Discurso no Senado Federal

A IMPORTANCIA DO MERCOSUL PARA A AMERICA LATINA.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).:
  • A IMPORTANCIA DO MERCOSUL PARA A AMERICA LATINA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 15/06/1995 - Página 10379
Assunto
Outros > MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), INTEGRAÇÃO, AMERICA LATINA, INCENTIVO, AMPLIAÇÃO, INTERCAMBIO COMERCIAL, ACELERAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, SISTEMA, PRODUÇÃO, VIABILIDADE, CONCORRENCIA, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, repetidamente se ouve falar que a América Latina é uma grande família. Tem a mesma origem ibérica, colonizadores irmãos, história semelhante de espoliação, sangramento das riquezas, violência contra seus homens.

Sobretudo, Sr. Presidente, traçamos ou nos traçaram políticas que nos separaram. Somos irmãos, é verdade, mas barreira muito maior que a Cordilheira dos Andes ou a Floresta Amazônica nos afastaram uns dos outros durante quase cinco séculos.

Falo do isolacionismo, da falta de vontade política de cooperar, do pesado tributo colonial de olhar sempre, num misto de inveja e inferioridade, o Norte desenvolvido, esquecidos da nossa terra, dos nossos homens, da nossa realidade.

A nova ordem mundial, porém, pôs em xeque essa postura contemplativa. As nações passaram a descobrir-se a si e a seus vizinhos e a organizar-se em blocos. Num processo lento e seguro, olhou-se por cima das fronteiras, países antes rivais deram-se as mãos, fatias antes separadas começaram a desenhar um grande e poderoso subcontinente novo.

As décadas de 70 e 80 assistiram à consolidação dos processos de regionalização e globalização das relações econômicas internacionais. Dizem - creio que com certa dose de razão - que ninguém muda porque quer, mas porque precisa. A cada vez maior necessidade de reestruturação da economia mundial para aumentar escalas de produção e ampliar mercados e para fazer frente aos avassaladores processos de inovação tecnológica obrigaram as nações a juntar forças, a dar-se as mãos, a esquecer a diferença e traçar um destino comum.

A União Européia aí está, reescrevendo a história da Europa. Antes tingido de sangue, o velho Continente esboça-se agora pleno de interesses comuns, cooperativo, sabedor de que os ganhos que qualquer um dos membros aufere é lucro para todos.

O Bloco do Pacífico e o Nafta também constituem exemplos a seguir. Eles revelam que, com vontade política, as barreiras não resistem, caem, derrubadas que são pelo ideal, persistência e luta de grandes estadistas que sabem estar construindo um país mais humano e mais justo não só para esta geração mas também para as vindouras.

A América do Sul, Sr. Presidente, não ficou alheia a esse grande movimento mundial. Com forte dose de realismo, Brasil e Argentina esqueceram ultrapassadas rivalidades, uniram vontades e começaram a construir o MERCOSUL, posteriormente robustecido com a adesão dos vizinhos Uruguai e Paraguai.

Ninguém duvida da importância de um mercado expandido, como forma de acelerar a transformação dos sistemas produtivos, tornando a economia mais competitiva, capaz de se inserir de forma mais eficaz e ativa na economia internacional.

O Brasil é, hoje, o maior mercado externo dos produtos argentinos. A Argentina, por seu lado, é o segundo país do mundo que mais importa mercadorias brasileiras, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

A análise da corrente de comércio do Brasil com os membros do MERCOSUL revela números alentadores. Em 1990, os valores alcançaram 3,64 bilhões de dólares; em 1993, nove bilhões. O crescimento registrado é de 148,6% em três anos - saldo que, não duvido, faz inveja até aos Tigres Asiáticos.

Quero lembrar, também, uma conseqüência pouco citada dessa aproximação. O contrabando, que era a via comum do comércio entre o Brasil e o Paraguai, praticamente desapareceu. A corrente de comércio entre os dois países já ultrapassou o patamar de um bilhão de dólares, número que o Brasil já havia atingido há mais tempo com o Uruguai.

O dinamismo dos negócios no MERCOSUL ultrapassou as fronteiras dos países membros e avançou para as nações vizinhas. O Chile tomou o lugar antes do México e tornou-se o segundo maior parceiro do Brasil na América Latina. O intercâmbio comercial com a Bolívia, Peru, Colômbia e Equador vem superando as expectativas mais otimistas.

O MERCOSUL já transpôs a fase heróica. Os alicerces estão firmemente plantados. O edifício, construído com material de primeira qualidade, está agora na fase delicada do acabamento, que exige bom-senso e grande dose de realismo.

Ao longo de sua história, o processo de integração do MERCOSUL vai ganhando dinâmica própria, que exige decisões políticas difíceis, frias, calculadas. Ficam para trás, nessa hora, os arroubos idealistas por mais bem intencionados que sejam. A bússola deve ser uma só: o realismo.

Muito ainda deve ser feito. A classe política, o empresariado e a imprensa precisam estar atentos aos próximos passos. Em futuro não muito distante, chegaremos ao Pacífico, encurtando, em cerca de doze mil quilômetros, as viagens marítimas para os portos do Oriente.

Este é o momento, Sr. Presidente, de resgatar a grande dívida social que os governantes têm com seus cidadãos. Não podemos falhar nessa missão.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 15/06/1995 - Página 10379