Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS NO TRANSCURSO DO PRIMEIRO ANO DO FALECIMENTO DO MINISTRO SERGIO MOTTA.

Autor
Sérgio Machado (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: José Sérgio de Oliveira Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS NO TRANSCURSO DO PRIMEIRO ANO DO FALECIMENTO DO MINISTRO SERGIO MOTTA.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Artur da Tavola, Marina Silva, Paulo Hartung, Pedro Piva, Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/1999 - Página 8551
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SERGIO MOTTA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DAS COMUNICAÇÕES (MC), ELOGIO, ATUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, EXECUÇÃO, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, SETOR, TELECOMUNICAÇÃO, BRASIL.

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta é uma data de marcante significado histórico para todos nós brasileiros. Registramos um ano de consternada perda pelo inestimável afastamento físico de nosso querido Sérgio Motta.  

Insubstituível em todos os sentidos, sua presença permanece constante entre nós; exemplo de coragem, lealdade, entusiasmo e firmeza de propósito; exemplo de insuperável competência e de intransigente militância em defesa dos ideais da socialdemocracia.  

Sua saudosa e indelével recordação não deixou apenas lágrimas aos amigos e correligionários, aos quais sempre soube ser solidário, aos quais tanto estimulou, dedicando incondicional fidelidade e ensinando, com obstinada franqueza e singular ousadia, a verdadeira acepção de valores, como a destemida combatividade e a consciência social, tão vividas no exemplo de sua busca arguta e pertinaz por um Brasil melhor.  

Sua memória lega-nos não só uma grande e condoída ausência, mas sobretudo nos cobra a continuidade de um trabalho incansável que, com tanto arrojo, com tanto empenho, com tanta paixão e sagacidade, devotou à concretização das radicais e inadiáveis reformas política, tributária e do Judiciário, tão indispensáveis ao nosso País.  

Como Líder do PSDB e como amigo pessoal de Sérgio Motta, não me bastariam centenas de milhares de palavras para descrever a emoção que me assalta na vã tentativa de encontrar definições e de ordenar idéias capazes de retratar, com propriedade, os notáveis e elevados atributos deste polêmico, irreverente, bem-humorado e peculiar político; a um só tempo explosivo e habilidoso, sutil nas idéias, duro nos princípios, extravagante nas ações, eficiente nas tarefas, indubitavelmente eficaz nos resultados.  

Faltam-me igualmente formulações e conceitos que possam bem expressar a extensão a que chegam as virtudes dessa extraordinária e exemplar figura humana, em toda a dimensão de suas profundas convicções ideológicas.  

Sérgio Motta nunca teve medo de se expor. Com sua personalidade forte, seu jeito bombástico de ser, presença diuturnamente marcante no cenário político, legitimava, com acentuado pragmatismo, o ímpeto muitas vezes exagerado e o aparente atropelo de seus atos, pela veemência dos resultados práticos que alcançava em benefício de nosso País.  

Arrojado, mantinha-se excepcionalmente atento. Vigilante aos interesses nacionais, não declinava em defender com unhas e dentes aquilo em que acreditava. Mantinha-se continuamente prestes a virar a mesa. Sem medo de errar, quase sempre acertava.  

Administrador vigoroso, executou o mais intenso processo de privatização no setor de telecomunicação do Brasil e um dos maiores do mundo. Aglutinando alianças, Serjão prestou serviços como poucos à democracia e ao País. Progressista, comprometido com as causas populares, portador de uma gigantesca vontade de transformar o Brasil, foi antes de tudo um realizador. Seu talento para articular e cobrar as mudanças consubstanciou-se no sucesso de consolidar a base de sustentação da proposta política de Fernando Henrique Cardoso e na irreversível marcha de modernização do Governo.  

Sua história de luta, sabemos, vem de longe. Coerente com seus princípios, em 58 anos de vida soube muito bem ocupar e expandir seus espaços. Ninguém jamais poderá ocupar o espaço por ele deixado, pois, como bem definiu o amigo José Serra, "ele era seu próprio espaço".  

Fundador do PSDB, sua ativa militância política começou nos anos 60, ao participar do grupo AP - Ação Popular, organização de esquerda proveniente da juventude universitária católica. Na década seguinte, administrou o jornal alternativo "O Movimento", um dos maiores focos de resistência contra a ditadura.  

Engenheiro Industrial, sua capacidade técnica o levou a presidir, com extrema produtividade, as empresas Hidrobrasileira e Coalbra nos anos 70 e 80, além de sua participação marcante como executivo da Eletropaulo no Governo Franco Montoro.  

Coordenador da campanha de Fernando Henrique ao Senado em 1978, Serjão foi eleito Secretário-Geral do PSDB em 1991 e reeleito em 1994, tendo sido também vitorioso como coordenador da campanha presidencial daquele ano.  

Em 1995, assumindo a pasta das Comunicações, ajudou a fazer desse Ministério uma alavanca para o desenvolvimento, deflagrando, assim, o processo de desencadeamento dos avanços tecnológicos que hoje presenciamos.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse homem, que, pelos desígnios supremos, de nós fisicamente se afastou há um ano, permanece como sempre aqui presente. Sua alegria retumbante, sua garra, sua coragem, sua honradez e sua fé inabalável na construção de uma sociedade melhor para todos os brasileiros, nada disso se foi naquela infeliz madrugada no Hospital Albert Einstein, em que lhe faltou o último fôlego.  

Para Dona Wilma, sua viúva, e para suas três filhas, restam, além do impiedoso travo da irreparável perda, uma enorme saudade e um merecido orgulho. Para nós, amigos e correligionários, esta grata e insistente presença nos reserva um pouco mais. Compete-nos a melhor homenagem que lhe podemos prestar: concluir as reformas pelas quais tanto lutou.  

O Sr. Artur da Távola (PSDB-RJ) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Com muito prazer.  

O Sr. Artur da Távola (PSDB-RJ) - Senador Sérgio Machado, nós do PSDB estamos aqui, juntamente com outros Senadores e Senadoras, a assistir V. Exª, nós, particularmente, com a emoção da fraternidade partidária. Quero não só me associar ao que V. Exª está a dizer mas também fazer uma reflexão provocado pelo conteúdo do discurso de V. Exª. A reflexão vai um pouco, na memória, na direção dos ideais de fundação do PSDB; e ela é oportuna porque dez anos depois, quase onze anos, o Partido está a merecer essa reflexão. Um dos grandes sentidos do que deixou Sérgio Motta tem um caráter simbólico para nós todos. E, como V. Exª sabe, o simbólico tem muito mais força do que lógico racional, até porque o simbólico ultrapassa os limites da lógica e da razão. Como V. Exª sabe, simbólico é um antônimo de "diabólico". O prefixo dia significa separação e o prefixo sim significa conjunção, junção de elementos. O que é simbólico é o oposto do que é diabólico; por extensão, o conceito de diabólico passou-se à religião e até o nome de um dos anjos falidos, caídos, decaídos recebeu o batismos dessa palavra. O simbólico, portanto, é o rico. E o que é rico, no caso do PSDB, e a sua formação? É o haver sido, logo após a Constituinte, não o que muitas pessoas falam, uma dissensão paulista. Jamais o PSDB foi isso. Posso dar esse testemunho, embora esse fato pudesse estar presente incidentalmente. O PSDB foi a certeza que algumas pessoas tiveram, logo após o término da Constituinte, de que havia acabado o espaço para política de frente. A política de frente fora muito importante para levar o autoritarismo ao recuo e à transição pacífica que este País viveu - felizmente. Naquele momento, houve a compreensão de que era necessário cristalizar avanços do pensamento liberal com evoluções do pensamento socialista. Foi um momento muito interessante de junção de algo que está na nossa origem, esteve no nosso caminho e, às vezes, duvido que esteja no nosso presente: a idéia de que há uma proposta que possa juntar os liberais modernos com os socialistas capazes de uma revisão. Essa junção, aparentemente difícil num século que foi dividido pelo Capitalismo e pelo Comunismo em angulações radicais, por meio de uma interação dialética, era possível, é possível e vem sendo possível. No entanto, é muito mal compreendida - diria até incompreendida - mas vem sendo possível na transformação pela qual o País passa. Essa junção é difícil exatamente porque antecipou um movimento eclético que viria ocorrer no mundo, pouco depois, com a queda do muro de Berlim, e uma transformação que se dá nesse mesmo mundo. Essa transformação, a meu juízo, não significa o fim do Socialismo nem a vitória do Capitalismo Selvagem, como muitos pretendem. Ela, sim, representa a certeza de que o Socialismo de Estado não tem mais vez; de que o Leninismo, algo que nunca foi questionado dentro do Marxismo, ficou ultrapassado - ainda que pareça estranha essa afirmação; e de que a idéia de um Capitalismo Selvagem entregue às leis de mercado, absolutamente sem nenhuma presença do Estado, também ficou ultrapassada dentro do Capitalismo. Houve, naquele instante, a intuição de alguns brasileiros de que era possível construir um caminho por essa junção dolorosa, mas absolutamente fundamental. Sérgio Motta representava, dentro disso, o pólo de afirmação dessas idéias, porque, curiosamente, nós, do PSDB, muitas vezes, recuamos, paramos, diante da afirmação de nossas idéias, às vezes até sem o vigor necessário para reafirmá-las. (O Sr. Presidente faz soar a campainha.) Por isso, muito bem alertado pelo Sr. Presidente quanto ao tempo, aparteio V. Exª, para dar-lhe os cumprimentos pela colocação do conteúdo do seu trabalho, lembrando que Sérgio Motta representava, simbolicamente, e claro que também no seu plano de vida pessoal, exatamente essa junção e esses ideais. Que eles não desapareçam de nosso Partido!  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Artur da Távola, pelo aparte. Realmente, o nosso querido Serjão representava tudo isso que V. Exª disse. Há homens que falam e homens que fazem. Serjão fazia, lutava, tinha paixão e empenhava-se com todo o amor nas suas causas. Por isso, teve papel tão importante em nosso Partido.  

O Sr. Paulo Hartung (PSDB-ES) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Ouço V. Exª com prazer.  

O Sr. Paulo Hartung (PSDB-ES) - Senador Sérgio Machado, antes de tudo, parabenizo-o pela iniciativa, feita certamente em nosso nome, em nome do PSDB e de tantos militantes da política, da Administração, das mais diferentes facções e pensamentos políticos, que tinham admiração e respeito pela figura de Sérgio Motta. V. Exª está sendo muito feliz nesta tarde-noite ao relembrar aquele que carinhosamente era chamado por alguns de trator e que marcou muito a vida recente do nosso País e do Governo Fernando Henrique Cardoso. Quero aqui dizer de minha amizade pessoal por Sérgio Motta, além de minha consideração por uma pessoa que era, na minha visão, um grande operador político, tendo-se mostrado um grande gerente quando administrou uma área delicada do Governo. Foi capaz de montar o processo de desregulamentação e de privatização de um setor essencial na vida moderna. Por isso, eu me associo às palavras de V. Exª e, ao mesmo tempo, fico pensando, um pouco emocionado, é claro, em como este País ainda tem poucos quadros — poucos quadros administrativos, poucos quadros gerenciais, poucos quadros políticos. Como as pessoas fazem falta! O vazio que ficou não é pequeno. Ouso dizer que, tanto o nosso Partido, o PSDB, como o próprio Governo, demonstravam mais alma com a presença de Sérgio Motta. Ouso dizer que perder quadros é muito difícil para um País como o nosso. E nós perdemos, num intervalo de poucos dias e poucas horas, Sérgio Motta e Luís Eduardo Magalhães — que tive a oportunidade de conhecer como Deputado Federal. Perdemos muito. Homenagear esses homens é muito importante. Reverenciar essas trajetórias é fundamental. Mais do que isso, respeitar essas trajetórias é avançar com as reformas democráticas do Estado; e mais ainda: é ousar colocar uma agenda de desenvolvimento econômico neste País que gere emprego, gere renda e traga felicidade ao nosso povo. Assim, homenageamos quadros que deram muitas contribuições e poderiam dar outras, ainda maiores, não tivessem sido tirados, lamentavelmente, muito cedo do nosso convívio. Parabéns, Senador Sérgio Machado. Sua iniciativa, como disse anteriormente, representa-nos a nós e representa muito mais: outras facções políticas e personalidades da nossa vida pública e política que guardavam grande admiração e respeito pela figura de Sérgio Motta. Muito obrigado.

 

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Paulo Hartung, pelo aparte. V. Exª retrata bem o que estava na alma de Sérgio Motta. Nos últimos dias de vida, S. Exª estava obstinado pela questão do desenvolvimento, do crescimento, que era o grande desafio que teríamos nos próximos quatro anos. Essa era a obstinação, a vontade, o desejo, o sonho dele, e penso que devemos homenagear pessoas como Sérgio Motta e Luís Eduardo Magalhães. Eles nos deixaram, mas suas idéias permanecerão e vamos ter de lutar para vê-las definitivamente implantadas entre nós. São pessoas especiais que vão continuar eternamente presentes por suas idéias, lembrança e exemplo.  

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - V. Exª concede-me um aparte?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Concedo um aparte ao Senador Pedro Piva.  

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - Senador Sérgio Machado, hoje teremos uma missa em homenagem a Sérgio Motta. Vou ser breve, referendando apenas as palavras dos Senadores Artur da Távola e Paulo Hartung, mas, como paulistano, conterrâneo de Sérgio Motta, gostaria de registrar nesta Casa nosso voto de pesar, enviando à viúva e às filhas nossos mais profundos sentimentos e a nossa saudade de Sérgio Motta. Como não estaremos nesta Casa no feriado do dia 21, quando se completará um ano do falecimento de Luís Eduardo Magalhães, também deixo meu grande abraço ao nosso Presidente. Infelizmente no ano passado, no prazo de 48 horas, perdemos dois homens extraordinários, de grande vivência, que ainda poderiam dar tudo à Nação. Foi realmente um mês trágico, que não vamos esquecer jamais. Parabéns, Senador Sérgio Machado. Um abraço, Senador Antonio Carlos Magalhães.  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Senador Pedro Piva, muito obrigado pelo aparte que emociona a todos nós, que há tão pouco tempo perdemos figuras dessa magnitude. Sei do sentimento que está no coração de todos nós, sei o que está no coração do nosso Presidente, que era amigo de Sérgio Motta e que sente a perda de Luís Eduardo; mas neste momento, em que o País precisa tanto de pessoas de fibra como esses homens, precisamos avançar, e avançar sonhando com nosso futuro.  

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB-MT) - Concede-me V. Exª um aparte?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Concedo o aparte ao Senador Antero Paes de Barros.  

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB-MT) - Senador Sérgio Machado, não tive a felicidade do Senador Paulo Hartung - apesar de minhas ocupações no Estado - de manter contatos mais estreitos com o Ministro Sérgio Motta. E até cobrei isso dos dirigentes de Mato Grosso. Como Secretário da Casa Civil, havia solicitado ao Governador, Dante de Oliveira, que, numa de suas vindas a Brasília, possibilitasse-me a oportunidade de cumprimentar e abraçar Sérgio Motta. Portanto, fala alguém aqui que só admira suas idéias, seu posicionamento, sua lealdade. Sérgio Motta foi daqueles Ministros e brasileiros que jamais esperou que alguém pedisse a ele que defendesse o projeto da socialdemocracia, o projeto do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o projeto do desenvolvimento, o projeto do investimento na área social. Ele sempre tomou essas iniciativas. Portanto, tenha certeza de que V. Exª interpreta - e está de parabéns por isso - o sentimento dos tucanos do Brasil inteiro. Não tenho a menor dúvida disso. E registro também minha solidariedade ao Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães. Tive a oportunidade de ser Deputado Federal Constituinte e de ser amigo do Deputado Luís Eduardo Magalhães, que tinha uma característica fundamental para ser - como foi - um vencedor na política: ele era respeitado por todos os setores da Câmara dos Deputados, por todos os Partidos e por todos os colegas, porque jamais desrespeitou um acordo, jamais deixou de cumprir sua palavra, jamais deixou de ser leal no trato político, jamais deixou de emitir sua opinião, jamais deixou de divergir, com a tranqüilidade com que fazem os grandes homens públicos. Portanto, V. Exª trata hoje da saudade de Sérgio Motta, e penso que, com muita justiça, foi lembrada aqui pelo Senador Paulo Hartung, e depois pelo Senador Pedro Piva, a saudade também do Deputado Luís Eduardo Magalhães. Com certeza, homenagear essas figuras que tanto lutaram por esses projetos é dar continuidade às reformas, é fazer a reforma política, é fazer a reforma do Poder Judiciário, é estabelecer, enfim, um projeto de desenvolvimento para nosso País. Parabéns a V. Exª.  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Senador Antero Paes de Barros, muito obrigado pelo aparte em que V. Exª relembra esses nossos grandes amigos, esses grandes sonhos. Acredito que é nosso dever, em memória deles, prosseguir na nossa luta.  

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT-AP) - V. Exª me concede um aparte?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Concedo um aparte ao Senador Sebastião Rocha.  

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT-AP) - Senador Sérgio Machado, quero participar dessa homenagem que V. Exª presta ao ex-Ministro Sérgio Motta. Conheci de perto o ex-Ministro, pois iniciei minha vida pública como Deputado Estadual pelo PSDB, época em que Sérgio Motta era Secretário-Geral do Partido. Portanto, convivi com ele e conheci de perto a figura humana e carismática de Sérgio Motta. Claro que, no Governo, ele soube combinar a excentricidade com a autenticidade, e muitas vezes chegou a ser o contraponto do Governo, quando por exemplo criticou o Programa Comunidade Solidária, embora quase sempre fosse a voz mais estridente do cenário político nacional em defesa das ações do Governo, expondo-se às vezes demasiadamente. Sinto saudade da figura humana de Sérgio Motta e do político que ele conseguiu ser, com seus erros e suas virtudes, como todos nós temos. Quanto ao Deputado Luís Eduardo, não o conheci de perto. Entretanto, pelo que sei, toda a Oposição sempre dedicou a ele um grande respeito, em função do que mencionou o Senador Antero Paes de Barros: a forma como conseguia articular e honrar seus compromissos, sobretudo quando desempenhou a função de Líder do Governo e de Presidente da Câmara dos Deputados. Foi uma liderança jovem, com um futuro promissor, mas que infelizmente Deus decidiu levar. Fica aqui minha homenagem a essas duas pessoas que perdemos há um ano.  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Sebastião Rocha.  

A Srª Marina Silva (Bloco/PT-AC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Sérgio Machado?  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Pois não, nobre Senadora Marina Silva.  

A Srª Marina Silva (Bloco/PT-AC) - Senador Sérgio Machado, nesta tarde V. Exª relembra o nome de um companheiro de seu Partido que eu não conhecia, mas acompanhava suas idéias e seu estilo arrojado, como V. Exª acabou de tipificar. Os colegas que me antecederam mencionaram a morte de pessoas importantes na política do País, ocorridas há um ano. Eu estava pensando em uma frase atribuída a Karl Marx, segundo a qual "o homem faz a História, mas a faz em condições historicamente dadas". Na minha concepção de pessoa de fé e que acredita em Deus, essas condições historicamente dadas são determinadas por Deus. Acompanhando a trajetória da História – e este é um momento de reflexão para todos nós –, às vezes nem pensamos nessa determinação histórica que, do meu ponto de vida, é de Deus. E meditando sobre isso, indagamos como seria a História se determinados cortes não houvessem ocorrido. Eu observava o Presidente Antonio Carlos Magalhães, que acabou de se retirar, e a fala mansa, calma e apaziguadora do Senador Artur da Távola, e estava aqui pensando. Deus, às vezes, produz as situações da forma adequada: para o Senador Antonio Carlos Magalhães, por sua postura e forma de ser, Deus acabou dando um filho que, em muitos momentos, tinha de falar "calma, papai"; o PSDB, que às vezes tem uma postura bastante calma e tranqüila, tinha o Serjão, que ficava, em muitos momentos, colocando fogo na fogueira. E, sem entrar na questão do mérito político, da divergência que temos com ambos os Partidos, com o método, a forma e o conteúdo, lamento também a perda de pessoas cuja morte trouxe sofrimento a suas famílias, a seus entes queridos, a seus companheiros de partido. E, neste mês em que muitos estarão refletindo, que nos fique este alerta da história. Às vezes a traçamos como se fosse retilínea, e Deus coloca o dedo em nosso destino. Isso é válido para todos nós, que estamos, nesta tarde, acompanhando o pronunciamento de V. Exª e, acima de tudo, para aqueles que continuam com o desafio de fazer da história deste País aquela em que possa prevalecer a justiça social, o debate político, o interesse pelas questões nacionais. Que haja a possibilidade da troca de idéias diferentes, sem que se busque aquela visão do colega que dizia: "É para tratorar". Eu diria: "É para trocar, para mediar". Como acredito em Deus, tenho certeza absoluta de que essa lição está sendo aprendida por aqueles que já estão do outro lado.  

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senadora Marina, pelo seu aparte, por sua reflexão profunda. E é exatamente o que nos faz pensar como políticos. Aqui estamos passando e temos de cumprir o nosso ideal. Temos de ser afáveis no trato, mas firmes nas idéias, naquilo que acreditamos, que sonhamos. Esta é exatamente a marca do PSDB: lutamos por aquilo que acreditamos.  

Temos de discutir, dialogar e ter consciência de que todos nós passamos; o que fica são as idéias. Essa é a semente à qual temos de nos apegar, para podermos definir nosso destino.  

A nós cabe o desafio de prosseguir sua obra, de concretizar um sonho tão grandioso quanto foi sua lição de vida, tão grandioso quanto é o espaço que ocupa em nossos corações, tão grandioso quanto a esperança que nos inunda as almas.  

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio. Fazendo soar a campainha.) - Nobre Senador Sérgio Machado, permita-me interromper V. Exª.  

Consulto o Plenário sobre a prorrogação da sessão por 20 minutos, para que o orador conclua a sua oração. (Pausa)  

Não havendo objeção do Plenário, está prorrogada a sessão por 20 minutos.

 

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE) - Fique certo, amigo Serjão, esse enorme vazio de sua ausência presente vamos preenchê-lo com tudo quanto nos ensinou. Com entusiasmo e determinação, trilharemos, destemidamente, os caminhos que nos conduzam ao inevitável futuro desta Nação, um futuro com justiça social e desenvolvimento, em que cada brasileiro tenha igualdade de oportunidade. Este é o nosso sonho. Falo em nome do nosso Partido.  

Gostaria, ao encerrar minhas palavras, de dizer ao Presidente Antonio Carlos Magalhães, aqui ausente, que nós, do PSDB, sentimos enormemente a perda de Luís Eduardo, que aconteceu dois dias depois. Vejam que o destino nos tirou, naquele momento precioso para o País, duas figuras de enorme importância.  

Sei o que Luís Eduardo representou para a Bahia, para sua família e amigos. Fui amigo dele e conheci bem aquela figura humana, firme, mas sempre disposto a cumprir os compromissos, a sonhar com um Brasil diferente, a ter audácia e coragem. Tinha um estilo diferente de Sérgio Motta, mas os dois apresentavam a mesma firmeza de propósito e de caráter, e isso é que tem de representar o Brasil. Precisamos, agora, de políticos que fazem não o que é conveniente, mas o que é certo em benefício do conjunto do nosso País.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/1999 - Página 8551