Discurso durante a 161ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Em fase de revisão e indexação
Autor
Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Aparteantes
Eduardo Girão.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM. Para discursar.) – Obrigado. Graças à sua bondade de permitir que eu falasse um pouco antes do senhor. Tenho reunião de bancada agora às 3h, Sr. Chico Rodrigues, obrigado.

    Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, talvez aqui ainda alguém se lembre de um ícone jornalístico dos longínquos anos 60, a coluna Festival de Besteira que Assola o País, do jornalista e humorista Stanislaw Ponte Preta, que era uma coluna lida naquele tempo. Os jornais circulavam muito.

    Sabe por que eu falo isso? Porque eu li, vi... Eu não sei nem se eu vi, mas eu li o Ministério do Meio Ambiente, conduzido, presidido pela Sra. Ministra Marina Silva, agora, em momentos que antecediam a COP, dizer que vão considerar a tilápia uma espécie agressiva, uma espécie que não é própria do Brasil.

    E por que a tilápia? A tilápia, hoje, no Brasil, representa 80% da produção do pescado, 68% da produção nacional e um potencial imenso, um potencial enorme. São bilhões de reais movimentados, milhares de empregos. Isso está afetando certamente alguns países que criam tilápia.

    Por que eu falei que é um besteirol e prefiro considerar realmente como uma grande besteira? O problema é que essa gente não tem senso do ridículo. Na sua ânsia de servir, não medem consequência e também estão se lixando para o que você pensa, para o que eu penso. Eles vivem em outro patamar, acham que vivem em outro patamar, não têm satisfações a dar, e daí esses argumentos imbecis, engraçados, como se não afetassem nada.

    Para mostrar a imbecilidade do argumento, basta ver a origem do café. Olhe só, se a gente quer considerar a tilápia uma espécie agressiva, nós teríamos também que ir para a plantação. O café não é brasileiro, o café veio da Etiópia; a cana-de-açúcar é asiática. A cana-de-açúcar não, a soja é que é asiática. A cana-de-açúcar trazida pelos portugueses, o café da Etiópia, o algodão, o gado Nelore, o frango, o suíno, daqui a pouco vão querer também considerar uma espécie exótica.

    Eles dizem, eu também já li argumentando: "Não, isso é só por enquanto. Nós não estamos impedindo o cultivo, é só para considerar como espécie agressiva, mas não vamos fazer nada por enquanto". Ora, não vão fazer nada por enquanto. Dizem que é uma ameaça em potencial, mas é por precaução só. Quer dizer, brincadeira, brincam com a gente, hipocrisia levada ao extremo.

    Talvez o próximo passo seja exatamente essa lista nacional que eu citei aqui de espécies econômicas, e quem sabe, Sr. Girão, podemos chegar também à prática esportiva, ao futebol, que foi trazido pelos ingleses, foi usurpado dos ingleses? Enquanto isso, Girão, olhe só, olhe só a hipocrisia, a Alemanha está criando tambaqui ou é pirarucu, espécie amazônica, e os Estados Unidos também.

    Quer dizer, as nossas espécies vão para lá, produzem aos milhares, aos milhões, não tem problema nenhum; agora, querem considerar a tilápia, porque ameaça o mercado do pescado lá fora. Simplesmente é aquilo que eu digo sempre, é esse pessoal a serviço de governos estrangeiros, defendendo interesses de governos estrangeiros e nunca defendendo o nosso interesse, porque, se assim o fosse, estavam se lixando e não citavam a coitada da tilápia, que agora fica como vilã, que agora fica como bandida. Dizem que é só para citar, mas logo, logo vai estar proibido esse cultivo aqui.

    Na COP 30, em Belém do Pará agora, eu vi o Presidente Lula lá num iate, que é até do Amazonas, navegando no Rio Tapajós – lindo o Rio Tapajós, de águas verdes, lindíssimo, assim como é o Rio Negro –, dizendo que o brasileiro precisa conhecer a Amazônia. É o que eu venho dizendo aqui sempre, primeiro, para que você brasileiro conheça a Amazônia, porque, se você conhecer, você vai amar e, se você vai amar, vai defender, e nós precisamos disso. Mas eu acho que o alerta do Presidente Lula é para que o brasileiro conheça antes que ele entregue para os estrangeiros a nossa Amazônia. Navegando no Rio Tapajós, esquece ou talvez nem saiba que há pouco estava anunciando o edital de leilão de privatização do Rio Tapajós, Tocantins e do Amazonas. Olhe só, ele incentiva o brasileiro a conhecer a Amazônia, mas, ao mesmo tempo, quer entregar o próprio Rio Tapajós a uma empresa privada, que vou dizer aqui, ou é a JBS ou é um grupo chinês, não vai passar disso, será um dos dois.

    O javali está nessa lista de animais que são nocivos à nossa cultura, e a coitada da tilápia agora está entregue. O Presidente está lá e a COP está sendo realizada. É que a COP, a turma da COP procura alvos mais fáceis. Pode atacar e empobrecer produtor de tilápia, tendo como aliado o santuarista do Ministério do Meio Ambiente, não importa se a tilápia fornece alimentação farta e barata a baixo custo. Levada ao extremo, a COP 30 poderia até exigir que os brasileiros parassem de jogar futebol, foi o que eu disse aqui. E eles são capazes, não do futebol, porque interessa muito a eles, mas são capazes dessas imbecilidades, sabe por quê? Porque eles nos tratam como colônia, como colonizados. A COP nada mais é do que, se fosse uma escola antiga, aquela lista de deveres de casa: está aqui para vocês fazerem em casa, vocês não podem tocar em nenhum bem natural, vocês não podem derrubar uma árvore, vocês têm que condenar o Amazonas à pobreza eterna e perpétua. E os maus brasileiros vão fazer isso, porque esses são aplaudidos.

    A COP é uma enganação para nós amazônidas. Olhem para mim, quem está falando é um amazônida de beira de barranco. Eu não estou falando aqui usando o meu iPhone, não estou em ar-condicionado pago pelo Governo, não estou em barco, não estou em avião. Eu sou de beira de rio, eu sei o que é bom para nós, eu sei o que é bom para nós. Me ensinem o que quiser, me ensinem finanças, me ensinem economia, me ensinem até religião, mas não me ensinem o que é bom para a Amazônia, porque nós sabemos o que é bom. Querem nos ajudar, ajudem, mas não nos digam o que fazer.

    E a COP não passa do cartão de dever de casa para dizer o seguinte: "Olhe, eu vou mandar dinheiro para vocês [o que é uma enganação também, não vou mandar nada] não fazerem o que nós fizemos lá no passado, para vocês não fazerem o que nós estamos fazendo no presente e para que vocês não façam o que nós vamos fazer no futuro, que é explorar nossos recursos naturais". E nós brasileiros assumimos, como diz o meu guru Esperidião Amin, os remorsos dos europeus, dos americanos, remorsos por terem destruído seus meios naturais, remorsos por não terem mais floresta, remorsos por estarem, eles sim, mudando o clima, remorsos por terem poluído a atmosfera. E querem transferir a penitência, que é nos condenar à pobreza eterna. E, para isso, pagam a penitência que a gente tem que cumprir. Eu não vou cumprir essa penitência.

    Deus permitiu que eu me tornasse Senador da República por 8 anos ou 16, se for a sua vontade, para que eu possa dizer isso aqui.

    Eu estaria traindo a ninha população, a minha consciência. Eu não estaria sendo o amazônida que sou ao dizer que a COP aumenta alguma coisa. A COP não colabora em coisa nenhuma; é um show de hipocrisia, de balões de festa de aniversário e do escambau a quatro. Só serve para isso. Para nós amazônidas, não serve para nada.

    Meu amigo Senador Girão, o senhor compartilha; Senador Chico Rodrigues, Senador Izalci, vocês compartilham disso e falavam aqui há pouco da condução da CPI, da forma como o Governo conduz. Infelizmente...

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – ... e eu encerro, Presidente – infelizmente, a Amazônia está tomada por essa gente.

    O narcotráfico é um poder paralelo, ONGs são outro poder paralelo. Fizemos a CPI das ONGs, temos um relatório que vai entrar para a história, e a gente tem que combater ao dizer, no mínimo: COP 30 é hipocrisia pura, nada mais do que isso.

    Eu ouço o Senador Girão e encerro o meu discurso, Presidente.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Eu só quero fazer em um minuto, se o senhor me permitir, um aparte ao Senador Plínio, Senador de muito valor aqui desta Casa...

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Obrigado.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... de muita autoridade moral.

    Quero dizer que eu assino embaixo do que o senhor falou. Eu, inclusive, vejo essa hipocrisia que está acontecendo na COP 30. Inclusive, até fizeram um gesto simbólico aqui – eu votei contra – de levar a capital do Brasil lá para Belém. Com todo o respeito ao povo de Belém, mas a gente sabe que aquilo ali... Até desmataram, Senador Plínio! Como o senhor trouxe, até desmataram lá, em nome da COP 30,...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... para fazer pistas de acesso para os visitantes.

    E quer mais? Acabou de ter um assalto lá a jornalistas que vieram de fora. E o PT assume uma investigação do crime organizado, dentro do Parlamento, que sequer assinou. Então, é o Brasil da inversão de valores.

    E eu acabei de receber aqui, Presidente, se me permite – eu sei que o Senador Chico vai usar a palavra agora –, que o Lula, o Presidente Lula acabou de falar que vai mandar legistas da Polícia Federal para vigiar as necrópsias. Só que – detalhe – a Polícia Federal não tem legistas. Inclusive, é o pessoal do IML que são os legistas e fazem esses exames de integridade física da própria Polícia Federal. A Polícia Federal toda tem dois legistas, que nunca fizeram uma necrópsia. Entraram no concurso e, com pouco tempo, passaram para a PF e foram embora...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... ou seja, Presidente, o IML fez um trabalho de excelência, nesse caso da megaoperação do Rio de Janeiro, e ouvir essa fala do Presidente Lula para eles é como se eles fossem bandidos. Está revoltado o pessoal do IML do Rio de Janeiro com essa fala do Lula. Para você ver como eles não sabem nem o que estão falando. Não entendem de nada.

    O Presidente... O Ministro da Justiça do Brasil, sabe onde ele estava, no dia seguinte da megaoperação? Estava no Ceará recebendo prêmio de Cidadão Cearense, ainda falando que o Ceará é referência em segurança pública, sendo que, no Governo dele, ele sabe que os piores índices são os do Ceará – administrado por quem? Pelo PT – e os da Bahia – administrada por quem? Pelo PT. É brincadeira o que esses caras estão fazendo!

    Parabéns, Senador Plínio.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – Obrigado.

    E eu encerro, em homenagem ao meu amigo, o Senador Jorge Seif, que acaba de chegar. Nós estávamos falando da Tilápia – o senhor é que é expert nisso.

(Soa a campainha.)

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar Democracia/PSDB - AM) – A tilápia, coitada, está elevada à categoria de vilã.

    E para que você, brasileiro e brasileira, entenda por que eu estou aqui sempre reclamando, muitas vezes indignado, olha só: nós estamos tentando explorar uma mina de potássio – nós, que eu digo, nós lá, cedendo para um grupo – há anos e não podemos.

    A JBS acaba de comprar uma mina de potássio, parece-me que em Sergipe, e vai explorá-la. E depois querem que a gente aceite isso sem chamar esse pessoal de hipócrita, imbecil, trombeteiro do apocalipse ambiental. Não passam de aproveitadores que enriquecem, que vivem à custa da pobreza da nossa gente.

    Obrigado, Presidente. Chico, mais uma vez, obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2025 - Página 40