Discurso no Senado Federal

AGRADECIMENTOS AQUELES QUE SE SOLIDARIZARAM COM S.EXA. NA TARDE DE ONTEM, EM VIRTUDE DAS INJUSTAS ACUSAÇÕES RECEBIDAS DO PRESIDENTE DO IBAMA. COMENTANDO OFICIO RECEBIDO DO PRESIDENTE DO IBAMA, DR. EDUARDO DE SOUZA MARTINS, QUE FAZ UMA RETRATAÇÃO DA ENTREVISTA CONCEDIDA A REVISTA VEJA, EM QUE FAZ ACUSAÇÕES A S.EXA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • AGRADECIMENTOS AQUELES QUE SE SOLIDARIZARAM COM S.EXA. NA TARDE DE ONTEM, EM VIRTUDE DAS INJUSTAS ACUSAÇÕES RECEBIDAS DO PRESIDENTE DO IBAMA. COMENTANDO OFICIO RECEBIDO DO PRESIDENTE DO IBAMA, DR. EDUARDO DE SOUZA MARTINS, QUE FAZ UMA RETRATAÇÃO DA ENTREVISTA CONCEDIDA A REVISTA VEJA, EM QUE FAZ ACUSAÇÕES A S.EXA.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/1997 - Página 13019
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, ORADOR, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, PRESIDENTE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
  • ANALISE, DIVERGENCIA, ORGÃOS, GOVERNO, AMBITO, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, SUGESTÃO, ORADOR, AUMENTO, DEMOCRACIA, DECISÃO.

A SRª MARINA SILVA (Bloco-PT-AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem vim à tribuna desta Casa para defendê-la de injustas acusações recebidas do Presidente do Ibama.

Quero, por dever ético agradecer a todos os Senadores que comigo foram solidários e ao Presidente Antonio Carlos Magalhães que, na defesa desta Instituição e da minha honra, se solidarizou comigo. Agradeço por essa solidariedade e também a todos aqueles que enviaram cartas se solidarizando comigo. Faço questão de registrá-las ao final deste breve pronunciamento.

Recebi às 16 horas e 57 minutos do dia 2 de julho de 1997 o Ofício de nº 194/97, do Presidente do Ibama, Dr. Eduardo de Souza Martins, nos seguintes termos:

      "Srª Senadora,

      Escrevo para retratar-me a respeito do que foi publicado na última edição da revista Veja. Não tive a intenção de atingir pessoas, muito menos sua história pessoal. A entrevista foi concedida num contexto de desabafo sob enorme pressão de acusações injustas a respeito da minha pessoa. Acusações que, até aquele momento, não tinham encontrado sequer uma oportunidade de resposta da minha parte, apesar da intensa busca da imprensa.

      Não desejo fugir das minhas idéias e quis, como o exemplo do embargo da BR-364, demonstrar que o gestor público da área ambiental fica, muitas vezes, solitário com as suas decisões.

      Espero poder contar com a sua compreensão e aguardo uma oportunidade para tratarmos pessoalmente do evento ocorrido.

      Informo-lhe ainda que correspondência de igual teor está sendo remetida à redação da revista Veja para publicação.

      Atenciosamente,

      Eduardo de Souza Martins".

Ao fazer esse registro, coloco que não sou uma pessoa rancorosa. Apesar das cinco malárias e três hepatites que tive, não desenvolvi a enzima da raiva, do ódio e do rancor. Aprendi que sempre se deve tratar divergências como divergências, nunca como ofensas pessoais. Tenho tanto a fazer, o Governo que tem tantas respostas a dar na área ambiental, que não posso perder tempo com qualquer tipo de ressentimento.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, no que se refere à gestão, ao isolamento e à solidão do gestor da área ambiental, isso talvez se dê em função de o Ministério do Meio Ambiente e o próprio Ibama se sentirem isolados do conjunto das ações do Governo que, no âmbito dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda, principalmente, não assumiram como suas as responsabilidades e o desafio do desenvolvimento sustentável, fazendo punitiva a ação da defesa do meio ambiente, o que muitas vezes a população entende como negativa, ao invés de termos uma ação positivada, na qual meio ambiente e desenvolvimento estejam acoplados para que tenhamos as respostas necessárias para a sua preservação, inclusive com o apoio da sociedade.

Posso citar como exemplo a busca que tenho levado, juntamente com outras pessoas da Amazônia, para que, em nossa região, o meio ambiente caminhe lado a lado com o desenvolvimento, para que as pessoas também façam da sua preservação um instrumento de defesa, no sentido de que sejam inseparáveis meio ambiente e desenvolvimento.

Por outro lado, no que se refere a essa solidão na área do Governo, pouco posso ajudar, sem ter muitas sugestões a oferecer. É um problema que o próprio Governo brasileiro tem que assumir como seu e fazer que o desafio do desenvolvimento sustentável e a implementação da Agenda 21 sejam uma determinação sua e que isso perpasse por todos os seus segmentos. Enquanto isso não ocorrer, a solidão será muito grande naqueles que têm a responsabilidade da gestão pública do meio ambiente.

Quanto à solidão ligada aos movimentos sociais e aquela ligada aos políticos que atuam na área social, posso falar de minha parte que o interesse na parceria é total, assim como acredito que também o seja da parte dos movimentos sociais. Nesse sentido, tenho levado propostas e sugestões, tenho sentado com o Governo para discutir assuntos que interessam ao Brasil, porque creio que política deve ser feita com "P" maiúsculo.

Agora, quanto ao aspecto dessa solidão, posso dar alguma sugestão, e diria que o Governo tem-se isolado muito da relação com o movimento social; tem-se isolado do debate e tem muitas vezes buscado dar respostas isoladas, talvez pela ânsia da autoria. Penso que, quando se quer resolver os problemas de forma grandiosa, o que menos interessa é a autoria. É assim que tenho procedido quando, mesmo em algumas oportunidades, tenho ajudado a aprovar propostas em que sequer meu nome será mencionado. Acredito que esse deva ser o comportamento daqueles que estão à frente do Poder Público.

Considero que há problemas no Governo, no que se refere a um tratamento adequado às posições diferentes, mas que se somam para se encontrar uma resposta adequada aos problemas que estamos enfrentando. Nesse sentido, a sugestão que dou é a de que, para essa solidão, uma boa passagem pelo divã da democracia, com certeza, irá ajudar e muito.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/1997 - Página 13019