Pronunciamento de Chico Rodrigues em 21/10/2025
Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Preocupação com o crescimento da ludopatia associada a jogos online e apostas virtuais, segundo estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Comentários sobre a importância do apoio familiar às vítimas e alerta para a necessidade de campanhas educativas e políticas públicas voltadas à prevenção e enfrentamento da dependência.
- Autor
- Chico Rodrigues (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco de Assis Rodrigues
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Assistência Social,
Controle Externo,
Educação,
Fiscalização e Controle da Atividade Econômica,
Regime Geral de Previdência Social,
Saúde Pública:
- Preocupação com o crescimento da ludopatia associada a jogos online e apostas virtuais, segundo estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Comentários sobre a importância do apoio familiar às vítimas e alerta para a necessidade de campanhas educativas e políticas públicas voltadas à prevenção e enfrentamento da dependência.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/10/2025 - Página 32
- Assuntos
- Política Social > Proteção Social > Assistência Social
- Organização do Estado > Fiscalização e Controle > Controle Externo
- Política Social > Educação
- Economia e Desenvolvimento > Fiscalização e Controle da Atividade Econômica
- Política Social > Previdência Social > Regime Geral de Previdência Social
- Política Social > Saúde > Saúde Pública
- Indexação
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- ANALISE, ESTUDO, QUANTIDADE, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP), AUMENTO, OCORRENCIA, APOSTAS ESPORTIVAS, CARACTERIZAÇÃO, DOENÇA, PROBLEMA, SAUDE PUBLICA, RESULTADO, CRESCIMENTO, CONCESSÃO, AUXILIO DOENÇA, VICIO, JOGO DE AZAR.
- ENFASE, IMPORTANCIA, VICIO, FAMILIA, RECUPERAÇÃO, JOGO DE AZAR, DEFESA, EDUCAÇÃO, CRIANÇA, CAMPANHA, ESPAÇO, ATENDIMENTO, ASSISTENCIA PSICOLOGICA, PARCERIA, ESTADO, ESCOLA.
O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR. Para discursar.) – Sr. Presidente Izalci Lucas, Sras. e Srs. Senadores, eu trago hoje a esta tribuna um tema que tem invadido silenciosamente milhões de lares brasileiros: o vício em jogos online e apostas virtuais. O assunto, que já foi objeto de uma importante CPI nesta Casa, a CPI das Bets, continua a exigir reflexão, responsabilidade e ação coletiva. Não se trata aqui de apontar culpados, mas de refletir sobre o impacto humano e familiar desta nova forma de dependência, que cresce em ritmo alarmante e, ao mesmo tempo, quase invisível.
De acordo com um estudo recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cerca de 10,9 milhões de brasileiros fazem uso considerado arriscado de jogos de aposta. Desses, aproximadamente 1,4 milhão já desenvolveu o que a medicina reconhece como transtorno de jogo, com prejuízos emocionais, sociais e financeiros significativos. São números que não podem ser ignorados.
Ainda segundo levantamento divulgado neste ano, o número de benefícios de auxílio-doença concedidos por ludopatia cresceu 2.300% entre junho de 2023 e abril de 2025, alcançando 276 casos registrados apenas nesse intervalo. Isso mostra que o vício deixou de ser um fenômeno isolado: tornou-se uma questão de saúde pública.
Mas, Sras. e Srs. Senadores, mais do que um problema econômico ou clínico, o vício em jogos é uma doença silenciosa da alma. Diferente do álcool ou das drogas, ele não deixa cheiro, não embriaga o olhar. Muitas vezes, quem sofre sorri, trabalha, conversa, aparenta normalidade – e é justamente nesse disfarce que mora o perigo. Quantas famílias, sem saber, convivem com entes queridos que enfrentam o tormento da dependência dos jogos, consumindo, pouco a pouco, sua tranquilidade, sua esperança e a sua dignidade?
É sobre as famílias que quero me deter, porque nelas reside talvez a maior força de recuperação e prevenção dessa epidemia moderna que são os jogos de azar. Quando um pai pergunta, quando uma mãe escuta, quando um irmão estende a mão, algo muda. Uma conversa pode interromper um ciclo, um abraço pode salvar uma vida. As famílias precisam falar abertamente sobre o tema, sem preconceito e sem moralismo. Precisam compreender que o vício em jogos online não escolhe classe social, faixa etária ou formação acadêmica. Ele enfeitiça, hipnotiza, convence a pessoa de que a próxima aposta será a redenção, e é nessa ilusão que muitos perdem tudo: dinheiro, emprego, relações e, por fim, se perdem, a si mesmos.
Apoio familiar não significa apenas vigiar, significa acolher, educar, estabelecer limites, mas acima de tudo oferecer segurança. É criar dentro de casa um ambiente em que o diálogo seja constante, e o julgamento, ausente. É ensinar as crianças, desde cedo, que o jogo pode ser perigoso e escalar para perdas irreparáveis.
Sras. e Srs. Senadores e aqueles que nos assistem neste momento, dados recentes indicam que mais de 82% dos brasileiros têm algum contato com jogos digitais, e entre eles as plataformas de apostas aparecem com força cada dia mais crescente. Esse universo virtual tão acessível e atraente precisa ser enfrentado com educação, afeto e políticas públicas que deem suportes permanentes às famílias.
Por isso, faço um apelo: que possamos construir juntos campanhas educativas, espaços de atendimento psicológico, grupos de apoio comunitário e parcerias entre Estado, escolas e famílias. Que o tema seja tratado com a seriedade que merece, mas também com a compaixão e a esperança que podem resgatar dezenas, centenas, milhares de vidas.
O jogo em si não é o inimigo; existe há séculos, faz parte da cultura humana. O problema nasce quando o jogo deixa de ser lazer e passa a ser uma fuga do ser humano, quando o prazer se transforma em prisão, e é aí que o poder da família, da comunidade e do diálogo precisa se sobrepor ao poder do vício.
Reforço, portanto, que este não é um discurso de acusação, mas de alerta e acolhimento, porque o combate à ludopatia começa dentro de casa. E o amor, este sim, é o antídoto mais poderoso contra essa dependência, que, cada vez mais, se expande no nosso país.
Portanto, Sr. Presidente Izalci Lucas, meus colegas Senadores e Senadoras que nos assistem neste momento, e aqueles que obviamente têm este inimigo silencioso em casa, nas suas famílias, nós fazemos aqui um grito de alerta. Este pronunciamento eu torço para que seja uma caixa de ressonância para toda a sociedade brasileira, porque o problema vem se agravando dia após dia. Garotos, jovens, adolescentes, pessoas na ponta da linha da idade, os mais velhos passaram a fazer, realmente, desses jogos um motivo de prazer que nunca chega. E, com isso, os conflitos, a desarmonia, os desentendimentos, chegando muitas vezes até o suicídio.
Portanto, repito, o jogo não é o inimigo, mas sim as ciladas que são montadas nesses jogos, que atualmente estão aí espalhados em todos os nossos momentos da vida. O celular, praticamente, hoje é o grande receptáculo que faz com que as pessoas se entretenham, vamos dizer assim, passando o tempo, muitas vezes sendo conduzidas ao abismo.
Gostaria de deixar esse registro aqui, nesta tarde de terça-feira, para que todos os brasileiros e brasileiras tenham cuidado no uso desses jogos que, cada vez mais, transformam a vida das pessoas – daqueles que mergulham nessa atividade – em um inferno.
Portanto, que Deus abençoe a cada um e que haja um processo de desvio natural em campanhas públicas municipais, estaduais, federais, para que realmente não possa, em mais um vício, envolver a população brasileira.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
E que este pronunciamento seja divulgado em todos os veículos de comunicação da Casa.