Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM AUMENTO NOS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS E SUAS CONSEQUENCIAS SOBRE O PROCESSO INFLACIONARIO.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • PREOCUPAÇÃO COM AUMENTO NOS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS E SUAS CONSEQUENCIAS SOBRE O PROCESSO INFLACIONARIO.
Aparteantes
Geraldo Melo, José Alencar, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 11/01/2000 - Página 29
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, AUMENTO, INFLAÇÃO, CORRELAÇÃO, PREÇO, DERIVADOS, PETROLEO, ALCOOL, PAIS.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, AUMENTO, PREÇO, COMBUSTIVEL, CRESCIMENTO, CUSTO, IMPORTAÇÃO, PETROLEO, DESVALORIZAÇÃO, REAL, EFEITO, INFLAÇÃO.
  • DEFESA, REDUÇÃO, TRIBUTAÇÃO, COMBUSTIVEL, AUMENTO, RESPONSABILIDADE, INICIATIVA PRIVADA, COMPANHIA DISTRIBUIDORA, PREÇO, AMPLIAÇÃO, SETOR PUBLICO, CONTROLE, FISCALIZAÇÃO, POLITICA ENERGETICA.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sr as e Sr s. Senadores, acompanhamos ao longo de todo o ano findo a estreita relação entre a ameaça do recrudescimento dos índices inflacionários e os constantes aumentos dos preços impostos aos derivados de petróleo e ao álcool em todo o País.  

A questão é muito grave e exige atenção não apenas do Governo mas também dos representantes da sociedade reunidos neste Plenário. Afinal estamos chegando velozmente a uma situação de impasse, que vai contrapor as necessidades financeira da PETROBRÁS e o perigo de vermos realimentada a inflação que, como sabemos, é extremamente sensível às oscilações dos preços dos combustíveis.  

O assunto está voltando à ordem do dia na forma habitual. São notícias esparsas, divulgadas por diferentes órgãos de imprensa, originárias de vários setores da administração pública.  

O primeiro aviso concreto de que algo virá neste sentido foi estampado sexta-feira, na página 10, do caderno de economia da Folha S.Paulo, que avisava: "Combustível deve subir até março". Alertava ainda para as variáveis que serão consideradas para a fixação dos novos níveis: "Reajuste não passará de 10% se o petróleo cair e o dólar ficar em R$1,85".  

Em tempos passados, os aumentos impostos aos derivados de petróleo faziam parte da política de restrição ao consumo, ou seja, ao invés de se fazer o rodízio generalizado entre todos os automobilistas, provocava-se a seleção financeira dos consumidores. Só comprava quem podia pagar muito caro. Os outros simplesmente eram condenados a deixar os carros nas garagens, por absoluta impossibilidade pecuniária de abastecê-los. Hoje, não; hoje, se o aumento vier, será por causa da brutal elevação dos custos de aquisição do petróleo no mercado internacional, decorrente da desvalorização sofrida pelo Real em 1999 e pela alta de preços imposta pelos países produtores. O fato é que, no passado, na moeda nacional, o custo de importação do petróleo subiu mais de 100%.  

Sábado, o Jornal do Brasil também se dedicou ao tema, quando analisou os números da inflação do exercício anterior. Com base em estatísticas oficiais, informou que o aumento dos preços dos combustíveis, que somaram 46,6% em 12 meses, foi o fator decisivo para a preocupante inflação anual de 10,21%. No mesmo dia, outro grande jornal carioca, O Globo , trouxe um sopro de esperança aos consumidores, anunciando que o preço da gasolina vai cair até 4%, devido a uma redução na carga tributária específica do Rio de Janeiro. Segundo o tradicional matutino, as refinarias estaduais estavam trabalhando, desde o último dia 1º, com preço-base de R$1,30 ao invés de R$1,44, para efeito de cálculos de impostos. Isto, se efetivamente repassado ao consumidor, representaria uma redução de até R$0,05 por litro na hora de encher o tanque do automóvel. A mesma nota, entretanto, já advertia que "nem todas as distribuidoras estão repassando a redução dos preços aos postos – algumas reduziram apenas R$0,03 por litro, ficando com os R$0,02 restantes".  

Ainda no sábado, entretanto, o jornal O Estado de São Paulo mostrava que aquela ínfima redução verificada no Rio era ilusória. Apontando como fonte o próprio Ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, o jornal reafirmava a informação veiculada na véspera pela Folha de São Paulo , já citada no início deste discurso, que o aumento viria mesmo e que não deveria passar de março. Os detalhes estão na coluna Direto da Fonte , assinada pela jornalista Sonia Racy. Diz ela:  

"A expectativa é de que o aumento ocorra antes que março termine, assim que o Governo consiga ter uma idéia de como está se comportando a arrecadação federal. O percentual ainda não foi adiantado, mas avalia-se pelos corredores do Ministério que pode ficar abaixo de 10% se o dólar permanecer onde está e os preços internacionais não voltarem a subir".  

A colunista dá detalhes ainda mais assustadores que seus concorrentes:  

"No início de janeiro de 1999, o barril de petróleo Brent valia U$10.48, e o dólar era cotado no Brasil a R$1,21, ou seja, um barril custava R$12,68. As coisas estavam diferentes no fim do ano: em dezembro, o barril do Brent estava valendo bem mais que o dobro de janeiro - mais precisamente U$25.24 - e o dólar valia R$1,83, ou seja, um barril estava custando R$46,19".  

A nota fecha as suas contas com uma constatação assustadora:  

"Moral da história: o preço do barril subiu 140,8% no mercado internacional e o dólar valorizou-se internamente em 51,24%. O impacto associado dos dois números resultaria em uma elevação, em reais, de 264,27% por barril; caso não houvesse a produção interna nem o represamento de preços, por conta da contenção da inflação no segundo semestre, a gasolina comum já estaria chegando ao consumidor em torno de R$2,27 por litro".  

Não se pode evitar um suspiro de alívio quando se lê, no final da matéria, que esse aumento, fixando o preço da gasolina em mais de R$2,00, é "um valor que, certamente, não está sendo cogitado pelo Governo".  

Sr. Presidente, Sr as e Sr s Senadores, as informações que acabo de trazer a este Plenário foram divulgadas, desde a última sexta-feira, pelos mais importantes e fidedignos órgãos da imprensa brasileira, assinadas por alguns dos melhores repórteres e colunistas. Todas se basearam em declarações de autoridades responsáveis ou em subsídios fornecidos por órgãos oficiais que atuam no setor de preços e no acompanhamento das oscilações dos produtos consumidos pela sociedade, inclusive os diversos combustíveis.  

O que se depreende de todas essas notícias é a seriedade da questão energética nacional, cujo agravamento se evidencia em números e projeções que não podemos ignorar. Seria ilusório afirmar que a solução estaria nesta ou naquela atitude; que bastaria fazer isso ou aquilo, e tudo estaria resolvido; que um simples decreto contemplaria tanto o equilíbrio da conta-petróleo como a economia do cidadão na hora de abastecer o seu automóvel.  

Isto não existe! O que se exige é uma ação conjunta de todos os responsáveis pela administração pública e das empresas que operam no setor energético, para evitarmos que os preços internos dos derivados de petróleo - que já estão entre os mais caros do mundo - sofram ainda novos e insuportáveis aumentos.  

O certo é que não podemos continuar na política de extrema liberalização de preços e esquemas, na produção, distribuição e venda no varejo dos combustíveis. Cabe ao Poder Público, sem dúvida, dar o primeiro passo, aliviando a excessiva carga tributária incidente sobre a gasolina, mas os setores privados que atuam nas diversas etapas do processo também devem ser chamados à responsabilidade, para que não se repitam abusos, como os que hoje ocorrem no Rio de Janeiro, onde as grandes distribuidoras se adornaram da maior parte da renúncia fiscal promovida pelo Governo do Estado.  

No final da tarde de sexta-feira fui colher, no Ministério da Fazenda, uma base referencial para análise da composição de preços dos derivados de petróleo consumidos pelos automobilistas das principais regiões do País. Não se pode falar em tabelas ou números absolutos, porque os preços estão liberados, dentro das diretrizes implantadas pela atual administração.  

O fato, entretanto, é que a gasolina poderia sair das refinarias custando pouco mais de R$0,60 o litro, mas, quando se adicionam os diversos impostos federais e estaduais, esse valor quase dobra, vai a R$1,19, e ainda é inflado em mais de 10% no trajeto entre os tanques dos postos, onde vale a lei do mercado, ou seja, fala mais alto a ganância dos comerciantes.  

O Sr. Geraldo Melo (PSDB - RN) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) – Concedo o aparte ao nobre Senador Geraldo Melo.  

O Sr. Geraldo Melo (PSDB - RN) – Senador Nabor Júnior, V. Exª traz a debate um assunto que é objeto de preocupação de todos os brasileiros hoje. Curiosamente, a análise de V. Exª, repetindo informações sobre a elevação dos preços do petróleo no mercado mundial, sugere uma reflexão que não tem sido feita. Na verdade, se os preços internos dos derivados de petróleo precisam variar em função dos preços de aquisição dele no mercado mundial, em primeiro lugar, essa variação não pode ser linear, porquanto, como V. Exª assinalou muito bem, o petróleo importado representa apenas uma parte do custo final do petróleo utilizado para produção desses derivados. Em segundo lugar, temos assistido à elevação dos preços internos dos derivados quando o custo do petróleo sobe no mercado mundial, mas não temos assistido à redução dos preços internos dos derivados quando o preço do petróleo é reduzido no mercado mundial. V. Exª acaba de assinalar o que ocorreu, por exemplo, em 1999: uma elevação para mais do dobro, no final do ano, do preço do petróleo vigente em janeiro. Exatamente o oposto tinha ocorrido um ano antes: enquanto se verificavam reduções de preços no mercado externo, continuávamos praticando uma política de preços no mercado interno de derivados. Curiosamente, já tive oportunidade, em outra ocasião, de mostrar a V. Exª matéria que guardo comigo relativa aos preços de gasolina automotiva do tipo mais caro vendida nas bombas dos Estados Unidos. Ela é vendida a US$1.469 por galão, o que, grosso modo , representa um preço de US$0.37 por litro da gasolina mais cara naquele país. Se estamos vivendo um momento em que é preciso reajustar preços internos de derivados, de duas uma: ou estamos praticando uma política suicida com relação a esse aspecto, estamos desinteressados ou desatentos à influência que tem o preço dos derivados na formação geral do nível de preço do Brasil, ou alguma coisa está errada com a eficiência das unidades produtoras no nosso País, porque é inconcebível que, embora estejamos comprando a gasolina por mais do que o dobro do preço praticado para o tipo mais caro vendido nos Estados Unidos, ainda se cogite de elevação de preços no mercado interno. Sabemos, ainda, que a proporção do petróleo importado no conjunto do petróleo consumido nos Estados Unidos é mais elevada do que no Brasil. Embora tenham fantásticas reservas de petróleo, eles as administram utilizando o petróleo importado. Assim, considero importante a contribuição de V. Exª ao iniciar um debate sobre a questão, a fim de que nem o Senado Federal nem a opinião pública possam embarcar nessa visão aligeirada de que pelo simples fato de o preço do petróleo ter subido lá fora devemos aumentar internamente o preço de seus derivados. Era a contribuição que gostaria de dar ao importante pronunciamento de V. Exª.

 

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) – Senador Geraldo Melo, agradeço o aparte valioso e oportuno com que me brinda, na abordagem de um tema da maior importância para a vida de todo o País. O petróleo, inquestionavelmente, exerce forte influência na ponderação de componentes levantados pelos órgãos oficiais a fim de medir a inflação. No ano passado, foi o aumento de seus preços o que mais ameaçou os programas de contenção inflacionária, os quais, mesmo assim, passaram de 10% - justamente porque o preço do petróleo subiu 46%. Minha preocupação é exatamente esta: se vier mesmo a ocorrer, em março, esse aumento de 10%, tal fato já vai ter reflexos na inflação do novo ano, afastando qualquer possibilidade de comprimi-la em 4% nos próximos 12 meses, como promete o Governo.  

Aliás, se continuar a onda de aumentos nos serviços públicos, como pedágio, transportes, energia elétrica, telefones, aquela meta de 4% será superada em poucos meses.  

Disse bem, ainda, V. Exª: hoje a Petrobrás já está produzindo, aqui mesmo, cerca de 2/3 do petróleo de que necessitamos – ou seja, importamos apenas 1/3 do petróleo consumido – mas, quando vai estabelecer o custo dos combustíveis, leva em consideração os preços do petróleo no mercado internacional. Destaco, também, a assertiva de V. Exª de que, quando aquelas tarifas mundiais entram em baixa, isso não encontra reflexos no mercado interno.  

Fico, realmente, muito grato pela valiosa participação de V. Exª no meu discurso, cujas diretrizes retomo agora, gratificado por seu aparte.  

Sr. Presidente, parece pacífico o ponto de partida para qualquer análise objetiva da questão: a carga tributária incidente sobre os derivados de petróleo é absurda e deve ser revista com seriedade e urgência, antes que a sociedade seja massacrada por mais um aumento, que, como todos sabemos, será o gatilho capaz de detonar novo surto inflacionário. Antes de elevar os preços dos combustíveis, todavia, o Governo deverá estar atento aos abusos cometidos pelas empresas que atuam nas diversas etapas do processo.  

Reduzir a carga tributária incidente sobre os combustíveis é uma necessidade imperiosa e urgente, mas as autoridades terão de cumprir, rigorosamente, sua obrigação de fiscalizar os produtores, intermediários e varejistas, porque não faz sentido permitir que eles engordem ainda mais os seus lucros à custa do sacrifício de toda a sociedade, porque, na prática, é isso que deve acontecer, ao menos parcialmente, se vier mesmo a ocorrer a pretendida renúncia fiscal. Em vez de repassar a redução de custos para o consumidor, os empresários simplesmente vão incorporá-la à sua margem de ganho, frustrando o objetivo maior, que é o de evitar um aumento abusivo do custo de vida.  

Sou defensor da livre iniciativa, da competição empresarial, da economia de mercado; sou, entretanto, inimigo de todos os tipos de abusos e de explorações desonestas, principalmente quando recaem sobe um setor tão sensível da vida nacional: os combustíveis.  

Nesse ponto, defendo duas posições convergentes, uma conceitual e outra estritamente prática.  

Liberdade absoluta não existe; o Poder Público tem mais do que o direito de fiscalizar, intervir, e punir os agentes econômicos. Isso é um dever, é uma obrigação que não pode ser postergada a qualquer pretexto, pois, se assim agir, o governante estará sujeito à reprovação da cidadania.  

Vivemos, hoje, uma fase crucial da nossa história, quando décadas de economia monitorada e estatizada estão sendo substituídas pelas leis de mercado: nos últimos anos, privatizamos alguns dos mais importantes setores produtivos e de serviços e, portanto, criamos estruturas com as quais jamais havíamos convivido. Abrimos as portas para o século XXI e para a nossa inserção no mundo globalizado – mas isso não pode resultar na exploração desenfreada e desonesta, na ação predatória dos desprovidos de escrúpulos ou limites na avidez do lucro fácil.  

Mais do que nunca, mais do que amanhã, impõe-se hoje grande firmeza na administração das novas estruturas, de modo a impedir atentados à economia popular. Quando uma empresa não repassa a seus clientes um benefício fiscal concedido pelo Governo, o que ocorre é uma verdadeira apropriação indébita; afinal, quem age dessa forma acaba ganhando duplamente: no imposto a menos, que deixa de pagar, e na margem de lucro, que se eleva com a manobra imoral e deletéria.  

Por isso, reafirmo, qualquer renúncia fiscal deve ser precedida de um esquema severo de fiscalização, imune às tentações da corrupção e dotado de competência estrutural e cultural para essa importante tarefa. Abrir portas não pode ser sinônimo de destruir proteções sociais.  

E chegamos à outra face desta moeda, a necessidade de evitar novos aumentos nos preços dos combustíveis. É quando nos detemos nas previsíveis conseqüências que essa majoração traria a toda a sociedade.  

É uma falácia dizer que "só quem paga o aumento é que reclama". Aliás, mesmo se fosse verdade, isso incluiria todos os cidadãos, sem qualquer tipo de exceção, afinal, o aumento dos preços da gasolina, do óleo diesel, do querosene e do gás de cozinha é uma medida que vai muito além até mesmo das pessoas físicas, das famílias, dos lares.  

Quando os postos remarcam suas bombas, estão deflagrando uma cadeia de reajustes em todos os setores da economia, porque tudo é transportado de uma forma ou de outra; os fretes ficam mais caros, os intermediários elevam suas margens, o distribuidor faz o mesmo, seus exemplos são seguidos pelo varejista, e o consumidor, que não pode deixar de adquirir os produtos essenciais, compra-os, efetivamente, mesmo à custa de grandes sacrifícios para seu orçamento doméstico.  

Acabo de citar e, certamente, V. Exªs também leram as notícias do final de semana. Mas é importante reafirmar a advertência sobre o perigo da volta da inflação. E, ao fazê-lo, não pratico qualquer alarmismo vazio. Ao contrário, busco agir com a responsabilidade e a serena firmeza de sempre, porque os números de 1999 são deveras preocupantes e a perspectiva de começar o ano 2000 com novos aumentos nos preços dos combustíveis são mais preocupantes ainda.  

O neoliberalismo econômico traz, em seu bojo, o desprezo pelos problemas pessoais, pelos dramas vividos pelos cidadãos em seu dia-a-dia. O que importa é a força da empresa e do Estado, mesmo quando à custa do desemprego, da miséria, da queda vertiginosa do padrão médio de vida da sociedade.  

Mas podemos retratar a questão dentro dos próprios jargões do economês. Eles não se importam se as famílias vão ficar impossibilitadas de comprar gás para fazer suas refeições, mas se arrepiam de medo ante a ameaça de não cumprir os compromissos assumidos com o deus da globalização, o Fundo Monetário Internacional.  

Esses tecnocratas pouco estão ligando para o desespero do chefe de família que, impotente, sem encontrar trabalho regular, vê a fome da esposa, a marginalização dos filhos e a prostituição das filhas, mas sofrem com a perspectiva de não atingirem as metas financeiras engendradas em seus próprios gabinetes.  

É esta, portanto, a linguagem que falo, agora, na conclusão do presente discurso: tudo deve ser feito para evitar um novo aumento nos derivados de petróleo, a curto ou médio prazo. Porque isso trará um exploração incontrolável nos preços praticados no País, sem exceções. Em conseqüência, provocará a subida descontrolada da inflação por maiores que sejam as circunstância recessivas hoje vividas pela nação.  

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - RS) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) – Concedo o aparte a V.Exª, nobre Senador Ramez Tebet.  

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) – Senador Nabor Júnior, apressei-me em solicitar-lhe este aparte porque sinto que devo cumprimentar V. Exª pelo brilhante pronunciamento. V. Exª, ao abordar uma questão econômica de relevante interesse nacional, qual seja, a questão energética do País, a iminência de uma escalada do aumento do preço do petróleo e seus derivados, também mostra as conseqüências disso no campo social, fechando com chave de ouro este pronunciamento. Realmente, há o perigo de ocorrer uma inflação no País e, em ocorrendo, resultará nos problemas sociais a que V. Exª acaba de se referir quase ao final de seu pronunciamento. Quero cumprimentá-lo, deixar-lhe o meu abraço pela feliz iniciativa que teve de alertar o País, as autoridades, os tecnocratas e burocratas quanto a esta questão. O Brasil está perdendo oportunidades, Senador Nabor Júnior. Lembro a questão do álcool como fonte alternativa de combustível. Esse programa teve início aqui no Brasil, que hoje possui a melhor tecnologia sobre o assunto, mas foi inteiramente abandonado e já não se fala mais numa política de álcool no País, a ponto de não sabermos nem mais o que vai acontecer com o que existe ainda de política de álcool. Enquanto isso, o primeiro país do mundo, os Estados Unidos da América do Norte, está a desenvolver e a copiar a tecnologia brasileira. Senador Nabor Júnior, não se conhece, pelo menos para o desenvolvimento do interior do Brasil, o que vamos fazer a respeito do contrato que fechamos com a Bolívia. O gás está atravessando em meu Estado 722 quilômetros e, parece, vamos pagar mais caro do que se pagará na ponta. Esse gás estará entrando por Corumbá, vizinha de Porto Soares, na Bolívia. A Bancada de Mato Grosso do Sul está a pedir ao Governo Federal um preço diferenciado para o gás, a fim de promover o desenvolvimento do Estado e não temos sequer resposta sobre isso. Portanto, V. Exª tem inteira razão, o seu discurso tem profundidade e merece o meu aplauso.  

O Sr. José Alencar (PMDB - MG) – V. Exª me concede um aparte?  

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) – Senador Ramez Tebet, agradeço as importantes informações, os comentários elegantes e as palavras generosas de V. Exª em seu aparte.  

Como o meu tempo está prestes a se esgotar, eu pediria apenas a compreensão da Mesa, para ter a honra e o prazer de ouvir também o nobre Senador José de Alencar.  

O SR. José Alencar

(PMDB – MG) – Muito obrigado, Senador Nabor Júnior e Sr. Presidente pela oportunidade que me concedem. Eu não poderia também deixar de trazer, eminente Senador Nabor Júnior, minha palavra de apreço e aplauso pelo seu oportuno pronunciamento. Estamos vivendo uma fase em que o maior cuidado das autoridades governamentais deve ser justamente evitar a retomada do processo inflacionário. O Brasil possui dimensões continentais, e nosso meio de transporte é o rodoviário, justamente aquele que consome mais combustível derivado de petróleo. Temos quase 8 mil quilômetros de costa, mas a navegação de cabotagem praticamente desapareceu. Não temos ferrovias, cujo custo seria mais econômico, ainda que também consuma derivados de petróleo. O Brasil, que está no mercado globalizado, precisa urgentemente cuidar do transporte para equiparar seus custos aos dos países com os quais compete no mercado internacional. De modo que, além do grande risco da retomada inflacionária, há a necessidade dessa importante preocupação com os custos dos transportes no Brasil, que são absolutamente incompatíveis com o nosso desiderato de alcançar mercados internacionais. Nenhum país do mundo se descuida disso. Nossas estradas andam muito mal cuidadas, o que também encarece o custo, principalmente com a ameaça de novos aumentos nos custos dos derivados de petróleo. Por essa razão, não poderia deixar de trazer uma palavra de aplauso ao pronunciamento de V. Exª, que vem numa hora oportuna. É preciso que nós todos levemos às autoridades federais essa preocupação e esse alerta tão bem abordados por V. Exª. Meus parabéns!  

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) – Agradeço-lhe o aparte que V. Exª insere no meu modesto pronunciamento, Senador José Alencar.  

O fato que ambos denunciamos – o inevitável impacto que um aumento nos preços dos combustíveis terá em toda a economia nacional, inclusive propiciando um recrudescimento da inflação – isso é algo admitido por todos os representantes do Governo, igualmente incapazes de negar que a única coisa que ainda segura os índices é a letargia registrada em diversos setores da economia.  

Os salários estão arrochados como poucas vezes vimos; o funcionamento amarga o quinto ano consecutivo sem aumento; o desemprego encosta nos piores índices já verificados; as indústrias reclamam por estarem com sua capacidade produtiva cada vez mais ociosa.  

Seria muito perigoso, quase uma temeridade, confiar na força da recessão como o único freio ainda disponível para a disparada inflacionária. Acreditar nisso, só nisso, seria não confiar na capacidade gerencial e moral do Governo.  

Com certeza, o Presidente Fernando Henrique Cardoso e sua equipe, atentos à seriedade do problema, com firmeza e competência, saberão administrá-lo. É o que espera toda a nação brasileira.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/01/2000 - Página 29