Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FRANCO MONTORO, OCORRIDO NO DIA 16 DE JULHO ULTIMO EM SÃO PAULO.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FRANCO MONTORO, OCORRIDO NO DIA 16 DE JULHO ULTIMO EM SÃO PAULO.
Aparteantes
Gerson Camata, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/1999 - Página 18994
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANDRE FRANCO MONTORO, EX GOVERNADOR, EX-DEPUTADO, EX SENADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, ATUAÇÃO, POLITICA, DEFESA, DEMOCRACIA, COMBATE, EXCLUSÃO.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - É significativo que, na primeira sessão do Senado Federal, na retomada dos nossos trabalhos para o segundo período desta sessão legislativa, haja um requerimento sobre a mesa de homenagem à memória do Governador, Senador, Deputado Federal e ilustre homem público do Brasil, André Franco Montoro.

V. Exªs hão de recordar-se da sessão que o Senado Federal realizou, há cerca de dois anos, para assinalar as comemorações do 80º aniversário desse grande homem público. Grande número de Senadores foram à tribuna para manifestar o seu apreço, o seu respeito, a sua admiração por aquele ilustre homem público, que teve o privilégio de tombar praticamente na trincheira de luta. Estava, como todos sabem, no aeroporto, embarcando para uma reunião no México, em companhia de sua esposa, D. Lucy, para fazer uma pregação sobre a necessidade de taxar o fluxo de capitais entre os países, com vistas a constituir um fundo que permitisse combater a miséria e a pobreza no mundo. Trata-se de um tema atual, que domina as manchetes dos jornais e as notícias das televisões e dos rádios.

Cumpre-me, agora, como seu companheiro de Partido e admirador, vir a esta tribuna para apoiar este requerimento e solidarizar-me com a família de Franco Montoro, que se vê privada de sua liderança. No entanto, a perda transcende o universo familiar. Trata-se, para o Brasil, para a classe política, da perda de um paladino da ética e da moralidade, da defesa do pequeno e da descentralização administrativa.

S. Exª era um homem que lutava por suas idéias, sem deixar de ser extremamente cordato. Era católico, homem de fé, realmente praticante da religião católica, uma pessoa muito afinada com os ideais da democracia cristã, ajustados à socialdemocracia e ao momento em que estamos vivendo no Brasil.

Sr. Presidente, manifesto as minhas palavras desta tribuna -- falo também pelo PSDB -- para trazer o nosso pesar, a nossa tristeza pela perda de um grande companheiro. O Governador Franco Montoro trabalhou incansavelmente até o último minuto de vida e deixou uma lição que certamente não pode ser ignorada. S. Exª era um apóstolo da democracia, permanentemente preocupado com a formação da juventude, com o recrutamento de jovens talentos para ingressarem e participarem da vida pública. Muito já foi dito sobre a equipe que reuniu quando Governador de São Paulo, sobre quantos pôde revelar a São Paulo e ao Brasil como administradores experientes, sérios e vocacionados para a política. O Ministro José Serra, Andrea Calabi, Clóvis Carvalho e tantos outros foram fruto da equipe que constituiu no momento em que teve a ventura de governar São Paulo e de desfraldar a bandeira das eleições diretas. Foi justamente S. Exª quem primeiro estimulou a mobilização política e da população, a fim de aprovar a emenda constitucional que transformaria em diretas as eleições para Presidente da República. Momentos memoráveis foram aqueles dos grandes comícios realizados em todo o Brasil, principalmente no Vale do Anhangabaú.

O Sr. Gerson Camata (PMDB-ES) - V. Exª me permite um aparte, Senador Lúcio Alcântara?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Ouço V. Exª, Senador Gerson Camata.

O Sr. Gerson Camata (PMDB-ES) - Gostaria de associar-me a V. Exª em seu pronunciamento, que rememora a história e a vida desse grande homem público brasileiro que foi Franco Montoro. V. Exª chega, talvez, ao ponto fundamental da vida política de Franco Montoro: não apenas à sua luta como parlamentar, neste plenário, em favor do restabelecimento da democracia no País, mas como Governador do Estado de São Paulo. Quando eu era Governador do Estado do Espírito Santo, S. Exª saiu de São Paulo e foi a Minas Gerais para o primeiro encontro com Tancredo Neves, para o qual me convidou. S. Exª, então, armou o que seriam aqueles comícios das Diretas. Lembro-me dos editoriais de jornais, dos conselhos de homens mais idosos, que diziam: “Cuidado! Não ‘futuque a onça com vara curta’. Os Governadores de Oposição têm que agir com calma. Tudo pode voltar atrás”. E Montoro, com aquela prudência, ‘futucou a onça com vara curta, com vara comprida’, de toda maneira, sempre dentro daquela posição de tranqüilidade que o caracterizava, com a serenidade que marcou seu caráter. V. Exª rememora também os 80 anos, já homenageados em uma sessão, nesta Casa. Franco Montoro morreu trabalhando. S. Exª nunca pensou em parar, em aposentar-se, pelo contrário. Há um mês, no início do recesso, recordo-me de que S. Exª estava indo para o interior de Goiás, com Dona Lucy, para uma reunião em favor de crianças de rua; estava criando uma associação e ligou para casa, convidando a Rita para ir também. Quer dizer, estava sempre firme, correndo, participando, fazendo, lutando. Morreu na trincheira. Foi uma morte bonita para um homem que lutou pelos seus objetivos. De modo que o PMDB -- penso que falo em nome da Liderança do meu Partido, apesar de que a homenagem será prestada na quarta-feira, em uma sessão do Congresso --, ao qual Montoro pertenceu, com muita honra para todos nós, solidariza-se com V. Exª neste pronunciamento em que externa a sua dor diante dessa perda que o Brasil sofreu há tão poucos dias.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Gerson Camata. V. Exª traz subsídios que só confirmam o que estamos dizendo quanto à inclinação do Governador Franco Montoro pelo diálogo, pelo entendimento, pela pregação. Na verdade, S. Exª era um pregador da democracia. Um dos momentos culminantes da sua vida foi justamente, quando Governador de São Paulo, o fato de ter liderado o movimento em favor das eleições diretas. Outro aspecto que nos chama a atenção é que, depois de ter sido Senador, Governador, Ministro de Estado, Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, depois de passar pelos maiores cargos da vida pública do País, S. Exª voltou ao Congresso Nacional como Deputado e agia com tanta rapidez, com tanto entusiasmo, com tanta presença, que lembrava alguém no início da vida pública e não, como de fato estava, nos momentos -- vamos dizer assim -- finais da sua carreira.

           Esta é uma lição que não podemos esquecer: esses compromissos assumidos na vida pública são definitivos, permanentes. Temos muito que retirar da experiência, do desempenho do Governador Montoro como homem público.

Sei que a aprovação desse requerimento será certa. Até dispensaria meu encaminhamento, afinal, fui o orador naquela sessão comemorativa dos seus 80 anos. E tudo o que disse na ocasião reafirmo, acrescido do seu trabalho, da sua determinação, da sua persistência no que pôde realizar desde aquela data até o momento em que foi colhido pela morte, quando se deslocava para cumprir mais um compromisso internacional em sua permanente luta em favor dos humildes, dos pobres, dos miseráveis, dos que precisam de uma atenção maior do Poder Público.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB-RJ) - V. Exª me permite um aparte antes de encerrar?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Ouço V. Exª, Senador Roberto Saturnino.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB-RJ) - Senador Lúcio Alcântara, acabo de chegar ao plenário, depois do recesso. Ouvia, com muita atenção, as palavras de V. Exª, que rememoram a figura extraordinária de Franco Montoro. S. Exª foi um homem público, um político exemplar em nosso País, um homem de ação, no Legislativo e no Executivo. Foi Ministro do Trabalho, Governador e, em todas as funções que exerceu, foi inatacável sob o ponto de vista moral e ético. Foi fiel a seus compromissos com a democracia, com o parlamentarismo, com a justiça social. Tive o privilégio de ser liderado por Franco Montoro em duas ocasiões bastante distintas. Uma ainda como Deputado Federal, no meu primeiro mandato, ao chegar ao Congresso representando o Partido Socialista Brasileiro. Fui liderado de Montoro num bloco de pequenos partidos, formado para que tivéssemos as prerrogativas que o Regimento conferia. Conheci Montoro naquela ocasião e desde então fixou-se no meu espírito uma admiração muito grande pela forma como ele se conduzia. Depois, mais tarde, a partir da eleição de 1974, quando assumi a cadeira no Senado, em 1975, Montoro, Líder do MDB, era o Líder da Oposição - e que liderança exerceu Montoro! Ele era admirado por todos. Essa etapa marcou o início propriamente dito do processo de abertura democrática, depois do regime militar. O Presidência ainda militar, era o Presidente Geisel, porém já se fazia sentir a abertura na vida política brasileira e especialmente nas Casas do Congresso, onde Montoro era a grande figura da Oposição neste Senado, o Líder da Bancada do MDB. De forma que as lembranças que trago dele, o respeito e a admiração que sempre dediquei a sua figura me levam a fazer este pronunciamento, enfim, obrigam-me a este testemunho no momento em que V. Exª profere estas palavras tão oportunas e tão candentes a respeito de Franco Montoro. Quero estar aqui também para a sessão que o Senado, aprovando o requerimento de V. Exª, como certamente aprovará, dedicará à memória do grande brasileiro, grande parlamentar, grande político André Franco Montoro.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE) - Muito obrigado, Senador Saturnino Braga.

Ao rememorar rapidamente a vida parlamentar do Governador Franco Montoro, lembrei-me o fato de que quando ele deixou o Senado para se candidatar ao Governo do Estado de São Paulo, assumiu o seu suplente, o hoje Presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, na eleição, os candidatos disputavam o cargo majoritário de Senador em sublegendas: o mais votado era o Senador; o segundo, era o primeiro suplente. Foi esse o caso do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Entre os nomes de administradores públicos e políticos que nasceram sob o estímulo, sob o apoio do Governador Franco Montoro está o Presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos que cresceu nas experiências administrativas e políticas conduzidas por ele, inclusive no Governo de São Paulo.

Sr. Presidente, esse encaminhamento é para refletir uma opinião que, creio, é quase unânime. Se eu tivesse de definir em uma palavra o Governador Franco Montoro, diria que ele era um humanista, um homem profundamente vinculado aos anseios da sociedade, às preocupações com a vida, com o bem-estar das pessoas e que fez realmente da política um instrumento de luta para promover essa melhoria das condições de vida da população.

Os jovens sempre mantiveram com ele uma grande afinidade. A chamada “Juventude do PSDB” via nele o seu guru, um homem que estimulava, orientava, que lutava por eles nas disputas que muitas vezes ocorriam dentro ou fora do Partido.

Por tudo isso, temos de dar esse crédito, pois no momento em que os políticos são tão criticados e que a atividade política é tão incompreendida e, muitas vezes, aviltada pela mídia, temos de ter este como um exemplo a ser promovido, reconhecido e divulgado, independentemente dos partidos.

Claro está que quem milita na vida pública tem diferenças, visões que não coincidem sobre os problemas e suas soluções, tem obrigações que, muitas vezes, estão acima da nossa forma de encarar os problemas, obrigações que derivam da sua filiação partidária, do fato de o seu partido ter alguém exercendo função executiva. Mas ninguém negará ao Governador Franco Montoro esses tributos aqui alinhavados, com a ajuda dos Senadores Gerson Camata e Roberto Saturnino, para que sirvam como um encaminhamento favorável ao requerimento que aqui está sendo discutido

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/1999 - Página 18994