Discurso no Senado Federal

VOTOS DE RECUPERAÇÃO DA SAUDE DO SENADOR DARCY RIBEIRO. REPAROS AO PRONUNCIAMENTO DO SENADOR EDUARDO SUPLICY, NA PARTE REFERENTE AO COORDENADOR POLITICO DO GOVERNO NO SENADO FEDERAL.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. :
  • VOTOS DE RECUPERAÇÃO DA SAUDE DO SENADOR DARCY RIBEIRO. REPAROS AO PRONUNCIAMENTO DO SENADOR EDUARDO SUPLICY, NA PARTE REFERENTE AO COORDENADOR POLITICO DO GOVERNO NO SENADO FEDERAL.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Jarbas Passarinho, Ney Suassuna, Odacir Soares, Pedro Teixeira.
Publicação
Publicação no DCN2 de 06/01/1995 - Página 322
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, VONTADE, ORADOR, RECUPERAÇÃO, SAUDE, DARCY RIBEIRO, SENADOR.
  • COMENTARIO, IMPLANTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ELOGIO, GOVERNO, MOTIVO, CONVITE, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, APOIO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, CONHECIMENTO, PROGRAMA DE GOVERNO.
  • INFORMAÇÃO, COORDENAÇÃO, MARCO MACIEL, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANDAMENTO, PROJETO, SENADO, DEBATE, GOVERNO FEDERAL, ESCOLHA, LIDERANÇA, CONGRESSO NACIONAL.
  • CRITICA, IMPRENSA, ALTERAÇÃO, ATUAÇÃO, SENADO, RELAÇÃO, ANISTIA, HUMBERTO LUCENA, SENADOR, MOTIVO, DISTRIBUIÇÃO, CALENDARIO, CENTRO GRAFICO DO SENADO FEDERAL (CEGRAF).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero trazer, como o fez o ilustre Líder Eduardo Suplicy, e tenho certeza de que também todos os Parlamentares da Casa, o nosso carinho, o nosso afeto ao extraordinário companheiro Darcy Ribeiro.

Desde o início, acompanhamos a gravidade de sua doença. Mas, Darcy Ribeiro é uma pessoa que tem enganado a todos. Quando S. Exª retornou ao Brasil, conseguiu permissão para regressar à Nação, em decorrência de seu estado de saúde, que era tão grave, pois S. Exª vinha para morrer no Brasil. Graças a Deus S. Exª se recuperou, readquiriu forças e, com competência, se elegeu Senador, Vice-Governador do Rio de Janeiro, e está aí essa figura extraordinária de carinho, de afeto e de amizade que nós todos respeitamos. Ficamos preocupados - e tem razão o Senador Eduardo Suplicy - com o que aconteceu com S. Exª. As informações que temos são as de que S. Exª está se recuperando, e a cada dia está melhor e mais atuante. Também tenho informação de que S. Exª está procurando se inteirar a respeito do que está acontecendo com os rumos da nossa Pátria. Acho muito importante e indispensável, para este ano, a presença de Darcy Ribeiro. Eu, que sou profundamente cristão e emotivo, rezo pela sua recuperação. Tem razão o Senador Eduardo Suplicy - também li essa notícia emocionante - assim como os índios, que estavam batendo os tambores e invocando os seus deuses pela recuperação de Darcy Ribeiro, nós também fazemos o mesmo, neste momento.

Sr. Presidente, a segunda questão que quero tratar é com relação ao momento que estamos vivendo. Domingo tive a honra de representar, nesta Casa, a Liderança do Governo Itamar Franco, Liderança que não queria aceitar e briguei para não aceitá-la, como também não aceitei participar do seu Ministério, mas o meu Partido exigiu-me e acho que tentei fazer a minha parte. Quero dizer que estamos iniciando um novo Governo, o de Fernando Henrique Cardoso, que está fazendo uma obra excepcional, na tentativa de um grande entendimento e de um grande diálogo sobre a hora que estamos vivendo. Todos sabemos que o Brasil vive o melhor e o mais importante momento de sua vida, pela hora de transição e pela oportunidade. Isso passa, indiscutivelmente, pelas alterações da nossa Constituição Federal. E, para isso, são necessários três quintos da composição das duas Casas.

Sabemos que o Ministério escolhido pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso é um grande Ministério, mas ao qual Sua Excelência fez algumas concessões, inclusive porque é um Ministério que tentará buscar um entendimento, quando da Revisão Constitucional.

O Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso começou. No final da semana, Sua Excelência fará a primeira reunião com o seu Ministério. Sua Excelência já fez algo que considero muito importante, que é constituir um Conselho Político, do qual participam os presidentes dos partidos que o apóiam - houve algum equívoco, mas será solucionado -,para debater essa questão.

Outro ato que considero da maior importância, praticado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a convocação, para o final deste mês, de uma reunião inédita, pois nunca houve uma reunião como essa, para a qual todos os Senadores e Deputados que o apóiam serão chamados, a fim de debaterem as propostas de emenda constitucional. Durante um ou dois dias, em algum lugar aqui em Brasília, os Parlamentares terão a oportunidade de expor suas idéias e, também, de ouvir o pensamento do Presidente.

Antes de enviar qualquer pacote - como fez o ex-Presidente Collor, enviando um pacote ao Congresso Nacional -, o Presidente Fernando Henrique Cardoso reunirá a sua equipe para apresentar as suas idéias. Irá convidar o Parlamento, para que os Deputados e os Senadores possam debater e discutir, para depois encontrar a solução.

Com relação à Liderança, de ter ou não coordenação, na verdade, o Vice-Presidente Marco Maciel - justiça seja feita -, até ontem, estava coordenando muito bem, os projetos em andamento nesta Casa, dentre eles o projeto da Deputada Rita Camata - não entendo por que não é aprovado, mas não se diga que é por falta de interesse do Executivo -; o projeto de autoria do Senador José Fogaça, que, me parece, recebeu uma solução excepcional. Durante dois anos, não conseguimos fazê-lo e, se essa solução não saiu daqui, também não foi culpa nossa. Que o diga o Senador José Fogaça, quando havia uma polêmica entre o Executivo, o Governo e o Governo do Rio Grande do Sul para encontrar uma fórmula, que agora foi encontrada.

Com relação a esses nomes, por amor de Deus! Penso que não é a presença do Líder do Governo que vai determinar a votação ou não do nome do Pérsio Arida. Quanto ao fato de escolher ou não o Líder do Governo Fernando Henrique, o Governo está esperando exatamente que a escolha seja feita no novo Parlamento, num debate, numa discussão, para ver quem serão os Líderes de partido, e se o Líder de Governo deve ser o mesmo Líder de partido ou não, se deve haver Líder de Governo ou se devem ser os Líderes partidários. Quem levou essa questão para o Presidente Fernando Henrique Cardoso, foram os presidentes de partidos. Sua Excelência está estudando e buscando a definição dessa matéria.

O Sr. Pedro Teixeira - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Pedro Teixeira - Nobre Senador, o nosso protesto é pela desconsideração, porque ainda existimos. Não pudemos nos situar naquela reunião em que V. Exª esteve presente, noutro dia, porque estamos em fim de mandato e, por conseguinte, não somos prioritários. Ainda estamos em vigência, como foi dito naquela oportunidade, que, inclusive hoje, o então Chanceler e Ministro das Relações Exteriores sabatinado também já estava em fim de mandato e, no entanto, houve essa consideração. O que declaramos foi que, realmente, houve uma desconsideração em relação a nós, porque pertencemos a uma agremiação.

O SR. PEDRO SIMON - Qual é a desconsideração?

O Sr. Pedro Teixeira - Desconsideração pelo que disse V. Exª, de que só trata de matéria com o nosso Partido, por exemplo, com os novos líderes que estão por chegar.

O SR. PEDRO SIMON - Não, não estou dizendo isso.

O Sr. Pedro Teixeira - Então, entendi mal. Peço vênia.

O SR. PEDRO SIMON - O que disse é que foi feita uma pergunta pelo Senador Eduardo Suplicy do porquê de não haver um novo Líder do Governo nesta Casa. Respondo a S. Exª que o Governo Fernando Henrique está esperando que assumam os novos Parlamentares, porque pode ser que Sua Excelência queira escolher na Câmara ou no Senado algum Parlamentar que ainda não tomou posse.

O Sr. Pedro Teixeira - E nesse interregno, o que V. Exª acha? Fica o Senador Eduardo Suplicy como Líder do Governo? Aliás, é uma honra para o Governo ter um Líder como o Senador Suplicy.

O SR. PEDRO SIMON - Eu sabia que ia terminar assim!

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Pedro Simon, peço um aparte a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy - V. Exª acaba de diagnosticar que, de fato, há um vácuo no mês de janeiro. Segundo o Presidente Fernando Henrique Cardoso e o Vice-Presidente Marco Maciel, parece que se esqueceram...

O SR. PEDRO SIMON - Esqueceram de quê?

O Sr. Eduardo Suplicy - De que aqui deveria haver um Líder. A não ser que V. Exª assuma a tarefa. Mas percebo que não.

O SR. PEDRO SIMON - A minha missão terminou com a saída do ex-Presidente Itamar Franco.

O Sr. Eduardo Suplicy - Terminou, eu percebi. Quando da reunião dos Líderes, convocada pelo Presidente Humberto Lucena na semana passada - em que pese V. Exª estar junto à sala da Presidência -, os demais Líderes sentiram a falta de V. Exª na reunião. O Presidente explicou a sua ausência em função de não mais ser o Líder do Governo.

Na reunião, perguntamos por V. Exª. O Presidente explicou que V. Exª não era mais o Líder e que, portanto, não iria mais às reuniões dos Líderes. Perguntamos, então, quem seria o líder. Já se passaram quatro dias e ainda não temos um Líder. Mas podem ter a certeza de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso sabe que o PT está na Oposição, e tenho a impressão de que é melhor Sua Excelência designar um Líder aqui. Inclusive como Senador pela Oposição, estou chamando a atenção de que o Governo está sem coordenador político. Isso é responsabilidade do Palácio do Planalto. Não percebo da parte de qualquer pessoa essa preocupação. Vou primeiro dar um exemplo do tempo do Presidente Fernando Collor. Já disse aqui que me parecia às vezes que o Senador Marco Maciel, então Líder do Governo...

O SR. PEDRO SIMON - Não há malícia em nada do que V. Exª dirá agora?

O Sr. Eduardo Suplicy - Não, ao contrário. Posso começar por V. Exª. Quando era Líder do Governo Itamar Franco e havia aqui uma votação importante, V. Exª ficava atento ao número de presenças. Eu notava sua preocupação em chamar os Senadores, alguém fazia esse papel. Quando era Líder o Senador Marco Maciel, eu até dizia que S. Exª parecia uma antena parabólica, pois sabia onde estavam todos, mandava buscar, sabia quem era o Senador que estava com o procedimento de não querer entrar, porque não fora atendido aqui ou acolá. S. Exª conseguia fazer as coisas, da sua maneira. Algumas delas eu até criticava, mas a verdade é que S. Exª coordenava, agia, tinha as coisas sob seu controle, pelo menos sabia onde encontrar os demais Senadores, sabia quais eram as aspirações, anseios e reclamações de cada um dos 81 Senadores. Mas não sei se agora alguém está fazendo isso. Percebo que estou aqui apontando uma falha do Governo Fernando Henrique Cardoso - é o que estou fazendo. Se eu fosse membro do Governo e aqui estivesse sendo votado algo tão importante quanto a aprovação da indicação para a Presidência do Banco Central, certamente eu estaria preocupado.

O Sr. Odacir Soares - Mas o PT está no Governo, Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy - Não está. Francisco Weffort saiu do Partido dos Trabalhadores para ser membro do Governo.

O Sr. Odacir Soares - Ele é Ministro da Cultura, o Ministério mais importante, pois é o Ministério da ideologia.

O Sr. Eduardo Suplicy - Espero até que o Ministro Francisco Weffort colabore com o interesse da Nação. Mas, de fato, ele não é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde que resolveu aceitar o convite do Presidente Fernando Henrique.

O SR. PEDRO SIMON - Senador Eduardo Suplicy, entendo a posição de V. Exª. Se analisarmos friamente, V. Exª está dizendo algo que é verdade: o Senhor Fernando Henrique iniciou o Governo e ainda não tem liderança aqui.

Mas volto a repetir: Sua Excelência ainda não escolheu a liderança, porque está discutindo internamente, com os presidentes de Partidos, para decidir se será um colégio de presidentes que irá fazer a coordenação política do Governo; ou se será o Líder do Partido que vai acumular a Liderança do Partido com a de Bancada. Essas questões têm que ser discutidas. O Líder do futuro Parlamento será um dos que vão chegar - nós temos um terço que vai ficar e dois terços que vão chegar - ou pretende-se deixar uma das pessoas que estão aqui?

Sejamos sinceros: V. Exª pode fazer até uma crítica competente, porque é um homem de Oposição, mas ela não é real. Dizer que ainda não se revolveu a questão Pérsio Arida porque falta um líder aqui? Não, isso não é verdade. Sabemos que se trata do Presidente do Banco Central. Quem quer votar vota; quem não quiser não vota. Mas em que alteraria um Líder de Governo? Em que alteraria a votação de ontem à noite se o Sr. Elcio Alvares já fosse o Líder do Governo? E, diga-se de passagem, o Sr. Elcio Alvares trabalhou, correu, o Sr. Humberto Lucena saiu da Presidência do Senado, foi ao restaurante fazer um apelo dramático no sentido de que as pessoas votassem.

O que está para ser votado é a indicação dos nomes do Sr. Pérsio Arida, de outro diretor do Banco Central e de embaixadores. Quero que me digam: um Líder do Governo alteraria a reunião de ontem? Se o Sr. Elcio Alvares já fosse Líder do Governo, faria mais do que fez? Estavam invocando solidariedade ao Senador Humberto Lucena. Pois bem: S. Exª saiu da Presidência, foi lá e fez um apelo: "Querem me prestar solidariedade? A solidariedade que me prestam é a de virem votar". Então, querer dizer que não houve a votação ontem porque não havia Líder do Governo, com toda sinceridade, acredito que não.

O Sr. Eduardo Suplicy - Mas que contribuiria, isto é certo. Tanto que, nobre Senador Pedro Simon, se já fosse oficialmente Líder o prezado Senador Elcio Alvares, a imprensa hoje o estaria responsabilizando por não ter conseguido trazer os Srs. Senadores. Tantas vezes eu vi isso. Sorte dele.

O SR. PEDRO SIMON - Isso é verdade. Tenho que reconhecer que isso é verdadeiro. O Senador Elcio Alvares já seria manchete: "Primeira derrota de Elcio Alvares." (Risos)

O Sr. Eduardo Suplicy - Exatamente. Portanto, ao que eu saiba, S. Exª não está assumindo, por enquanto, a Liderança do Governo, porque, oficialmente, não foi designado. E o Presidente vai cobrar do seu Líder acontecimentos como os de ontem, e com razão, no momento em que designar um Líder. V. Exª sabe muito bem, porque já foi Líder.

O SR. PEDRO SIMON - Fui um Líder que, modéstia à parte, agi diferente. Fui um Líder que não apareceu e que nunca fez encaminhamento. O meu trabalho de Líder - e se eu tive algum mérito - foi falar com V. Exª permanentemente e, na hora das grandes votações, consegui muitas vezes - e agradeço o apoio de V. Exª - reconhecer que o grande Líder do PMDB era o Sr. Senador Mauro Benevides, responsabilizar o Sr. Mauro Benevides dentro do PMDB, responsabilizar o Sr. Marco Maciel dentro do PFL, responsabilizar o Sr. Mário Covas dentro do PSDB, responsabilizar o Sr. Nelson Wedekin dentro do PDT. Esse trabalho de coordenação foi feito e muito bem feito. Isto é o que penso que o Senhor Fernando Henrique deve estar fazendo agora.

O que me parece ruim, Sr. Presidente, é esperarmos de hoje até o dia 17. O Senado vai ser manchete de hoje até lá. E a imprensa usou um termo que me machucou muito. Ela foi cruel com o Senado usando o termo "chantagem", e ela não tinha esse direito. O Senado está numa posição que merece respeito. Estou sendo apedrejado no Rio Grande do Sul, porque estão dizendo que o Senador Humberto Lucena fez toda a campanha na Gráfica do Senado e que eu agora quero perdoá-lo. Tenho que dizer mil vezes que isto é mentira. O que o Senador Humberto Lucena fez foi publicar a mensagem de Natal, que há 30 anos muita gente faz, que Ministro do Supremo Tribunal Federal faz, que Desembargador faz, que Governador de Estado, que todo mundo faz, e de repente resolveram cassar o mandato do Senador Humberto Lucena, porque mandou uma mensagem de Natal que há 30 anos se manda. Tenho autoridade para dizer isso, porque nunca o fiz. E isso aconteceu.

E estamos magoados, porque a Câmara podia votar ou rejeitar. Quer votar, vota; quer rejeitar, rejeita. Mas não podia ficar empurrando, empurrando, porque penso que é uma desconsideração com o Senado. A posição dos companheiros que estão fazendo isso, acredito estar correta, só penso não podemos ir contra a maré. Não adianta querermos forçar as coisas. E a grande Imprensa está publicando isso, e publicando isto ontem. Hoje está publicando o quê? "O Senado está chantageando, exige a garantia da Câmara."

Isso é ruim, Sr. Presidente. O medo que tenho é de que, de hoje até o dia 17, sejam essas as manchetes sobre o Senado. Já irão dizer: o Fernando Henrique está lá, formando o novo Governo, a nova economia, o novo Brasil, o Brasil moderno, o Brasil ético, o Brasil responsável, e o Senado continua o mesmo, não quer mudar. Acredito que pagaremos um preço caro e iremos nos arrepender no futuro.

O Sr. Jarbas Passarinho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Com o maior prazer, concedo o aparte ao meu grande líder, Senador Jarbas Passarinho.

O Sr. Jarbas Passarinho - Senador Pedro Simon, agradeço a V. Exª permitir-me entrar nessa tertúlia preparatória da tentativa de votação. Em primeiro lugar, desejo associar-me inteiramente a sua justa revolta diante dessa reação que está nos atingindo. Votamos aqui, e V. Exª também, mas foi um voto simbólico quando se tratou disso. O nobre Senador Eduardo Suplicy passa a ser, aqui, a representação única da ética política, segundo os jornais - S. Exª, evidentemente, não deseja ser esse monopolista. Como S. Exª se declarou contrário à votação, alguém foi obter no PRODASEN a publicação de todos que aqui se encontravam e que não se levantaram para ser contra. V. Exª começou a pagar por isso um preço alto, e eu também. Recebi, inclusive, de um ex-cadete, quando eu era tenente, uma carta desaforada, dizendo que eu tinha saído do pedestal onde ele tinha me colocado durante toda a minha vida, porque eu tinha sido, com exceção única do Senador Eduardo Suplicy, um dos que votaram essa vergonha.

O SR. PEDRO SIMON - Senador Jarbas Passarinho, tenho recebido carta dizendo o seguinte: "Há quarenta anos voto no Senador. V. Exª era padrão de dignidade e de seriedade. Não esperava que, depois de velho, fizesse o que está fazendo agora. Lamento, mas V. Exª não tem mais a minha consideração."

O Sr. Jarbas Passarinho - V. Exª não é velho. Quem expressou isso, expressou mal. Já dizia um dos grandes escritores do tempo da Grécia que "velho é aquele que chega a uma idade em que aspira poder fazer coisas que não pode mais fazer". Aí, sim, é velhice.

O SR. PEDRO SIMON - Prefiro ser chamado de velho com um filho de seis meses do que ter trinta e não conseguir ter filhos.

O Sr. Jarbas Passarinho - Se V. Exª me permite, continuarei o aparte, pois já estamos conseguindo até que haja aparte e aparteante. O Senador Eduardo Suplicy - pelo que também lemos hoje nos jornais - foi a única pessoa que ontem se esforçou para que votássemos. V. Exª falou nos jornais. De fato, é isso. Porém, que culpa tem o Senador Eduardo Suplicy de ser querido dos jornalistas? Que culpa tem S. Exª de aparecer aqui como sendo monopolista da dignidade do Senado? Meu aplauso a esse grande Líder de si próprio - porque o Líder do PT é o Líder de si próprio.

O SR. PEDRO SIMON - V. Exª não deveria falar assim, pois sentirá saudade. Em março do ano que vem, quando S. Exª não será mais Líder dele mesmo, iremos dizer: "Que bom era o tempo em que apenas o Senador Eduardo Suplicy era o representante do PT!" - falaremos isso quando houver seis iguais a S. Exª. (Risos)

O Sr. Jarbas Passarinho - Admito seja isso. Verei do outro lado da ponte, mas vou ver isso mesmo. Ainda ontem eu dizia ao Senador Eduardo Suplicy que algumas vezes S. Exª me surpreende, porque fica muito afastado dessa situação radical do seu Partido. Por exemplo, vejam agora o Ministro Francisco Weffort, um homem considerado - como, de fato, é - uma das figuras mais notáveis da cultura existentes dentro do PT. Pois bem: S. Exª sofreu o mesmo tipo de tratamento que a ex-Prefeita Erundina, quando, no Governo Itamar - do qual V. Exª foi Líder aqui - foi convidada para ser parte do Governo. Essa resistência é alguma coisa que ainda me espanta. Por que negar a uma pessoa de um partido, ainda que esse partido não esteja entre os beneficiados da ilustre companhia, que esteja nessa condição? Não! Ela tem que sair do partido, licenciar-se e ser agredida, da maneira violenta como foi o Sr. Weffort, conforme li em cartas dirigidas à Folha de S. Paulo, porque aceitou ser o Ministro da Cultura de Fernando Henrique Cardoso. A minha colocação, se V. Exª me permite, é associar-me a sua justa revolta. No caso do Senador Humberto Lucena, V. Exª tem inteira razão: S. Exª não fez qualquer exploração de natureza político-partidária. Já passei muito tempo nesta Casa e vi muita coisa, mas não vou citar nomes, porque não falo de corda em casa de enforcado. No entanto, já vi casos aqui de pessoas com 650 mil publicações no período eleitoral e que nada sofreram. Entretanto, nós, aqui, fizemos a lei. Não posso criticar o Tribunal Eleitoral, porque interpretou a lei.

O SR. PEDRO SIMON - V. Exª está colocando um aspecto que considero o mais fundamental. Vamos ser claros. Por isso, não gosto quando se usa o termo "anistia". A quem se concede anistia? A quem não pagou imposto? A quem cometeu um crime? O caso do Senador Humberto Lucena não é de anistia, mas de um erro judiciário e de um erro nosso! Há trinta anos já se fazia assim. De repente, votamos uma lei eleitoral irresponsável, que não abrange somente o problema do Senador Humberto Lucena, mas também a questão de se usar o apartamento, usar o telefone.

Gostaria de concluir o meu pronunciamento, pois estou sendo avisado de que já existe quorum para votação, e o Senador Mauro Benevides terá que se retirar em seguida.

O Sr. Jarbas Passarinho - Em apenas mais um minuto de aparte, desejaria apenas caracterizar que ainda hoje tive que defender o Senado, porque perguntaram-me, pelo rádio, se não seria uma falta de ética, até de respeito pessoal, que um senador não viesse aqui para votar, pois ele é obrigado a isso. Respondi que a obstrução faz parte do processo parlamentar.

O SR. PEDRO SIMON - É evidente.

O Sr. Jarbas Passarinho - Fui Líder de Governo nesta Casa; quando a minoria obstruía, exercia um direito seu. No entanto, penso que essa obstrução que está se fazendo hoje e ao longo do tempo, aqui, está errada. Não é o melhor caminho para defender, inclusive, os que pretendem defender o Senador Humberto Lucena. Temos 17 autoridades diplomáticas e outras, da maior importância, para serem aprovadas, como essa do Banco Central, e ficamos vulneráveis, a partir do momento em que se considera que estamos fazendo pressões equívocas sobre a Câmara dos Deputados. Porém, a obstrução é um instrumento legítimo do regime parlamentar. Muito obrigado.

O Sr. Ney Suassuna - Senador Pedro Simon, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Concedo o aparte a V. Exª, solicitando que seja breve, pois o Senador Mauro Benevides logo deverá se retirar.

O Sr. Ney Suassuna - Gostaria apenas de dizer que V. Exª se pronunciou a respeito do caso Lucena; porém, esse não é um caso específico de S. Exª, mas de quase duas centenas de Parlamentares.

O SR. PEDRO SIMON - Todos nós sabemos disso. Estou falando em caso Lucena, porque assim a imprensa, injustamente, carimbou.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 06/01/1995 - Página 322