Discurso durante a 119ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

RESPOSTA AO SENADOR JEFFERSON PERES SOBRE O PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA TELEBRAS.

Autor
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO.:
  • RESPOSTA AO SENADOR JEFFERSON PERES SOBRE O PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA TELEBRAS.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/1998 - Página 16311
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, RESPEITO, ETICA, LEGISLAÇÃO, LICITAÇÃO, DIFERENÇA, LEILÃO, PRIVATIZAÇÃO, MOTIVO, VENDA, CONTROLE ACIONARIO, EMPRESA, DESNECESSIDADE, BUROCRACIA, OBTENÇÃO, AUMENTO, VOLUME, RECURSOS, TESOURO NACIONAL.

O SR. MINISTRO DAS COMUNICAÇÕES (Luiz Carlos Mendonça de Barros) - Evidentemente que não, nobre Senador. Tenho muito claros os limites da eficiência e da ética, dos objetivos e dos meios. Apenas - e este é um julgamento pessoal -, como já lhe disse, este é o padrão das privatizações. Dentro da cultura das privatizações no Brasil, está estabelecido - não sei como começou, mas passa de uma privatização para outra, de um Diretor do BNDES para outro - que, por se tratar de venda de controle acionário de empresas, pressupõe-se a necessidade de um trabalho chamado pré-leilão. Existe a necessidade de um trabalho de interessar pessoas que, às vezes, estão em outros países, chamar a atenção para as oportunidades no Brasil, chamar as atenções para aquela específica oportunidade. Às vezes, a empresa lá fora se interessa, mas pensa: “eu nunca estive no Brasil, não conheço as pessoas.” Então, indicamos bancos, outros investidores para que esse contato se faça, sempre no pressuposto de que essa é a função desse período.

Estivemos na França, tentando interessar a France Telecom e não conseguimos. Estivemos, por exemplo, nos Estados Unidos, quando a MCI, que é a empresa de longa distância americana, tinha descartado qualquer investimento aqui no Brasil. Lembro-me de que fui acusado de caixeiro-viajante. Todos sabemos que quando vai-se vender uma coisa de valor, algo que envolve muito dinheiro e, mais do que isso, quando vai-se vender uma empresa de um país ainda emergente, como o nosso, as pessoas precisam, às vezes, até de segurança macroeconômica. Não sei se contei aqui o caso, uma vez o vice-Presidente internacional de uma empresa belga que participou do leilão da Gerasul - eu o tinha conhecido quando estava no BNDES e tivemos várias reuniões, inclusive explicando sobre o sistema elétrico brasileiro - disse que, antes de tomar a decisão de entrar no leilão, gostaria de falar com o Ministro Mendonça de Barros. Embora eu não fosse mais Presidente do BNDES, tive uma conversa com ele. Estávamos no meio da crise e ele disse que queria simplesmente uma palavra de conforto de que o Governo brasileiro iria lutar pela preservação da sua moeda.

É esse tipo de relação que se cria. Sinceramente, esse julgamento aético está efetivamente muito centrado nas palavras que foram ditas, gravadas ou transcritas, e concordo com isso. A única indulgência que pedi à Casa é a de se colocar na posição de uma pessoa com a responsabilidade que tinha, no fim desse longo processo, quando, de novo, poderia ter me omitido, poderia ter visto aquele desmonte de um consórcio para ficar um outro só e ter lavado as mãos, como a dizer assim: isso não é problema meu. Infelizmente, o André e eu temos personalidades diferentes, no sentido de que não gostamos de ver coisas erradas sendo feitas a nossa volta.

Mas concordo plenamente com V. Exª e por isso vim aqui debater essa questão, não a questão das fitas, da gravação, da palavra, mas do fato, porque realmente senti, pela reação de pessoas depois de divulgado o fato, o desconhecimento que havia em relação à postura do banco nessa época de pré-leilão. Evidentemente que isso não é a verdade, isso é a tradição, é a forma como se faz. Nada impede que, por exemplo, uma Casa como o Senado queira impor regras também a esse procedimento. Não colocaria, Senador, no sentido de os fins justificam os meios. Não é esse extremo. Também não acho que seja correto uma postura burocrática de “uma concorrência de construção de estrada”, porque estamos vendendo o País, no sentido de trazer pessoas para investirem em setores que até então eram estatais. Então, a minha leitura em relação a essa questão é esta: acho que, mesmo dentro da ética, do respeito e do espírito da Lei de Licitações, existe um espaço muito grande; é uma responsabilidade para se obter um maior volume de recursos para o Tesouro que haja esse tipo de trabalho por parte do BNDES.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/1998 - Página 16311