Discurso no Senado Federal

SITUAÇÃO DA AGRICULTURA NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO. CONGRATULANDO-SE COM A FEDERAÇÃO ESTADUAL DE AGRICULTURA E COM A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE AGRICULTURA.

Autor
José Ignácio Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: José Ignácio Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • SITUAÇÃO DA AGRICULTURA NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO. CONGRATULANDO-SE COM A FEDERAÇÃO ESTADUAL DE AGRICULTURA E COM A CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE AGRICULTURA.
Publicação
Publicação no DSF de 26/10/1995 - Página 1713
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, CRISE, AGRICULTURA, BRASIL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, APOIO, AGRICULTURA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, FEDERAÇÃO, AGRICULTURA, CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL (CNA), APOIO, MANUTENÇÃO, PRODUTOR RURAL, LIGAÇÃO, ATIVIDADE AGRICOLA, UTILIZAÇÃO, SERVIÇO NACIONAL DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL (SENAR), OFERECIMENTO, OPÇÃO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, AGRICULTOR.

            O SR. JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA (PSDB-ES) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, algumas verdades têm que ser ditas, por mais duro que seja fazê-lo e por mais difícil que seja conviver com os novos fatos. Houve um tempo, não muito distante de nossa memória, em que o Brasil era conhecido pela comunidade internacional como o celeiro do mundo. Com efeito, beneficiado por sua extensa configuração geográfica e povoado por terras férteis e de fácil acesso, o Brasil, livre das inclemências naturais tão comuns a outras regiões, transformou-se no principal fornecedor de alimentos para o mundo. Hoje, infelizmente, o quadro mudou, e o otimismo de antanho foi substituído pelo pessimismo da realidade natural. Por razões até aqui inexplicáveis, o País decidiu abandonar a sua tradicional vocação rurícola para enveredar pelos caminhos da economia moderna, mesmo não estando convenientemente preparado para enfrentar os riscos que ela interpõe aos neófitos.

            Não sou daqueles que se fecham no casulo do passado, indiferentes e renitentes a qualquer processo de transformação social, mas também não sou daqueles que sacrificam os resultados positivos do passado em nome de um futuro não totalmente assimilado por importantes segmentos de nossa sociedade.

            Em nome da modernidade, o Brasil vem sistematicamente destruindo uma atividade econômica que sempre nos proporcionou excelentes resultados. Espantam-me a indiferença e até mesmo a cumplicidade com que o Governo Federal acompanha a dilapidação do nosso patrimônio rural. É elogiável o esforço desenvolvido pelo Governo para associar o Brasil à imagem de um Estado moderno, mas não me consta que a capacidade produtiva da indústria, do comércio, das finanças e da terceirização seja incompatível com uma atividade agropecuária forte. Ao contrário, elas podem coexistir mansa e pacificamente. Na verdade, elas são interdependentes.

            É triste reconhecer-se, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores Senadoras, que a agricultura brasileira começa a sucumbir em face dos obstáculos brutais que a burocracia estatal oferece à sua continuidade. O governo brasileiro dedica ao produtor rural um tratamento de pária. Quando não o encara como pedinte, rotula-o de assaltante em potencial do Erário. Restringe-lhe as linhas de crédito, dificulta a comercialização de suas safras, prestigia a produção externa e penaliza a interna. Sem recursos para ter acesso às novas tecnologias de campo, e cada vez mais privados dos aconselhamentos técnicos das instituições criadas para lhes prestar assessoria, estas também experimentando um criminoso processo de desativação, os produtores rurais estão perdendo a sua competitividade nos mercados externo e interno, não recebendo uma justa recompensa por seu estafante trabalho.

            O resultado dessa opereta de equívocos começa a ter reflexos extremamente negativos na economia rural. Cresce o número de inadimplentes, multiplicam-se as falências, e os centros urbanos passam a receber um novo ciclo de migrantes rurais. Os príncipes do campo vão paulatinamente se tornando mendigos do asfalto.

            Felizmente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o agricultor brasileiro manteve a bravura de seus antepassados. Insiste em se manter vivo, quando o Estado abertamente prega a sua erradicação; esforça-se em manter a sua terra produtiva, mesmo não recebendo ajuda de quem deveria ser o principal interessado em sua produção; esforça-se para viver condignamente, mesmo diante da competição desleal que lhe movem os mercados internacionais.

            Estou convencido de que a situação do campo seria muito mais grave se não subsistisse o sentimento de solidariedade da classe rural, amparada permanentemente pelas federações estaduais de agricultura e pela Confederação Nacional de Agricultura, as quais, em várias oportunidades, assumindo responsabilidades que não eram suas, têm conseguido evitar a instalação do caos no setor.

            Um instrumento eminentemente classista e que tem carreado inúmeros benefícios para o homem do campo é o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR, entidade privada coordenada pela Confederação Nacional de Agricultura, contando com administrações regionais vinculadas às federações de agricultura dos Estados. O SENAR tem como objetivo básico organizar e executar em todo o território nacional a formação profissional rural e a promoção social do trabalhador e do agricultor, tendo como público-alvo os trabalhadores rurais assalariados, autônomos e produtores rurais em regime de economia familiar.

            No Espírito Santo, a Federação de Agricultura local, presidida pelo ex-deputado e empresário Nyder Barbosa de Menezes, tem se utilizado do SENAR para oferecer novas opções profissionais para os agricultores, além de cursos de aperfeiçoamento para esses trabalhadores e suas respectivas famílias. O trabalho que a Confederação Nacional de Agricultura vem desenvolvendo em todo o País para manter o trabalhador rural umbilicalmente ligado à sua terra, afastando-o da tentação das cidades feericamente iluminadas é digno de aplausos e merece ser estimulado. É indispensável, no entanto, que o Governo faça a sua parte e desenvolva, a curto prazo, uma política agrária adequada à realidade nacional, evitando, assim, que o campo seja transformado, num futuro não muito remoto, em uma extensa e silenciosa campa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/10/1995 - Página 1713