Pronunciamento de Zenaide Maia em 22/10/2025
Discurso durante a 150ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a celebrar e promover o lançamento do programa “ZAP DELAS - Senado”. Destaque para a violência política sofrida pelas mulheres nas Casas Legislativas, mencionando a luta pela manutenção da cota de 30% em candidaturas. Defesa do investimento na educação pública de qualidade como combate estrutural à miséria, ao crime e à dependência econômica que impede a denúncia de violência
- Autor
- Zenaide Maia (PSD - Partido Social Democrático/RN)
- Nome completo: Zenaide Maia Calado Pereira dos Santos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Direitos Políticos,
Educação,
Homenagem,
Mulheres:
- Sessão Especial destinada a celebrar e promover o lançamento do programa “ZAP DELAS - Senado”. Destaque para a violência política sofrida pelas mulheres nas Casas Legislativas, mencionando a luta pela manutenção da cota de 30% em candidaturas. Defesa do investimento na educação pública de qualidade como combate estrutural à miséria, ao crime e à dependência econômica que impede a denúncia de violência
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/10/2025 - Página 21
- Assuntos
- Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Políticos
- Política Social > Educação
- Honorífico > Homenagem
- Política Social > Proteção Social > Mulheres
- Matérias referenciadas
- Indexação
-
- SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, LANÇAMENTO, PROGRAMA, MIDIA SOCIAL, DENUNCIA, VIOLENCIA, NATUREZA POLITICA, VITIMA, MULHER, DESTAQUE, LEGISLATIVO, IMPORTANCIA, MANUTENÇÃO, COTA, DEFESA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, REDUÇÃO, POBREZA, DEPENDENCIA ECONOMICA.
A SRA. ZENAIDE MAIA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSD - RN. Para discursar.) – Bom dia a todas e a todos aqui presentes.
Quero aqui cumprimentar a nossa Procuradora Especial da Mulher no Senado, a Senadora Augusta; quero cumprimentar a minha colega também, Senadora Jussara Lima; a Senadora Teresa Leitão; e cumprimentar também, representando a Ministra de Estado das Mulheres, Ellen Costa; a Edilene Lobo, que teve que sair, mas veio nos prestigiar, Tribunal Superior Eleitoral tem tudo a ver com nos ajudar no caso da violência política; a Deputada Estadual e Procuradora Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Juliana Lucena; todas as demais Procuradoras que estejam aqui presentes; e a Procuradora Regional da República, Dra. Raquel Branquinho Pimenta Mamede Nascimento.
Quero parabenizar por este evento, parabenizar a nossa Senadora Augusta, porque ela tem um olhar, sim... A gente sai de um cargo e quem entra tem que ter a consciência de que é sempre possível fazer mais. A gente avançou nessas políticas de denúncias, de tudo, e Augusta se lembrou dessas. O Zap Delas é mais um equipamento para as mulheres terem coragem e denunciarem principalmente a violência política, a violência como um todo, que é política.
Eu queria dizer aqui a todos que estão nos assistindo, TV Senado, Rádio Senado, Agência Senado e todas as mulheres deste país, que nós sofremos violência inclusive nessas Casas. Aqui nós terminamos de barrar um Código Eleitoral que queria tirar os 30% no mínimo de obrigatoriedade de candidaturas femininas e de financiamento dessas candidaturas, que não foram dados pelo Congresso Nacional, mas pelo Poder Judiciário. Ele nos deu essa ferramenta para nos defender. Então, violência tem aqui, e nós temos que enfrentá-la não só com o Zap Delas. Temos que ter coragem e precisamos não só de coragem, mas das mãos amigas de cada uma das mulheres deste país. Só coragem não faz a gente chegar lá. A gente tem que ter, porque, para chegar aqui, não é fácil.
Como foi dito aqui, nós mulheres, o tempo todo, temos que ser mais perfeitas. Alguém tem dúvida de que, se a nossa Presidenta Dilma Rousseff fosse homem, ela teria sido impitimada? Com certeza, não, porque depois foi comprovado...
Mas, gente, eu quero me sentar aqui e falar sobre a vida real. Nós lutamos por leis, como a Lei Maria da Penha, que é uma lei de referência mundial, mas já descobrimos que só punir não resolve. Nós precisamos empoderar a nós mulheres, e esse empoderamento passa por a gente financiar, colocar no orçamento deste país a saúde da mulher, a proteção das mulheres, investindo na segurança pública. Nós mulheres sofremos violência ao quadrado, no mínimo, porque temos a violência na rua, a mesma violência que os homens têm, mas temos violência aqui, em todos os setores e em casa, no silêncio da sua casa.
Eu digo aqui, como médica, porque trabalhei em serviço de urgência durante anos, que não tinha nenhum plantão durante o final de semana em que não chegassem mulheres espancadas. E olhe que essas que iam ao pronto-socorro eram aquelas que precisavam de sutura, raio-X, tinham fratura... Não estamos falando aqui de mulheres que sofrem aquela violência psicológica ou um empurrão, alguma coisa para a qual não se precise de cuidados médicos. E o que elas me diziam? Qual é a dificuldade de denunciar? A falta de liberdade, de empoderamento, ela tinha que voltar a dormir com o inimigo porque ela dependia dele economicamente. Então, essa luta de investirmos na educação, colocando a nossa criança, a mulher, o homem, porque isso é estrutural... A gente vê muito isso nos nossos avós, que o menino não precisava apanhar a toalha, nem cuidar de nada, mas nós mulheres, sim. Então, esse é o papel de nós mulheres.
E digo mais: não é só... Meu sonho, se vocês perguntassem, é que não precisássemos mais de um Outubro Rosa para nossas mulheres terem acesso a uma mamografia ou a um preventivo, porque a gente sabe que o câncer, em todas as instâncias, todos os tipos de câncer, não é mais uma sentença de morte, desde que diagnosticado e tratado precocemente. A verdade é que a gente ainda precisa de um Outubro Rosa para as mulheres terem acesso a uma mamografia, uma ultrassonografia, uma cirurgia de urgência quando já diagnosticado o câncer de mama, a reconstrução da mama. E para isso, gente, nós precisamos colocar a saúde das mulheres no orçamento deste país, senão vai ser só mais uma lei. E, para executar, precisamos disso.
E, para a mulher estar no lugar que ela quiser, se faz necessário que a gente inclua as mulheres no orçamento deste país, que incluamos nossas crianças, homens e mulheres numa educação pública de qualidade em tempo integral, com creches, com educação. Por que sabe o que é que a gente presencia? Homens, mulheres e crianças cooptadas pelo crime, porque o Estado brasileiro não educa, não oferece uma educação pública de qualidade em tempo integral para nossas crianças e adolescentes. E a tristeza que dá é ver esse Estado condenar essas crianças quando ele não cuidou.
Quando se fala de educação, eu citaria aqui o Paulo Freire, e para mim o maior feito do Paulo Freire não foi alfabetizar só, mas mostrar para aquele povo que estava em extrema pobreza – ele esteve em Angicos, uma cidade do Rio Grande do Norte – que eles não eram pobres porque Deus quis. Porque a gente vê muita invocação de Deus, mesmo que seja para promulgar uma PEC que só faz mal às pessoas. O verdadeiro mérito de Paulo Freire foi este: vocês estão na miséria porque o Estado não lhes dá oportunidade de vocês serem educados.
Mas, mulheres que aqui estão, minhas colegas Senadoras, Deputadas, nós só estamos onde queremos estar se a gente participar aqui do orçamento, da tributação, de todos os setores, da CAS, da Educação, isso é que vai fortalecer nós mulheres. E esse equipamento é necessário, sim, porque em tudo na vida a gente tem condutas imediatas, a médio e a longo prazo. Imediatamente, o Zap vai salvar vidas de mulheres e, a médio e a longo prazo, empoderar. E nós não vamos empoderar se a gente não colocar nossas mulheres no orçamento deste país, seja na educação, na saúde, na segurança pública e na assistência social.
Esse evento é importante, porque vai mostrar para o Brasil, Augusta, que nós podemos, sim, que nós somos mulheres de fé, que nós somos mulheres corajosas, mas aquela fé que faz a gente insistir, persistir e nunca desistir de lutar por aquilo em que acredita, e a gente está aqui para isso hoje. Não vamos ser servis nunca; não somos rebeldes, mas não somos servis.
Então, eu queria dizer aqui o seguinte: parabéns, Augusta, por ter esse olhar diferenciado de que a gente precisa avançar mais! Parabéns a essas mulheres que tiraram o seu tempo para vir aqui para nos ouvir e ter a certeza de que aqui tem mulheres corajosas. Somos 15 – perdemos uma há pouco tempo aqui, que saiu –, somos 15, mas conseguimos ter uma liderança, porque somos 15, mas éramos a maior bancada deste Senado. Por que não ter uma liderança? E hoje nós temos uma liderança, que é a Professora Dorinha, nossa amiga Teresa Leitão é a Vice-Líder. Por quê? Porque nós resolvemos assumir a nossa decisão, porque senão a gente entra aqui e acha que a gente é para estar só no social. Aqui quantas mulheres sentaram nessa mesa como Presidente do Senado? Nenhuma, nenhuma! Primeira-Secretária a gente tem pela primeira vez, e essa Procuradoria nos ajuda, como Ouvidoria e como os meios de comunicação.
Parabéns para as mulheres brasileiras e fiquem certas: nós que estamos aqui, vamos defendê-las, sim! Nunca vamos olhar para a outra de cima para baixo, a não ser para dar a mão e levantá-la. Mulheres, deem as mãos àquelas que quebram tabus e que têm coragem de dizer: nós podemos, sim, porque temos coragem, mas precisamos das mãos amigas dos homens e das mulheres!
Muito obrigada.