Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-SENADOR GOIANO BENEDITO FERREIRA.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-SENADOR GOIANO BENEDITO FERREIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/01/1998 - Página 216
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, BENEDITO FERREIRA, EX SENADOR, ESTADO DE GOIAS (GO).

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ao retomar o meu convívio com esta Casa e com os nobres colegas, após um período de licença em que tive a honra de ser substituído pelo Senador Albino Boaventura, obedeço a um dever de consciência e de gratidão ao homenagear a memória do amigo Benedito Ferreira, um homem público que imprimiu com cores vivas a sua passagem por este Senado e que serviu ao povo goiano com a mesma bravura que marcou toda a sua existência. Em toda a minha vida, conheci poucos homens combativos, leais e corretos como Benedito Ferreira. Ele morreu como sempre viveu, escravo do trabalho e da luta por ideais nem sempre compreendidos.

Conheci a grandeza do caráter de Benedito Ferreira num dos momentos mais dramáticos de nossas diferenças políticas. Seu partido fora derrotado por Iris Rezende nas eleições de 1982 para o Governo de Goiás. Em trincheiras opostas e ainda sob o calor das tensões pós-eleitorais, o adversário ardoroso recolheu as armas e veio em nossa direção, oferecendo ajuda para aprovar as matérias de interesse do Estado. Foi assim que ele se transformou em grande aliado do Governo Iris Rezende, viabilizando os empréstimos para o grande programa rodoviário que tive o privilégio de conduzir na direção do Dergo.

Devo advertir, porém, que essa postura construtiva não esmaeceu a natureza oposicionista de Benedito Ferreira. Ele exercitava essa aliança, pensando no Estado, sem abandonar as preocupações críticas com o Governo adversário. Jamais presenciei uma atitude menor guiada pelos interesses pessoais, e foi essa coerência que o fez sempre admirado entre os opositores, como eu. Quem resumiu com rara felicidade a natureza polêmica e independente desse grande goiano foi o Governador de Tocantins, nas últimas homenagens que lhe foram prestadas. Segundo Siqueira Campos, Benedito Ferreira foi o político que ele mais combateu e mais respeitou.

Benedito Ferreira foi um apóstolo da tenacidade. Seus objetivos tinham direções rigorosamente definidas. A lealdade partidária não interferia nas suas convicções. Aliado intransigente dos governos militares no campo político, basta consultar os discursos memoráveis que ele pronunciou nesta Casa para comprovar que não foi um incondicional. Criticou com veemência as políticas fiscais que oneravam a produção e impediam o desenvolvimento da agricultura; foi profético ao antever as dificuldades vividas pelo setor rural na última década.

Não tenho dúvidas ao afirmar que Benedito Ferreira está fazendo falta ao Congresso. Sua oratória candente, seus estudos consistentes, suas propostas tão bem fundamentadas fizeram escola nesta Casa. Sua capacidade para iluminar e incendiar os debates estaria valorizando hoje as discussões sobre a reforma tributária. Imagino as dimensões de seu inconformismo com uma carga de tributos que é a maior de toda a nossa história e que representa mais de um terço do PIB. Creio que seus estudos e seus discursos são fontes de excelência para orientar e aconselhar as nossas decisões no encaminhamento da reforma tributária.

Benedito Ferreira merece todas as nossas homenagens pelo homem incomum que soube ser, pela natureza vertical de sua vida pública, pela fidelidade aos princípios e crenças que adotou na intensa vida parlamentar de 16 anos, como Deputado e Senador, e pelos exemplos de correção pessoal que deixou como promotor de desenvolvimento nas suas atividades de comerciante e industrial. Empresário bem-sucedido, ele não usou a política para melhorar os negócios. Quando abandonou as atividades públicas, desencantado com os rumos do País, escolheu a filantropia como o seu novo campo de luta. Criou uma fundação para amparar idosos carentes e desenvolveu um amplo trabalho social em Goiás e Tocantins. Benedito Ferreira viveu os últimos momentos da vida a bordo de um avião, numa viagem de trabalho como muitas que realizava nos últimos meses, como servidor de causas sociais. A morte o levou no começo do último mês de dezembro, aos 64 anos, interrompendo prematuramente uma vida plena de ideais, de realizações e de exemplos.

Ele desapareceu de nosso convívio, mas deixou a imagem imorredoura de um homem de verdade como amigo, como chefe de família e como político. Por tudo o que foi, quero deixar aqui consignado o meu preito pessoal de admiração e de saudade.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/01/1998 - Página 216