Discurso no Senado Federal

RESPOSTAS AS DECLARAÇÕES DO EX-GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, CRISTOVAM BUARQUE, EM ENTREVISTA A REVISTA VEJA, DESTA SEMANA.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). POLITICA PARTIDARIA.:
  • RESPOSTAS AS DECLARAÇÕES DO EX-GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, CRISTOVAM BUARQUE, EM ENTREVISTA A REVISTA VEJA, DESTA SEMANA.
Publicação
Publicação no DSF de 26/10/1999 - Página 28445
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, INJUSTIÇA, INCOERENCIA, DECLARAÇÃO, EX GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ACUSAÇÃO, ORADOR, OBSTACULO, VERBA, FINANCIAMENTO, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), OBJETIVO, ASFALTAMENTO, CIDADE SATELITE, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, ESPECIFICAÇÃO, COORDENAÇÃO, BANCADA, DISTRITO FEDERAL (DF), APRESENTAÇÃO, EMENDA, ORÇAMENTO, DESTINAÇÃO, RECURSOS, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), APOIO, EX GOVERNADOR, LIBERAÇÃO, VERBA, METRO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, EX GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), INCOMPETENCIA, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA PUBLICA, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, INEFICACIA, ADMINISTRAÇÃO.
  • COMENTARIO, POLITICA PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fiz questão de vir à tribuna - agradeço a gentileza do Senador Romero Jucá, que permutou comigo - e não me utilizar do tempo que teria para uma comunicação como Líder - faço questão de fazer este registro -, porque hoje estou aqui como Senador eleito pelo Distrito Federal, para responder, da tribuna, as declarações feitas pelo ex-governador Cristovam Buarque na entrevista que deu à revista Veja desta semana.

Num dos trechos dessa entrevista diz o ex-governador:

“Nunca sofri perseguições de Fernando Henrique no que se refere a verba (...). Sofri a influência de um senador e de um secretário que inviabilizaram um financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID. O senador, diz ele, “é José Roberto Arruda, e esse financiamento seria usado para asfaltar as cidades pobres do Distrito Federal.”

Ora, Sr. Presidente, o ex-Governador, além de injusto, foi incoerente nas suas declarações. Trago aqui uma cópia do Correio Braziliense de 28 de outubro, do que ele dizia à imprensa e ao público que o ouvia naquele dia. Segundo o jornal, “o próprio Cristovam, no seu discurso, não esqueceu dos elogios a Arruda para a platéia atenta.” “O Senador Arruda se mostrou um homem preocupado com os problemas do Distrito Federal. Ele conseguiu trazer recursos, e eu sei que vocês podem contar com ele”, disse Cristóvam ao se referir a uma reivindicação dos moradores”.

Não é só por isso que o ex-Governador foi injusto e incoerente. No início do seu governo em Brasília, no ano de 1994 mais precisamente, todos os recursos que o Governo Federal passou para Brasília somaram R$1,070 bilhão. No último ano do seu governo - e nos 4 anos, tivemos uma inflação acumulada de menos de 10% - ele recebeu do Governo Federal R$2 bilhões, um aumento de 100% para uma inflação de 10%.

Esqueceu-se o ex-Governador de que, coordenando a Bancada de Brasília nos quatro anos em que governava a cidade e mesmo sendo seu adversário político, fizemos emendas coletivas. A Bancada de Brasília abriu mão das emendas individuais e todo o dinheiro das emendas coletivas foi para o Governo do Distrito Federal.

Mais do que isso, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, fui com o Governador Cristovam Buarque ao Presidente da República e ao Ministro da Fazenda várias vezes. E conseguimos liberar mais de R$300 milhões para a obra do metrô. Como Líder do Governo no Congresso Nacional, atendi a todas as solicitações do então Governador Cristovam Buarque. Não sou eu que estou dizendo, ele próprio foi à televisão, no segundo turno das eleições, e publicamente - guardo com apreço as fitas - agradece meu empenho em trazer dinheiro para o seu governo. Seria o caso de eu imaginar que o ex-Governador Cristovam Buarque mentia àquela época com o objetivo de conquistar os votos daqueles que, no primeiro turno, tinham votado em mim. Ou, então, é o caso de pensar que ele mente agora, quando diz que fui eu um dos que não deixou o dinheiro do BID chegar ao seu Governo. Ou mentiu antes ou mente agora. Em qualquer das hipóteses, está sendo injusto e incoerente. Injusto porque, mesmo não sendo do seu Partido, mesmo não sendo da sua base de sustentação, nunca coloquei diferenças político-partidárias como obstáculo ao meu trabalho por Brasília. A cidade toda é testemunha de que tudo que pude fazer para trazer recursos para o Distrito Federal eu fiz.

Mais do que isso, estão aqui os recortes de jornais sobre o assunto. Guardo todas as fitas de vídeo com os elogios públicos do próprio Governador e fico extremamente incomodado de ter de dizer da tribuna - repito - que, se o dinheiro do BID não saiu, foi - vamos deixar claro - por incompetência, por inépcia administrativa de quem não renegociou a dívida do Estado, como era do seu dever, não inseriu no orçamento recursos de contrapartida, não obedecendo, portanto, às regras básicas da Resolução nº 78 do Senado Federal.

Admitamos que esse empréstimo tivesse vindo para o Senado, que eu não o tivesse defendido com empenho ou tivesse sido contra ele. Isso, porém, não ocorreu. Essa matéria sequer foi encaminhada ao exame do Senado Federal.

O ex-Governador Cristovam Buarque, na sua entrevista à revista Veja, faz uma crítica às privatizações, mas, ao mesmo tempo, diz: ”Eu não reveria o processo de privatização. O custo de reestatizar tudo de volta seria muito alto”.

Ora, Sr. Presidente, em primeiro lugar, digo que, de fato, eu não teria a competência que ele teve em criticar o PT, nem seria tão duro. Penso que esta é a maior crítica que o citado partido recebe em toda a sua história.

Contudo, esqueceu-se do seu próprio governo, quando, em vez de privatizar a SAB - o Governo de Brasília era dono de uma rede de supermercados -, preferiu fechá-la. Demitiu ou transferiu os funcionários, fechou a empresa e alugou os antigos supermercados para uma rede privada de supermercados. Pergunto: o interesse público não teria sido melhor atendido se o tivesse vendido, já que iria fechá-lo? Quanto é que o povo e o Governo ganharam com isso? Pior ainda foi a privatização da CEB. Ele simplesmente vendeu ações da empresa, sem que houvesse, antes, uma avaliação devida - como, aliás, fez o Governo Federal em seus casos. E depois de ter feito, pelo menos, dois movimentos danosos ao interesse público para fugir da palavra “privatização”, no caso da SAB e da CEB, vem dizer que não reveria o processo de privatização do Governo Federal? Ele não tinha outro caminho, pois esse era o único.

Em outro trecho da entrevista, afirma: “Não podemos deixar de conversar com nenhum dos representantes de qualquer setor da sociedade.” Referia-se ao encontro do Presidente de Honra do PT, Lula, com o Presidente desta Casa, Antonio Carlos Magalhães. Nesse trecho da entrevista, tenho que concordar com o ex-Governador Cristovam Buarque. O que me parece é que aqui ele produziu a crítica mais contundente ao Partido dos Trabalhadores pela punição que impôs ao Deputado Eduardo Jorge, porque este resolveu conversar com o Ministro Aloysio Nunes. Ou então ele, que já foi Governador, pensava alto. Caso fosse Governador, teria descumprido as determinações do seu Partido e teria comparecido à reunião com o Presidente da República na última sexta-feira, até porque, quando Governador do Distrito Federal, adotou, no exercício do governo, a limitação de teto de salário proposta agora pelo Governador Garotinho e aprovada pelo Fórum de Governadores.

Mais na frente, na entrevista à revista Veja, Sr. Presidente, comentando uma suspensão que lhe foi imposta pelo Tribunal Regional Eleitoral, ele faz a seguinte alusão: “Fiquei surpreso com essa decisão. Ela vem justamente no momento em que meu nome está ganhando dimensão nacional, e o atual Governador do Distrito Federal sofre acusações de receber dinheiro de bicheiros”.

Aí, Sr. Presidente, o ex-Governador não está sendo incoerente, ele está sofrendo um processo de amnésia. Pergunto: qual a diferença em ser financiado por bicheiros - e eu não estou dizendo que foi ou que não foi, deixe que a Justiça comprove - e ser financiado por empreiteiros? Porque ele, ex-Governador Cristovam, recebeu US$200 mil da Andrade Gutierrez e US$200 mil da Via Engenharia, ficou quatro anos fazendo lista de doações para pagar as empreiteiras, não pagou até hoje, esqueceu e já é candidato a Presidente. Ora, então, aqui já não se trata de incoerência, mas de amnésia.

Mas não pára por aí, Sr. Presidente. Num trecho seguinte, ele diz: “A primeira coisa a fazer é dizer ao povo brasileiro que não somos capitalistas, mas que a gente vai governar dentro das instituições que aí estão. Eu ainda acredito que vamos encontrar uma fórmula melhor, mas devemos ter a humildade de dizer que não sabemos que fórmula é essa”.

Será que ele pensa em ser candidato a Presidente da República para fazer do Brasil um laboratório? Para fazer da administração pública um laboratório das suas experiências - criativas, é verdade, mas administrativamente reprováveis?

Mais na frente, fala o ex-Governador Cristovam: “Hoje, esses dirigentes (do PT) não conseguem representar de maneira correta o que pensa a maioria dos petistas. Muitos deixam até de militar no Partido porque simplesmente estão desiludidos com as últimas posições que temos tomado. São eleitores que estão envergonhados de certas idéias que adotamos, como a de tirar o Presidente da República do cargo.”

Aqui, Sr. Presidente, ele foi duro. Talvez essa seja a crítica mais dura que o PT já recebeu. Eu, como Líder do Governo e tendo o PT como Oposição, não iria tão longe.

Depois, ele diz: “Eu gostaria muito que meu nome fosse apreciado como uma opção real do PT para a candidatura a presidente.”

Sr. Presidente, aqui, fiz uma reflexão. Será que, em nome desta ambição, vale qualquer coisa? Inclusive mentir, como fez, ou nessa entrevista, ou quando era Governador e declarou publicamente o contrário?

Realmente, numa entrevista nacional, nas dimensões que têm as páginas amarelas da revista Veja, ele arrumar espaço para fazer uma referência a este pobre mortal me faz pensar que, de um lado, ele olha a possibilidade de dar uma rasteira no Lula para ser candidato a Presidente; de outro, está de olho mesmo em disputar uma vaga de Senador. É a única explicação que encontro para ele se desdizer e atacar-me, gratuitamente, deselegantemente, em uma entrevista como essa.

Nesse caso, é legítima a ambição do ex-Governador de ser candidato ao Senado - já poderia ter sido na última eleição. Se o for e se a circunstância política fizer com que eu também concorra a uma reeleição no Senado, iremos disputar com a elegância que sempre presidiu o nosso convívio pessoal ou político. Acredito ser antecipado e ambicioso demais, fugindo aos padrões de comportamento de pessoas politicamente civilizadas, esse tipo de agressão.

Por último, Sr. Presidente, o ex-Governador faz uma declaração que merece a nossa reflexão. Ele diz: “Em qualquer lugar há golpistas. No Palácio do Planalto, no Exército, na Direita e na Esquerda. No PT, algumas pessoas pensam e explicitam seu pensamento nas reuniões, mas esse não é o discurso oficial”.

Nesse ponto, mesmo estando pessoalmente magoado e chateado por uma agressão que me pareceu extremamente injusta, tenho que cumprimentar publicamente o ex-Governador por ter sido o primeiro militante do Partido dos Trabalhadores a reconhecer textualmente que a bandeira “Fora FHC” é golpista e antidemocrática. As palavras são dele.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, confesso o meu desconforto pessoal e político de vir a esta tribuna tratar de um tema regional. Esse desconforto, provavelmente, só é menor do que o dele por ter usado uma entrevista nacional para abordar questiúnculas locais.

Estou convencido, Sr. Presidente, de que o ex-Governador, neste momento, deve estar lembrando-se das visitas que fizemos juntos ao Ministro Pedro Malan, de quando telefonou-me quando estava de férias em Minas Gerais, na casa de minha família, e de que tive de vir a Brasília promover, a seu pedido, um encontro com o Presidente da República. Ele deve estar lembrando-se de que, no seu Governo, o Governo Federal aumentou de R$1,07 bilhões para R$2 bilhões os repasses da União para Brasília. Ele deve estar-se recordando das inúmeras vezes que acompanhei seus Secretários de Estado - aliás, sempre muito corretos em reconhecer publicamente o meu esforço - a fim de trazer dinheiro para o metrô e recursos da Caixa Econômica Federal para saneamento básico nas cidades satélites de Brasília. Muito provavelmente, ele já deve lembrar-se, Sr. Presidente, de que, mesmo no caso do BID, em que não conseguiu sucesso, enviei correspondência oficial ao Ministro da Fazenda pedindo liberação do dinheiro - acompanhei o próprio Governador numa audiência para fazer a solicitação.

Sr. Presidente, sempre tive pelo ex-Governador apreço pessoal e sempre o respeitei como cidadão e homem público. Parece claro que, embora criativo, algumas vezes até alucinadamente criativo, está-se revelando, de fato, um mau administrador. Essa é a história da sua passagem pela Reitoria da UnB que se desorganizou àquela época e é a sua história da passagem pelo Governo de Brasília. E está-se revelando mais: um mau fazedor de projetos. Confesso que considero o projeto do BID extremamente importante para Brasília e que, da mesma forma que defendi a sua liberação no Governo Cristovam, vou continuar defendendo-a e somente vou descansar no momento em que o dinheiro tiver sido aplicado em Brasília para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

E está-se revelando um mau perdedor. O mesmo candidato que me elogiava publicamente no Correio Brazilense e no programa eleitoral gratuito vem me fazer uma crítica tão contundente um ano depois do pleito eleitoral. Além de mau administrador, mau fazedor de projetos e de mau perdedor, sinto que o ex-Governador é mal-agradecido. Não me arrependo, Sr. Presidente, de tudo o que fiz por Brasília no Governo dele; de tê-lo ajudado a conseguir os recursos que eram fundamentais para a nossa cidade. Mas confesso a minha tristeza de ter que fazer esse registro de que, efetivamente, lamentavelmente, Sr. Presidente, essa injustiça e essa incoerência do Governador Cristovam são maiores do que eu poderia imaginar. Na verdade, fico com uma dúvida, Sr. Presidente e Srs. Senadores: se o ex-Governador está sendo mais injusto com o PT, que o acolheu depois de sua trajetória no PMDB e no PDT, ou comigo, que sempre o ajudei e sempre o tratei com muito respeito, pública e particularmente.

Confesso, Sr. Presidente, minha tristeza extremamente negativa com a infeliz e injusta situação do ex-Governador Cristovam Buarque, que mostra, sobretudo, como a ambição pode desvirtuar a inteligência, a memória e a coerência de pessoas que antes pelo menos conseguiam passar uma imagem de equilíbrio e de ponderação.

Sr. Presidente, antes de vir a esta tribuna, comuniquei, oficialmente, à Liderança do Partido dos Trabalhadores que faria este pronunciamento, como é de bom tom.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/10/1999 - Página 28445