Discurso no Senado Federal

VISITA DO PRESIDENTE DA FRANÇA, JACQUES CHIRAC, AO BRASIL, POSSIBILITANDO UMA MAIOR INTEGRAÇÃO ENTRE LATINO-AMERICANOS E EUROPEUS.

Autor
José Ignácio Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: José Ignácio Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • VISITA DO PRESIDENTE DA FRANÇA, JACQUES CHIRAC, AO BRASIL, POSSIBILITANDO UMA MAIOR INTEGRAÇÃO ENTRE LATINO-AMERICANOS E EUROPEUS.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/1997 - Página 6209
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ANALISE, VISITA OFICIAL, JACQUES CHIRAC, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, FRANÇA, IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO, PAIS, AMERICA DO SUL, ESPECIFICAÇÃO, BRASIL, MERCADO INTERNACIONAL, UNIÃO EUROPEIA.

O SR. JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA (PSDB-ES. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, as visitas de Chefes de Estado tornaram-se, por assim dizer, uma rotina neste nosso mundo globalizado de comunicações também pessoais diretas, pelos meios de transportes os mais rápidos. A visita, porém, do Presidente Jacques Chirac, da França, reveste-se de significado próprio. Até certo ponto diferente.

Em primeiro lugar evidentemente pela procedência do visitante, a França. Ainda e sempre um País especial para os brasileiros. Aquele cuja influência moderna rivaliza até com a dos Estados Unidos. É bem verdade que a França hoje se insere no quadro amplo da União Européia. Mas ela, com a Alemanha significam a sua maior força de integração. A paz franco-alemã continua o eixo em torno do qual gira a nova Europa Ocidental.

A França nunca deixou de exercer um fascínio maior para o mundo: seu bom gosto, seu talento, das artes às ciências e tecnologia, prosseguem despertando internacional admiração. Foi um norte-americano, Benjamin Franklin, quem disse: todo verdadeiro homem livre tem duas pátrias, a sua e a França.

O Brasil não podia ser exceção.

Desde pelo menos o Século XVIII do iluminismo enciclopedista e da Revolução Francesa que a marca da França veio para ficar. São tantos os escritores, pintores, escultores, músicos, filósofos, cientistas de lá com extraordinária repercussão entre nós, que seria impossível enumerá-los. A latinidade da América Meridional não se esgota na hispanidade, como parecem querer os norte-americanos; a latinidade americana estende-se às raízes francesas, portanto às romanas mais antigas.

Pena que, e o Presidente Chirac reconheceu-o em discurso na sessão solene do Congresso Nacional em 12 de março corrente, pena que "durante muito tempo deixamos de cultivar o nosso grande potencial de amizade". Guerras, conflitos, dentro e fora da Europa, desviaram nossas atenções. Jamais, contudo, nossas intenções originárias, comuns, de liberdade, igualdade e fraternidade entre os indivíduos e os povos conforme a lição maior da Revolução Francesa.

Nem por isso o Brasil e a França deixaram de ter uma relação especial, diferente. Pouca gente observa que a França é o único País europeu a dispor de fronteira terrestre com o Brasil. Sim, a fronteira da Guiana. Pois ela é oficialmente um dos departamentos franceses. Uma das suas aglomerações administrativas de municípios. Inclusive com deputados e senadores eleitos diretamente pelos habitantes para a Assembléia Nacional Francesa. O Presidente Chirac fez questão de relembrar este mais que um mero detalhe. Daí ele concluir: "O Brasil deve ser um dos principais parceiros da França".

E recordou que, "com quinze Estados-membros e trezentos e cinqüenta milhões de habitantes, a Europa é o maior mercado do mundo. E o mais aberto. O seu PNB iguala-se à soma dos PNBs dos Estados Unidos e do Canadá". "A União Européia importa duas vezes mais do que toda a América do Norte". E a União Européia "é de longe o primeiro doador de auxílios à América do Sul e o seu primeiro parceiro comercial". A União Européia continua se expandindo. Está prevista reunião do seu Conselho ainda para o ano corrente, quando, nas palavras do Presidente Chirac, "reforçará sua política externa e de segurança comum" e abrirá "negociações para o ingresso futuro dos países da Europa Central e Oriental, de maneira que a União conte o mais rapidamente possível com vinte e sete Estados que representarão quatrocentos e cinqüenta milhões de habitantes".

O Brasil evidentemente não deve, nem pode ignorar este quadro. O Brasil tornou-se um global trader: vinte e sete por cento das exportações brasileiras ora se dirigem à Europa Ocidental, vinte e quatro por cento à América do Norte, vinte e um por cento à América do Sul e dezesseis por cento à Ásia. O Brasil por si só é um continente, muito mais no contexto do Mercosul, hoje "a quarta estrutura econômica do mundo", como reconheceu ainda o Presidente Chirac ao enfatizar a urgência de mais aproximação. Possibilitada pelo Acordo de 1995 entre Mercosul e União Européia para uma integração entre ambos, o parágrafo 1º do artigo 2º chega a prever "uma Associação Inter-Regional".

Estamos, assim, latino-americanos e europeus, convocados, mais que reciprocamente convidados, a um passo seguinte e maior na integração euro-americana. Este o sentido amplo e profundo da recente visita do Presidente Jacques Chirac ao Brasil.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/1997 - Página 6209