Pronunciamento de Chico Rodrigues em 13/10/2025
Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comemoração do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, com destaque para os papéis desempenhados pelas diplomacias brasileira e norte-americana. Expectativa de esforços da comunidade internacional para a reconstrução da infraestrutura do território e para o estabelecimento de uma paz duradoura na região.
- Autor
- Chico Rodrigues (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco de Assis Rodrigues
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Assuntos Internacionais,
Conflito Bélico,
Direitos Humanos e Minorias,
Relações Internacionais:
- Comemoração do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, com destaque para os papéis desempenhados pelas diplomacias brasileira e norte-americana. Expectativa de esforços da comunidade internacional para a reconstrução da infraestrutura do território e para o estabelecimento de uma paz duradoura na região.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/10/2025 - Página 80
- Assuntos
- Outros > Assuntos Internacionais
- Outros > Conflito Bélico
- Política Social > Proteção Social > Direitos Humanos e Minorias
- Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Relações Internacionais
- Indexação
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- COMEMORAÇÃO, ACORDO, ISRAEL, FAIXA DE GAZA, TROCA, REFEM, PRISIONEIRO, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DONALD TRUMP, NEGOCIAÇÃO, ELOGIO, ITAMARATI (MRE), FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), REPATRIAÇÃO, BRASILEIROS, REGISTRO, RECONSTRUÇÃO.
O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR. Para discursar.) – Sr. Presidente, hoje nós tratamos aqui de um tema que é um tema recorrente, não apenas para a população brasileira, que de uma forma transversal também sofreu as consequências, mas para toda a humanidade. Nós tratamos aqui hoje do cessar-fogo em Gaza, o respiro de paz no Oriente Médio e a atuação brasileira.
Vivemos um raro instante em que a diplomacia volta a se sobrepor às armas. É sobre essa nova chance de paz no Oriente Médio que desejo falar. O cessar-fogo anunciado nos últimos dias, fruto de intensas negociações internacionais e da libertação mútua de reféns e prisioneiros, representa um sopro de esperança para israelenses, palestinos e para o mundo.
Após quase dois anos de uma guerra devastadora, o renascimento do diálogo mostra que, mesmo em meio à dor, a humanidade ainda é capaz de buscar um entendimento.
Hoje registramos os primeiros resultados concretos desse acordo. A libertação dos últimos reféns vivos, a soltura de um número expressivo de prisioneiros e a suspensão das hostilidades em caráter preliminar. Que esse seja o início de um processo capaz de levar as negociações a um patamar mais duradouro e humano!
Para compreender a dimensão deste momento, é necessário um breve olhar histórico. As disputas entre comunidades judaicas e árabes remontam ao século passado e acumulam décadas de tentativas de reconciliação. Iniciativas, como os Acordos de Oslo e outros esforços regionais, buscaram garantir segurança e autodeterminação, mas esbarraram em questões sensíveis, fronteiriças, seguranças, status de territórios sagrados e o retorno de refugiados.
O conflito atual teve início em 7 de outubro de 2023, quando um ataque em território israelense rompeu um frágil equilíbrio e desencadeou uma escalada militar de grandes proporções. Desde então, a região viveu meses de confrontos intensos e perdas humanas severíssimas. Estimativas apontam dezenas de milhares de mortos e deslocados em Gaza, além de vítimas civis e militares em Israel. Esses números simbolizam o sofrimento de famílias e comunidades e impõem a necessidade de equilíbrio e solidariedade.
O recente acordo de troca de prisioneiros e reféns foi possível graças ao esforço diplomático de diversos países. Entre eles, os Estados Unidos tiveram um papel destacado e fundamental. O Presidente Donald Trump participou diretamente das tratativas e dialogou com lideranças regionais, contribuindo para o entendimento que possibilitou o cessar-fogo e um plano de reconstrução pós-conflito. Gestos como esse, de mediação e diálogo, são fundamentais para restabelecer a paz e permitir o acesso humanitário a toda aquela região.
Também merece destaque o papel do Brasil. Desde o início das hostilidades, o Governo brasileiro atuou na proteção de seus cidadãos e no apoio humanitário. A Força Aérea Brasileira realizou operações de repatriação que, em 2023 e 2024, trouxeram centenas de brasileiros de volta ao país, com coordenação do Itamaraty, o nosso Ministério das Relações Exteriores. Esses esforços reforçam a tradição diplomática do Brasil do diálogo, que é de proteger vidas e contribuir para a estabilidade intercontinental.
A comunidade internacional, com destaque para as Nações Unidas, países árabes, potências ocidentais e organizações humanitárias, teve atuação decisiva para viabilizar esse novo capítulo. O momento exige agora a liberação de corredores humanitários, o envio de alimentos, água e medicamentos, e o início da reconstrução física e social de todas aquelas cidades atingidas na Palestina. Ao mesmo tempo, é essencial que se discutam as causas estruturais do conflito e as condições para uma convivência segura e digna entre os povos da região.
Embora distante, o Brasil também sentiu os reflexos dessa guerra.
No plano humanitário, houve cidadãos afetados diretamente e operações de resgate complexas. No econômico, a instabilidade elevou os preços do petróleo e de commodities, afetando custos internos de mercados.
Além disso, a sociedade brasileira reagiu com solidariedade, promovendo campanhas e ações de apoio às vítimas, a prova de que vivemos em um mundo interligado, onde nenhuma nação está imune aos efeitos da guerra.
Sr. Presidente, a celebração desta trégua não pode obscurecer a tragédia que aguarda os repatriados. Com cerca de 90% da população de Gaza forçados a se deslocarem, milhões retornam a uma terra arrasada. Para que reconstruam suas vidas com dignidade, é imperativo que a comunidade internacional articule um plano imediato de reestruturação do território, priorizando a remoção de escombros e explosivos, o reparo urgente da infraestrutura crítica, como água, saneamento e eletricidade, e a construção emergencial de abrigos temporários, mas que venham a ser seguros.
Em um horizonte de médio prazo, o foco deve migrar para a consolidação de uma paz sustentável e a recuperação econômica. Isso requer o estabelecimento de uma governança transitória e técnica, com a participação legítima das comunidades palestinas e a supervisão internacional, para garantir segurança e pleno respeito aos direitos civis, preferencialmente sem a participação de grupos extremistas. Paralelamente, é vital o investimento econômico estratégico em infraestrutura robusta, no fomento ao comércio e na criação e geração de empregos para aqueles desvalidos que ali, na verdade, sonhavam com a paz.
Esses esforços visam restaurar a autonomia e a dignidade da população, revertendo a migração forçada e assegurando que o povo de Gaza possa, de fato, permanecer, reconstruir e prosperar em seu lar. Que esse cessar-fogo não seja apenas uma pausa entre combates, mas o início de um processo político que assegure vidas, garanta acesso a serviços básicos e restabeleça a esperança.
A contribuição de mediadores e instituições internacionais será essencial, desde que norteada pelo respeito ao direito internacional e à proteção dos civis.
Que o exemplo deste esforço coletivo inspire outras regiões do mundo. Que a comunidade internacional siga vigilante, apoiando a reconstrução e consolidando a paz. A história mostra que a reconciliação e prosperidade nascem quando se aposta no diálogo, na empatia e na dignidade humana.
Renovo, por fim, o apelo do Brasil por negociações que priorizem vidas e fortaleçam os mecanismos multilaterais de paz.
Que as vozes que hoje celebram a libertação de entes queridos encontrem, em breve, motivos maiores para celebrar a paz definitiva entre israelenses e palestinos.
Sr. Presidente, este é um dia histórico para a humanidade.
Nós que acompanhamos, desde a madrugada, a entrega desses reféns e que vimos, na verdade, o mundo se manifestar em todas as direções, no sentido de agradecer a Deus pela volta da paz naqueles territórios conflagrados, entendemos que é fundamental – e foi também de uma forma direta, não indireta – a participação do Brasil em proteger muitos daqueles, centenas daqueles que estavam, na verdade, na iminência de perderem suas vidas. E isso não pode ser desconhecido.
Ao mesmo tempo, gostaria de dizer que, apesar de algumas atitudes que o Presidente Donald Trump tem tomado nos últimos tempos em relação a essas pressões econômicas sobre os vários países do mundo, nós vemos agora, talvez, o seu coração abrandar, com ele vendo exatamente a necessidade de repor o seu juízo de valor em relação a determinadas decisões internas dos Estados Unidos, para melhorar o desempenho das nações, para criar uma nova perspectiva de esperança entre os povos, porque, obviamente, países conflagrados pela guerra não somam nada para a sociedade humana; pelo contrário, criam um clima de insegurança permanente, um clima de temor permanente. E nada melhor...
Talvez até pela nossa forma de vida de jamais apontar o dedo para os outros, de jamais procurar nos outros só defeitos, eu acho que é necessário que haja harmonização, que haja entendimento, que haja a compreensão de que os povos devem se unir, de que as nações mais desenvolvidas devem estender a mão para aquelas mais necessitadas, de que a fome não pode continuar como vem hoje, cada vez mais, grassando a vida de dezenas, centenas, milhares de pessoas – hoje, aproximadamente 800 milhões de pessoas passam fome num mundo de 8 bilhões de seres humanos, e isso não é justo, porque, como ser humano, independentemente da sua classe social, da sua raça ou de qualquer situação vital, somos todos iguais perante Deus. Então, os grandes milionários têm o mesmo direito de viver do que aqueles mais humildes, aqueles mais necessitados.
E eu cravo uma frase que vem instantaneamente na cabeça: nada melhor do que o sabor do pão partilhado. Portanto, esse é um sentimento de vida. A gente olha pelo retrovisor do tempo, você vê a sua vida, você vê a sua origem, e esse conceito, esta frase deve ficar na verdade cravada na cabeça e no coração de cada um, inclusive daqueles que são muito resistentes a poder dividir esse pão. Como eu já disse, nada melhor do que o sabor do pão partilhado. As nações hegemônicas têm esse dever, têm essa obrigação de olhar para aquelas que mais precisam e dividir, para que possam na verdade dar a mesma felicidade que foi deixada para a humanidade pelo nosso Deus.
Portanto, esse é um dia histórico para a humanidade, é um daqueles dias históricos para a humanidade. É o fim de um conflito que destruiu mais de 70 mil vidas por nada. Para hoje, haver um acordo; há um acordo, mas as vidas que foram não voltarão mais. Portanto, que seja dado um basta. Que os países, como a Rússia e a Ucrânia, também tenham o mesmo destino de voltar à paz, para que o mundo na verdade possa justificar a sua existência divina.
Então, esse é o meu registro, Sr. Presidente.
Com alegria, nós comemoramos na verdade esse fim dessa guerra entre... (Manifestação de emoção.) Israel e Palestina, num momento em que, nós imaginamos... Quando você perde um ente querido, você, na verdade, quase que destrói a sua alma, mas, quando você perde dezenas, centenas, milhares de entes queridos, você sabe o que aquilo representa no coração de cada uma dessas famílias e – por que não dizer? – de uma nação.
Então, era esse registro que eu gostaria de deixar aqui nesta tarde, Sr. Presidente.
Obrigado.