Discurso no Senado Federal

RAZÕES DO PARTIDO POPULAR, DO QUAL FAZ PARTE S.EXA., PARA A OBSTRUÇÃO DAS VOTAÇÕES DAS AUTORIDADES INDICADAS PELO SENHOR PRESIDENTE DA REPUBLICA AOS CARGOS DE PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL, EMBAIXADOR E OUTROS.

Autor
Pedro Teixeira (PP - Partido Progressista/DF)
Nome completo: Pedro Henrique Teixeira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • RAZÕES DO PARTIDO POPULAR, DO QUAL FAZ PARTE S.EXA., PARA A OBSTRUÇÃO DAS VOTAÇÕES DAS AUTORIDADES INDICADAS PELO SENHOR PRESIDENTE DA REPUBLICA AOS CARGOS DE PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL, EMBAIXADOR E OUTROS.
Publicação
Publicação no DCN2 de 07/01/1995 - Página 373
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, MOTIVO, POSIÇÃO, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO PROGRESSISTA (PP), OBSTRUÇÃO PARLAMENTAR, VOTAÇÃO, INDICAÇÃO, NOME, PERSIO ARIDA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), EMBAIXADOR, ANTERIORIDADE, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES (CRE), ESPECIFICAÇÃO, CELSO AMORIM, DIPLOMATA, DESIGNAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • DEFESA, POSIÇÃO, ORADOR, VALORIZAÇÃO, CLASSE POLITICA, NECESSIDADE, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INDICAÇÃO, LIDER, DIALOGO, SENADOR.

O SR. PEDRO TEIXEIRA  (PP-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, declaradamente, adotei uma postura, nesses últimos dias, contrária à obtenção do quorum pretendido pelo Governo para apreciação do nome do Sr. Pérsio Arida, indicado para o Banco Central, e de outros Embaixadores, já aprovados pela Comissão de Relações Exteriores, entre os quais o ex-Chanceler Celso Amorim, designado para a ONU.

Asseverei, durante as minhas argumentações, que o fazia porque o Partido ao qual pertenço e por cuja Liderança atualmente sou o responsável no Senado Federal - em decorrência de viagem oficial do Líder, Senador Irapuan Costa Júnior, à Croácia - é um Partido que está sendo marginalizado, discriminado pelo Presidente da República e pelos Partidos que lhe dão sustentação.

Por conseguinte, não tínhamos nenhum dever, nenhuma obrigação, não obstante reconhecermos que os problemas nacionais são altamente importantes, de curvarmo-nos a imposições, a determinações. Creio que política é questão de diálogo.

Não tenho nenhuma pretensão individual, nem meu Partido reuniu-se postulando cambalachos ou trocas. Tenho uma postura, que é a da valorização da classe política. Via de conseqüência, não podia concordar - e continuo não concordando - que a Presidência da República deixe o Senado Federal à margem do diálogo, não designando, nem que seja para um mandato tampão - se pudéssemos intitular assim - um líder para conversar, para dialogar, para tratar em alto nível, e não no nível do temor, não no nível da imposição, como acontece hoje quando o Senhor Presidente da República vem dizer que está irritado com o boicote a Pérsio Arida no Senado.

Nós é que estamos irritados com o Presidente da República, que saiu desta Casa e não se digna sequer a ter um representante para um diálogo maduro. Não me refiro a diálogo de café, diálogo de corredores, mas diálogo claro, para que fiquem acertados os posicionamentos, os espaços, as responsabilidades de cada um. Nós não somos pau-mandado de quem quer que seja. Não podemos compreender que o Partido que dá sustentação ao Governo venha aqui - muitas vezes no sentido de fazer média com a imprensa e sair-se bem dessa situação constrangedora - querer nos compelir a violentar os nossos princípios. Nós também temos os nossos princípios.

Há Senadores aqui que pensam que o Presidente desta Casa não pode ser o bode expiatório desses tristes episódios. Participei da CPMI e vi que os Líderes, entres eles Mauro Benevides e outros, eram os atingidos, porque o propósito era o de atingir a Instituição.

Essa reação é justa. Essa reação é legítima. Essa reação tem que ser respeitada pelos nossos próprios Pares. Não pode vir aqui, por exemplo, o Senador Pedro Simon e declarar que o Senador Alfredo Campos esculhambou toda a situação e que S. Exª, Alfredo Campos - Senador igual ao Sr. Pedro Simon - é mestre em criar problemas. Que o Sr. Pedro Simon queira arvorar-se em Líder do atual Governo é justo, dizem até que o Senador deseja continuar no cargo - espero que S. Exª esteja ouvindo meu pronunciamento, porque é melhor que esteja aqui para dialogarmos frente a frente -, mas não é legítimo que queira expor à execração pública colegas que têm uma postura declarada. O que esses Parlamentares pretendem na verdade? Ninguém quer fazer cambalacho, muito menos desejam fazer chantagem. Chantagem é algo que se faz em troca de favores ou de dinheiro ou de outras coisas. Aqui está-se querendo que as medidas preconizadas para o Presidente desta Casa - pois elas têm um endereço certo, ou seja, denegrir a classe política - sejam estendidas a outros tantos. Desejamos também que a Câmara dos Deputados não engavete processos, não engavete a apreciação da matéria, expondo o Senado Federal a uma situação de constrangimento.

Eu disse aqui, na última assentada, que eu voltava para defender, com emoção, com vigor, com ardor, esta Instituição, o Senado Federal, a qual pertenço eventualmente até o final do mês. Não posso concordar que alguns Senadores, mestres em querer aparecer para a mídia, para a imprensa, contribuam para desmerecer a Casa.

O Jornal do Brasil de hoje publica, entre outras coisas, no editorial, asseverando que os Senadores que ele nomeia - "os chantagistas - veja V. Exª - se pavoneavam". Adiante diz que o Brasil "é o desses Senadores dos grotões, que se elegem para enriquecer, se cevam no cambalacho e pretendem demonstrar que o Brasil não vai, não pode, não deve mudar". Lá na frente, mais grave: "Evidentemente, se a CPI do Orçamento tivesse levado a faxina que prometeu às últimas conseqüências, essa súcia de atravessadores seria hoje bem mais reduzida." E para finalizar, diz ele: "Isso tudo é um escárnio, uma vergonha, uma afronta cometida pelo pior segmento de uma das piores representações que já passaram pelo Senado Federal."

Trabalhei em jornal muito tempo. Sei que existe alguém por trás desses editoriais. Não conheço o caráter dessa pessoa, não sei se ela tem mais virtudes do que os colegas do Senado Federal. Não vejo hoje aqui nem o Senador Eduardo Suplicy nem o Senador Pedro Simon para defender a dignidade dos seus Colegas, que tomaram uma posição convictos de que esse é o caminho adequado, e estão pagando caro por isso. É uma postura digna de coragem, é um resgate até do mandato de Senador, que não se curva à imprensa, não se curva à imposição de quem quer que seja.

Sr. Presidente, louvo os Srs. Senadores pela sua convicção de que não podem votar amedrontados, compelidos. Eu, pelo menos, do PP, continuo dizendo que, se estamos afastados do Governo, não temos nenhuma obrigação de correr aqui, puxados pelos braços, para atender a interesse de meia dúzia. Acima disso, temos a nossa convicção, estamos presentes e não comungamos nem com os Srs. Senadores nem com alguns jornalistas que querem denegrir, com mentiras e falácias, a honra de homens de valor.

Dizem que sou um daqueles que estariam sendo processados pelo uso da Gráfica. Na falta do que fazer, para se estribar e dar uma moldura de pseudoverdade, mentem, caluniam, inventam. Não estou, não. E não me desonraria se tivesse usado a Gráfica nos termos em que todos a usavam. Não me envergonharia. Usaria porque essa era uma norma; não faria como o Líder do PT na Câmara, Sr. José Fortunati, que mandou fazer e não usou. Pior ainda, mandou fazer e não usou. Isto é mais grave: não assumiu. E houve outros: Chico Vigilante, Maria Laura, os petistas de Brasília, na gráfica local.

Que mundo é esse? Esse é um mundo de farisaísmo, hipocrisia, como está lá no Evangelho: brancos por fora e cheios de podridão por dentro. Raça de víboras! Sepulcros caiados! São essas pessoas que se estribam num jornal ou no mandato de Senador para vir aqui desonrar os seus Colegas.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 07/01/1995 - Página 373