Discurso no Senado Federal

SURTO DE DENGUE QUE ATINGE O ESTADO DE MINAS GERAIS, EM ESPECIAL A CIDADE DE BELO HORIZONTE.

Autor
Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Arlindo Porto Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • SURTO DE DENGUE QUE ATINGE O ESTADO DE MINAS GERAIS, EM ESPECIAL A CIDADE DE BELO HORIZONTE.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Francelino Pereira, Junia Marise, Leomar Quintanilha, Lúdio Coelho, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/1998 - Página 9001
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AGRAVAÇÃO, EPIDEMIA, DOENÇA, PROVOCAÇÃO, AEDES AEGYPTI, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • NECESSIDADE, ADOÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MEDIDA DE EMERGENCIA, COMBATE, DOENÇA ENDEMICA, PARCERIA, ESTADOS, MUNICIPIOS, APOIO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), AGILIZAÇÃO, PLANEJAMENTO, REPASSE, RECURSOS, PREFEITURA, SECRETARIA DE SAUDE.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é constrangido e triste que, como brasileiro e mineiro, assomo a esta tribuna para tratar de um assunto que nos preocupa muito: a dengue, que atingiu o Estado de Minas Gerais, especialmente Belo Horizonte, a capital, onde já temos vítimas da dengue hemorrágica registradas na região metropolitana, além de pelo menos outros 22 casos suspeitos e oito mortes. Até 15 de maio - 19 semanas do surto -, as autoridades de saúde confirmavam a existência de 74.276 casos de dengue e de outros 7.394 suspeitos. Como há, reconhecidamente, grande subnotificação de casos, podemos crer que, só na capital de Minas, terminaremos com cerca de 100 mil pessoas afetadas, quer pela dengue clássica, quer pela dengue hemorrágica.

É lamentável, Sr. Presidente, que, no final do século XX, ainda estejamos falando sobre esse assunto no Senado Federal. Esse é um problema de saúde pública que deveria estar definitivamente eliminado deste País desde a década de 40. Trata-se, Sr. Presidente, da volta da dengue ao cenário brasileiro, depois de praticamente extinta no território nacional. Carregado pelo mosquito transmissor, o vírus da moléstia ataca, desta feita, com características de epidemia, em capitais da importância de Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além de já assolar centenas de outras cidades. Nem Brasília, Capital e símbolo do Brasil, ficou imune. Isso depois de mais de 40 anos da quase erradicação do mosquito transmissor em situação de contágio.

A indigência a que foi relegado o setor de saúde do País, em especial em seu aspecto preventivo, permitiu que se reinstalasse a dengue ao lado de outras doenças, tais como a tuberculose, a malária, a febre amarela, que também se expande, a hanseníase e tantas outras. Doenças evitáveis, desde que adotados os procedimentos preventivos indispensáveis.

A situação está particularmente dramática em Belo Horizonte e em toda a sua região metropolitana, onde já se registraram casos de dengue hemorrágica, a mais grave das formas da dengue e a que apresenta maiores possibilidades de levar os pacientes à morte.

A identificação do vírus do tipo 2 na região metropolitana de Belo Horizonte agravou o quadro, pois, nos casos de reinfecção, aumentam significativamente as possibilidades de manifestação hemorrágica do mal.

Esse não é um assunto municipal ou exclusivamente mineiro. É uma questão de saúde pública de caráter nacional, de extrema gravidade, em seus diversos aspectos. Em primeiro lugar, pelos sofrimentos que impinge aos infectados, colocando-os ainda em risco de vida. Suas principais vítimas são as crianças, os idosos e aqueles mais debilitados, de uma forma geral, e que, na maioria, se incluem nas camadas mais expostas da população, aqueles que já sofrem por más condições de moradia, enfraquecidos pela subnutrição e excluídos dos sistemas de informação e educação, com o que se tornam ainda mais susceptíveis.

Há que se perceber também a vertente econômica da questão. O combate eficaz ao mosquito transmissor consome muito menos recursos do orçamento público da saúde do que os medicamentos, as internações e os atendimentos ambulatoriais aos infectados.

O combate à dengue tem que ser visto como uma verdadeira guerra em benefício da saúde e do bem-estar dos brasileiros. A reação tardia é desperdício de recursos públicos e desrespeito à saúde e ao bem-estar dos brasileiros. Mesmo prevista, tragédia anunciada, somente em meados do ano passado se divulgou o início do Plano Nacional de Erradicação do Aedes aegypti, para o qual foram prometidos R$28 milhões a serem aplicados, ou repassados, pela Fundação Nacional de Saúde.

Os recursos, insuficientes, não foram liberados ou aplicados de acordo com o cronograma, já atrasado, agravando ainda mais o problema. Assim, frustou-se a expectativa da Fundação Nacional de Saúde de ter a epidemia sob controle até dezembro passado, como planejara. O anúncio feito pelo Boletim da Saúde da Fundação Nacional de Saúde não se cumpriu.

A necessidade de apoio urgente ao Programa de Erradicação do Aedes Aegypti em Minas Gerais se justifica por razões estratégicas. É o centro do Brasil e o centro de distribuição de cargas de todo o País, corredor natural de tráfego e, portanto, ponto de disseminação que precisa ser efetivamente controlado.

Já não dá mais para esperar a execução de obras de saneamento que contribuiriam para a redução do problema. Não há tempo hábil para aplicação dos R$4 bilhões previstos no Orçamento para esse fim, os quais ainda dependem de definições, licitações e outros procedimentos demorados e extremamente onerosos. É preciso que sejam deflagradas ações com o aumento das patrulhas de fumigação, contratação do número necessário de agentes de saúde e atribuição de prioridade total às visitas domiciliares desses agentes.

O Governo Federal, ao qual não se pode negar a responsabilidade pela estratégia global de combate à dengue - uma vez que o mosquito não é mineiro ou baiano, gaúcho ou paraense, viajando para qualquer lugar -, tem como única saída a parceria com Estados, Municípios e com a sociedade civil organizada. Precisamos, todos nós, apoiar o Ministério da Saúde para que agilize o planejamento das ações e efetue o repasse dos recursos necessários, e para que as Prefeituras e as Secretarias Estaduais de Saúde possam adotar as providências cabíveis.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB-TO) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Arlindo Porto?

O SR. ARLINDO PORTO - (PTB-MG) - Com muito prazer, Senador.

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB-TO) - Eu gostaria de compartilhar com V. Exª as preocupações que traz à tribuna desta Casa, nesta manhã, com relação à situação da saúde do povo brasileiro. V. Exª ressalta muito bem a preocupação que traz a epidemia de dengue e, principalmente, a dengue hemorrágica, que tem feito vítimas não só no território mineiro, mas em outros Estados brasileiros. Também no Tocantins essa preocupação é crescente e é importante que não seja apenas do Ministério da Saúde, como V. Exª bem ressalta, responsável pelas ações que deverão conter e erradicar essa epidemia, bem como outras epidemias que estão a ocorrer no País. Votamos a CPMF com vistas a dotar o Ministério da Saúde dos recursos necessários à manutenção da saúde no País e é com tristeza que verificamos que a questão não era basicamente de dinheiro, mas de gerenciamento. Espero que o Ministro José Serra, um homem lustroso e competente, venha a encontrar o caminho correto para que as ações do Ministério, articuladas com as dos Estados e dos Municípios, possam resguardar a população não só da dengue hemorrágica, mas também de outras epidemias que estão incomodando e até fazendo muitas vítimas. Portanto, cumprimento V. Exª pela oportunidade e pela propriedade das colocações que traz a esta Casa nesta manhã.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Sensibiliza-me, Senador Leomar Quintanilha, a contribuição de V. Exª ao meu pronunciamento, pois meu objetivo, hoje, é fazer mais do que uma comunicação, conclamando a participação dos nobres Colegas. O assunto é da maior gravidade e o Brasil precisa investir cada vez mais no processo preventivo. É mais barato, menos oneroso e mais duradouro fazer um trabalho de prevenção do que ficarmos apenas atendendo emergências. Agradeço e faço questão de anexar ao meu pronunciamento a participação de V. Exª.

Mas gostaria, Sr. Presidente, de enfatizar que precisamos, todos nós, apoiar o Ministério da Saúde para que agilize o planejamento das ações e efetue o repasse desses recursos.

Não é só por representar Minas Gerais nesta Casa e por estar a região metropolitana de sua capital entre as mais afetadas pelo problema que venho fazer este apelo e dar apoio ao Sr. Ministro da Saúde, o nosso colega Senador José Serra. Apelo à sensibilidade e à racionalidade do Senador Serra por estar Minas Gerais em uma posição geograficamente estratégica para o sucesso do combate à dengue. A premência do pedido, no entanto, é a dor e o sofrimento do povo mineiro.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quando assistimos a cenas como as dos últimos dias, onde irmãos nossos, famílias inteiras de brasileiros, do Nordeste, do norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha - área de abrangência da Sudene -, sofrem com a seca que se anunciou mas foi menosprezada, não podemos aceitar que na área social estejamos regredindo.

O Brasil rico não pode abandonar o Brasil sofrido, carente, doente, miserável. E tanto a dengue como a fome que a seca traz são sinais de atraso e de retrocesso, a não ser que provemos o contrário, agindo rápida, planejada e preventivamente, principalmente agora.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Com muito prazer, Senador.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Senador Arlindo Porto, o destino às vezes traça roteiro sem pedir permissão ao ser humano. Não sei se V. Exª faria mais pelo seu Estado como eficiente Ministro da Agricultura que foi, ou se como o batalhador Parlamentar que é no Senado. Fico na dúvida. Suponho que, por este discurso que estou ouvindo, V. Exª presta mais serviços a Minas Gerais, até porque aborda um assunto que assustou, inquietou e tantas vezes cobriu de lágrimas algumas famílias mineiras com a dengue arrasadora. A minha intervenção, e de logo peço-lhe desculpas por atrapalhar o roteiro do seu discurso, é para me solidarizar com V. Exª e verificar que o destino está certo quando lhe traz de volta a esta Casa. Meus cumprimentos e minha solidariedade, Senador Arlindo Porto.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Eu é que tenho que agradecer, Senador Bernardo Cabral, a contribuição de V. Exª. Nós, que optamos pela vida pública, temos o grave e o grande compromisso com a Nação de prestar serviços onde quer que estejamos. Se contribuí com o País e com o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso na condição de Ministro, ao voltar a esta Casa, como brasileiro, pretendo, ao lado dos demais e nobres Senadores, contribuir com o Brasil como um todo. Esse tema, sem dúvida, atinge diretamente o meu Estado, mas, seguramente, é de interesse de todos os Estados brasileiros. Agradeço a contribuição do aparte de V. Exª

O Sr. Romeu Tuma (PFL-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Ouço V. Exª com muito honra, Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL-SP) - Senador Arlindo Porto, assim como o Senador Bernardo Cabral, gostaria de cumprimentá-lo pelo tema que aborda. Hoje pela manhã o meu Chefe de Gabinete, Dr. Rubens, entregou-me um convite, que depois passarei ao Senador Bernardo Cabral, para, na cidade italiana de Perugia, participar de um debate liberal sobre as questões graves de saúde. Há uma preocupação muito grande com relação a essa facilidade de as pessoas irem de um lugar a outro, às vezes levando consigo uma doença transmissível. Epidemia de doenças é como o aumento da criminalidade. Não gostaria de fazer essa relação, mas ela é clara. Quando a estrutura de segurança não consegue, por meio da prevenção, diminuir o índice de criminalidade, a população fica insegura e com certeza sofrerá as conseqüências. Com relação à saúde, para mim, acontece o mesmo, Senador: quando não há controle nem prevenção, apenas se procura correr atrás do que já ocorreu. Portanto, a situação se agrava em razão dessa progressão natural, porque diminuir-se aquilo que já existe é uma luta quase que inglória. Se pudermos prevenir, sem dúvida nenhuma, a doença não alcançará outras regiões. Como disse, o mosquito transmissor não precisa de passaporte para ir de um lugar a outro; ele tem trânsito livre. Ele só não se proliferará onde existir prevenção, saneamento ou qualquer outro tipo de ação do Ministério da Saúde e de suas Secretarias. Não podemos esperar que apenas as transferências de verbas resolvam o problema. Ontem, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o Senador Lúcio Alcântara, que é especializado no assunto de saúde pública, discutia a respeito das vinculações de verbas, porque, se estamos dando crédito ao Senador José Serra é porque conhecemos a sua disposição para trabalhar. Portanto, procuremos também estabelecer os meios para que S. Exª possa contar nessa luta, que V. Exª levanta com tanta propriedade, e que não é só de Minas Gerais. Entendemos que esse é um problema nacional. Estamos com V. Exª. Muito obrigado.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Senador Romeu Tuma, naturalmente, a experiência de V. Exª, representando o grande Estado de São Paulo, faz um paralelo importante em relação ao crime. O Poder Público é responsável pela sociedade brasileira. Por isso, no momento em que há uma omissão do Poder Público, existem criminosos no Poder Público, haja vista que as ações que não são implementadas e as mortes que ocorrem, seguramente, fazem parte de um processo criminal.

Lamento que estejamos tendo que discutir um tema nesses termos. Mas, efetivamente, esta Casa precisava de, mais uma vez, debater o assunto e fazer uma advertência, uma vez que a solução não está na dependência do Poder Legislativo. Podemos contribuir, e a nossa contribuição é principalmente apelando para essa ação conjunta dos Governos Federal, estaduais e municipais e também da própria sociedade.

Continuando, Sr. Presidente, em nossa posição de representantes de nossos Estados frente à União, essa conclamação não deve ser tomada como um simples apelo, mas um chamado à responsabilidade de tantos quanto, seja por atribuição legal, seja por imperativo de solidariedade, devam estar se empenhando, com ímpeto, na erradicação do mosquito transmissor.

Aproveito esta ocasião para conclamar aos nobres colegas, Senador Francelino Pereira e Senadora Júnia Marise, também representantes de Minas Gerais nesta Casa, e à Bancada mineira na Câmara dos Deputados, suprapartidariamente, para buscarmos uma solução conjunta para o problema. Temos, como políticos e profundos conhecedores de nosso Estado e de nosso povo, condições de contribuir positivamente para o estabelecimento das estratégias necessárias, assim como poder mobilizador junto às nossas comunidades, sem cuja participação esta já pode ser considerada uma batalha perdida.

Estes, Sr. Presidente, são os motivos deste breve pronunciamento: alertar e cobrar às autoridades do Executivo as medidas indispensáveis ao combate da dengue em Minas e no Brasil e, em especial, na região metropolitana de Belo Horizonte.

A Srª Júnia Marise (Bloco/PDT-MG) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Com muita honra, Senadora Júnia Marise.

A Srª Júnia Marise (Bloco/PDT-MG) - Senador Arlindo Porto, acompanho o pronunciamento de V. Exª que, numa feliz oportunidade, destaca os pontos críticos de uma realidade hoje vivenciada principalmente no nosso Estado. A questão da saúde, das políticas públicas e sociais, a questão das epidemias que se alastram por todo o nosso Estado, não só na capital, mas por todo o interior, leva-nos realmente a esse momento de grande reflexão conclamado por V. Exª desta tribuna, para uma tomada de posição, para a união de esforços no sentido de estabelecermos uma política voltada à solução desses problemas. E, mais do que isso, para que possamos desenvolver ações conjuntas de apoio aos municípios mineiros, que vêm sendo atingidos drasticamente, nesses últimos meses, afligindo as suas populações. Os dados de epidemias, não só em Belo Horizonte, mas também no interior do Estado, são dramáticos. Hoje, Belo Horizonte convive com a epidemia da dengue, inclusive com a dengue hemorrágica, que é fatal. No norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, temos registrados cinco mil casos; mil e quinhentos já confirmados. Essa situação, realmente, é dramática, porque não há recursos suficientes, não houve uma campanha de prevenção por parte do próprio Governo no sentido de atender preventivamente à população. Por outro lado, nessa fase mais aguda, pois o problema se alastra e se torna conjuntural, os recursos liberados não têm chegado à população. Propostas são encaminhadas ao Ministério da Saúde para que os municípios possam ter condições de atender à população. Por isso, louvo o pronunciamento e a preocupação de V. Exª no que toca a essa questão das políticas públicas e sociais para o nosso Estado. Recebo a conclamação de V. Exª e a ela me alio, de pronto, porque conheço a sensibilidade de V. Exª como homem público e como Senador por Minas Gerais; homem principalmente devotado às causas que interessam de perto às populações carentes do nosso Estado. Desde já recebo a convocação de V. Exª e me coloco a seu lado para que possamos conjugar esforços para estabelecer novas metas de atendimento à população, principalmente na área das políticas públicas e sociais. Parabéns a V. Exª!

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Nobre Senadora Júnia Marise, não me causa surpresa a manifestação de V. Exª. Conhecedor que sou da sua preocupação com Minas Gerais e, de maneira geral, com Belo Horizonte, onde iniciou a sua vida pública como Vereadora daquela capital, sempre procurou exercitar o mandato com um trabalho de base e de participação junto à sociedade, como Deputada Estadual, Deputada Federal e vice-Governadora que foi do nosso Estado. Por isso, nobre Senadora, honra-me o aparte de V. Exª, principalmente a sua adesão a esse chamamento que fazemos em conjunto, nesta Casa, para que tenhamos, de maneira definitiva, a questão da dengue sob controle em Minas Gerais e, a partir de Minas Gerais, que o Brasil também elimine do seu mapa essa vergonha, essa epidemia.

O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Pois não. Ouço, com muita honra, o aparte de V. Exª, nobre Senador Francelino Pereira.

O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - Nobre Senador Arlindo Porto, felicitamo-nos, nós da terra mineira, pela presença de V. Exª ao abordar um assunto que, aparentemente, saiu das manchetes da mídia em razão de outros acontecimentos, quase todos graves. Ao mesmo tempo, transmite-nos a impressão de que os temas e os problemas surgem de vez em quando e desaparecem antes da solução ultimada em razão exatamente de outros fatos focalizados pela imprensa nacional. Ainda ontem, conversávamos com representantes mineiros, durante a discussão do projeto de interesse do Jequitinhonha, sobre o problema da dengue e da gravidade da dengue hemorrágica. A convicção era de que o tema havia desaparecido, aparentemente com a solução alcançada. Mas a solução não foi alcançada! Ninguém pode negar, até para não fazer demagogia, que o Governo tomou providências. Houve uma mobilização, uma vontade política de mobilização de combate à dengue em todo o País. Mas o silêncio da mídia a respeito do assunto dá-nos a sensação do problema resolvido, quando, na realidade, isso não ocorreu. Por isso, estou satisfeito com a presença de V. Exª na tribuna, convocando-nos para não deixar o assunto morrer enquanto o problema não desaparecer. Estou certo de que essa convocação representa um passo para a mobilização da representação política, dentro de uma organização política do nosso Estado, para combatermos, em nome do interesse de Minas Gerais e do Brasil, os problemas que afetam a Nação inteira. Muito obrigado.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Agradeço, Senador Francelino Pereira, a contribuição de V. Exª, governador que foi do nosso Estado e profundo conhecedor de Belo horizonte e Minas Gerais. A preocupação nossa vem ao encontro da manifestação de V. Exª: o problema desapareceu da mídia, mas não desapareceu da região.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - V. Exª me concede um aparte, nobre Senador?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Vou concluir a minha resposta ao Senador e, em seguida, concederei o aparte a V. Exª.

Ontem, antes de elaborar a conclusão deste meu pronunciamento, tive a preocupação de manter um contato com o prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro. S. Exª me transmitiu que, efetivamente, as ações foram implementadas, o processo estava num ritmo crescente de combate à dengue, mas o problema estava longe de ser resolvido.

Fico feliz de ver que a manifestação de V. Exª é no mesmo sentido. Muitas vezes a mídia deixa de ressaltar o assunto, mas as populações, especialmente as mais carentes, continuam sendo atingidas. Tenho certeza de que esse posicionamento de V. Exª contribui e fará com que continuemos alertando os governos federal e estadual, e contribuindo com os governos municipais.

Com muito prazer, concedo o aparte ao nobre Senador Lúdio Coelho.

O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - Senador Arlindo Porto, V. Exª está falando em nome de Minas e em nome do Brasil. Esse assunto da dengue e da seca do Nordeste não recomenda efetivamente o governo brasileiro. Em pleno século XX, isso não deveria acontecer mais. O combate à dengue deveria ser de caráter permanente, e não um movimento eventual. A falta de água, pelo menos para beber, é algo absolutamente inadmissível. Não se pode admitir que pessoas passem sede nesta época que estamos vivendo, com toda tecnologia de tratamento de águas de subsolo e de águas marítimas. Quer dizer, este é um assunto inconcebível. Felicito V. Exª e participo do ponto de vista do Senador Bernardo Cabral: tenho dúvida sobre onde V. Exª seria mais importante para o Brasil: se à frente do Ministério da Agricultura ou no Congresso Nacional. A atuação de V. Exª em ambas as funções é muito importante para a Nação brasileira. Muito obrigado.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG) - Agradeço, nobre Senador, primeiro, a sua manifestação de reconhecimento pela ação que tivemos à frente do Ministério da Agricultura. V. Exª provém de um Estado tão importante na agricultura e maior produtor na pecuária brasileira, que contribui, de maneira efetiva, para o crescimento econômico e o apoio ao homem do campo; em segundo lugar, a manifestação e o apoio de V. Exª a este nosso pronunciamento, onde, mais uma vez, enfatizo que a dengue não tem limites. Nos nossos Estados, seguramente, estamos com risco maior de atendimento.

Sr. Presidente, concluo o meu pronunciamento. São estes os motivos que me levaram a fazê-lo: alertar e cobrar das autoridades do Executivo as medidas indispensáveis ao combate da dengue, em Minas e no Brasil, em especial na região metropolitana de Belo Horizonte, onde a epidemia se torna dramática; alertar e conclamar as lideranças do Congresso Nacional a se juntarem nesse esforço, sobrepujando situações partidárias ou disputas ideológicas, pois o inimigo é comum; mobilizar Estados, municípios, instituições e organizações sociais para que dêem sua contribuição indispensável ao bem de todos.

Mas é preciso ressaltar que uma ação já foi realizada, especialmente em Belo Horizonte, sob a coordenação da Prefeitura Municipal, que tem um médico à sua frente, o Dr. Célio de Castro: 126 Unidades Básicas de Saúde, e profissionais foram preparados para atendimento dos pacientes da dengue; mais médicos, enfermeiros e agentes de saúde estão sendo buscados; 1.156 auxiliares sanitários estão mobilizados, além de 30 profissionais do Exército e 186 da Polícia Militar e 300 agentes sanitários que se dedicam a combater o mosquito, totalizando 1.460 pessoas e visitas a 21.900 domicílios/dia - apenas na capital mineira.

Em síntese, com o apoio do dedicado, dinâmico e competente Secretário estadual de Saúde, Dr. Vilmar Oliveira Filho, as pessoas responsáveis e comprometidas com a saúde humana estão motivadas a esse combate.

E tudo só tem sido possível porque:

- há um efetivo combate ao foco da doença;

- há um efetivo trabalho de eliminação do mosquito da dengue;

- é total e mensurável o apoio da comunidade, sem o que não haveria nenhum resultado positivo.

Apesar disso, erradicar de imediato a dengue entre nós é impossível tecnicamente. Mas deixarmos que ela atinja, em 19 semanas, 80.000 cidadãos, matando alguns desses irmãos, não faz parte do nosso compromisso com o povo de Minas Gerais, muito menos com os brasileiros que tanto esperam de nós.

Essa a intenção das minhas palavras, depois de assistir à situação dramática imposta aos mineiros pelo vírus da dengue e seu mosquito transmissor. Não podemos permanecer em silêncio diante de tantas mães inermes frente a um perigo que não conseguem combater diretamente, temerosas em relação ao bem-estar e à própria vida de seus filhos.

Espero, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que este apelo tenha calado fundo na consciência dos que o tenham ouvido e que aceitem o meu convite à união em torno de um problema e de inimigo comuns.

Não podemos aceitar que às vésperas do terceiro milênio, diante das mais fantásticas inovações e descobertas para a solução de problemas de saúde gravíssimos, ainda tenham que assistir à morte de brasileiros por dengue.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/1998 - Página 9001