Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 40 ANOS DO INICIO DO GOVERNO DO EX-PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK.

Autor
Odacir Soares (PFL - Partido da Frente Liberal/RO)
Nome completo: Odacir Soares Rodrigues
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 40 ANOS DO INICIO DO GOVERNO DO EX-PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK.
Publicação
Publicação no DSF de 01/02/1996 - Página 1164
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, SITUAÇÃO, REVOLTA, MILITAR, AERONAUTICA.
  • ELOGIO, GOVERNO, CAMPANHA ELEITORAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ODACIR SOARES (PFL-RO.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as teorias políticas clássicas, baseadas na noção de força, certamente ficariam embaralhadas se tomassem conhecimento de que um imperador, apenas 40 dias após assumir o poder, enfrentou e derrotou uma rebelião dentro da corporação militar incumbida da sua defesa. Rebelião que pretendia derrubá-lo do poder. E, em seguida, esse imperador vitorioso anistiou os rebeldes, e mais ainda, reintegrou-os às suas forças armadas e, mais ainda, os promoveu. Mais confusos ainda ficariam os teóricos da ciência política se soubessem que tal procedimento, repetido em outras oportunidades no governo desse imperador, deu certo. O imperador governou, saiu do poder quando quis, num império onde os imperadores acabavam sempre derrubados por golpes militares.

Isso ocorreu aqui mesmo no Brasil. A rebelião foi dos militares da Aeronáutica, em Jacareacanga, em 1956. O autor dessa proeza foi o mais expressivo representante da cultura política brasileira, um imperador no sentido que a teoria política empresta a esse conceito, mas essencialmente um democrata, o ex-Presidente Juscelino Kubitschek, que aqui homenageamos hoje na passagem dos 40 anos do início de seu governo. Hoje, Juscelino é historicamente reconhecido pela sua inegável capacidade empreendedora, mas antes de tudo foi um gênio da ação política.

Para ocupar os militares que lhes poderiam ser hostis, potencialmente instaladas na Marinha e na Aeronáutica, ao contrário de provocar o medo para impor a autoridade, deu-lhes um presente. A compra do porta-aviões Minas Gerais, colocou em disputa as duas corporações pela uso do novo equipamento. Mas não foi uma simples distração, tinha também a sua marca de empreendedor. A tecnologia de Primeiro Mundo criou uma alternativa profissional ao então exagerado engajamento político das corporações militares. É essa diferença em relação ao momento histórico atual que destaco.

As gerações que agora chegam à vida política, sem dúvida, estranham tanta preocupação com as corporações militares. Afinal, vivemos um período de ressaca do poder militar, depois de 21 anos de regime autoritário. Nada parece aos jovens tão distante como o retorno dos militares ao poder. No período de Juscelino era o inverso. Após uma prolongada vivência de intervenções militares na vida política, as corporações militares estavam historicamente predispostas a assumir o poder. Havia entre os militares como que uma noção de dever, um sentimento de obrigação de ocupar o poder para prestar um serviço à nação. Foi esse espírito que Juscelino enfrentou, desarmou, ou, de fato, adiou, pois ele iria se consumar mais tarde, com os militares assumindo abertamente o poder.

No governo Juscelino a preparação do terreno para o presidente governar foi estrategicamente fundamental. Ele não encontrou tudo pronto, teve de criar condições para exercer o poder. Sem essa preparação não haveria condições de surgir o empreendedor, o presidente que transformou o País, dando novo impulso à industrialização, ao atrair a indústria estrangeira; recuperando a auto-estima do brasileiro ao criar essa fantástica Brasília, uma obra que hoje ninguém no mundo tem mais capacidade de construir com tamanha magnitude. Enfim uma lista exaustiva de realizações.

Nunca se comprovou tão verdadeiro o slogan de um campanha eleitoral como o da campanha de Juscelino que prometia dar ao Brasil 50 anos de progresso em apenas cinco anos de governo. Mas, ao vermos hoje Juscelino, com a perspectiva e a isenção de ânimos que o longo tempo passado nos permite, acho que o seu slogan de campanha foi modesto.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, nos dias atuais, quando o valor da política é negado pelo macartismo de plantão, que a injuria impiedosamente, quero lembrar que o slogan da campanha eleitoral de Juscelino omitiu o legado maior que Juscelino nos deixou: a sabedoria política. Um motivo de orgulho para a inteligência brasileira.

É o que penso, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/02/1996 - Página 1164