    E por que eu falei do Greenpeace? O Greenpeace outro dia foi multado, já sofreu condenações por denúncias falsas e por ações preparadas para conseguir repercussão internacional – eles são muito bons nisso. Foi assim com a evasão da JBS, agora em abril, quando as ações da JBS passaram a ser cotadas na Bolsa do Nova Iorque. Olha só o interesse nisso. A Justiça norte-americana já havia condenado o Greenpeace em R$660 milhões por tentar impedir a construção de um oleoduto, usando, como diz a sentença judicial, invasão de propriedade. Pois é, Greenpeace... O Greenpeace acionou o Ministério Público Federal. Sabe como? Eles têm um instrumento moderníssimo chamado Papa Alpha, meu bom Seif. Eles monitoram, agora, a Amazônia neste momento, em tempo real. Já é grave isso.

    E aqueles hipócritas que estão sentindo que a nossa soberania nacional está ameaçada pelas medidas lá, pelo tarifaço...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... são os mesmos que querem endeusar essa operação. Neste momento, o Greenpeace está monitorando a Amazônia através de um instrumento chamado Papa Alpha. Quando eles veem um garimpo – e eles monitoram –, aí eles mentem para o Ministério Público Federal, que, de forma submissa, inicia essa ação, que vai culminar com essa tragédia toda que a gente está presenciando.

    Srs. Senadores e Sras. Senadoras, o resultado dessa operação, como podemos constatar, foi mais trágico do que o que se usa lá. Eu ouso dizer que a contaminação causada pelas bombas e pelo fogo prejudica muito mais do que esses aí, em dez anos de prática desse extrativismo. Dez anos de prática desse extrativismo não poluiria tanto quanto poluiu agora...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... com essa operação.

    Eu peço uns minutos, Presidente, porque realmente eu preciso tentar fazer com que o Brasil entenda que está sendo enganado.

    E aí a gente voltaria para as ONGs, que aparelharam as redações, que aparelharam as televisões, que aparelharam parte do Ministério Público Federal, que aparelharam parte do Judiciário, que aparelharam o Ibama, que aparelharam a Funai. Aí se voltaria para isso tudo. Então nós estamos lidando com narrativas fortíssimas, porque encontram respaldo na grande imprensa, ou pelo menos se considera grande imprensa. O prejuízo deixado ali nos humilha a todos. Ele dói, mas dói mesmo. Eu vi a Senadora Damares chorar, às vezes falando, e tremer de tanta indignação. E não seria diferente, Senador, se o senhor estivesse lá. O senhor igualmente estaria indignado, tanto quanto nós.

    Então, resumindo...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – O relatório vai ser feito pela Comissão de Direitos Humanos e vai ser levado às autoridades brasileiras e às autoridades internacionais.

    Paralelo a isso, já me reuni com os geólogos hoje para ver de que forma a gente pode legalizar isso. E há uma forma, sim, de poder legalizar aquela gente, que atrás já foi legalizada. Mas com essa coisa maluca de mudanças climáticas, de que "o mundo vai acabar se a Amazônia desmatar 10%"... E aí é outro problema, o de jogar sobre os nossos ombros, em cima dos nossos ombros, a responsabilidade de salvar o planeta. Esse pessoal é tão hipócrita que não leva em conta que a Amazônia é só 1% de todo o território do planeta. Como é que 1% vai salvar 99%?

    Eles não dizem que os industrializados deles lá são culpados pela poluição, porque eles consomem muito mais do que nós, eles comem muito mais do que nós...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... eles luxam muito mais do que nós. E tudo isso precisa de energia, e tudo isso gera lixo.

    Eu estou misturando a coisa para que vocês entendam um pouco do que a gente viu, do que a gente prega aqui.

    Encerrando o discurso, Sr. Presidente, são pessoas que pegaram o ônibus certo, mas não sabem onde descer, não sabem qual é a parada, não têm limite. Se eles não têm limite, eu tenho que me colocar no meu papel de Senador da República Federativa do Brasil – olhem só como eu enchi a boca: Senador da República Federativa do Brasil –, uma vez que eu sou 81 de 220 milhões, uma vez que eu estou aqui para defender aqueles que precisam de defesa.

    Eu não vim aqui me defender quando as ONGs me atacam, quando levam processo para o Conselho de Ética, quando vão à PGR me atacar. Eu não estou aqui para me defender nem um minuto só. Eu vim aqui para defender o Amazonas, e é isso que eu vou continuar...

(Interrupção do som.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Não importa se me atendem ou não, mas vão ter que saber sempre jogar na cara de vocês a verdade contra a mentira, a verdade contra a hipocrisia.

    Vocês podem ter um pecador aqui, mas que fala a verdade, e vocês preferem entender um santo hipócrita, pessoas que se dizem santas, mas são hipócritas e mentem para vocês.

    Posso ser pecador, sim; posso ofender, sim; mas falo aqui a verdade. E a verdade me diz que essa operação foi um flagelo, foi uma atrocidade, e alguém tem que pagar por isso.

    E o Ministério Público Federal, infelizmente, é mandado, é guindado pelo Greenpeace que, neste momento, está vigiando os meus conterrâneos lá.

    Quando eu for pescar agora, eu vou saber que tipo de instrumento é esse. Se pudessem me enxergar, os dedos da minha mão seriam usados sempre para essas imagens que captam na Amazônia.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2025 - Página 44