Discurso durante a 150ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a celebrar e promover o lançamento do programa “ZAP DELAS - Senado”. Valorização da iniciativa como ato político corajoso e resposta concreta à violência política de gênero que ameaça a presença da mulher na vida pública. Destaque para os altos índices de violência política contra candidatas, especialmente as negras, o que configura uma ameaça à democracia.

Autor
Leila Barros (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Leila Gomes de Barros Rêgo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Direitos Políticos, Homenagem, Mulheres:
  • Sessão Especial destinada a celebrar e promover o lançamento do programa “ZAP DELAS - Senado”. Valorização da iniciativa como ato político corajoso e resposta concreta à violência política de gênero que ameaça a presença da mulher na vida pública. Destaque para os altos índices de violência política contra candidatas, especialmente as negras, o que configura uma ameaça à democracia.
Publicação
Publicação no DSF de 23/10/2025 - Página 29
Assuntos
Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Políticos
Honorífico > Homenagem
Política Social > Proteção Social > Mulheres
Matérias referenciadas
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, LANÇAMENTO, PROGRAMA, MIDIA SOCIAL, DENUNCIA, VIOLENCIA, NATUREZA POLITICA, VITIMA, MULHER, IMPORTANCIA, FERRAMENTA, DEMOCRACIA.

    A SRA. LEILA BARROS (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PDT - DF. Para discursar.) – Obrigada, Augusta.

    Eu estava aqui pensando... Estou com uma fala tão bonita aqui que eu ajudei a construir. Vou seguir o rito, o protocolo, mas olhar para você nessa mesa, comandando esta audiência nesta sessão especial, e lembrar de você chegando, Jussara... Eu já estou aqui há sete anos, já estou no finalzinho do meu mandato, e tantos avanços nós tivemos com a Bancada Feminina. É um sentimento de muito orgulho, Teresa, também ali, que domina a educação como poucas aqui. Então, é um prazer trilhar essa jornada com todas vocês.

    A Bancada Feminina no Senado dá um exemplo muito de civilidade. Aqui nós temos Senadoras de diversos campos e, quando o tema é tratar sobre questões da mulher, violência, combate à violência, enfim, tantas outras temáticas, porque a mulher está envolvida em tudo. Essa questão de dizer que mulher não gosta de política, que mulher não fala de economia, que mulher não domina e não quer se inteirar ou estar nesse front, é uma linguagem absolutamente ultrapassada, que é uma tentativa sempre de tentar, no imaginário dessas pessoas, nos colocar no lugar em que eles acham que nós deveríamos estar. E, na verdade, não. A gente tem seguidamente lutado. Acho que é uma bancada que é símbolo de resiliência, de determinação, de empatia, de amor a tudo que nós promovemos aqui.

    Então, Sra. Presidente Augusta Brito, Procuradora da Mulher no Senado Federal; minhas colegas Senadoras que estão presentes, Jussara, Teresa Leitão, Zenaide, que já falou; representantes da sociedade civil; Senadores também, homens; autoridades presentes, como a Dra. Raquel Branquinho, a Ilana, nossa Diretora... Enfim, todos que estão também neste Plenário sejam muito bem-vindos. Adoro este Plenário recheado de mulheres, enfim, da sociedade civil de um modo geral. Quando tem essas sessões, eu falo: esta é a nossa função, estar aqui para, além de ouvir, fazer os debates, mas também para comemorar e enaltecer as boas iniciativas que a gente tem feito nos últimos anos.

    Então, é com grande alegria e, sobretudo, satisfação que participamos desta sessão especial que marca o lançamento do Zap Delas – Senado, uma iniciativa visionária da nossa querida Procuradora aqui, a Senadora Augusta Brito, a quem eu rendo, de início, os meus sinceros cumprimentos, aplausos e desejo de um sucesso enorme nessa missão aqui dentro da Casa.

    Senadora Augusta, o Zap Delas é mais do que um projeto de tecnologia ou um novo canal de comunicação. Ele representa um ato político corajoso, um instrumento de cidadania e uma resposta concreta à violência política de gênero que ainda ameaça a presença e a integridade das mulheres na vida pública brasileira. É, portanto, um marco na luta pela igualdade e pela democracia paritária no nosso país.

    O Zap Delas nasce com a missão de ser um espaço de escuta, de acolhimento e resposta rápida às mulheres vítimas de violência. Ora, me diga quem não sofreu algum tipo de violência estando na política? Essa não existe, eu tenho certeza, não nasceu ainda. Enfim, é uma grande iniciativa. A partir de agora, o Senado Federal passa a oferecer um canal direto via WhatsApp para denúncias e atendimentos humanizados, com encaminhamento ágil dos casos à Delegacia do Senado Federal e à Ouvidoria, além da integração com Procuradorias da Mulher estaduais e municipais. Que bela iniciativa!

    Essa estrutura mostra que o Zap Delas é muito mais do que uma ferramenta digital. É uma rede institucional de proteção que conecta o Parlamento à realidade das mulheres brasileiras – uma coisa é este Parlamento, outra são as Vereadoras, as Deputadas Estaduais, as secretárias municipais e estaduais, enfim, é uma outra realidade, como a gente sabe, não é, Dra. Raquel? –, uma rede que moderniza o atendimento e amplia o alcance da Procuradoria da Mulher, consolidando o Senado Federal como referência nacional no combate à violência política de gênero.

    A inspiração veio da experiência bem-sucedida da Assembleia Legislativa do Ceará, onde o projeto já mostrou resultados expressivos, já citados aqui. E é simbólico que essa iniciativa nasça das mãos de uma mulher nordestina, sensível, determinada e comprometida com a causa feminina e com a democracia, a nossa querida Senadora Augusta Brito.

    Por favor, uma salva de palmas. (Pausa.)

    Nós temos aí uma parceira do Piauí também, a Senadora Jussara; a Teresa, que é de Pernambuco; enfim, nós temos o Nordeste aqui em peso, muito bem representado.

    Senhoras e senhores, o Zap Delas é uma resposta necessária a um quadro absolutamente alarmante. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, 42% das candidatas, nas eleições de 2020, relataram ter sofrido violência política, em forma de ataques virtuais, assédios, ameaças e constrangimentos. E a situação se agravou em 2022: seis em cada dez candidatas negras enfrentaram esse tipo de violência, segundo o Observatório Nacional da Violência Política de Gênero, em parceria com a ONU Mulheres e o Instituto Marielle Franco.

    Esses números são devastadores, revelam não apenas a dimensão da violência, mas também a sobreposição cruel entre desigualdades de gênero e de raça e demonstram que, para muitas mulheres, especialmente as negras, ocupar um espaço político ainda significa colocar em risco a própria integridade.

    Estudos da União Interparlamentar apontam que o Brasil figura entre os países com maiores índices de assédio e violência política contra as mulheres Parlamentares. Essa realidade, além de injusta e inaceitável, representa uma ameaça direta à nossa democracia.

    A violência política é uma tentativa de silenciamento. É uma forma moderna e perversa de manter as estruturas de poder fechadas e de negar às mulheres o direito de decidir os rumos do nosso país. Por isso, combater essa violência é defender a democracia, é garantir que a política seja um espaço plural, diverso e representativo, em que as mulheres possam estar presentes, seguras, respeitadas e influentes.

    O Zap Delas cumpre, portanto, uma dupla missão: proteger e transformar. Transformar, porque os dados coletados pelo sistema vão permitir a produção de relatórios e estatísticas oficiais, essenciais para a formulação de políticas públicas eficazes e para o monitoramento da Lei 14.192, de 2021, já citada aqui, que estabelece normas de prevenção e combate à violência política de gênero. Trata-se, portanto, de um instrumento moderno e estratégico, que conecta tecnologia, sensibilidade e política pública em favor das mulheres brasileiras.

    A criação do Zap Delas reafirma o papel da Procuradoria da Mulher com um farol de proteção e empoderamento dentro do Senado Federal e é também reflexo do trabalho coletivo desta Casa, em que nós mulheres Senadoras, de diferentes partidos, regiões e trajetórias, unimos nossas vozes para dizer basta à violência política.

    Temos avançado na construção de uma democracia paritária, em que o respeito e a igualdade de oportunidades são princípios inegociáveis dentro dessa bancada. Hoje celebramos mais do que o lançamento de um programa. Celebramos um avanço civilizatório.

    O Zap Delas é a prova de que a política pode e deve ser um instrumento de transformação, é um chamado à responsabilidade de todas as instituições públicas para que garantam ambientes livres de assédio, de discriminação e, principalmente, de medo e é, acima de tudo, um gesto de esperança para cada mulher que sonha em ocupar um cargo público, disputar uma eleição, servir ao seu país, sem precisar abrir mão da sua dignidade ou da sua segurança e, principalmente, da sua família, porque todas nós que estamos aqui abrimos mão do convívio muitas vezes familiar e até mesmo de estar com nossos próprios filhos para servir a pátria, como muitos aqui falam. Nós sabemos do quanto abrimos mão e o quanto nós enfrentamos diariamente para estarmos aqui dando voz a todas as mulheres deste país.

    Que o Zap Delas seja, portanto, um símbolo de coragem, de empatia e justiça, e que continue ecoando por todo o Brasil a mensagem de que nenhuma mulher – nenhuma mulher – está sozinha, nem na política, nem em lugar algum.

    Parabéns, Senadora Augusta; parabéns a todas as Senadoras; parabéns à Procuradoria da Mulher no Senado Federal e a todas as servidoras! Quero agradecer ao corpo técnico. E estava até falando com a Dra. Raquel aqui que, por detrás de qualquer autoridade, tem um corpo técnico muito qualificado, comprometido, atuante e parceiro nessa jornada. Então, a todos vocês também os meus agradecimentos, em nome da nossa Procuradora e da nossa bancada no Senado Federal.

    E parabéns a todas as mulheres que fazem da política um ato de resistência, de empatia e, acima de tudo, de comprometimento com o nosso país!

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/10/2025 - Página 29