Discurso no Senado Federal

REPUDIO A INSISTENCIA DO GOVERNO NA COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA DOS SERVIDORES INATIVOS E PENSIONISTAS.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • REPUDIO A INSISTENCIA DO GOVERNO NA COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA DOS SERVIDORES INATIVOS E PENSIONISTAS.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Casildo Maldaner, Djalma Bessa, Edison Lobão, Francelino Pereira, Geraldo Melo, Gerson Camata, Iris Rezende, Levy Dias, Lúcio Alcântara, Ney Suassuna, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 06/01/1999 - Página 149
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • PROTESTO, REITERAÇÃO, GOVERNO, PROPOSTA, COBRANÇA, CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA, APOSENTADO, PENSIONISTA.

SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, noticia a imprensa que o Poder Executivo decidiu reiterar a sua proposta de cobrança de contribuição dos servidores inativos e dos pensionistas. Segundo o noticiário, a decisão já estaria tomada, faltando apenas definir se o projeto de lei seria remetido agora, durante a convocação extraordinária, ou depois de janeiro, na próxima legislatura. A dúvida, portanto, no Poder Executivo é sobre a conveniência, uma vez que os líderes partidários sustentam que, dificilmente, neste final de legislatura, a Câmara dos Deputados mudaria a sua decisão recente que rejeitou a matéria. Significa dizer que o projeto de lei virá, com certeza, em fevereiro ou março deste ano.  

Isso causa-me estranheza, Sr. Presidente. Realmente, não sei por que o Governo insiste nessa medida. O custo é muito alto e o benefício muito pequeno. A Câmara dos Deputados já rejeitou quatro vezes a introdução de uma cobrança previdenciária sobre os inativos. O risco é muito grande de haver uma quinta rejeição. O custo social é elevado, porque implica redução da renda de uma parcela considerável de servidores inativos. O custo político é altíssimo também. Há desgaste junto ao Congresso Nacional e um desgaste maior junto aos atingidos e seus parentes que não se conformam com a medida. E ainda há o risco de uma batalha judicial porque de constitucionalidade duvidosa, uma vez que fere o direito adquirido.  

Eu mesmo já me manifestei desta tribuna, por mais de uma vez, a respeito, dizendo que votarei sempre contra, por convicção, porque acho que vivemos num estado de direito e isso tem que ser respeitado.  

Mas, Sr. Presidente, acabo de ler um trabalho da Consultoria Legislativa do Senado, não solicitado por mim, mas publicado recentemente, questionando os dados do Governo, o que me deixa em dúvida quanto ao benefício real. Se o custo é muito alto, parece que o benefício é muito pequeno.  

Segundo os cálculos do Poder Executivo, Senador Edison Lobão, a cobrança previdenciária sobre os proventos e as pensões renderia ao Governo, a partir do ano 2000, quando seria cobrada durante os 12 meses, - uma vez que em 99, se for aprovada, será cobrada apenas durante 5 ou 6 meses, - cerca de R$2 bilhões e 700 milhões. A Consultoria Legislativa do Senado, cujos cálculos não sei se são corretos - até prova em contrário vou aceitar como tal - demonstra que a receita será muito menor, de cerca de R$1 bilhão e700 milhões.  

Tem mais, Sr. Presidente, o Governo não considerou a arrecadação líquida, uma vez que o aumento da contribuição previdenciária implica uma redução da renda tributável dos servidores inativos e uma redução do imposto a pagar ou um aumento do imposto devolvido. É claro que o servidor inativo ou o pensionista sempre sairá perdendo, porque o aumento da contribuição é muito maior do que a redução do Imposto de Renda. Mas o Tesouro perderá alguma coisa. Calcula-se que a redução no Imposto de Renda será de cerca de R$300 milhões. Ou seja, na verdade a arrecadação líquida, - se esta medida for instituída, - seria da ordem de R$1 bilhão e 400 milhões; cerca de metade ou um pouco mais da metade do que o Governo está calculando.  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Ouço o nobre Senador Bernardo Cabral.  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Senador Jefferson Péres, o problema está assentado em uma profunda injustiça para com quem passou a vida inteira trabalhando - e é por isso que o termo adequado é inativo. V. Exª, que vem abordando, juntamente comigo, temas em defesa dos inativos, dos pensionistas - volta a mostrar que o custo/benefício não justifica a volta - uma falta de sensibilidade enorme - desse projeto ao Congresso Nacional. E por quê? Se os cofres do Estado ficassem abarrotados à custa de um problema social desse tamanho, desse montante, ainda assim não se justificaria essa medida. No Brasil, ao cabo de anos de trabalho, quando o cidadão se aposenta, vai para a inatividade, é marginalizado. Já ganha pouco, já não tem como sustentar a sua família; se sofrer mais esse impacto, podemos dizer, é claro, que temos o chamado impacto social. O posicionamento de V. Exª e o meu, em relação a essa questão, é conhecido. Não acompanharei nenhuma medida que possa ser prejudicial ao aposentado. E aí a nossa dupla estará, mais uma vez, agindo na defesa do inativo. Meus cumprimentos pelo seu discurso.  

SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Muito obrigado Senador Bernardo Cabral. V. Exª, há pouco, já me dizia isso, reiterava a sua posição, conhecida, de que nada o fará mudar de idéia. Quantas vezes o Governo insistir, terá o voto contrário de V. Exª e o meu. E nós dois somos de partidos integrantes da Bancada do Governo. Portanto, Sr. Presidente, não entendo essa insistência, essa casmurrice governamental. Ontem, li em um jornal que, segundo um ministro, a questão se tornou ponto de honra do Governo. Pergunto: Ponto de honra por quê, Sr. Presidente? Será que o Governo se considera desonrado, porque já perdeu quatro vezes? Será que a arrogância do Poder, acha uma humilhação para o Governo perder, ou será que é ponto de honra porque o FMI exige? Enfim, além de render tão pouco - eu gostaria de ver contestados os dados da Consultoria Legislativa -, depois de tanta luta, Senador Bernardo Cabral, de tanto desgaste para o Governo, ainda há o risco de sofrer uma derrota no Supremo Tribunal Federal e ainda há o risco maior, porque se perder no Congresso a repercussão será realmente terrível lá fora, será um bumerangue para o Governo, será contraproducente para o Governo. Por que insiste tanto nisso?  

Sr. Presidente, faço votos para que as lideranças do Governo no Congresso, junto com as lideranças no Poder Executivo, ou seja, o Presidente da República e Ministros repensem a questão e não insistam, reflitam melhor, porque - repito - o custo é muito alto e, pelo que se vê agora, o benefício é muito pequeno.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/01/1999 - Página 149