Pronunciamento de Damares Alves em 17/11/2025
Discurso durante a 170ª Sessão Especial, no Senado Federal
- Autor
- Damares Alves (REPUBLICANOS - REPUBLICANOS/DF)
- Nome completo: Damares Regina Alves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Matérias referenciadas
A SRA. DAMARES ALVES (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - DF. Para discursar.) – Bom dia, Presidente!
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) – Bom dia.
A SRA. DAMARES ALVES (Bloco Parlamentar Aliança/REPUBLICANOS - DF) – Cumprimento toda a mesa. Eu não vou citar os nomes para ganhar tempo, mas é claro que o meu Líder do Governo eu tenho que cumprimentar e Eudócia também, minha querida amiga.
Antes de eu falar sobre o nosso prêmio, eu só quero lembrar que nós estamos no Novembro Roxo, e hoje é o Dia Internacional da Prematuridade. E 300 mil bebês nascem prematuros no Brasil. Então, não se esqueçam dos nossos prematuros.
Presidente, agraciados, que alegria recebê-los aqui no Plenário, mas todos os outros indicados também são merecedores desse prêmio.
Deixe-me dizer para os agraciados: a escolha do nome de vocês foi um movimento incrível aqui dentro do Plenário – lembra, Senador Paim? E aqui eu quero cumprimentar a secretaria que organiza os prêmios, essa equipe maravilhosa.
Vocês sabiam que o movimento é tão grande que parece final de Copa do Mundo? A gente fica brigando, pedindo voto aos nossos colegas para os nossos indicados, e é um momento extraordinário quando a gente conhece a história de todos vocês. E eu tive a honra de indicar o Prof. Natanael.
E quero só dizer a todos que estão aqui, e talvez alguns estejam sentindo falta dos nossos Senadores: hoje a nossa Casa está funcionando de forma semipresencial, mas todos os Senadores gostariam de estar aqui presentes hoje, porque esse é um dos mais incríveis prêmios, uma das mais incríveis comendas que o Senado Federal outorga.
E, Presidente, meu agraciado, todos sabem que eu fui Ministra da pasta – e aqui eu quero cumprimentar o Ministério da Igualdade Racial, leve um abraço carinhoso para a nossa querida Ministra Anielle. Eu sei das dificuldades dela, porque eu estive nessa pasta. É um ministério que precisa ser cada vez mais fortalecido. E precisamos de dinheiro: não se tem um bom trabalho sem dinheiro, não se tem um bom trabalho sem orçamento para a gente fortalecer o ministério. E, quando eu assumi, Presidente... E aí eu quero lembrar que por anos fiquei nos bastidores acompanhando o Senador Paim, ajudei na construção e discussão do Estatuto da Igualdade Racial, tive a honra de conhecer o nosso querido Abdias Nascimento, de ficar também, lá nos bastidores, aplaudindo-o, e a mim foi dada a oportunidade de ser a Ministra da pasta. E, senhores, quando assumiu um Governo conservador e juntou tudo num único ministério, o que eu faço? O que eu faço? E nós fomos cumprir nossa missão.
Conseguimos, Presidente, a titularização de dez territórios quilombolas – trabalhei muito –, conseguimos cuidar de adolescentes, de jovens de povos tradicionais, nós também trabalhamos em dez áreas de conflitos, nós estivemos em Alcântara, para resolver aquele grande problema que envolvia os nossos quilombos lá em Alcântara, mas uma das lutas que me desafiou muito foi o Governo ratificar a Convenção Interamericana contra o Racismo – aí, gente, entenda o tamanho da nossa luta.
A convenção é assinada em 2013, e tramitava neste Congresso de 2013 até 2021, e não avançava. As pessoas acham que o senhor é tão repetitivo na pauta, Senador Paim, mas, se a gente não estiver aqui gritando, a pauta não avança, gente. E, como Ministra, eu priorizei. Nós vamos conseguir lutar junto ao Congresso. O Congresso, em 2021, consegue aprovar, e o nosso Governo ratifica, e a gente entrega para o Brasil.
E algumas pessoas perguntam assim: "Mas qual é a sua história com a questão do racismo?". Desde a infância. Sou filha de um homem negro. Eu sei a dor da discriminação. E hoje sou mãe de uma menina indígena. E, quando eu estive com o Prof. Natanael à primeira vez, em que alguns queriam negar a palavra "racismo", "não existe racismo no Brasil", eu disse assim: "Prof. Natanael, então me dá um nome para a dor que eu senti, me dá um nome para a dor que a minha filha sente". Minha filha indígena era desconvidada de festa de aniversário infantil tão somente por ser indígena. A minha filha indígena... Nós morávamos num prédio aqui, na área nobre de Brasília, Asa Norte, e nós tínhamos uma moradora que não entrava no elevador quando a minha filha, menina, estava no elevador, porque índio é sujo e tem doença. Vocês não têm ideia da dor de uma mãe que passou pelo que passei e das nossas lutas aqui, nos bastidores, há muitos anos, mas eu queria fazer mais no ministério.
E aí eu fui agraciada com a amizade do Prof. Natanael, e ele me desafiou para a gente ir além, além do convencional. O Prof. Natanael me ensinou que nesta geração talvez a gente tenha ainda que usar os instrumentos punitivos, mas, com a próxima geração, a gente tinha que trabalhar o instrumento da prevenção. Foi com ele que eu aprendi, de forma lúdica, a falar com as crianças no Brasil sobre igualdade racial. Foi com a literatura do Prof. Natanael que a gente fez uma revolução no ministério e a gente queria chegar a todas as escolas. Foi ouvindo o Prof. Natanael falando "por que meu cabelo é enrolado" para uma criança que eu entendi que a gente errou muito em falar com crianças no Brasil sobre igualdade racial. Foi quando o Prof. Natanael me fez ficar invejosa da pele negra dele, explicando a lindeza dessa pele. Como ele fala disso com criança? Foi com o Prof. Natanael que eu aprendi que a gente vai ter que falar com as próximas gerações. Foi com o Prof. Natanael que eu aprendi por que o nariz dele era diferente do meu, e a forma como ele fala com as crianças, vendo todas as crianças querendo ter o nariz do Prof. Natanael. Foi com o Prof. Natanael que eu aprendi que nós vamos ter que falar com as próximas gerações.
E aí, quando eu tive a oportunidade de indicar alguém que está fazendo uma revolução na área, eu não pensei duas vezes: é o Prof. Natanael. Quando eu falei com os meus colegas que ele foi um dos escolhidos, vocês não têm ideia da forma como eu chorei.
Prof. Natanael, é uma honra recebê-lo no Senado. Quero agradecer-lhe por tudo o que o senhor fez por mim, como Ministra, para a gente fazer uma grande revolução. A gente se chocou com uma pandemia que não nos deixou avançar tanto, mas que o seu legado, Professor, que a sua história, que a forma como o senhor enfrenta o racismo no Brasil possa ser conhecida.
Esse prêmio é apenas um pequeno reconhecimento. Eu sei que o senhor não precisa disso, Professor, mas, eu repito, é o Senado Federal que precisa reconhecer o seu trabalho.
Parabéns, Prof. Natanael! Parabéns a todos os agraciados! Que honra! Quando eu vi um professor tão jovem sendo agraciado hoje, lá do Rio Grande do Norte, eu disse: que coisa linda – que coisa linda! Eu queria que os meninos estivessem aqui para dizer para os meninos da escola: "Olha só, você é muito jovem e também pode ser agraciado por um grande feito".
Parabéns, Professor! Parabéns, Professora! Parabéns a todos os agraciados! Parabéns, Senador Paim, pela linda sessão que nós estamos realizando hoje. Que Deus abençoe o Brasil e que tenhamos, Senador Paim, uma nação em que ninguém mais sinta as dores que senti como filha e depois como mãe. Que tenhamos uma nação de verdade, que seja uma nação da igualdade.
Que Deus abençoe a todos vocês!