Discurso durante a 62ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 150 ANOS DO TEATRO SANTA ISABEL EM RECIFE/PE.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 150 ANOS DO TEATRO SANTA ISABEL EM RECIFE/PE.
Aparteantes
Edison Lobão, Roberto Freire, Romero Jucá.
Publicação
Publicação no DSF de 20/05/2000 - Página 10410
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MONUMENTO NACIONAL, TEATRO, MUNICIPIO, RECIFE (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), COMENTARIO, IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, RESTAURAÇÃO, CONSERVAÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO, VALORIZAÇÃO, CULTURA, PAIS.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Teatro Santa Isabel comemora seus 150 anos, e para marcar data tão significativa para o povo pernambucano, e por que não dizer para o Brasil inteiro, presto hoje a minha homenagem a esse monumento nacional.  

Sim, porque o Teatro Santa Isabel, localizado em Recife, foi tombado como Monumento Nacional em 31 de outubro de 1949, bem próximo, portanto, de seu primeiro centenário, pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, encontrando-se seu registro no Livro do Tombo, às folhas 45 - Processo 400/T.  

O Teatro Santa Isabel foi inaugurado em 18 de maio de 1850. Completou, ontem, 150 anos. Mais de meio século, portanto, antes dos principais teatros públicos das duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, e quase meio século antes do Teatro Amazonas, localizado em Manaus, que, no fim do século XIX, viveu o apogeu do ciclo da borracha. Além da importância por suas atividades culturais e artísticas, o prédio é considerado, sob o aspecto arquitetônico, um dos mais belos exemplares do estilo neoclássico existente no Brasil.  

A sua construção se deveu principalmente ao esforço de Francisco do Rego Barros, primeiramente Barão e depois Conde da Boa Vista, que, como Presidente da Província, engajou-se decididamente em transformar a imagem do Recife, pois a capital da província estava desprovida das utilidades imprescindíveis ao bem-estar e ao conforto de seu povo: não havia água, redes de esgoto, pontes, logradouros, teatros, obras portuárias; as ruas das cidades eram de areia, passeios de tijolos e pontes de madeira.  

Não que a cidade de Recife não dispusesse de teatros à época, mas os então existentes não satisfaziam a ansiedade dos recifenses de terem um edifício condizente com a importância da cidade, uma das maiores do Brasil e que, ao lado de São Paulo, recebeu, já em agosto de 1827, a instalação de sua Faculdade de Direito, as duas primeiras do Brasil no gênero.  

A construção do grande teatro de Pernambucano teve projeto de execução a cargo do engenheiro francês Louis Léger Vauthier, trazendo novos pontos de vista e processos usados na França, com um custo orçado em 240 contos de réis, e cuja pedra fundamental foi assentada em 1º de abril de 1841. A construção demorou, portanto, nove anos.  

O Sr. Edison Lobão (PFL – MA) – Senador José Jorge, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) - Pois não. Concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Edison Lobão (PFL – MA) – Senador José Jorge, estamos tratando do mesmo assunto nesta manhã de sexta-feira. O teatro a que V. Exª se refere, um dos mais belos e antigos deste País, assemelha-se, de algum modo, ao teatro que temos no Maranhão, que é do século passado também. Foi construído há 170 anos. Imagine V. Exª que, quando os portugueses construíram o Teatro Arthur Azevedo, a cidade de São Luís possuía 30 mil habitantes apenas. Hoje, é considerado um dos melhores teatros da América Latina. Foi restaurado no meu Governo; foi quase que totalmente destruído e reconstruído – não digo restauração e, sim, reconstrução. É uma pérola, uma jóia que temos plantada no coração de São Luís, assim como o Teatro Santa Isabel, no Estado de V. Exª. Essas obras têm de ser conservadas a qualquer custo. Elas são testemunhas da história local. Portanto, associo-me a V. Exª nessa iniciativa de buscar uma solução junto ao Governo Federal para que esses patrimônios, onde quer que estejam, não apenas no Maranhão ou em Pernambuco, sejam preservados.  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) - Agradeço a V. Exª o aparte.  

O Sr. Roberto Freire (PPS - PE) – Senador José Jorge, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) - Senador Roberto Freire, meu companheiro de Pernambuco, concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Roberto Freire (PPS - PE) – O comentário inicial do aparte do Senador Edison Lobão foi o mesmo que eu havia feito ao Senador Romero Jucá. Hoje, nesta manhã, estamos aqui discutindo a preservação do patrimônio histórico e cultural de nosso País. Portanto, associo-me à justa homenagem que V. Exª presta aos 150 anos do Teatro Santa Isabel – orgulho para todos nós, pernambucanos –, à sua história, à sua restauração, reinauguração ou reabertura. Como seria diferente se essas preocupações que tanto V. Exª como o Senador Edison Lobão manifestaram – nesse sentido, saliento a atuação do PFL, base de sustentação do Governo – fossem as mesmas do Governo: não teríamos presenciado a comédia de erros que marcaram a comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Refiro-me à comédia de erros em todos os sentidos da visão histórica. Começaram a nos ver como se fôssemos os índios da ocupação e da colonização portuguesa, quando não somos, embora sejamos hoje uma nação formada pelo processo de miscigenação. Então, se tivéssemos tido a preocupação de discutir a cultura, o patrimônio histórico, a formação do Brasil de hoje, e essa preocupação está presente ao analisar a colonização de São Luiz e do Recife, os movimentos republicanos de independência do Recife, observaríamos que tudo isso tem a ver com a história cultural de nosso Estado, com o Teatro Santa Isabel, com o abolicionismo, com o regionalismo, com a visão da Faculdade de Direito em sua relação com o Teatro Santa Isabel, com toda a cultura de uma cidade que tem a primeira sinagoga do Novo Mundo, que traz toda uma história dos judeus que vieram com a ocupação holandesa. A expressão do que é a nossa cultura, do que foi a nossa formação, se estivesse muito presente, talvez a comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil tivesse ocorrido com maior dignidade, talvez tivéssemos evitado não apenas a comédia de erros, mas também todos os abusos e arbitrariedades e até mesmo a repressão que se sucederam naquela oportunidade. Saúdo V. Exª, como pernambucano, por mostrar a importância do Recife, de seus espaços culturais, entre eles o Teatro Santa Isabel, de grande tradição não apenas para o Estado de Pernambuco, mas para o Brasil.  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) – Agradeço a V. Exª o aparte, Senador Roberto Freire.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Senador José Jorge, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) – Concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB – RR) – Caro Senador José Jorge, quero também, em rápidas palavras, associar-me a V. Exª e parabenizá-lo pela importância do tema. Registro, como pernambucano também, o prestígio e o referencial do Teatro Santa Isabel não apenas pelos aspectos culturais, mas também como berço da liberdade e da democracia e palco de grande parte da História de nosso País. Portanto, parabenizo V. Exª pela iniciativa.  

O SR. JOSÉ JORGE (PFL – PE) – Agradeço a V. Exª, Senador Romero Jucá.  

Prossigo a leitura:  

Vauthier conduziu as obras até o ano de 1846, fim de seu contrato e quando já vinha sendo objeto de intensas pressões, pois a oposição ao Governador também o atingia, mas, então, o prédio já se encontrava pronto no que se refere aos aspectos de construção. Faltavam as obras de acabamento, que foram conduzidas por profissionais brasileiros: José Manoel Alves Ferreira, para os cenários e decoração interna; os mestres Zacher e Antônio Gomes, nas obras de carpintaria; e as pinturas, que ficaram a cargo de Joaquim Lopes de Barros Cabral e Teive.  

Alguns meses antes de ser inaugurado, no final de 1849, o teatro recebeu a denominação de Teatro Santa Isabel, em homenagem à filha do Imperador Dom Pedro II, à época com menos de quatro anos de idade, por sugestão do Presidente da Província, Honorato Hermeto Carneiro Leão.  

A grande cerimônia de inauguração ocorreu em 18 de maio de 1850, com a presença do Presidente da Província, José Ildefonso de Souza Ramos, ocasião em que foi representada, pela Cia. Germano Francisco de Oliveira, a peça O Pajem d’Aljubarrota , drama em três atos de Mendes Leal.  

Mas nem tudo foram glórias na vida do Santa Isabel! Seguindo as tendências de modernidade, já em 1853 era testemunha da descoberta e aplicação da luz elétrica em seus arredores. E depois se disse que foi justamente um aparelho elétrico utilizado na peça Fausto – a ópera –, deixado no camarim da primadona, o responsável pelo incêndio que destruiu todo o teatro em 19 de setembro de 1869, deixando em pé apenas as paredes laterais, o alpendre e o pórtico. A reconstrução foi totalmente orientada, de Paris, pelo engenheiro Vauthier, cujas recomendações foram seguidas à risca. E o teatro estava pronto para a reinauguração em 1875, mas, por falta dos acessórios e da decoração, que custaram 42 contos de réis, a cerimônia só ocorreu em 16 de dezembro de 1876, com a apresentação da ópera Un Ballo in Maschera , de Giuseppe Verdi, pela Companhia Lírica Italiana Thomas Pasini.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Teatro Santa Isabel teve infortúnios, mas também tem glórias a serem destacadas, que prometem mantê-lo entre os símbolos vivos da evolução da cidadania brasileira. Foi nessa casa que os escritores Tobias Barreto e Castro Alves promoveram os célebres torneios literários e proferiram seus discursos abolicionistas, o que levou o escritor Joaquim Nabuco, outro ferrenho defensor do abolicionismo no século passado, a declarar que uma importante fase da abolição da escravatura no Brasil foi vencida no Teatro Santa Isabel. A alusão tem seu marco representativo na placa colocada na área de acesso aos corredores, no térreo, na qual se inscreve a frase atribuída a José Mariano e Joaquim Nabuco: "Ganhamos aqui a causa da Abolição."  

Em 1997, foi desenvolvido o Projeto da Restauração do Teatro, para devolvê-lo à comunidade como era na sua forma original, depois de numerosas transformações sofridas nas sucessivas reformas, que provocaram, inclusive, modificações no seu aspecto externo.  

Atualmente, o Teatro se encontra fechado, o que tem gerado críticas dos órgãos de informação. A última apresentação aconteceu em novembro de 1995, com Raul Cortez, na peça Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá

. Os responsáveis pelas obras se justificam, dizendo que a demora para recuperar o teatro se deve à sua antigüidade e singularidade e à burocracia do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Argumentam também que, após a reforma do aparato cênico, não valia a pena reabrir o prédio sem uma reforma profunda. A expectativa é a de que o Teatro Santa Isabel esteja pronto em dezembro, mas a intenção é inaugurá-lo para o festival de teatro que deve realizar-se em novembro, de acordo com a declaração do Diretor de Artes Cênicas da Fundação de Cultura.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos diante da demonstração clara de que o pernambucano não descura das manifestações culturais as mais diversas, já que uma construção como essa se destina às mais diferentes manifestações artísticas, como a música, a dança, a representação teatral e outras atividades diversas.  

O Teatro Santa Isabel já teve o seu Corpo de Baile, foi sede do Conservatório Dramático, foi rinha de lutas greco-romanas. Lá foram realizados bailes de máscaras e banquetes. Portanto, é muito grande a diversidade de fatos históricos que testemunhou e de serviços que prestou à sociedade recifense e seus visitantes.  

Para as festividades de comemoração do sesquicentenário do Teatro foi programada uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Recife, na Praça da República, em frente ao Teatro, o que causou profunda consternação para a atual Diretora, Geninha da Rosa Borges, uma das maiores estudiosas da cultura pernambucana, que lançará a segunda edição do livro Teatro de Santa Isabel – Nascedouro e Permanência , de sua autoria.  

E, para finalizar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero dizer que a minha intenção, com este pronunciamento, é mostrar a esta Casa e ao Brasil que Recife tem, sim, seu centro cultural de grande valor arquitetônico e histórico.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/05/2000 - Página 10410