Discurso no Senado Federal

SAUDAÇÃO AOS 50 ANOS DE RADIO DO JORNALISTA HAROLDO DE ANDRADE.

Autor
Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • SAUDAÇÃO AOS 50 ANOS DE RADIO DO JORNALISTA HAROLDO DE ANDRADE.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/1999 - Página 14721
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, HAROLDO DE ANDRADE, JORNALISTA, RADIALISTA, ESTADO DO PARANA (PR), COMEMORAÇÃO, CINQUENTENARIO, TRABALHO, RADIO.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Concedo a palavra ao Senador Artur da Távola, para uma breve comunicação. V. Exª dispõe de 5 minutos.  

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB-RJ. Para uma breve comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o rádio é um veículo de grande importância, embora de relativamente baixo status cultural no Brasil, não em função do trabalho de grande parte dos radialistas, mas pelo fato de que ele não recebe e não merece a atenção na medida da sua importância, da sua penetração.  

O rádio é um grande formador de padrões. O rádio forma padrões estéticos. O rádio forma padrões no tocante ao conhecimento da informação. O rádio tem um caráter de lazer, tem um caráter de informação desportiva e vive uma permanente tensão entre um gênero populista de transmissões radiofônicas e ao mesmo tempo uma tendência popular – não populista efetivamente – de levar as grandes teses, as grandes idéias para o conhecimento da população. Aliás, a meu juízo, nenhum veículo de comunicação tem a importância do rádio nesse particular, quando existem mediadores, ou seja, comunicadores, capazes de efetuar essa transição, buscar a informação, mas buscar a inteligência da notícia, ter simplicidade suficiente para falar à população, levar os padrões musicais, culturais brasileiros ao nível das grandes periferias. O rádio é, portanto, a meu juízo, um instrumento indispensável de comunicação, muito pouco considerado como tal.  

Por essa razão, desejo fazer aqui uma saudação, aproveitando este tempo, a um radialista que está a fazer 50 anos de rádio. Trata-se do radialista Haroldo de Andrade, um paranaense que começou no rádio do Paraná, e há mais de 30 anos está no rádio do Rio de Janeiro, sendo líder de audiência no seu horário habitual de nove horas ao meio-dia, todos os dias.  

Haroldo de Andrade é a representação de um padrão que reúne um sentido ético cultural, no que faz, associado a uma capacidade de ser popular sem populismo, de ser simples sem ser banal, de levar distração, humor, conhecimento, cultura, informação e debate com pessoas qualificadas, a fim de que os assuntos que estejam na ordem do dia do País tenham uma forma de ventilação, tenham uma forma de contradita. E o faz de maneira magnífica, sem baixar o nível, de adotar a postura do sensacionalismo ou do oportunismo sensacionalista, que é quase a mesma coisa, ou, ainda, do populismo desenfreado.  

Haroldo de Andrade é, portanto, um marco e um símbolo na radiofonia brasileira. Alguém que permanece 50 anos à frente de um microfone e ao final desse tempo - começou muito jovem - continua com talento, com vigor, com disposição diária, presta um incomensurável e quase indefinível serviço à comunidade, atendendo ao que é, na essência, a razão pela qual o rádio é uma concessão para o uso de um serviço público. É serviço público levar a informação traduzida de modo simples, acessível e popular, levar o debate, levar padrões de cultura brasileira, sobretudo da riquíssima cultura popular, e fazê-lo com elevado teor de qualidade no uso do idioma, de qualidade na escolha dos temas. Curiosamente, um espectro radiofônico, graças à libertação da censura que conseguimos na Constituição de 88, determinou um aviltamento da fala radiofônica, um aviltamento dos temas, a entrada no escabroso, no grotesco, no escatológico, no duplo sentido. No momento em que inúmeras emissoras de rádio buscam este caminho para a popularidade – é necessária a audiência –, Haroldo de Andrade segue sendo, como sempre foi, sério, ao mesmo tempo bem-humorado, ao mesmo tempo capaz de comandar um programa de três horas, que atinge no Rio de Janeiro – apenas no Rio de Janeiro – cerca de 800 a um milhão de pessoas a cada dia. Essa é uma responsabilidade social. Essa é uma responsabilidade que não pode ser largada de mão. Ele, ao ser assim, como sempre foi, equilibrado, sério, competente, consegue a liderança de audiência exatamente para desmentir as teses de que é a baixa qualidade normalmente aquilo que o povo deseja.  

Saúdo, portanto, os 50 anos de rádio de Haroldo de Andrade como quem saúda um homem de cultura, um literato, um homem de jornal. Parece que nos meios de comunicação estranhamente estabeleceu-se uma hierarquia: revista é mais importante, depois vem jornal, depois vem televisão, depois vem rádio, o que é uma evidente deformação. O rádio capilariza informação, leva-a às periferias e, portanto, tem um papel relevante, tão relevante quanto qualquer outro, e possivelmente mais, porque fala para uma população que quase nunca tem acesso a esses meios que são considerados os meios nobres da imprensa.  

É, portanto, um labor de alta qualidade e eu não poderia deixar de trazer à tribuna do Senado o respeito por esse profissional no momento em que completa 50 anos de atividades ininterruptas no rádio brasileiro.  

Era o que eu tinha a dizer e agradeço a atenção de V. Exª.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/1999 - Página 14721