Discurso no Senado Federal

GRAVIDADE DOS ULTIMOS ACONTECIMENTOS EM LIMA, PERU, RELATIVOS A INVASÃO DA EMBAIXADA DO JAPÃO PELO GRUPO TUPAC AMARU. PARALELO ENTRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS NO PERU E NO BRASIL. REELEIÇÃO PRESIDENCIAL NO BRASIL.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA SOCIAL.:
  • GRAVIDADE DOS ULTIMOS ACONTECIMENTOS EM LIMA, PERU, RELATIVOS A INVASÃO DA EMBAIXADA DO JAPÃO PELO GRUPO TUPAC AMARU. PARALELO ENTRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS NO PERU E NO BRASIL. REELEIÇÃO PRESIDENCIAL NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/1996 - Página 21042
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DIPLOMATA, EMBAIXADOR, QUALIDADE, PRISIONEIRO, EFEITO, SEQUESTRO, INVASÃO, EMBAIXADA, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, LOCALIZAÇÃO, PERU.
  • ANALISE, EQUIVALENCIA, DESIGUALDADE SOCIAL, SIMILARIDADE, SITUAÇÃO, NATUREZA POLITICA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PERU.
  • CRITICA, GOVERNO BRASILEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, ATENÇÃO, APROVAÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SIMULTANEIDADE, NEGLIGENCIA, PROBLEMA, NATUREZA SOCIAL, DEMORA, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, ERRADICAÇÃO, POBREZA, PAIS.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jefferson Péres, Srªs e Srs. Senadores, pedi comunicação inadiável porque considero da maior gravidade o ocorrido no Peru, em que centenas de diplomatas, inclusive o Embaixador brasileiro, Carlos Luiz Coutinho Perez, a mãe do Sr. Presidente do Peru, Alberto Fujimori, seu irmão e outros que se tornaram reféns do grupo Tupac Amaru.

Sr. Presidente, esse episódio merece reflexões do Senado Federal.

Obviamente, queremos externar a nossa solidariedade aos diplomatas, inclusive ao Embaixador brasileiro, Carlos Luiz Coutinho Perez, que se encontra como refém dos guerrilheiros, ou deste grupo revolucionário peruano. Queremos dizer que de forma alguma concordamos com as ações violentas. Queremos também externar o quão importante é o Governo brasileiro agir com equilíbrio, com ponderação e procurar fazer ver às autoridades peruanas que o importante, neste momento, é realizar uma negociação de forma pacífica e sem a utilização da violência.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que é que vem à lembrança diante de um governo que insiste em não resolver adequadamente os problemas sociais profundos no Peru, um governo que insiste em manter políticas que têm muito a ver com aquilo que também está acontecendo na Argentina e aqui no Brasil, um governo que tem tido como preocupação maior a sua permanência no Governo? Está aí o Presidente Fujimori a insistir na sua terceira reeleição.

Ah! Sr. Presidente, esse episódio deveria ser um alerta para um Governo que está por completar dois anos, e que hoje faz o seu balanço. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu alcançar algumas metas importantes, como a de baixar a inflação, está sobremodo otimista com respeito à realização da meta de diminuir a pobreza no Brasil e as desigualdades. Os dados, se bem analisados por quem quer efetivamente ver a realidade brasileira, estão a indicar que estamos muito longe de resolver os problemas sociais da desigualdade e da erradicação da pobreza.

Ao invés de estar preocupado em acelerar a reforma agrária e a instituição de instrumento que venha a erradicar a pobreza, o Governo tem como concentração máxima de esforços a reeleição. Isso significa seguir a trilha de Carlos Menem e do Presidente Alberto Fujimori, aquele que só consegue ver a si próprio como a única pessoa capaz de levar adiante os destinos do povo peruano. Imaginava o Presidente Fujimori ter liquidado com os movimentos revolucionários no Peru.

Claro que o Peru tem uma outra tradição cultural e histórica. Mas, Sr. Presidente, não podemos deixar de alertar o Governo brasileiro sobre o resultado de ficar insistindo na reeleição sem resolver os problemas sociais de profundidade.

Sr. Presidente, reiteramos nosso apelo ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para que Sua Excelência recomende moderação e equilíbrio na negociação junto aos demais países que têm os seus embaixadores como reféns do grupo Tupac Amaru. E que isso sirva de alerta ao Presidente Fernando Henrique para que Sua Excelência não insista tanto nesse direito de reeleição. Realize, nos próximos dois anos, aquilo que estava em seu discurso último como Senador e já Presidente eleito, quando disse: "Essa tarefa, no nosso caso, vem junto com o imperativo ético de incorporar ao processo de desenvolvimento os milhões de excluídos da miséria".

Passados dois anos, o que se realizou nessa área foi extremamente modesto, e seria importante que o Governo realizasse mais nessa direção, porque, de outra forma, não será surpresa se ocorrerem episódios graves como o do Peru, diante de um governo que pensa na sua perpetuação a qualquer custo e com métodos de convencimento do Parlamento que fazem lembrar aquilo que aqui no Brasil está ocorrendo hoje, quando o Governo tanto insiste no direito à sua reeleição.

Que o Presidente Fernando Henrique escute melhor as recomendações de Alexis de Tocqueville, quando diz que uma coisa é um homem disputar as eleições e a outra é um chefe de estado, homem ou mulher, estar com toda máquina de Governo em suas mãos, fazendo de tudo para conquistar o direito de reeleição, para depois empenhar-se na campanha contra outros seres humanos, homens ou mulheres, que serão candidatos sem a máquina do poder em suas mãos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/12/1996 - Página 21042