O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei muito breve, mas não poderia deixar de registrar que, na quinta e sexta-feira da semana passada, realizou-se, em São Paulo, o Seminário Brasil-França, sob o auspício do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais.

Quem conhece esse órgão da diplomacia brasileira, que é comandado em nosso País pelo eminente Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, sabe do valor com que são tratados os problemas internacionais.

No dia 25 de abril, a mesa nº1 tratou do tema "O Brasil e a França na política internacional: presente e futuro, divergências e convergências". Eu não sei a quem creditar, talvez por uma dessas manobras do destino, fui convidado para participar dessa mesa. Apresentei um trabalho por escrito, o temário foi até às 13h30.

A mesa nº 2, das 14h30 às 20 horas, tratou do tema "O Brasil e a França na economia mundial: presente e futuro, divergências e convergências."

Na sexta-feira, a mesa nº 3 trabalhou com o tema "A cultura na política e na economia mundial" e, a tarde: "Energia, biotecnologia, informática e espaço: perspectivas e estratégicas."

Por que faço este registro? Porque não vi na imprensa nada que falasse da grandeza do que ali aconteceu.

O Sr. Valmir Campelo - Permite-me V. Exª um pequeno aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Ouço com muita honra, porque é sempre encorajador ouvir V. Exª.

O Sr. Valmir Campelo - Muito obrigado, nobre Senador. Quero apenas parabenizar V. Exª. Esse seminário, acontecido em São Paulo, é de suma importância para o nosso País, pois contou com empresários e políticos, brasileiros e franceses, e é, antes de mais nada, uma preparação para a visita do Presidente da República à França. Houve grandes conferencistas brasileiros, Ministros de Estado, como também autoridades francesas, entre elas o administrador de Paris, e muitas outras que vieram ao Brasil exatamente para participar desse Seminário. Eu não poderia deixar de registrar a participação brilhante de V. Exª, representando até mesmo nós, Senadores da República. Nobre Senador Bernardo Cabral, receba o nosso abraço de agradecimento e parabéns por ter comparecido ao encontro e contribuído com sua inteligência para facilitar até mesmo os compromissos e a ida do Presidente da República à França. Parabéns.

O SR. BERNARDO CABRAL - Senador Valmir Campelo, V. Exª é realmente um homem dadivoso. É daqueles que a generosidade faz parte não só da sua biografia, como é uma espécie de lema ao longo da sua vida. É claro que, neste instante, o Senador Valmir Campelo registra esses elogios mais pelo afeto do que pelos méritos que o seu admirador de sempre dispõe.

Para dar uma idéia da grandeza do encontro, quero registrar algumas presenças - e não citarei os brasileiros que lá se encontravam -: o Diretor da Escola Nacional Superior de Belas Artes, Estudos de História e de Arte, da Universidade de Paris-Nanterre, Professor Alfred Pacquement; Antoine Frédéric Cornet, membro do Conselho Científico do l'LARE; Antoine Joly, Administrador da cidade de Paris.

Na seqüência, Sr. Presidente, o alemão Axel Sauder, famoso porque PhD. A sua tese foi conseguida magna cum laude.

E mais, Sr. Presidente: Bernardo Boris Vargaftig, um xará meu, que é Doutor em Ciências pela Universidade de Paris, hoje membro da direção do Instituto Pasteur e Directeur des Applications de la Recherche; Bernard Mencier, Doutor em Ciências Físicas, foi Diretor-Presidente do Banco Credit Comerciale de France.

Além dos Ministros de Estado do Brasil, tivemos a presença do Sr. François Laplantine, conhecido Professor Titular de Etnologia da Universidade de Lyon; Sr. François Thual, da Faculdade Sorbone, Mestre em Sociologia e História; Gerard Blondeau, Membro do Conselho de Administração da Sociedade CLS-ARGOS; Jean Galard, Chefe do Serviço Cultural do Museu do Louvre; Sr. Jean Francis Louis Tavernier, Presidente da delegação Aquitaine de La Fondation de France.

Para finalizar, Sr. Presidente, cito quatro nomes: o Vice-Presidente da Assembléia Nacional da França, Nicole Catala; Monsier Robert Richard, um homem conhecido no Brasil, porque exercitou também a função diplomática; e Robert Picht, professor de "Sociologie européene", e, finalmente, o Embaixador Philippe Lecourtier, o embaixador da França no Brasil.

Sr. Presidente, essa delegação demonstra a importância que foi esse seminário, realizado em 25 e 26 de abril, em São Paulo, sob os auspícios do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais. Não vi, confesso - como bem registrou o eminente Senador Valmir Campelo sobre um preparativo para a visita do Presidente da República à França -, na imprensa, a dimensão que uma reunião dessas significaria para o País; talvez, porque estejamos às voltas com o massacre em Eldorado dos Carajás, Estado do Pará. De qualquer maneira, Sr. Presidente, essa data ficará registrada nos Anais do Senado.

Não deixaria, ainda que pálido participante de um seminário desta importância - que, felizmente, para gáudio meu e alegria insuperável, figurará no meu currículo -, de fazer este registro. E, em não podendo fazê-lo, também ficaria para mim muito difícil não ouvir o eminente Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino Maia - Senador Bernardo Cabral, ainda bem que V. Exª foi convidado a participar desse evento. Com brilho e devida ênfase, faz o registro do evento no plenário do Senado. É evidente que as relações do Brasil com a França, extremamente robustas no campo político, no campo cultural, no campo dos investimentos dos interesses comerciais, recomendavam um outro nível de exposição desse tipo de encontro, até pela iminente visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso à República Francesa. Lamentavelmente, fatos domésticos de relevância empanaram o brilho desse encontro, que reuniu figuras do Brasil e figuras importantíssimas do governo francês e de instituições francesas, mas certamente esse encontro terá cumprido o seu papel. Acredito, até, que V. Exª está sendo modesto na apresentação dos resultados ou das ocorrências desse encontro, que seguramente vão produzir resultados a curto e médio prazos e no futuro. Parabenizo V. Exª pela presença nesse encontro e pela manifestação que faz da sua ocorrência aqui no plenário do Senado da República.

O SR. BERNARDO CABRAL - V. Exª acentua bem, eminente Senador José Agripino, com a clarividência de que sempre foi portador, até porque, quando passou pelo governo do seu Estado, ungido duas vezes pelas urnas, teve oportunidade de assistir de perto a esse relacionamento Brasil com a França. Lembro, em determinada reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, a densidade com que V. Exª argüia o nosso embaixador, que ia para o exterior.

Nesse seminário, a minha grande preocupação, sabendo que a França é hoje o décimo segundo importador de produtos brasileiros e o sexto principal país exportador para o Brasil, era mostrar a dimensão Amazônica. Fiz questão, entre as divergências e convergências - este era o meu tema - de salientar a nossa posição quanto aos artefatos nucleares, com as experiências atômicas recentemente realizadas pela França, no Atol de Mururoa, e dizendo que enquanto nós, Constituintes, estivemos sempre voltados para o problema nuclear para fins pacíficos, respeitávamos também a argumentação que a França nos indicava - se V. Exª está lembrado - mediante a exposição que fez o embaixador Philippe Lecourtier na nossa Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Respeitávamos - repito - porque se dizia que era uma forma de defesa e que, ainda bem, as palavras de S. Exª acabaram sendo confirmadas, a França encerrava os seus testes nucleares.

Por isso mesmo, nessa dimensão Amazônica, eu chamava a atenção dos que ali se encontravam, de que enquanto o mundo inteiro começa a sentir o drama da falta de água doce, eu lembrava que, na nossa região, se encontra um quinto de água doce do mundo. Mostrava, entre as divergências e as convergências, que a nossa educação, até a Segunda Guerra Mundial e um pouco mais para cá, foi toda ela francesa, européia. Não conheço ninguém da nossa geração, até pour épater le bourgeois, que não saiba dizer duas palavras em francês, uma vez que tínhamos, como estive o ginasial inteiro, nos 4 anos, aprendendo um pouco de francês. E estranhava também que o Itamaraty, eventualmente, pudesse retirar esta disciplina do seu convívio, mas ao que fui esclarecido, isso era tão-somente quanto ao vestibular agora - porque, queiram ou não, a língua predominante é o idioma inglês - e, ao longo da preparação, os alunos do Instituto Rio Branco teriam aulas maciças, uma vez que é um idioma que não pode nenhum diplomata dele prescindir.

Ao fazer este registro, a alegria que tenho, não só dos apartes recebidos, é ver que preside a nossa sessão o nosso estimado amigo Ramez Tebet, cuja carreira na Ordem dos Advogados do Brasil fizemos paralelamente. De modo que também S. Exª, um adepto do idioma francês, deve estar vendo que valeu a pena que tenhamos realizado esse Seminário Brasil-França.

Ao final do registro, Sr. Presidente, faço questão de solicitar a V. Exª que dirija expediente ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, dando conta de que o Senado terá nos seus Anais este registro.