Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-GOVERNADOR NELSON CARNEIRO.

Autor
José Fogaça (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: José Alberto Fogaça de Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-GOVERNADOR NELSON CARNEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 08/02/1996 - Página 1421
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB-RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao chorar também a morte de Nelson Carneiro, juntamente com todos os membros desta Casa, tenho apenas o consolo de lembrar a oportunidade em que o Senador Nelson Carneiro despediu-se do Senado. Naquela ocasião, pudemos dizer-lhe em vida aquilo que agora relembramos após sua morte.

Lembro-me de ter usado uma expressão relativa ao seu trabalho, a sua operosidade, à intensidade desmedida da sua dedicação à tarefa legislativa, que, tenho certeza, foi bastante compreendida pelo Senador. Pude, naquele tempo, chamá-lo de "legislador do século". Posso ter cometido, talvez, um erro de precisão histórica, mas seguramente não cometi um exagero, Sr. Presidente.

A vida parlamentar de Nelson Carneiro, de quase meio século, não tem paralelo na história republicana. Sua obra legislativa, não só aquela que é assinada por ele, não só aquela que lhe é atribuída nominalmente como autor, mas aquela tarefa cotidiana, anônima, diligente, operosa, que Nelson Carneiro realizava no plenário e nas comissões.

Quando cheguei a esta Casa, há nove anos, eleito em 1986, não tomei a iniciativa de aproximar-me do Senador Nelson Carneiro, ou por timidez ou por respeito, até um respeito reverencial pela sua figura, pela sua história e pela sua imagem pública em todo o País. Contrariamente, foi ele que se aproximou. E, através da sua palavra, dos seus ensinamentos, das suas recordações íntimas, ou aquelas referentes aos fatos públicos dos diversos momentos da vida republicana por ele vividos, recebi, sem dúvida alguma, um substancial ensinamento.

Mas creio que a lição mais exemplar deixada por Nelson Carneiro ainda não foi aqui totalmente enaltecida ou identificada. Não sei se tenho razão no que digo, mas a minha percepção individual sobre o seu comportamento e a sua atitude como ser humano e como homem público é a de que, além de ser um legislador tenaz, diligente, operoso e extremamente combativo, Nelson Carneiro tinha, como o Dr. Ulysses Guimarães teve até sua morte, uma saudável ambição de responsabilidade política. Tendo vencido os 80 anos de vida e cumprido quase 50 de vida parlamentar, passando por todas as posições - foi também Presidente do Congresso -, reivindicava e disputava os cargos mais importantes desta Casa, como os da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

É preciso registrar que, na maioria das vezes, era bem sucedido nesse desiderato. Reivindicava cargos com uma voz quase inaudível, dada a sua idade - mais de 80 anos -, com uma energia e um nível de exigência que dava inveja a todos aqueles que, eventualmente, tinham a metade de sua idade e de seu tempo de vida parlamentar.

Aprendi com ele, portanto, o contrário do que supõem alguns: não é por ter energia que um homem trabalha na vida pública, mas, sim, porque trabalha e dedica-se à vida pública que ele tem energia. E era aí que Nelson Carneiro encontrava a fonte jamais exaurida da sua capacidade de trabalho.

Aprendi bastante, porque pude conviver com ele quase doze anos no Congresso Nacional. E aprendi porque fui Relator Adjunto na Assembléia Nacional Constituinte, e ele - que tinha apenas uma função de plenário - mostrou-me o quanto e o que pode fazer um homem com grande experiência parlamentar e tenacidade legislativa. Cada emenda, cada debate, cada capítulo da Constituição teve a participação dele de maneira absolutamente empolgante, de modo a emocionar todos nós, Sr. Presidente.

Depois, mesmo já tendo avançada idade, aparentemente tendo perdido alguns dos elementos mais visíveis da sua habilidade física, era implacável na exigência da precisão técnica do texto legislativo. Era um homem que tinha um enorme rigor teleológico. A precisão, a exatidão conceitual era, para ele, algo absolutamente sacro em termos de elaboração legislativa. Com sensatez, maturidade e, ao mesmo tempo, uma saudável ambição pessoal - não de galardões, porque aqui ninguém jamais viu Nelson Carneiro pleiteando homenagens, elogios, ou louvações -, ele pleiteava, brigava, reivindicava por responsabilidades públicas em favor do bem comum, ou seja, ele é um exemplo de não omissão, de não indiferença diante dos problemas brasileiros.

Creio que o Brasil deve-lhe uma estátua que diga aquilo que o identificaria, o que melhor reproduziria os seus anseios, a sua saudável ambição pessoal e a sua obstinação inexaurível em torno do trabalho legislativo que realizava.

A Nação lhe deve uma estátua que diga: "A Nelson Carneiro, o legislador do século! A Pátria, agradecida."

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/02/1996 - Página 1421