Discurso no Senado Federal

INDAGANDO DA POSSIBILIDADE DE SE FAZER UMA VIGILIA NO PLENARIO, COMO SINAL DE PROTESTO AO DESRESPEITO PARA COM O SENADO FEDERAL, PARA COM A POPULAÇÃO E PARA COM A OPINIÃO PUBLICA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES.:
  • INDAGANDO DA POSSIBILIDADE DE SE FAZER UMA VIGILIA NO PLENARIO, COMO SINAL DE PROTESTO AO DESRESPEITO PARA COM O SENADO FEDERAL, PARA COM A POPULAÇÃO E PARA COM A OPINIÃO PUBLICA.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/1996 - Página 18453
Assunto
Outros > MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES.
Indexação
  • SUGESTÃO, PRORROGAÇÃO, SESSÃO, PROTESTO, DESRESPEITO, SENADO, POPULAÇÃO, SONEGAÇÃO, INFORMAÇÃO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).
  • CRITICA, ARTICULAÇÃO, AUTORIDADE, GOVERNO, PREJUIZO, INTERESSE PUBLICO.

A SRª MARINA SILVA (AC-PT. Para um esclarecimento. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta sessão já foi prorrogada. Não sei quais são os procedimentos a serem tomados do ponto de vista regimental. Já ficamos aqui até de madrugada para votarmos, de última hora, alguns projetos de interesse do Governo. Não sei quais são os mecanismos utilizados para se chegar até esse horário, mas penso que seria de bom grado que fizéssemos uma vigília aqui, pelo menos em sinal de protesto ao desrespeito para com o Senado, para com a população e para com a opinião pública nacional, desrespeito esse que está sendo praticado pelas pessoas que têm a responsabilidade de nos passar esse documento.

Indago à Mesa se ainda há meios de prorrogar esta sessão. Já fiz muitas vigílias, muitos acampamentos, muitos "empates". Este momento é semelhante a outros de que já participei em minha vida. Lembro-me de que, uma vez, na Fazenda Bordon, após andarmos seis horas a pé, chegamos onde os fazendeiros iriam derrubar ilegalmente 700 hectares de floresta. Enfrentamos os peões e a Polícia - paga com o dinheiro público - que estavam ali de prontidão para defender os interesses dos fazendeiros e percebemos que éramos impotentes para resolver um problema tão grande. 

Voltamos a pé e foi necessária uma engenharia enorme para permanecermos na luta. Primeiramente, entramos em contato com a Drª Maria Alegrete, em Curitiba, que tinha um amigo nos Estados Unidos, que telefonaria para alguém não sei de onde, que tinha um amigo dentro do IBDF, que tinha um outro amigo, para ver se era possível alguma ação que impedisse que esse crime acontecesse. Hoje, vitoriosa, digo que não permitimos que derrubassem 700 hectares de floresta ilegalmente. Recebi um dia desses uma carta do antigo gerente da fazenda Bordon; uma linda carta dizendo do quanto ele se arrependeu, quando viu a minha entrevista no Jô Soares, dos atos que praticara contra a nossa floresta àquela época. Hoje ele tenta reparar o mal que fez ao Estado do Acre, a Chico Mendes, a Xapuri e a todos nós. Só estou narrando esses fatos, Sr. Presidente, porque o que está acontecendo hoje é muito parecido. Estamos fazendo tudo que é possível para ver se nos chegam essas informações. Parece-me um empate ao contrário: estamos aqui diante de um empate. Não sei se o que vou sugerir é possível do ponto de vista regimental. Não queremos praticar nenhuma ilegalidade, mas penso que a maior ilegalidade que se está praticando é esta que se faz contra a transparência, contra a dignidade, contra o Serviço Público; é tornar-se cúmplice de atitudes erradas que beneficiam alguém que, talvez, administrará a maior cidade deste País. Lamento muito que isso esteja acontecendo. Já participei de muitos empates, porém, para enfrentar fazendeiros inescrupulosos, pessoas contratadas em outros Estados para eliminar a vida de seringueiros. Tenho aqui os nomes de muitos que eles eliminaram. Contudo, confesso que, mesmo naquela época, sendo apenas uma professorinha, não me sentia tão impotente como agora. Eu estava junto a pessoas que também tinham coragem, como tem V. Exª e o Senador Lauro Campos. Entretanto, quer me parecer que aquelas forças, mesmo das pessoas que eram contratadas fora do nosso Estado para nos fazer mal, eram muito inferiores a estas que hoje estão por trás de toda essa articulação movida no sentido de que essas informações não apareçam. Lamento muito, repito, que o Brasil tenha que se submeter claramente, assim como se tirassem o véu, como se entregassem, de forma límpida e transparente, a realidade para a sociedade brasileira. Eu queria que a população estivesse assistindo à TV Senado, para ver este espetáculo fantástico de como as autoridades brasileiras protegem os seus interesses particulares de grupos políticos. É uma articulação que envolve desde funcionários a altos representantes de função pública com cargo político. Como eu gostaria que a população pudesse estar assistindo a este espetáculo triste! Estamos aqui, quase de forma patética, impotentes a esperar que aqueles que estão querendo favorecer o Sr. Celso Pitta escondam as informações a seu bel-prazer. Lamento muito! Quando eu enfrentava aqueles bandidos que assassinaram Chico Mendes, eu não me sentia tão impotente, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/1996 - Página 18453