Discurso no Senado Federal

REPUDIO A VIOLENCIA EMPREGADA PELA POLICIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS CONTRA OS TRABALHADORES SEM-TERRA.

Autor
Junia Marise (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: Júnia Marise Azeredo Coutinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • REPUDIO A VIOLENCIA EMPREGADA PELA POLICIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS CONTRA OS TRABALHADORES SEM-TERRA.
Publicação
Publicação no DSF de 11/04/1996 - Página 6035
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • PROTESTO, VIOLENCIA, POLICIA MILITAR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), AGRESSÃO, TRABALHADOR, SEM-TERRA, DEFESA, REFORMA AGRARIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, VIOLENCIA, POLICIA MILITAR, AGRESSÃO, SEM-TERRA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

A SRª JÚNIA MARISE (PDT-MG. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago aqui exemplares dos principais jornais do nosso País, nos quais vemos destacada em fotos, inclusive coloridas, a repressão praticada ontem, em Belo Horizonte, pela Polícia Militar do Estado contra os trabalhadores sem terra que vieram de Governador Valadares para a Capital, nesse Movimento em favor da reforma agrária.

Esse conflito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, marca profundamente a história de um passado que toda a sociedade brasileira gostaria de ver sepultado. Por mais que as autoridades deste País queiram reprimir manifestações democráticas como essa, o Movimento dos Sem-Terra objetiva mostrar, sem dúvida alguma, que esses trabalhadores do campo, que desejam terra para trabalhar, que estão se mobilizando e promovendo essas caminhadas com o objetivo de alertar as nossas autoridades, dispõem apenas do seu ideal e da sua ferramenta de trabalho. A repressão a que foram submetidos certamente nos causa indignação, porque foram reprimidos sob a ameaça de cachorros e cassetetes, em um ato de violência. Cabe-nos, neste momento, manifestar aqui não apenas a nossa solidariedade ao Movimento dos Sem-Terra, mas solidariedade nesse momento em que foram reprimidos com tanta violência pela Polícia do nosso Estado.

Gostaria de registrar aqui alguns pontos da repercussão, a nível nacional, desse ato de repressão realizado ontem, em Belo Horizonte. A Folha de S.Paulo assim noticia:

      "A Polícia fez operação para prender ferramentas dos quatrocentos manifestantes que caminham rumo a Belo Horizonte. Cinco pessoas ficaram feridas, foram detidas dezesseis pessoas, sendo dois sem-terra, entre eles um adolescente, três sindicalistas e um padre. Os sem-terra foram barrados pela Polícia ontem pela manhã na BR-262, na entrada de Belo Horizonte, com a determinação de que só prosseguiriam a marcha se entregasse as suas ferramentas!"

Outro jornal mostra claramente, em sua primeira página, a Polícia agredindo os trabalhadores desarmados. Também o Estado de S.Paulo, como os jornais de Minas Gerais, retratam a violência que foi praticada ontem contra os trabalhadores sem terra de Minas Gerais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejamos aqui ressaltar, mais uma vez, a importância desse Movimento, que alerta sobre a necessidade emergencial e imperiosa de o Governo promover a reforma agrária não com palavras, mas com práticas, com vontade política, para que possamos ter os trabalhadores efetivamente no campo, plantando e colhendo alimentos para a nossa população. E é isto que eles querem. Eles querem respostas do Poder Executivo, dos Governos Estaduais. Querem vontade política das nossas autoridades que lhes garanta o direito de ter a terra para trabalhar.

Neste momento, apelo ao Governador de Minas Gerais no sentido de que determine aos órgãos do Estado um reexame, um levantamento completo das terras devolutas do nosso Estado, a fim de que elas possam ser destinadas também ao Programa da Reforma Agrária em Minas Gerais.

Esse acidente, ocorrido ontem em Belo Horizonte, demonstra, sem dúvida alguma, o despreparo das nossas autoridades, no momento em que estamos vivendo e consolidando a democracia em nosso País, com relação às reivindicações dos trabalhadores sem terra.

Por que o Governo não dá o mesmo tratamento aos banqueiros? Esses banqueiros que estão cometendo crime contra a economia popular fraudam durante um, dois, dez anos; aplicam golpes, provocam rombos, mas o Governo os socorre, liberando milhares e milhares de Reais.

O SR. PRESIDENTE (Ernandes Amorim) - Peço à Srª Senadora que seja breve, porque ainda temos 20 oradores inscritos.

A SRª JÚNIA MARISE - Estou concluindo, Sr. Presidente.

Por que, Sr. Presidente, um tratamento tão diferenciado com trabalhadores desarmados, que têm apenas nas mãos as suas ferramentas de trabalho? Por que tanta violência contra esses trabalhadores que foram presos, que, como as fotografias e a divulgação dos noticiários deste País demonstram, desejam apenas gritar e continuar gritando, enquanto esperam por uma reforma agrária neste País?

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/04/1996 - Página 6035