Discurso durante a 42ª Sessão Especial, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 40 ANOS DE BRASILIA.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 40 ANOS DE BRASILIA.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2000 - Página 8020
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB – GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Deputado eterno de Goiás, Emival Caiado, autoridades aqui presentes, meus senhores e minhas senhoras, muito me honra a oportunidade de fazer um pronunciamento nesta sessão especial em comemoração aos 40 anos vitoriosos de Brasília. Não poderia ser diferente. Brasília nasceu no coração de nosso querido Estado de Goiás. Cresceu e se desenvolveu com a participação ativa de centenas de goianos que para cá vieram e fizeram desta a sua terra. É uma Unidade da Federação irmã nossa, parceira de Goiás na busca de um Centro-Oeste cada vez mais forte e presente no processo de desenvolvimento econômico do Brasil.  

Aqui vivi momentos importantes de minha vida. Primeiro, em 1970, como soldado do Exército Brasileiro, servindo no Batalhão da Guarda Presidencial. Como soldado, tirei guarda em toda esta Esplanada dos Ministérios, nos Palácios, na Granja do Torto. Inclusive, quando morreu o Presidente Costa e Silva, eu era um dos soldados que estava de prontidão em frente ao Palácio. Aqui tive a primeira grande emoção da minha vida, quando fui considerado pelo Exército brasileiro, pelo Batalhão da Guarda Presidencial, o praça mais distinto. Carrego até hoje a barreta que me dá oportunidade de assistir a qualquer solenidade militar no Brasil.  

Depois, retornando a Goiás, fui eleito Vereador, Deputado Estadual, quando fui colega do brilhante Deputado Sérgio Caiado, filho de Emival Caiado. Depois, fui Deputado Federal, Vice-Governador do grande administrador Iris Rezende e, depois, Governador de Goiás. Agora, estou cumprindo esta missão que o povo goiano me concedeu de representá-lo aqui, no Senado da República.  

Um outro fato curioso, que gostaria de narrar, me liga ainda mais a esta Capital. Foi meu cunhado Toniquinho, muito bem representado aqui pelo Antonio Já-Já, que, na noite de 4 de abril de 1955, há 45 anos portanto, no primeiro comício do então candidato à Presidência Juscelino Kubitschek em Jataí, minha cidade natal, fez a histórica pergunta que gerou o compromisso da transferência da Capital para o Planalto Central.  

É importante que todos os brasileiros conheçam realmente toda a história da mudança da Capital para Brasília. Por que Jataí foi escolhida por Juscelino Kubitschek para sediar o seu primeiro comício? Ninguém fala, ninguém sabe. Jataí era, na época, o maior reduto pessedista do Brasil. Por isso, foi a cidade escolhida. Juscelino era colega do Dr. Serafim de Carvalho, um médico de Jataí, que se formou com ele e contava-lhe os acontecimentos políticos da cidade. Foi ele que lhe disse que Jataí era o maior reduto proporcional do Brasil de pessedistas, e o convidou a iniciar sua campanha na cidade. Foi assim que, no dia 4 de abril de 1955, Juscelino lá chegou, desembarcando de um avião pequeno, num dia de tempo chuvoso, numa descida problemática. Marcaram então o grande comício para a praça Tenente Diomar Menezes. Como a chuva caía abundantemente, o comício foi transferido para uma oficina mecânica. E foi na carroceria de um caminhão Studebaker que Juscelino prometeu a mudança da Capital para o Planalto Central. Na ocasião, num lampejo de inteligência, Toniquinho levantou o braço, no meio da multidão, e perguntou ao Presidente se ele cumpriria o disposto nas Disposições Transitórias da Constituição de 1946. E Juscelino Kubitschek se comprometeu.  

A idéia da transferência já existia há anos, tanto que já estava presente na Constituição Federal. Mas foi a partir desse fato que a construção da nova Capital começou a se materializar pelas mãos do maior estadista brasileiro de toda a nossa história, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que, posteriormente, acabou elegendo-se Senador também pelo Estado de Goiás.  

Juscelino, com sua incansável disposição e seu inigualável otimismo, conseguiu vencer as barreiras do pessimismo e do derrotismo que imperavam naquele momento no País. Ele não apenas transferiu a Capital para o interior do Brasil, como lançou também as sementes da industrialização, da modernidade, impulsionando o desenvolvimento nacional, tendo em vista um crescimento uniforme que pudesse acabar um pouco com as diferenças e as desigualdades regionais.  

Nesse processo, Brasília cumpriu um papel fundamental. Após sua fundação, o Brasil começou a olhar para seu interior com olhos diferentes. O desenvolvimento começou, efetivamente, a marchar para o Centro-Oeste. Brasília foi um espelho, que refletiu para o mundo todo o potencial desta região rica, que hoje tem contribuído decisivamente para o progresso do nosso País.  

Ao longo desses 40 anos, Brasília cresceu não apenas como a Capital administrativa do País; Brasília é, efetivamente, a Capital de todos nós. Aqui convivem brasileiros de todos os cantos, que souberam construir um modo de vida muito peculiar. Aqui cultiva-se talvez os maiores espaços de área verde numa cidade brasileira, o que realça o respeito ao meio ambiente e à ecologia. A arquitetura brasiliense é única e desperta a atenção de turistas de todas as partes do mundo. O povo é inteligente, preparado, crítico e, acima de tudo, de uma educação exemplar. Daqui emanam os maiores exemplos de educação no trânsito, de respeito às liberdades individuais, das boas regras da convivência democrática.  

A capital carrega há 40 anos o modelo extraordinário, concebido por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Um modelo de cidade planejada que deu certo, apesar do grande fluxo de migrantes que acabou dando origem às cidades satélites e fazendo crescer as cidades do chamado Entorno da Capital.  

Niemeyer dizia que Brasília foi criada para que aqui vivessem os homens mais próximos, mais amigos e, sobretudo, iguais. O modelo do Plano Piloto carrega isso. Prédios semelhantes, onde viveriam os políticos, os funcionários públicos, os funcionários da construção e os profissionais liberais. Se hoje muitos vivem fora do Plano, nas cidades satélites e no Entorno, é porque Brasília não poderia fechar as portas àqueles que acreditaram nesta região e para cá se deslocaram para viver, numa proporção acima do que se esperava quando de sua concepção. Até nisso, Brasília foi democrática e tremendamente acolhedora.  

Sim, porque Brasília não é apenas concreto, cimento e arquitetura. Brasília é vida. Vida cultura, vida artística, vida política, vida social, vida esportiva, vida inteligente. Brasília, em apenas 40 anos, já exportou nomes notáveis para o mundo, em todos os setores: Joaquim Cruz, Nelson Piquet, Oscar, Oswaldo Montenegro, Renato Russo e tantos outros.  

Brasília é o retrato do Brasil lutador, do Brasil otimista, do Brasil que, se em 500 anos não tem muito o que comemorar, tem muito ainda que fazer, porque as oportunidades são monumentais e se colocam à nossa frente. É aqui em Brasília que devemos fomentar o debate da mudança de rumos para o País, da mudança de mentalidade, onde as prioridades acabam muitas vezes invertidas. É daqui de Brasília que teremos a obrigação, como homens públicos, de fazer as elites dominantes enxergarem que o Brasil é para todos, e não apenas para uma minoria privilegiada. Que o poder público deve voltar seus esforços e sua luta para os mais necessitados, para os que pouco ou nada têm, e não para uma casta privilegiada de nossa elite, que mantém dogmas e conceitos ultrapassados, a partir dos quais acreditam que podem viver eternamente neste cenário cruel de desigualdade e injustiças. Não. Isso não mais é possível! É inconcebível pensar que poderemos viver indefinidamente em paz, convivendo com o cenário horroroso da fome e da miséria, do descaso com as crianças e os jovens, com os idosos e deficientes.  

De Brasília começou e deve nascer um novo Brasil: o Brasil do interior pujante, honesto e produtivo. E daqui também devem sair os novos conceitos para a construção de uma Nação mais justa, que olhe para os brasileiros de forma igual, que crie condições para a eliminação do quadro perverso das injustiças sociais.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores e autoridades aqui presentes, encerro o meu pronunciamento reverenciando a figura de JK, de Niemeyer, de Lúcio Costa, de Coronel Eliodoro, de Toniquinho e de tantas outras figuras exponenciais desta Capital e deste País. Quero também reverenciar a figura, como já disse, do eterno Deputado Federal Emival Caiado.  

É importante notarmos que o Executivo foi fundamental para a construção de Brasília, mas, se não fosse o Poder Legislativo a abrir os caminhos, a possibilitar politicamente essa mudança, talvez ela não tivesse acontecido.  

É importante lembrar dos Deputados Federais e Senadores da época, capitaneados – repito – por Emival Caiado, que foi o Presidente do bloco parlamentar mudancista, composto por centenas de Deputados Federais. Foi o autor do projeto de lei que fixou a data da mudança da Capital em 21 de abril de 1960. Ele criou, por intermédio de substitutivo, a Novacap, que viria a ser a empresa construtora desta Capital. Recriou a Comissão de Mudança da Capital. Por isso, Emival Caiado - que está aqui hoje -, ex-Deputado Federal, foi talvez o legislador mais importante da época, no sentido de abrir os caminhos políticos e viabilizar a construção da nossa Capital.  

A Emival Caiado presto esta homenagem, a qual presto também a todos os goianos, indistintamente, que o ajudaram nessa missão tão importante.  

Cumprimento os Senadores Luiz Estevão, José Roberto Arruda e outros, que foram autores da idéia que originou esta sessão especial.  

Homenageio, por fim, o Governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, goiano que para cá veio e se fixou. Em três mandatos como Governador, tem contribuído decisivamente para o progresso da nossa Capital. Nesse atual mandato, com arrojados programas sociais, dá um exemplo concreto e eficiente, que deveria servir de modelo para todo o País.  

A todos aqueles que ajudaram e ajudam a construir esta grande cidade, os nossos mais sinceros e profundos cumprimentos, as nossas mais sinceras e profundas homenagens.

 

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas!)  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2000 - Página 8020