Discurso durante a 90ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

APELO AOS SENHORES SENADORES PARA QUE REFLITAM SOBRE A VENDA DAS AÇÕES DA PETROBRAS.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO.:
  • APELO AOS SENHORES SENADORES PARA QUE REFLITAM SOBRE A VENDA DAS AÇÕES DA PETROBRAS.
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/2000 - Página 15615
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ANUNCIO, GOVERNO FEDERAL, INSUFICIENCIA, RECURSOS FINANCEIROS, RESULTADO, CAMPANHA, UTILIZAÇÃO, FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS), TRABALHADOR, AQUISIÇÃO, AÇÕES, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
  • CONCLAMAÇÃO, SENADOR, REALIZAÇÃO, ANALISE, BENEFICIO, PREJUIZO, RESULTADO, POSSIBILIDADE, PRIVATIZAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), COMENTARIO, APREENSÃO, DEPENDENCIA, CAPITAL ESTRANGEIRO, VENDA, AÇÕES.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no próximo dia 9, quarta-feira, o Senado terá a oportunidade, mais uma vez, de avaliar, discutir e debater as razões que levam o Governo do País a vender ações da Petrobras.  

Aproveito esta oportunidade, do tempo que temos para reflexão, para trazer a esta Casa duas informações que considero da maior importância. A primeira delas: o Governo se decepcionou com a adesão de trabalhadores na utilização do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço para a aquisição das ações. O Governo, que anunciava colocar R$3 bilhões do FGTS a serviço dessa aquisição de ações pelos trabalhadores, divulga, por intermédio da Caixa Econômica, que apenas R$500 milhões foram utilizados pelos trabalhadores. Desse modo, em que pese o fato de ter havido uma prorrogação do prazo para aquisição de ações com recursos próprios, por brasileiros, ou com recursos do FGTS, o comparecimento para a prática do ato de compra decepcionou o Governo. Isso significa que, se o Governo mantiver a sua decisão de vender as ações, as venderá na bolsa de Nova Iorque. E, indiscutivelmente, essas ações passarão a ser propriedade do investidor estrangeiro.  

A outra informação, também da maior importância, é que neste mês de julho o valor das ações da Petrobras sofreu uma queda brutal: de R$55,00, no dia 6 de julho, para R$46,40, no dia 28 de julho. Portanto, uma queda de 12,42% em pouco mais de 20 dias. Isso significa, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que há uma tremenda especulação. Os especialistas do mercado entendem tratar-se de um artifício utilizado por grandes investidores, que pretendem adquirir um número significativo de ações a um preço menor para, diante das perspectivas de valorização existentes, em função do engrandecimento próximo da empresa, que tornará o País auto-suficiente em petróleo até 2005, lucrarem somas vultosas.  

Não há qualquer dúvida de que isso está ocorrendo. Esse fato, por si só, deveria determinar a suspensão da venda das ações da Petrobras.  

Os especialistas informam mais: que, já nos meados do próximo ano, as ações que valem, hoje, R$46,40, em função dos artifícios utilizados pelos grandes investidores, estarão valendo cerca de R$65,00.  

Portanto, Sr. Presidente, além de todos os argumentos aqui já apresentados nos debates que travamos nas comissões da Casa e no plenário do Senado Federal, essas duas informações, recentíssimas, por si só, justificariam a aprovação do projeto que proíbe a venda de ações da Petrobras.  

Uso da tribuna, respeitosamente, para me dirigir aos Colegas Senadores, exatamente com o objetivo de pedir reflexão cuidadosa em relação a esse tema. Sem dúvida, seremos julgados pela história. Aliás, quando o Governo pratica uma ação administrativa dessa natureza, que nos surpreende em função da lógica do absurdo, podemos até imaginar: será que, futuramente, dentro de alguns meses, não aparecerá uma fita, de alguma gravação, de algum telefonema, que venha a colocar dúvidas sobre a honestidade das operações? Será que daqui a algumas semanas ou alguns meses alguém não estará, aqui nesta Casa, com um requerimento, colhendo assinaturas para pedir a instalação de uma nova CPI para investigar fatos obscuros? E nós? Viveremos de CPI em CPI?  

Creio, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que esses fatos exigem uma reflexão responsável. Ontem ainda, da tribuna, o Senador do PT, Geraldo Cândido, denunciava a possibilidade de estarem sabotando a Petrobras nesse momento, exatamente numa manobra que visaria facilitar a venda das ações, sob a alegação de que empresa estatal é sempre incompetente.  

Esse conceito, que alguns procuram arraigar na mentalidade brasileira, de que a empresa só é suficientemente eficiente quando privatizada, é um argumento falacioso, desmentido pela realidade dos fatos, porque neste País existem empresas estatais extremamente competentes, e a Petrobras, inclusive, é uma delas.  

Desse modo, é o apelo que mais uma vez venho fazer aos Colegas Senadores, com o maior respeito, por considerá-los responsáveis e competentes, no sentido de que reflitam sobre essa questão que implica um provável e histórico equívoco do nosso Governo.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/2000 - Página 15615