Discurso no Senado Federal

DIFICULDADES DOS SETORES DE SAUDE NO ESTADO DE SERGIPE PARA COMPRA DE EQUIPAMENTOS DE ALTA TECNOLOGIA EM VIRTUDE DA MAXIVALORIZAÇÃO DO DOLAR.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • DIFICULDADES DOS SETORES DE SAUDE NO ESTADO DE SERGIPE PARA COMPRA DE EQUIPAMENTOS DE ALTA TECNOLOGIA EM VIRTUDE DA MAXIVALORIZAÇÃO DO DOLAR.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/1999 - Página 29736
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, SITUAÇÃO, EMPRESA, AREA, SAUDE, ESTADO DE SERGIPE (SE), AUMENTO, DIVIDA, DOLAR, IMPORTAÇÃO, EQUIPAMENTOS, TECNOLOGIA, EXAME MEDICO, REDUÇÃO, NUMERO, CONSULTA, MOTIVO, CRISE, PAIS.
  • DEFESA, NEGOCIAÇÃO, DEVEDOR, FORNECEDOR, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, DIVIDA, SUPERIORIDADE, AUMENTO, MOTIVO, DESVALORIZAÇÃO, REAL, CAMBIO, DOLAR.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, como parlamentar não poderíamos deixar de citar um fato que, de forma preocupante, vem atingindo em Sergipe as empresas da área médica que utilizam alta tecnologia, com possibilidade inclusive de gerar desemprego para muitos e dificuldades no tratamento dos doentes pobres atendidos pelo SUS em nosso Estado.  

Em março deste ano, o Governo provocou uma maxidesvalorização do real, cujos efeitos, de caráter gradativo, vêm aos poucos minando a saúde de várias empresas sergipanas, assim como do resto do país, de forma especial àquelas empresas da área médica que utilizam alta tecnologia, geralmente importada dos Estados Unidos, Japão e alguns países europeus, desde que o nosso país não dispõe de avanços científicos que permitam a fabricação de equipamentos para ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultra-sonografia, medicina nuclear, cineangiocoronariografia e outros. Por outro lado, se médicos ou hospitais não os importassem, certamente estariam os nossos profissionais ainda exercendo a medicina dos nossos avós, baseados em simples estetoscópios, tensiômetros e aparelhos antiquados ou em sintomas que, muitas vezes, só aparecem quando a doença encontra-se em estado avançado.  

Recentemente, baseada em notícias veiculadas nos jornais de nossa terra, procurei inteirar-me dos fatos, não só junto à imprensa, assim como também procurei escutar profissionais da área de saúde, cujas dívidas em dólar iniciaram-se antes da desavisada desvalorização do real; o que ouvi era o prenúncio das trevas em clima de calmaria.  

Digo calmaria porque desde a maxivalorização do dólar frente ao real, hoje em 64%, ocorreu uma aguda retração de um mercado tão necessário na área de saúde e tornou-se impossível a aquisição de equipamentos médicos e insumos importados, a exemplo de filmes radiológicos, contrastes, reagentes, peças de reposição, etc. E para piorar a situação, em função da crise por que passam as famílias brasileiras, o comparecimento dos pacientes nos consultórios médicos para consultas ou realizar exames caiu em tomo de 40%. Neste ritmo, logo em breve estaremos sendo tratados dentro de critérios médicos baseados na medicina hoje praticada em Bangladesh, Somália ou em outros países com extremo subdesenvolvimento. Disse também caos porque não encontrei uma palavra mais amena para descrever a preocupação, desânimo ou desespero daqueles que contraíram dívidas, numa época em que a relação do dólar para o real era de 1 para 1,22 e, hoje, encontra-se no patamar de 1 para 2, com tendência ainda de novas altas, conforme especulam alguns economistas e a imprensa especializada. Portanto, como falei anteriormente, em função da crise houve uma queda, em média, de 40% do comparecimento de pacientes aos serviços médicos, além disto, o que é um fato grave, a maioria dos planos de saúde vem renegociando e reduzindo os valores de suas tabelas para pagamento dos serviços médicos em torno de 20% a 30%.  

Em resumo: aquele profissional em cujo equipamento ele realizava exames em 10 pacientes por dia e recebia R$ 10,00 por paciente, hoje atende de 6 a 7 pacientes por dia e recebe no máximo R$ 8,00 por paciente e, enquanto isto, o dólar indexado aos equipamentos que ele adquiriu e insumos indispensáveis para a realização de seus exames subiu 64%.  

Portanto, é esta a equação perversa que vem atingindo a grande maioria dos devedores que adquiriram equipamentos médicos importados antes da maxidesvalorização.  

E o que deve dizer estes devedores para as empresas que lhes venderam equipamentos, desde quando a grande maioria deles encontra-se inadimplente, impossibilitados de pagar com seus rendimentos que foram encurtados e a dívida aumentada em 64% ?  

Está aí desenhado um problema no qual devem unir-se, por um lado, o inocente inadimplente e, por outro lado, quem tem a receber. Deve o cobrador utilizar-se de toda a compreensão, desarmar-se do clássico espírito de cobrador inabalável e imovível, especialmente por tratar-se de viabilizar o pagamento de um artificialmente inchado volume de reais que tem a receber, fruto da maxidesvalorização. Não vale aqui a posição de analisar os devedores como um bando de raposas velhacas e desnutridas por uma desavisada posição da área financeira do governo nem, tampouco, travestir os cobradores de figuras vampiriformes insaciáveis tentando sugar a última gota de sangue de suas vítimas. Vale, sim, a compreensão e o sentimento de que todos perderam com esta impensável situação. Afinal o mundo de quem adquire estes equipamentos é simbiótico e habitado por poucos, ou seja, por um lado compradores honestos, talvez dois a três mil entre médicos (pessoas físicas) ou empresas de médicos e, por outro lado, fornecedores, em número muito menor, talvez no máximo umas vinte empresas. Portanto, não vale a pena inimizades ou ranços e, sim, entendimentos. Aqui também não vale a máxima "do boi morto o couro" e sim, de forma absoluta, um regime de parceria com redução nos preços acordados, que hoje cresceram 64%. Quem comprou projetou sua capacidade de pagamento em um orçamento com moeda anunciadamente estável e não imaginava que o dólar se maxidesvalorizasse ou que os pacientes que freqüentam seus serviços diminuíssem tanto.  

O importante é encontrar soluções para este Armagedon que se prenuncia, pois do contrário, em breve, para realizarmos com tranqüilidade e segurança nossos exames ou qualquer cirurgia de médio ou grande porte teremos que ir para o exterior, pois certamente encontraremos na porta do "Consultório Brasil" uma placa com a frase: "atendimentos de exames suspensos temporariamente para balanço".  

Afinal não se deve esquecer que a vez do Dr. Golias de hoje pode ser a do Dr. Davi de amanhã.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/1999 - Página 29736