Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO DO PADRE MARCELO ROSSI, CONSIDERADO O MAIOR FENOMENO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA DO PAIS.

Autor
Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO DO PADRE MARCELO ROSSI, CONSIDERADO O MAIOR FENOMENO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA DO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 07/01/1999 - Página 235
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, EFICACIA, COMUNICAÇÃO SOCIAL, MARCELO ROSSI, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, DIVULGAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, RADIO, TELEVISÃO, ENSINO, CRISTÃO.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT-AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pelo mundo afora, em vários ramos, em várias atividades, certamente há pessoas que encontram extrema dificuldade para difundir seus conhecimentos, seus dons, seu talento; outras superam os obstáculos - eu diria até que com grande facilidade. O enigma desse processo, no meu entendimento, é exatamente saber utilizar bem a comunicação. A comunicação deve ser fácil, acessível; deve fazer com que as pessoas do mundo inteiro, interessadas no assunto, tenham empatia pelo assunto e, portanto, aproximem-se do comunicador.  

Começo, assim, o meu discurso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para falar de um dos maiores fenômenos da comunicação atual; um dos recordistas inclusive de vendagem de CDs e, portanto, da comunicação de massa. Trata-se do iluminado Padre Marcelo Rossi, Sacerdote católico que encarna uma nova maneira de dirigir-se aos fiéis e de transmitir a mensagem de Cristo.  

Padre Marcelo foge totalmente àquele estereótipo de sacerdote que construiu muitas gerações de pessoas reclusas, recolhidas às igrejas e que só se preocupavam com as coisas da religião. Padre Rossi, ao contrário, está aí para mostrar que a religião não deve ser uma prática dissociada do dia-a-dia, que o religioso pode ser uma pessoa como tantas outras que cantam, dançam, riem e também rezam. Num mundo em que a comunicação é tudo, está ele sabendo bem captar esse espírito e transmiti-lo da melhor maneira para cumprir a sua missão evangelizadora.  

Embora não tenha uma formação específica na área de comunicação, ele a exerce com maestria, mostrando ser um comunicador eficiente, que, apenas com a sua participação num programa de televisão, por exemplo, faz subir sobremaneira os seus índices de audiência. Todo ambiente torna-se pequeno para as celebrações que oficia. Por isso, a mídia - rádios, revistas e, principalmente, a televisão - corre ávida atrás dele, pois a sua presença é sinal certo de sucesso.  

Como católico, encaro o seu êxito sob outro prisma, olhando além da mera audiência: o seu grande mérito é ter feito com que os canais de televisão comercial, antes tão refratários aos temas religiosos, abrissem as suas portas para Deus e para alguém que, embora popular, não se afasta dos ensinamentos consolidados pela Igreja.  

Analisando a sua atuação sob o aspecto religioso, julgo altamente meritória sua maneira de agir, pois é capaz de transformar em coisa simples a mensagem cristã e católica, antes tão hermética e inacessível. As suas missas não são aquelas cerimônias consideradas apenas tradicionais, em que as pessoas só ouviam o padre, presentes apenas de corpo para cumprir um preceito semanal. Nelas, ao contrário, num grande ambiente de descontração e respeito, todos cantam, gesticulam e rezam. É a nova forma de louvar a Deus, adotada e difundida pela Renovação Carismática, tão bem aceita pelos católicos que os participantes de seus cultos já se contam às dezenas de milhares.  

Sob o prisma da comunicação, não há como negar ser ele muito bem sucedido: é dinâmico, fala uma linguagem acessível a qualquer pessoa, irradia alegria, demonstra estar de bem com a vida, tem empatia com os fiéis. A grande vendagem de seu primeiro disco, ultrapassando em muito os limites de nossos maiores cantores ou grupos musicais - já são dois milhões de discos vendidos -, vem mostrar que a música religiosa também cativa e emociona o coração das pessoas. E é comum, hoje, ouvirem-se músicas do Pe. Marcelo Rossi em emissoras de rádio comercias e, com muita freqüência, na televisão.  

É natural que, ao se destacar e tornar-se totalmente exposto ao grande público, surjam reações desfavoráveis de pessoas que não concordam muito com a sua maneira de agir: uns o gostariam mais comprometido com as causas sociais, tão caras à Igreja no período da ditadura militar, por exemplo; outros, adeptos de uma Igreja mais conservadora e apegada à tradição, não apoiam nem a sua maneira aeróbica de agir, nem a linha adotada pela Renovação Carismática.  

Algumas autoridades da Igreja Católica estão preocupadas com o fenômeno Pe. Marcelo Rossi, a exemplo do Cardeal-Arcebispo de Belo Horizonte, D. Serafim Fernandes de Araújo, que teme pelos resultados da exposição na mídia a que está submetido o padre paulista, quando disse que "a mesma mídia que o joga lá em cima, daqui a pouquinho vai jogá-lo lá em baixo".  

De minha parte, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, preocupa-me apenas o fato de a mídia transformá-lo - não só o Pe. Marcelo Rossi, mas também outros padres, que, assim como ele, estão conseguindo se destacar dentro desse segmento da Igreja Católica -, de simples sacerdote que encontrou uma nova maneira de divulgar o Evangelho, numa super estrela, imagem que não fica bem num sacerdote. Entretanto, como não é possível impedir que a imprensa assim aja, resta-me esperar e pedir a Deus que preserve o seu mensageiro, o qual, aliás, cumpre a solicitação do Papa João Paulo II, de que os padres trabalhem em favor do retorno da juventude à Igreja. O Pe. Marcelo Rossi, com sua mensagem e com seu trabalho, tem conseguido esse efeito de reconduzir os jovens, e também os adultos e idosos, à Igreja.  

Pedimos, então, a Deus que o preserve, não permitindo que o estrelato tome conta de sua cabeça, e que continue fiel ao ensinamento do Apóstolo Paulo de que é preciso que o pregador se diminua para que Cristo apareça, e que, enfim, ocorra aquilo que o próprio Pe. Marcelo disse de si: "Não sou um ídolo, sou padre. Meu objetivo é trazer os católicos de volta à Igreja".  

No mais, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, só tenho que me regozijar com essa nova fisionomia que a Igreja Católica está mostrando ao povo, por intermédio de sacerdotes como o Pe. Marcelo, em São Paulo, Pe. Zeca e Pe. Jorjão, no Rio de Janeiro, e Pe. Giovani, Pe. Moacir, Pe. Ribamar e Pe. Rambo, em Brasília, todos conseguindo reunir milhares de pessoas em suas missas, e de tantos outros padres realmente carismáticos que conseguem falar a língua do povo, transformando as igrejas em organismos vivos, atuantes e engajados nas aspirações do nosso tempo.  

Acima de tudo, regozijo-me com eles por serem capazes de dar resposta à ânsia que o povo tem de Deus e do transcendente, de que o seu sucesso é o melhor testemunho. Queira Deus que muitos padres com esse carisma surjam no Brasil, para levar ao nosso povo, tão sofrido e desesperançado, a mensagem da fraternidade e do verdadeiro amor, fundamentada em Deus e, o que nos parece ainda melhor, com alegria, desprendimento e motivação, de forma sábia, conseguindo, de fato, arrebatar uma grande quantidade de pessoas e remotivar os católicos cristãos a retornar à Igreja.  

Era o que tinha a comunicar, Sr. Presidente.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/01/1999 - Página 235