Discurso no Senado Federal

CRITICAS AO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL PELA PARTICIPAÇÃO NO ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DA FABRICA DA FORD NO ESTADO.

Autor
José Fogaça (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: José Alberto Fogaça de Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), GOVERNO ESTADUAL.:
  • CRITICAS AO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL PELA PARTICIPAÇÃO NO ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DA FABRICA DA FORD NO ESTADO.
Publicação
Publicação no DSF de 05/05/1999 - Página 10088
Assunto
Outros > ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • REGISTRO, INSUCESSO, NEGOCIAÇÃO, AUSENCIA, IMPLANTAÇÃO, EMPRESA DE VEICULOS AUTOMOTORES, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), AUSENCIA, INTERESSE, OMISSÃO, TRATAMENTO, DIRIGENTE, PROJETO, IMPLANTAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB-RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lamentavelmente quero comunicar à Casa que o dia 30 de abril de 1999 irá para a história do meu Estado, o Rio Grande do Sul, como um dia fatídico, como um dia de triste lembrança, de triste memória. Neste dia, acabou-se por definir a decisão da Empresa Automobilística Ford de não implantar, no Rio Grande do Sul, o seu projeto de uma nova planta montadora de automóveis para desdobrar esse projeto em torno de quatro ou cinco anos e transformar possivelmente esse investimento na mais extraordinária inovação tecnológica já realizada na indústria automobilística do Brasil.  

Quero fazer esse registro, Sr. Presidente, lamentando o que tenha acontecido. Seria extremamente fácil eu vir aqui fazer a condenação do Governo do Estado. Não é o que vou fazer, porque, como gaúcho, prefiro lamentar em nome de todos os gaúchos, esta perda que gerações e gerações, no futuro, irão lembrar amarga e tristemente, Sr. Presidente.  

Será um marco negativo na vida do nosso Estado. Durante trinta, quarenta, cinqüenta anos, quem sabe durante muitas décadas, quando o dia 30 de abril de 1999 for relembrado, irá cair sobre a nossa geração e, sobretudo, sobre quem tomou esta decisão o peso da sua responsabilidade, o peso de arcar com uma decisão que definiu o futuro industrial do Rio Grande do Sul, que definiu o seu futuro como Estado integrado ou como Estado incluído no processo industrial brasileiro, no processo de modernização industrial do País.  

É verdade, Sr. Presidente, que havia um contrato que compreendia a concessão de incentivos fiscais e de financiamentos que compunham todo o "pacote", todo o quadro sob o qual foi feito este acordo. Neste "pacote", Sr. Presidente, estava incluída também uma linha de financiamento. De modo que é preciso reconhecer que, de fato, havia um contrato e que o Estado tinha que despender alguns recursos, mas é importante lembrar que a maior parte desses recursos iam se traduzir sob a forma de obras de grande interesse social, de amplo interesse populacional, de largo alcance intermunicipal. Obras como, por exemplo, a duplicação da BR-116, que liga Porto Alegre com o Município de Guaíba; obra que poderia ser realizada ao longo de muitos anos e não precisava haver um desembolso imediato por parte do Governo do Estado.  

O trevo de entrada para o Município de Guaíba, a Escola Técnica Henry Ford, que seria da responsabilidade do Estado, mas que serviria para incorporação de tecnologia, a mais moderna tecnologia de ponta do setor automobilístico do mundo, viria para ser incorporada pelos gaúchos, viria para a cabeça dos estudantes gaúchos por meio de professores e técnicos trazidos diretamente dos Estados Unidos para repassar tecnologia e know how às novas gerações de técnicos e estudantes secundários do Rio Grande do Sul.  

O terminal portuário de Guaíba, uma outra obra prevista nesse "pacote", tinha um enorme alcance econômico e social, porque o terminal portuário que servia para transportar os automóveis desde a cidade de Guaíba, passando pelo estuário do rio Guaíba e a Lagoa dos Patos até o Porto de Rio Grande, de onde seriam exportados, esse terminal de Guaíba poderia ser utilizado por qualquer empresa e abriria um corredor de exportação extraordinário, uma vez que ele hoje é pouquíssimo utilizado. Esse mesmo corredor exigia uma obra de dragagem do rio que, evidentemente, acarretaria custos.  

Claro que, durante alguns anos, enquanto se dava a implantação da fábrica até o momento em que o primeiro carro saísse da porta da fábrica para a rua - portanto, mais de um ano e meio -, o Governo teria muito tempo para amealhar os recursos, para obter os recursos e realizar essa pequena obra, se considerarmos a importância e a dimensão de futuro que nela se continha.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, faço esse registro profundamente deprimido e entristecido, sobretudo entristecido porque o Presidente da empresa declarou aos gaúchos que, muito mais do que o rompimento do contrato, o que o levava a desistir do projeto no Rio Grande do Sul - um projeto que compreendia milhares e milhares de fornecedores em todo o mundo - era o tratamento que havia recebido: de descaso, de desconsideração, de apequenamento, e, às vezes, até de ofensas em relação não só à empresa como às pessoas.  

Esse procedimento e essa postura demonstraram ao Presidente da Ford, que ele, ao realizar um projeto dessa envergadura e desse tamanho, evidentemente, teria de enfrentar, ao longo de muitos anos — já que um projeto desses demanda bastante tempo —, enormes dificuldades de convivência.  

No último minuto do dia 30 de setembro, após uma reunião de quatro horas na Assembléia, o Governador telefonou ao Presidente daquela Casa Legislativa para que ele interviesse — o que foi feito. Na segunda-feira, comunicou-se com o Presidente da Ford, foi a São Paulo e pediu que ele voltasse a negociar. Mas o Presidente da Ford declarou-lhe que, infelizmente, mesmo que o contrato fosse cumprido, não poderia enfrentar anos sucessivos de dificuldades políticas para realizar os programas de interface com o Governo do Estado, já que muitos obstáculos ele vislumbrava no futuro.  

A Ford, portanto, desistiu do seu projeto de investimento em nosso Estado, o Rio Grande do Sul. E faço esse registro com profunda tristeza, sabendo que esse será um fato negativamente lembrado por gerações e gerações nas próximas décadas, Sr. Presidente.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/05/1999 - Página 10088