Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM AO ATLETA MATO-GROSSENSE ZEQUINHA BARBOSA.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ESPORTE.:
  • HOMENAGEM AO ATLETA MATO-GROSSENSE ZEQUINHA BARBOSA.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Leomar Quintanilha, Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2000 - Página 16351
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ESPORTE.
Indexação
  • HOMENAGEM, JOSE LUIZ BARBOSA, ATLETA AMADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ELOGIO, ATUAÇÃO, OLIMPIADAS.
  • DEFESA, AUMENTO, INCENTIVO, PODER PUBLICO, ESPORTE, PAIS, REGISTRO, REDUÇÃO, GRUPO, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, OLIMPIADAS, PAIS ESTRANGEIRO, AUSTRALIA.
  • DEFESA, AUMENTO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, APLICAÇÃO, RECURSOS, LOTERIA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, no primeiro momento dos nossos trabalhos, ouvi atentamente o pronunciamento do Senador Maguito Vilela louvando a aprovação de lei votada pelo Congresso Nacional, que deve ser sancionada pelo Presidente da República, referente à regulamentação do desporto no País.  

Quando se fala em esporte, via de regra se fala em futebol, que é o esporte que arrebata multidões, o esporte no qual o país mais tem pontificado. Mas não nos destacamos apenas o futebol, Sr. Presidente Srªs e Srs. Senadores. Vejo, com justo orgulho, com sentimento de nacionalidade, que o pavilhão nacional tremula no concerto das nações, fora das nossas fronteiras, toda vez que o Brasil disputa qualquer modalidade esportiva. É com justo orgulho que nós brasileiros presenciamos o desfraldar da nossa bandeira além das fronteiras da nossa pátria. É com justa emoção que vemos os feitos de nossos esportistas. Estamos prestes a participar, como sempre fazemos, das Olimpíadas, que serão disputadas em Sydney, na Austrália, neste ano de 2000.  

Sei que os atletas brasileiros lutam com extrema dificuldade para bem representar o nosso País. Também percebo – e o faço com tristeza – que as autoridades federais não dedicam aos nossos atletas a atenção que eles merecem. Tanto é verdade que desejo ressaltar, hoje, no Senado da República, a figura de um atleta amador brasileiro, talvez o que mais tenha dignificado e honrado o nosso País no exterior: quero me referir a José Luiz Barbosa, o Zequinha Barbosa. Este valoroso atleta, por apenas seis segundos, Sr. Presidente, não logrou o êxito de alcançar os índices olímpicos, deixando, assim, de ingressar no Livro dos Recordes como o atleta que, por cinco vezes consecutivas, teria participação nas Olimpíadas.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conto um, dois, três, quatro, cinco, seis e lastimo e choro com ele por ver que seu sonho acabou. Ele seria o único atleta do mundo a participar de cinco Jogos Olímpicos consecutivos.  

Faço este registro especial, Sr. Presidente, porque Zequinha Barbosa, sendo, como é, um atleta de classe mundial, "ranqueado" entre os dez melhores do mundo na modalidade de 800 metros, por dez anos consecutivos, é originário da minha cidade natal, Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Assim, Sr. Presidente, tive o prazer de conhecer esse moço, de origem humilde. Ele só veio a conhecer o pai quando contava com 14 ou 15 anos de idade. Sua mãe, Dª Livaneta de Araújo Barbosa, é minha conhecida. Sua avó, de nome Maria Pequena, cuidou do primeiro asilo existente no meu torrão natal, Três Lagoas.  

Esse moço, sempre que brilhou em pistas estrangeiras, pensou em seu país e na cidade que o viu nascer. Esse moço saiu da cidade sul-mato-grossense de Três Lagoas e foi para o Estado de São Paulo sozinho, onde ganhou conceito nacional pelo desempenho na sua modalidade atlética, os 800 metros; depois, foi para os Estados Unidos, onde constituiu família, sem nunca se esquecer de sua origem. Recordo-me bem de quando abri o seu convite de casamento. Ele trouxe sua noiva, natural dos Estados Unidos, para contrair matrimônio na igreja onde ele foi batizado, na sua cidade natal. Trata-se de um homem, portanto, que tem essa conseqüência, que tem esse valor; de um homem que, conversando comigo, dizia que os únicos esportes que o pobre no Brasil pode praticar – e lhe dou razão – é o futebol, já que é muito fácil encontrar um bola para praticá-lo – e ele mesmo utilizou várias vezes uma bola de meia para jogar futebol –, e o atletismo, porque se pode correr mesmo descalço. Ele, quando conseguia um tênis, dava tudo de si, como sempre fez, graças a Deus.  

"No nosso Brasil, há muito o que fazer, meu caro Senador, meu conterrâneo Ramez Tebet" – dizia Zequinha Barbosa. "O pobre, no Brasil, principalmente um negro como eu, não tem condições de freqüentar uma piscina. Qual é o clube social que aceitaria um negro, um pobre como eu para tentar ser um campeão de natação? Pobre, no Brasil, nada nos rios, nos córregos, vencendo correntezas; porém, no atletismo, nas corridas, não, basta a nossa força de vontade; basta o nosso desejo de vencer. Eu quis vencer, quis honrar a minha cidade, o meu Estado, o meu País". É este homem que, agora, Sr. Presidente, encerra a sua carreira, com menos de 40 anos de idade.  

Entendo que precisamos incentivar o esporte, que tanto tem honrado e dignificado o nosso País no exterior. Digo isto por entender que devia, impulsionado pelo meu coração, prestar essa homenagem a Zequinha Barbosa, que tantos feitos conquistou para o nosso País. A sua vida é repleta de exemplos; a glória não lhe subiu à cabeça; ele permaneceu humilde, modesto, apegado a sua família. Eu, que o conheço, sei o tanto que fez por seus irmãos e sobrinhos, procurando dar a eles aquilo que não teve.  

Recordo-me da ocasião em que, encontrando-me com ele na cidade que o viu nascer, disse-me: "Voltei para construir uma casa, a casa que minha mãe nunca teve". Vejam que magnífico! Por isso venho aqui com esse espírito de brasilidade, ressaltando o exemplo desse moço ao passo que faço um alerta às autoridades brasileiras: ajudem o esporte no Brasil! O Brasil precisa que sua juventude seja efetivamente preparada. Nada tem trazido mais glórias ao País que as práticas esportivas! O Brasil tem pontificado no exterior apesar de todas as dificuldades, já que quase não há ajuda de parte do Poder público aos atletas.  

Quero citar um exemplo: os treinos que Zequinha Barbosa vinha realizando – e nesse ponto graças a Deus não lhe faltamos, graças a Deus Mato Grosso do Sul não lhe faltou, graças a Deus a cidade onde nasci não lhe faltou –, só foram possíveis porque ele teve a ajuda da Prefeitura de Três Lagoas e da sociedade de sua cidade natal. Só assim ele conseguiu os parcos recursos para treinar, para se exercitar pelos seis segundos que precisava para alcançar o índice olímpico. Ele não conseguiu, não podendo, assim, pela quinta vez consecutiva, participar das Olimpíadas. Imaginem V. Exªs se ele tivesse o estímulo do Poder Público no Brasil! Foi em vão seu apelo.  

Deu no Fantástico: "Zequinha Barbosa estava treinando, exercitando-se, fazendo força para participar da quinta Olimpíada representando este País"; todavia, o Poder Público não se lembrou dele. Eu vim de saber que o Clube Vasco da Gama lhe dava R$1 mil por mês. Vejam, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o quanto este País ainda precisa investir no esporte, pois quantias irrisórias como essas sustentam um atleta que é orgulho nacional.  

Esse homem, além de sua vida de esportista, quando vem ao Brasil, vai aos ginásios, às escolas conversar com a juventude, falar de sua experiência de vida, dizendo como é bom representar seu País no exterior; vai às escolas ministrar aulas contra as drogas, estimular as crianças, como fez recentemente em Mato Grosso do Sul, fazendo uma peregrinação por vários municípios do nosso Estado.  

Trazendo aqui a vida de Zequinha Barbosa, estou fazendo o meu apelo, Senador Leomar Quintanilha, para que as autoridades deste Brasil cuidem mais do nosso esporte e incentivem nossa juventude.  

Vejo os jornais noticiarem que, desta feita, iremos a Sidney, na Austrália, com um número menor de atletas do que aquele com que fomos às últimas Olimpíadas. Nós, na verdade, deveríamos ter dobrado esse número, indo com uma representação bem maior, bem mais recheada, com nossas moças e nossos rapazes indo disputar nas quadras esportivas acrobacias, e tudo isso sob os auspícios do nobre e verde pendão nacional. Como é bonito isso! Como isso mexe com os sentimentos da nacionalidade do povo brasileiro! Mas parece que, no Brasil, não damos mesmo valor a essas coisas, a não ser quando recebemos alguma medalha ou para assistir aos feitos pela televisão.  

Como seria bom se o poder público investisse...  

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB - TO) – Permita-me V. Exª um aparte?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Leomar Quintanilha (PPB - TO) – Quando vejo V. Exª falar com empolgação sobre essa figura singular e importante para o esporte nacional que é Zequinha Barbosa, fico a avaliar que foi justamente por essa empolgação, provocada pelo talento e determinação de tantos atletas e craques que existem no País hoje, que vimos crescerem a motivação e o estímulo à prática do esporte nacional. Na verdade, V. Exª tem razão. Estamos a dever à sociedade brasileira uma fonte de financiamento ao esporte, notadamente ao esporte amador, para que ele se transforme em uma atividade plural, participativa, em que a sociedade como um todo - não importa o substrato social a que pertença o indivíduo – possa participar. Para que participem outros que não apenas aqueles que figurem em algum ranking ou os dotados pela natureza de um condição especial e melhor, mas também aqueles que desejem, que tenham vontade de se exercitar em quaisquer das modalidades esportivas conhecidas. Estamos a dever, Senador. Estamos agora comemorando um avanço na normatização das atividades esportivas com a lei que, recentemente, esta Casa aprovou, resultado de um trabalho brilhante do Senador Maguito Vilela e outros eminentes Parlamentares. Mas ficamos ainda a dever não só a craques singulares e especiais como Zequinha Barbosa mas também a outros que talvez, mesmo tendo a determinação, não lhes foi oferecida a oportunidade de ter seu talento, sua habilidade provada, experimentada nas diversas canchas brasileiras. V. Exª tem razão, a empolgação que o esporte provoca em todos nos faz raciocinar com clareza na importância para a vida social que o esporte representa deixa claro que estamos a dever à sociedade brasileira. Devemos mergulhar e trabalhar nisso para encontrarmos uma fonte de financiamento notadamente para o esporte amador.  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - RS) – Senador Leomar Quintanilha, sei o quanto V. Exª gosta do esporte, o quanto de colaboração V. Exª deu à recente lei que vai ser, com toda a certeza, sancionada pelo Presidente da República.

 

V. Exª está percebendo que, quando falo no Zequinha Barbosa, estou falando pelo esporte no Brasil. Há muitos Zequinhas Barbosas no Brasil. No Brasil, sobram talentos que não são aproveitados. Por quê? Porque falta amparo a esses talentos, falta amparo do Poder Público a esses talentos. Vejam que esses craques surgem do nada, surgem do esforço próprio. Eles surgem porque têm de surgir, porque têm talento mesmo, porque o brasileiro é um vocacionado.  

Tivéssemos nós efetiva preparação, efetivo estímulo, efetivo incentivo ao esporte, o Brasil conquistaria vários títulos no cenário mundial. Digo isso, porque precisamos ser conhecidos pelo que somos e temos condições de sê-lo. Fala-se que o Brasil é campeão de inflação, de corrupção. Todavia, o nosso País tem méritos. Precisamos ser campeões de qualidade de vida, e esporte é qualidade de vida, lazer, saúde, vida e deve ser incentivado pelo Poder Público.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB – GO) – Permite-me V. Ex.ª um aparte, eminente Senador Ramez Tebet?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Ouço, com muita honra, o aparte de V. Ex.ª, ilustre Senador Maguito Vilela.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB – GO) – Estou acompanhando atentamente o inteligente pronunciamento de V. Ex.ª Cumprimento-o pela lembrança de homenagear Zequinha Barbosa, que é mais do que um ídolo do povo brasileiro, é um mito do esporte brasileiro e do esporte mundial. Já participou de quatro Olimpíadas com brilhantismo. É um ídolo mundial, um patrimônio do esporte mundial e merece a homenagem desse grande conterrâneo que é V. Exª. V. Exª tem razão, precisamos de leis que criem mecanismos para o financiamento do esporte no Brasil, principalmente o esporte amador. Quero registrar que já foi sancionada pelo Presidente da República a nova Lei do Esporte. Mas fiz um apelo no sentido de que S. Ex.ª encaminhasse também ao Congresso Nacional uma lei que permitisse criar mecanismos de financiamento ao esporte mediante loterias, incentivos fiscais e outras formas de patrocínio. V. Exª tem razão, o Brasil, um país enorme, com 160 milhões de habitantes, perde nesse setor para Cuba, uma ilha pequenina. Cuba ganha muito mais medalhas de ouro, prata e bronze do que nós, porque incentiva o esporte, ajuda e apóia os desportistas. Portanto, o seu pronunciamento é histórico, não só como homenagem a Zequinha Barbosa, mas também como apelo à Nação para que veja o esporte com os olhos de V. Exª. O esporte, além de tudo o que V. Ex.ª disse – o esporte é saúde, é vida, é amizade, é confraternização -, divulga o Brasil no mundo inteiro e serve como combate às drogas. Quem pratica esporte não usa drogas. Quem pratica esporte não tem o vício do cigarro ou da bebida, pois são hábitos totalmente incompatíveis com o esporte. Então, congratulo-o pelo discurso histórico que faz nesta Casa, eminente Senador Ramez Tebet! Meus cumprimentos!  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Senador Maguito Vilela, agradeço a solidariedade de V. Ex.ª e aproveito a oportunidade para externar-lhe os meus cumprimentos pelo seu grande empenho na lei hoje sancionada pelo Presidente da República. Ouvi o seu pronunciamento e o seu apelo. O Poder Público tem condições de estimular o esporte. As loterias esportivas, por exemplo, deveriam ser explicadas convenientemente pelo Governo para serem mais transparentes. Não estou absolutamente fazendo acusações. Mas deveria haver clareza quanto às lotos, loterias esportivas e outros jogos. A maioria do povo participa disso e não sabe para onde vão os recursos. Não estou fazendo nenhuma acusação, em absoluto. Só que não existe transparência. O povo não sabe. A que modalidade esportiva estão dirigidos os recursos? O Governo está dando estímulos a qual nadador brasileiro? A qual atleta brasileiro de 800 metros? Quem vai suceder Zequinha Barbosa?  

Por certo, milhares de brasileiros, desde que estimulados, têm condições de suceder Zequinha Barbosa no campo esportivo e no modelo de vida que ele leva. Conheci não só conheci Zequinha Barbosa, mas também sua família. Ele passou fome, foi criado na pobreza e nunca esqueceu suas origens. Os títulos que ele obteve nunca lhe subiram à cabeça. Portanto, é um exemplo de homem e de chefe de família.  

É muito bom aproveitarmos esta oportunidade para realmente buscarmos recursos para que essas modalidades esportivas do Brasil sejam estimuladas e o Brasil possa conquistar medalhas de ouro. Como disse muito bem V. Exª, nada projeta mais um país hoje que seus esportistas e os títulos obtidos por eles.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – V. Exª me permite um aparte?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) – Com muito prazer, Senador Eduardo Suplicy.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Senador Ramez Tebet, quero também me congratular com V. Exª por estar aqui homenageando o extraordinário atleta brasileiro Zequinha Barbosa, um exemplo e uma grande luz para os brasileiros que agora se preparam para as Olimpíadas de Sidney e que serão acompanhados por todos nós em sua tentativa de trazer medalhas para o Brasil. Permita-me, Senador Ramez Tebet, em meio ao seu pronunciamento, registrar a presença da Srª Aleida Guevara March, filha de Ernesto Che Guevara, um extraordinário homem que marcou a vida da América Latina e de todos os povos por seu ideal, por sua inquebrantável fibra. Trata-se de um homem que, nascido na Argentina, resolveu ser cidadão da América Latina; mais do que isso, resolveu estar solidário aos povos da África, da Ásia e da América Latina para a construção de um mundo onde as pessoas pudessem ser efetivamente mais iguais. A sua filha está em nosso país a convite do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, para participar de um congresso que se realizará esta semana em Brasília. Hoje, às vinte horas, a Srª Aleida Guevara March, uma médica exemplar, será homenageada pelo trabalho que desenvolve e dedica junto às crianças do seu país, Cuba. É interessante observar que ela resolveu adotar a nacionalidade do país que seu pai ajudou a construir - sendo ele participante emérito da Revolução Cubana – e hoje está inteiramente integrada a essa Revolução. Há pouco, perguntei-lhe como avaliava o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e ela demonstrou saber que muitos dos Senadores, inclusive o Senador Ramez Tebet, preocupam-se com o MST e com as suas ações. Ela percebe e reconhece justiça nas ações desse Movimento. Entretanto, o Senador Ramez Tebet, como outros, é um dos Senadores que sempre se pergunta aonde vai, o que quer e o que fará o MST. E a Srª Aleida Guevara March transmitia-me que avalia o MST como um movimento que traz extraordinária esperança, sendo de grande importância para o Brasil e para os povos que lutam por justiça. Portanto, em meio à homenagem que V. Exª presta ao extraordinário atleta Zequinha Barbosa, permita-me fazer o registro da presença da Srª Aleida Guevara March na tribuna do Senado, em virtude da relevância de sua visita. Muito obrigado, Senador Ramez Tebet.  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Senador Eduardo Suplicy, V. Exª não precisava pedir permissão, porque, afinal, o meu pronunciamento destina-se ao incentivo de pessoas que têm ideais e que perseguem um objetivo, como fez Zequinha Barbosa, cujo propósito era ser campeão. Nas pistas de atletismo, ele foi um homem que honrou o nome do nosso querido País.  

Sei que V. Exª também se associa às homenagens que modestamente presto ao meu conterrâneo, esse grande brasileiro chamado Zequinha Barbosa, que é um exemplo de vida. Trata-se de um homem que, como disse, vem de origem a mais humilde possível e que buscou um objetivo. Há inclusive uma coincidência, Senador Eduardo Suplicy: antecipei-me a V. Exª não da Tribuna do Senado. Se a Drª. Aleida Guevara March se recorda, encontramo-nos ontem de manhã numa emissora de rádio. Na capital do meu Estado, isto é, em Campo Grande, ela dava uma entrevista na qual tive o prazer de sucedê-la, ocasião em que pude saudar a sua presença no Mato Grosso do Sul, assim como V. Exª saúda a presença dela aqui, no Senado da República, porque devemos realmente fazer o apanágio daqueles que têm ideal, daqueles que lutam por um objetivo. Quero aproveitar a oportunidade, já que V. Ex.ª falou: " en passant o Senador Ramez Tebet". Não, não é assim, não. Não é en passant , não. Com toda a certeza, defendo uma reforma agrária, não defendo reforma agrária de passagem. Já à época em que era estudante eu defendia uma reforma agrária justa, humana; quero uma política realmente de desenvolvimento no campo para este País, e isso não existe.  

Apenas sou contra a violência; isso não aceito. Não aceito violência nos campos de esporte, não aceito violência nas praças públicas. Aceito movimentos. Movimentos que busquem o seu objetivo, que busquem conscientizar, esses eu aceito, ou seja, movimentos pacíficos, movimentos ordeiros, como tenho certeza de que será essa reunião que o MST realizará aqui. Seja do MST, seja de qualquer movimento, onde houver violência, onde houver atentado à ordem pública, aí, Senador Eduardo Suplicy, eu realmente me coloco contra, como V. Ex.ª também se coloca. Queremos paz, queremos ordem, queremos justiça social, queremos evitar os desequilíbrios sociais que existem neste País, e, com toda a certeza, a reforma agrária é um caminho.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Concede-me V. Ex.ª um aparte?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) – Pois não, Excelência.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Permita-me apenas transmitir que a minha palavra é também a palavra da Senadora Heloísa Helena, do Senador Tião Viana, porque todos aqui gostaríamos de fazer o mesmo registro. A "filha do vento", Senadora Heloísa Helena, que, ao entrar no seu gabinete, atrás, pode-se deparar com o mapa da América Latina e com o vulto de Che Guevara. Assim, a minha Líder tem maior autoridade para falar de Che Guevara do que eu.  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS) – Agradeço à Senadora Heloísa Helena a gentileza de ter permutado o seu tempo com o meu, para que eu pudesse estar aqui falando e extravasando o meu sentimento.

 

Estou falando de esporte, mas tenho certeza de que estou falando de Brasil. Tenho certeza de que ao falar em nossa nacionalidade, em Zequinha Barbosa, em esporte, o faço em relação à confraternização, à amizade e à solidariedade entre os povos. Nada mais une os povos, as pessoas que a prática esportiva.  

Felizmente, nós, os brasileiros, cultivamos esse sentimento. Se há uma coisa gostosa que existe é ouvirmos o estrangeiro dizer "o brasileiro é um povo hospitaleiro, solidário, que quer bem a todo mundo". É a nossa vocação pacifista, de fraternidade e de solidariedade - que existe entre os brasileiros de todos os quadrantes deste país - que nos anima.  

Volto a dizer aos Colegas, ao Senado e àqueles que me ouvem, às autoridades federais, falando em Zequinha Barbosa, aproveitei a oportunidade para defender um maior estímulo e incentivo ao esporte no País.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2000 - Página 16351