Discurso no Senado Federal

QUESTIONAMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DOS INSTITUTOS DE PESQUISA NOS PLEITOS ELEITORAIS.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • QUESTIONAMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DOS INSTITUTOS DE PESQUISA NOS PLEITOS ELEITORAIS.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Jefferson Peres, José Eduardo Dutra, Lúdio Coelho, Ney Suassuna, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/1998 - Página 13616
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, VALIDADE, ATUAÇÃO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, AVALIAÇÃO, PREVISÃO, NUMERO, VOTO, CANDIDATO, ELEIÇÕES, MOTIVO, DISPARIDADE, ELEIÇÃO, COMPARAÇÃO, REALIZAÇÃO, VOTAÇÃO, DIVULGAÇÃO, PESQUISA, ANTERIORIDADE.
  • DEFESA, ADOÇÃO, BRASIL, PROIBIÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, DIVULGAÇÃO, RESULTADO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, PERIODO, ANTERIORIDADE, REALIZAÇÃO, ELEIÇÕES, OBJETIVO, IMPEDIMENTO, MANIPULAÇÃO, VOTO, ELEITORADO, FAVORECIMENTO, CANDIDATO.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei breve, pois pretendo voltar a este tema com mais dados, que já estou coligindo e comparando.

Em todo processo eleitoral, além de se elegerem candidatos, elegem-se também vilões, responsáveis pelo insucesso desse ou daquele candidato.

É evidente que a disputa eleitoral é muito penosa. Aqui, no Brasil, ela exige um esforço físico e psicológico sobre-humano, pela própria natureza do nosso processo eleitoral, pelas áreas muito extensas que devem ser percorridas e por outros fatores. Mas o resultado das eleições têm apontado em manifestações de diversas origens, principalmente de políticos que disputaram ou não as eleições. Até o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral tem considerado que a forma de se realizarem e sobretudo a maneira de se divulgarem as pesquisas eleitorais está contribuindo para deturpar o processo eleitoral.

Como candidato, sempre fui usuário de pesquisa, então, a rigor, não posso dizer - porque não teria sentido - que esse não seja um instrumento útil e adequado. Naturalmente, não podemos eleger a pesquisa como um deus ex machina, a razão do sucesso ou do fracasso das candidaturas, porque, de fato, é um instrumento com o qual estamos convivendo cada vez mais intensamente e que, seguramente, deve ser melhorado em alguns aspectos.

A minha primeira impressão é de que muitas das críticas foram precipitadas. Digo isso porque inauguramos agora, numa eleição ampla como essa, o voto eletrônico. Os primeiros resultados, nos diferentes Estados da Federação, vieram justamente da votação eletrônica, em princípio nas capitais ou nas maiores cidades do interior dos Estados, salvo engano, com mais de quarenta e cinco mil eleitores.

É claro que essa amostra é parcial, não na quantidade, mas na própria condição do eleitor, que, evidentemente, é muito diferente do eleitor de um pequeno Município, daquilo que se convencionou pejorativamente chamar de grotão, como se alguém, por morar ali, pudesse, de alguma maneira, ser menos cidadão do que outro que resida nas grandes metrópoles urbanas. É preciso - e esse é o dado que estou procurando levantar - comparar, realmente, o resultado final com as previsões.

Mas o problema não pára por aí. Para mim, o grande problema é a divulgação, e não tenho remédio para ela, a não ser que se fosse impedi-la.

No dia da eleição, um determinado jornal pode dar uma manchete, como já vi, dizendo: “Fulano de tal despenca”. Quando se vai conferir, o sujeito caiu um ponto ou dois pontos, mas a manchete é o que realmente chama à atenção.

Houve um caso de se divulgar a pesquisa de boca de urna antes de cinco horas da tarde e sabemos que na cidade de São Paulo, por exemplo, as filas se arrastaram até mais tarde. Então, haveria aí um fator indutor para o eleitor, se é que existe o chamado voto útil, que poderia, de alguma maneira, influir no resultado eleitoral. Na França, por exemplo, não se permite a publicação de pesquisa entre o primeiro e o segundo turno. Em Portugal, isso também é proibido, mas um jornal afrontou a lei e publicou. E “se deu mal”, diz aqui o nosso eminente Senador Bernardo Cabral.

Devemos encontrar algo que seja razoável e que possa também atender a esses princípios. Não sou constitucionalista, mas quando se fala em limitar a divulgação de pesquisa, há sempre o argumento de que isso implicaria uma restrição de inconstitucionalidade. Mas, será que não poderíamos restringir a divulgação de pesquisa eleitoral nas 48 horas que antecedem ao pleito, já que o mesmo ocorre com a campanha? Será que seria, de fato, inconstitucional? Essa é uma questão para se discutir. Ou, como querem alguns, esses resultados seriam publicados no Paraguai. O que talvez se devesse fazer, seria uma pesquisa desses institutos para saber qual o comportamento do eleitor em relação à pesquisa. A pesquisa das pesquisas. Será que o eleitor se deixa levar? Qual é o grau de confiabilidade que ele dá à pesquisa? Ele é influenciável pela pesquisa, pelos seus resultados? Houve casos em que realmente é difícil se explicar como resultados tão expressivos passaram despercebidos a esses institutos. Em homenagem aos dois Senadores do Amazonas aqui presentes, cito o caso de um Senador, o caso do próprio concorrente ao Governo; no Pará, de uma Deputada do PT que concorreu ao Senado e que quase ganhou. E assim por diante. Será que não detectaram isso? Foram movimentos da undécima hora que levaram a isso? De qualquer maneira, há uma lição a ser tirada, preliminarmente. Não podemos mais erigir esses institutos como instância máxima, suprema, para decidir quem vai ou não. Aliás, isso já aconteceu nos Estados Unidos, onde temos o exemplo do Harry S. Truman, que foi dado como derrotado e ganhou a eleição. Tivemos, em Fortaleza, o caso da Prefeita Maria Luiza Fontenelle, do Deputado Paes de Andrade, e assim por diante. Estamos meio submetidos a uma espécie de ditadura da pesquisa que causa muitos males, inclusive no ânimo do candidato e dos seus militantes, no financiamento da campanha, porque, evidentemente, ali estão as diferentes corporações e o empresariado querendo um custo-benefício, não no sentido pejorativo, mas com um fim de lograr resultados com a eleição daqueles candidatos que melhor representam o que ele pensa. Esse efeito é indiscutível. Já disputei eleição majoritária nessas condições e, realmente, é muito difícil conseguir vencer esse desânimo, esse abatimento que surge nesses momentos. Mas esse é um fato com o qual temos que conviver.

O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Ouço o Senador Jefferson Péres, para concluir o meu pronunciamento.

O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - Senador Lúcio Alcântara, é claro que uma pesquisa feita com a metodologia adequada reflete a realidade quase com perfeita exatidão. Há uma margem de erro, como V. Exª sabe, de 2 a 3%, que está dentro do desvio padrão, que é perfeitamente aceitável. Mas, pelo menos no meu Estado, Senador Lúcio Alcântara, não sei por que, se as pesquisas são malfeitas, mesmo por institutos acreditados aqui, elas têm um histórico de erros. Na minha própria eleição, em 1994, colocavam-me, sistematicamente, na última pesquisa, às vésperas da eleição, em quarto lugar. No entanto, fui o primeiro mais votado em Manaus e o segundo em todo o Estado - o primeiro mais votado foi o meu eminente Colega Bernardo Cabral. É impossível que, na última semana, eu tivesse ultrapassado os outros dois candidatos. Não aconteceu isto. Nunca estive em quarto lugar, esta é que é a verdade. Agora, nesta eleição, davam sistematicamente o Governador Amazonino Mendes e o seu companheiro de chapa para o Senado com 18 a 20 pontos percentuais à frente do segundo colocado - isso ocorreu na última pesquisa, Senador Casildo Maldaner. Terminaram com 3 pontos percentuais apenas. É impossível um erro como esse. Há algo errado com os institutos de pesquisa, pelo menos no meu Estado. Mas, concordo com V. Exª. Também tenho sérias dúvidas se haveria amparo constitucional para se impedir a realização ou a divulgação de pesquisa. Fico com uma dúvida atroz. Por outro lado, Senador Lúcio Alcântara, proibir apenas nos últimos 15 dias... Ocorre o seguinte: algumas pesquisas matam candidaturas no nascedouro.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Exatamente.

O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - Até dentro dos partidos, dois meses antes, publicam que você está com cinco pontos percentuais.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Sendo considerado um candidato inviável.

O Sr. Jefferson Péres  (PSDB-AM) - Exatamente!

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Apesar de a história estar cheia de candidatos que começaram com 2 ou 5% e venceram.

O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - Exatamente isso. Enfim, Senador Lúcio Alcântara, não vejo como tomar medidas legais contra isso. Mas, no caso do Amazonas, estou gratificado. Penso que os institutos se autopuniram, pois estão desmoralizados. As pesquisas, lá, nunca mais serão usadas - se é que têm sido - para esmagar adversários com alguns meses de antecedência, porque simplesmente caíram no descrédito. Hoje o povo acha graça de pesquisas no Amazonas. Aliás, isso já ocorria antes da eleição; agora virou piada.

           O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª., Senador Jefferson Péres.

           O que de construtivo podemos fazer é justamente levantar esses dados e fazermos a comparação. Inclusive há uma margem de erro que o próprio instituto reconhece. Quanto a disparidades, como parece ter acontecido, elas nos deixam em uma situação de vigilância, chegando mesmo a duvidar da própria metodologia do instituto, no mínimo.

           O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - V. Exª me permite um aparte?

           O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Com prazer, ouço V. Exª.

           O Sr. Casildo Maldaner (PSDB-SC) - Entendo ser procedente os partidos políticos e as instituições realizarem suas pesquisas internas com a finalidade de fazerem suas respectivas avaliações. Com relação à publicação dessas pesquisas, embora a Justiça Eleitoral exija um registro da metodologia, talvez a idéia de quando se encerrar o período de propaganda nos meios de comunicação também devesse vedar a sua divulgação, para não influenciar diretamente as pessoas ou mesmo para que ela não seja distorcida. Ou, talvez, ao serem divulgadas essas pesquisas, se se fornecesse qual entidade a pediu.

           O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Isso é obrigatório por lei, assim como o depósito no Tribunal Eleitoral.

           O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - E também os valores pagos. Deve-se informar à sociedade, além da Justiça Eleitoral, quem pediu a divulgação da pesquisa. Penso que os valores e os custos da pesquisa ajudariam às pessoas a pensarem um pouco mais. Portanto, há a necessidade de se discutir isso, até porque, em alguns lugares - não é só no Amazonas - uns ficaram com as pesquisas, e os candidatos, que foram prejudicados, ficaram com o resultado da eleição, o que foi melhor.

           O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - V. Exª nos dá a idéia de a pesquisa ter esse complemento de quem encomendou a pesquisa. Não sei quanto ao preço, mas os outros dados devem ser obrigatoriamente depositados no Tribunal Eleitoral; não sei o preço, mas quem contratou e toda metodologia desenvolvida, isso sem dúvida nenhuma.

           O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - V. Exª me permite um aparte?

           O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Com prazer, ouço V. Exª, Senador Lúdio Coelho. Depois, ouvirei os Senadores Ney Suassuna e José Eduardo Dutra, para encerramos, porque há outros oradores.

           O Sr. Lúdio Coelho (PSDB-MS) - Avalio muito importante as pesquisas para o País. Eventuais distorções, às vezes, ocorrem por falta de competência ou por falta de idoneidade. Mas a pesquisa bem elaborada é muito importante para uma avaliação do pensamento da população. A pesquisa levanta o pensamento do pesquisado naquele momento, não é na hora em que ele vai votar. Então, 48 horas antes do pleito, as pessoas, às vezes, modificam a sua maneira de pensar. Por isso, sou favorável à ampla liberdade de execução de pesquisas, como ocorre hoje; somente em determinado prazo antes da eleição é que não devem ser feitas pesquisas.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Lúdio Coelho.

Na verdade, como disse o Senador Jefferson Péres com muita propriedade, é difícil limitar isso. Constatamos, nesta eleição, um grande número de partidos e de candidatos. Já perdi eleição e sei que o candidato sempre pensa que a culpa pelo insucesso eleitoral é de todos, menos dele; existe a tentação de atribuí-la a uma série de fatores. Isso é humano. Estou dizendo isso, porque já passei por esse processo também.

Porém, é preciso que se encontrem fórmulas mais justas de se fazer essa divulgação ou, pelo menos, que cheguemos à conclusão de que os institutos erraram. Então, vamos destituir o instituto daquele pedestal em que se encontrava quase como um imperador, a determinar comportamentos, a dizer, com não sei quantos meses de antecedência, quem vai ser vitorioso ou não. Pode haver também, na forma de se fazer a pergunta, uma sutileza que pode induzir determinada resposta do eleitor. Esse é um mundo ainda meio hermético para nós, leigos; não participamos dele, embora sejamos os mais atingidos, quando se trata de pesquisa eleitoral.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Ouço V. Exª, nobre Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - Senador Lúcio Alcântara, quanto a esse problema da pesquisa, não acredito muito nele por uma razão simples: se a pesquisa realmente valesse, o dono de um instituto famoso como o IBOPE seria Presidente da República. Era só divulgar as pesquisas a seu favor, e estava resolvido o problema. Comecei com 3,8% nessa campanha, e meu opositor, com 42%; no final, consegui ganhar. Há um candidato a Senador no meu Estado que aparecia com 5%; no final, teve 14% ou 16%. Portanto, os institutos podem errar, mas não influenciam tanto; caso contrário, não haveria todas essas distorções que estamos vendo: pessoas em quem o público votou maciçamente, apesar de não aparecerem nas pesquisas. Alguns Colegas estavam com 55% e 60% e, no final, não ganharam a campanha. Creio que o público olha as pesquisas, mas não se influencia muito. No entanto, penso que isso merece uma discussão maior.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Estamos em um terreno um pouco subjetivo, porque não temos elementos para ajuizar isso. Fica a minha sugestão: fazer “uma pesquisa das pesquisas”, para saber qual é a relação do eleitor com o instituto; o que ele pensa; se ele admite mudar o voto. Sabemos, também, que há um processo decisório, pelo menos aparentemente, que se dá com muitas pessoas nos dois últimos dias. O sujeito não está bem ligado em eleição, está cuidando de sua vida, correndo da globalização e, dois dias antes das eleições, toma sua decisão. Quer dizer, isso também é um fato a ser considerado.

Enfim, o que quero levantar aqui é a idéia de fazermos uma análise racional do processo. Isso não virá em nome de candidatos que tiveram insucesso e que estão querendo colocar o instituto de pesquisa como bode expiatório. O objetivo é colocar o instituto de pesquisa no seu devido lugar. Ele é um instrumento importante, mas não é tudo para se decidir a eleição.

Como disse o Senador Jefferson Péres, há que se considerar até a escolha de candidato dentro do partido. Se o Senador Ney Suassuna já não fosse Senador e aliado do Governador, poderia não ter sido candidato; alegariam que S. Exª, com 3,8%, não iria a lugar nenhum e colocariam alguém com 10 ou 15%. Então, esse processo antecede a campanha eleitoral já na fase de escolha dos candidatos dentro do partido.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Ouço V. Exª, Senador José Eduardo Dutra.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - Senador Lúcio Alcântara, é obvio que a pesquisa por si só não determina a vitória ou o insucesso em uma eleição, mas ela possibilita uma ampla margem de manipulação, até porque a população não conhece -- nem precisa conhecer -- conceitos como margem de erro, intervalo de confiança ou algo do gênero. Agora, não há dúvida de que as pesquisas e a forma como elas são divulgadas na véspera de uma eleição têm influência. No caso da eleição de São Paulo, já se detectava o crescimento da candidata Marta Suplicy, mas uma apresentadora do Jornal Nacional, o informativo de maior audiência no Brasil, na véspera da eleição, sábado à noite, ao informar a pesquisa do IBOPE, disse literalmente o seguinte: “O candidato Paulo Maluf já está no segundo turno. Há dúvida sobre quem vai enfrentá-lo: Francisco Rossi ou Mário Covas”. Ora, considerando-se que Paulo Maluf e Francisco Rossi são dois candidatos que têm um índice de rejeição grande em São Paulo, várias pessoas, que até não votam no PT, manifestaram sua mudança de voto, quer dizer, utilizaram o voto útil. Na sua campanha, o candidato Mário Covas -- não discutirei se isso é correto ou não -- o utilizou. O fato é que uma parcela da população -- é impossível mensurá-la -- que tenderia a votar em Marta Suplicy, pensando que ela não iria para o segundo turno, votou em Mário Covas. Além do funcionamento e do comportamento dos institutos de pesquisas, é preciso regulamentar também a divulgação das pesquisas pelos meios de comunicação. Lendo-se o resultado de uma pesquisa do IBOPE no jornal O Globo, via-se que Marta Suplicy estava dois pontos atrás de Francisco Rossi ou Mário Covas, se não me engano, ou seja, dentro da margem de erro. No entanto, o que foi passado para a população é que só Francisco Rossi e Mário Covas tinham chance de ir para o segundo turno. O impressionante, já que se está falando de lei das probabilidades, é que sempre há surpresas. Os crescimentos abruptos que ocorrem na época da eleição são sempre dos candidatos que não estão alinhados ao poder nos Estados. É só pegar todas as pesquisas para comprovar isso. Não houve nenhum exemplo em que um candidato ligado ao Governo estivesse atrás e, de repente, tivesse crescido. Vejam V. Exªs o caso do Amazonas, do Senador do Pará ou de Goiás, onde o candidato, apesar de ser do PSDB, durante muito tempo foi quase um “patinho feio” no PSDB; ninguém lhe dava muita importância, porque o bloco dominante era em torno do candidato Iris Rezende. Isso é um indício importante. Já que se está falando em pesquisas e em estatísticas, era de se supor que também houvesse a probabilidade de que acontecessem crescimentos abruptos com candidatos que defendem o establishment, seja em nível nacional ou estadual, mas isso nunca acontece. Portanto, há algo errado. Eu apresentarei um projeto de lei estabelecendo a quarentena.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Eu mencionei isso aqui porque tinha ouvido de V. Exª.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - Penso que deverá haver um debate -- é óbvio -- sobre a questão constitucional. A meu ver, há dois direitos individuais, neste momento, em confronto: o direito individual à informação que cada cidadão tem -- embora, neste caso, eu até questione se é informação ou desinformação -- e o direito individual do cidadão de decidir seu voto sem o risco de manipulação pelos institutos de pesquisa.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - É o que a Justiça quer com as 48 horas sem campanha.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - Os países que estabelecem a quarentena têm muito mais tradição de respeito à liberdade de informação do que o Brasil, e suas constituições garantem também a liberdade de informação. No entanto, estabelece-se a quarentena em países como Portugal, França e Áustria, e sua constitucionalidade não é questionada. O mínimo que se exige é que encontremos esse mecanismo para evitarmos que a vontade do eleitor venha a ser manipulada muitas vezes.

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Solicito, Sr. Presidente, que V. Exª me permita ouvir o aparte do nobre Senador Roberto Requião.

A partir deste nosso debate, não devemos colocar os institutos no descrédito, mas sim mostrar a relatividade da sua atuação e diminuir o número de erros, fazendo com que eles não possam mais ditar, com antecedência, os resultados das pesquisas. Esse seria um grande ganho, se conseguíssemos abalar essa confiança cega de muitas pessoas nos institutos.

Quanto a essa questão da quarentena, publica-se na Alemanha o resultado obtido na França, ou se publica na Espanha o resultado obtido em Portugal. Usa-se um símbolo, como, por exemplo, o tucano ou a estrela, que são símbolos de determinados partidos.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - Mas, nesse caso, o público abrangido por esse tipo de informação será muito menor.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - V. Exª abordou uma questão sobre a qual eu já havia falado, inclusive em nossa conversa. O problema é a forma de divulgação. Em Fortaleza, houve uma eleição para prefeito, em que o ex-Ministro Ciro Gomes participou da disputa. Um grande jornal do Ceará, O Povo, publicou a seguinte manchete: “Edson despenca e está com 10 pontos percentuais abaixo”. A eleição foi ganha por uma diferença mínima. Será que aquela manchete não influenciou quem a leu? A forma de divulgar é um problema sério.

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Senador Lúcio Alcântara, se queremos ser universais, cantemos a nossa aldeia. Esse é o conselho de Herbert Marshall MacLuhan.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - O rio mais importante é o rio da minha aldeia.

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Mas para que esta seja uma intervenção construtiva e não o resmungo do candidato que perdeu a eleição, quero iniciar o meu aparte com uma análise da eleição que ganhei no Paraná, quando fui eleito Governador. No dia 23 de novembro, o DataFolha publicava a minha derrota por uma diferença de 11 pontos percentuais, e o IBOPE, por uma diferença de oito pontos. No dia 25 de novembro, ganhei com uma diferença de nove pontos percentuais. Portanto, o DataFolha errou por 20 pontos percentuais, e o IBOPE, por 17. Nesta ocasião recente, na eleição de outubro, aconteceu o mesmo: o IBOPE e o DataFolha me colocavam 18 pontos percentuais atrás. Não ganhei a eleição. A diferença foi de um pouco mais de cinco pontos percentuais. Mas o IBOPE, naquele seu processo de fazer aproximação, publicou em todo o Brasil a sua última pesquisa e não a publicou no Paraná, com o argumento de que não tinham concluído os cálculos; fizeram a pesquisa naquele período em que a sua divulgação era proibida. V. Exª pode dizer que, na primeira vez, fui prejudicado e ganhei a eleição; e que, na segunda vez, fui prejudicado e não ganhei a eleição. As pesquisas do IBOPE e do DataFolha me prejudicaram sobremaneira pelo fato de eu ter um caixa muito estreito e de alguns compromissos assumidos por amigos no sentido de colaborar no processo simplesmente não terem sido cumpridos quando o IBOPE me posicionou 18 pontos percentuais atrás. V. Exª me perguntaria: por que isso não ocorreu na primeira vez? Isso não ocorreu na primeira vez, porque, embora eu tivesse sido desfavorecido de forma brutal pelas pesquisas, eu era candidato do Governo. A debandada dos prefeitos e das lideranças do interior não ocorreu, porque, de uma forma ou de outra, o Governo continuaria o seu mandato até março, e eles sempre tinham expectativas em relação ao Governo. Dessa forma, fui menos abandonado e ganhei a eleição. Nesta segunda vez, os recursos se volatilizaram, e o ânimo da nossa “tropa de choque” desapareceu quando fomos posicionados 18 pontos percentuais atrás do concorrente. A única pesquisa que chegou mais ou menos perto da realidade foi a da Brasmarketing, que me posicionou com 4,7%. Mas essa pesquisa foi, imediatamente, esmagada pela Vox Populi, pelo IBOPE e pelo DataFolha.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - V. Exª realizava pesquisa própria?

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Sim. Em Curitiba, por exemplo, realizei pesquisa por 12 dias seguidos, por intermédio de um instituto improvisado, organizado pelo Partido. Durante esse período, a pesquisa indicava que eu ganhava por uma diferença de quatro pontos percentuais. Na cidade, perdi a eleição de uma forma desastrosa. Para mim, é rigorosamente inexplicável esse processo. Penso que também a ordem dos nomes na urna prejudicou muito a fidelidade do voto do eleitor. Os eleitores menos informados apertavam as teclas 4 e 5 no primeiro voto, porque imaginavam que, hierarquicamente, o primeiro voto era referente ao Presidente da República; o segundo, ao Governador de Estado; e o terceiro, ao Senador. Daí essa magnifica votação do PSDB para a legenda em todos os Estados. Mas chego à seguinte conclusão: penso que há uma vinculação direta entre as pesquisas e a contratação dos institutos pelos governos. Por exemplo, o IBOPE é um contratado do Governo Federal, e, no Brasil, o segundo maior cliente do IBOPE é o Governo do Estado do Paraná. Quero fornecer-lhe outro dado que já mostrei numa reunião de uma Comissão do Senado, que tratava do IBOPE. Na eleição anterior, embora os dados me fossem extraordinariamente desfavoráveis, já que o IBOPE apontava a minha derrota por 17 pontos percentuais, no último momento em que se podia divulgar uma pesquisa, um cidadão chamado Montenegro me ligou. Eu não o conhecia. Ele me disse: “Quem fala é o Montenegro, do IBOPE. Governador, quero lhe dizer que já informei ao Presidente Fernando Collor que o senhor ganhou a eleição no Paraná”. Pedi o número do telefone dele e retornei a sua ligação. Era o tal do Montenegro, que eu pessoalmente não conhecia. Ele me disse: “O senhor está nove pontos percentuais à frente do seu adversário, o Martinez”. Eu lhe agradeci e, à noite, assisti ao Jornal Nacional, que noticiava que o Martinez estava na minha frente nas eleições. São coisas rigorosamente inexplicáveis. Pressionei o Montenegro na reunião de uma Comissão do Senado que tratava disso, e ele disse: “Não. Eu tinha feito uma projeção”. Ele não tinha feito projeção alguma. Ele tinha sofrido a pressão de quem lhe pagava naquele momento, que era o Governo Federal. Dessa forma, ele alterou o número, colocando o Martinez dois ou três pontos percentuais na minha frente. Realmente, ganhei por uma diferença de nove pontos percentuais. Percebam que se trabalha com a desinformação. Os resultados dessas pesquisas são, rigorosa e absolutamente, inaceitáveis, porque todos eles foram usados de forma conjugada com os meios de comunicação. A minha campanha foi arrasada com a diferença de 18% divulgada pelo IBOPE, quando, na verdade, eu tinha o sentimento de estar ganhando a eleição. A campanha se desestruturou. Quando se está com 18% atrás nas pesquisas, cinco dias antes da eleição, perde-se o entusiasmo dos prefeitos, os cabos eleitorais do interior abandonam a campanha e, principalmente, aquelas contribuições que chegam na última hora, as contribuições programadas durante a campanha - participo da sua campanha com R$5 mil por mês - desaparecem como que por um passe de mágica. Portanto, a minha proposta é que se impeça definitivamente que esses institutos divulguem seus dados, primeiramente porque esses dados não são informação, já que não têm nenhuma fidelidade científica. A infidelidade dos dados com a realidade está comprovada nesse processo eleitoral realizado no Paraná, em São Paulo e em todo o Brasil. Senador Lúcio Alcântara, observe V. Exª que a mentira continua. Num jornal de circulação nacional, foi publicado que o Presidente Fernando Henrique foi eleito com 52% dos votos dos brasileiros, o que é um ledo engano ou uma má-fé sórdida, porque, na verdade, Sua Excelência foi eleito com pouco mais de 30% dos votos dos brasileiros. A empulhação continua mesmo depois da eleição, nessa associação dos veículos de comunicação nacional e dos institutos de opinião. Desse modo, ou se acaba com a divulgação das pesquisas, ou se libera essa divulgação de forma absoluta. Se o IBOPE pode divulgar um resultado sem fidelidade alguma, podemos criar também, para contrapor à mentira do IBOPE, o “Instituto Aurora”. Refiro-me àquela Aurora da música que diz: “Oh! Oh! Oh! Aurora! Se você fosse sincera...”. Podemos contrapor com desinformação a desinformação dos grandes institutos. Para finalizar, Senador Lúcio Alcântara, quero dizer que requeri ao DataFolha as pesquisas e a base das pesquisas que estavam sendo feitas no Paraná. Eles me responderam que não me forneciam o local onde eram feitas as pesquisas, porque a lei não os obrigava a fazê-lo. Então, eles divulgavam o método, mas não as cidades, o que tornava rigorosamente impossível fazer uma contraprova. Por que não indicar as cidades onde as pesquisas eram realizadas e o número de pessoas pesquisadas em cada cidade?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Veja que o DataFolha não trabalha para governos, nem para partidos políticos.

O Sr. Roberto Requião (PMDB-PR) - Mas, ao mesmo tempo em que trabalha para ninguém, torna-se absolutamente inexplicável a negativa de dizer onde foi feita a pesquisa. Perdoe-me, mas ela trabalha para o Governo. O jornal Folha de S. Paulo aderiu francamente ao Governo Fernando Henrique do primeiro ao último caderno, da primeira à última manchete. V. Exª pode dizer que esse jornal não é remunerado pelo Governo, mas há uma adesão ideológica.

            O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Sr. Presidente, espero que esse debate dê frutos concretos. O Senador Roberto Requião trouxe informações importantes. Não podemos perder de vista a liberdade de comunicação, que é um direito constitucional, mas é claro que temos que fazer alguns ajustes.

            A sigla IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - já foi incorporada à língua: “Não está dando IBOPE”; “Fulano não dá IBOPE”; “Como está o IBOPE de fulano?” É preciso realmente fazer-se uma análise e ver o que é razoável e justo. V Exª foi feliz porque distinguiu a sua condição de candidato do Governo do Paraná para fazer um exame tanto quanto possível isento, mas onde há o envolvimento nem sempre se tem a isenção desejada. Esta é, contudo, uma matéria para meditarmos.

            Não sei se conseguirei, mas estou tentando comparar os diversos números das pesquisas dos institutos com os resultados efetivos, para que tenhamos, principalmente com relação às pesquisas feitas nas vésperas e às pesquisas de boca de urna, a margem de erro e onde aconteceu.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/1998 - Página 13616