Discurso durante a 110ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a soberania brasileira na Amazônia diante da guerrilha e tráfico de drogas na Colômbia e a intervenção dos Estados Unidos da América.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. SOBERANIA NACIONAL.:
  • Preocupação com a soberania brasileira na Amazônia diante da guerrilha e tráfico de drogas na Colômbia e a intervenção dos Estados Unidos da América.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2000 - Página 17577
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ACORDO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COLOMBIA, COMBATE, TRAFICO, DROGA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PERDA, CONTROLE, GOVERNO, AUTORIDADE, CRIME ORGANIZADO, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, CONFLITO, AMBITO INTERNACIONAL, FLORESTA AMAZONICA.
  • CRITICA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), TENTATIVA, DEMARCAÇÃO, TERRAS INDIGENAS, TRIBO YANOMAMI, ENCAMPAÇÃO, FRONTEIRA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, COLOMBIA.
  • APOIO, PRESENÇA, TROPA, EXERCITO, BRASIL, FRONTEIRA, FLORESTA AMAZONICA, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em clima de apreensão total, a Colômbia espera amanhã o Presidente dos Estados Unidos, que vai assinar um acordo com aquele país, começando com a entrega de um cheque de US$1,8 bilhão, parte de uma importância muito maior, para iniciar as operações.

            Dizem os termos do acordo contra o narcotráfico: “Todos sabemos a grave situação em que vive a Colômbia”. Aliás, aquela região toda vive realmente uma situação muito difícil com as plantações de cocaína e de outras drogas e com o tráfico de entorpecentes para os Estados Unidos e para a Europa.

Na Colômbia, há um aumento de contingente dos fora-da-lei, há a criação de entidades pára-militares. Fala-se inclusive em territórios dos quais o próprio governo permite que essas entidades tenham o comando, tenham o controle, tenham autoridade. Ali, praticamente o governo não entra. Tudo isso faz com que se perceba a situação grave e difícil por que passa a Colômbia.

Por outro lado, misturado a esse problema do tráfico de entorpecentes, existe a questão da fronteira, que envolve a fixação das terras indígenas e que determina a presença de várias entidades não-governamentais que participam desse debate. Elas preocupam não pelo fato de apoiarem a fixação das terras indígenas, o que acho justo e correto, mas pela tentativa de fixação dessas regiões, Brasil, Colômbia e Venezuela juntos, quando já não se fala nas nações indígenas, nas tribos indígenas, nos povos indígenas, mas na nação ianomâmi, que se quer criar com um pedaço no Brasil, um pedaço na Venezuela e um pedaço na Colômbia. Tudo isso nos deixa apreensivos.

Os americanos argumentam no sentido de que é quase impossível, apesar de todo o esforço que fazem, evitar a entrada da droga nos Estados Unidos. Eles não argumentam que a droga é plantada e que o tráfico é mantido porque eles têm o dinheiro e pagam, a peso de ouro, por essa droga. Quer dizer, há o que vende, mas há o que compra; e só existe o que planta e vende porque existe o que compra. Se não existissem os dólares americanos, se não existissem as infinidades de grupos que interferem nesse processo, a droga colombiana não teria muito valor.

O Brasil praticamente colocou de prontidão a sua fronteira, e parece-me que outros países de lá se encontram na mesma posição. Fala-se - e os próprios norte-americanos têm medo que isso já esteja iniciando -, a exemplo de Kennedy, no final do seu governo, que o Sr. Bill Clinton estaria deixando um novo Vietnã. Porque, na verdade, misturarão os grupos de entorpecentes com as tropas chamadas nacionalistas, as questões da política interna com os grupos de narcotráfico que fornecem e patrocinam essas tropas; e, diante dessa mistura, espera-se o início de uma luta cujo fim não se sabe.

A única questão que se observa na imprensa americana está relacionada às vidas norte-americanas. “Perdemos mais de 50 mil norte-americanos no Vietnã; não podemos iniciar outra caminhada”. Aí vem a resposta de que o atual poderio americano é de tal intensidade que mata, apertando os botões em território norte-americano, sem praticamente perder um cidadão norte-americano. Vimos isso recentemente no Oriente, em que, em algumas operações, eles invadiram o centro da cidade, atingiram hospitais e tudo o mais, mas não houve uma morte de um norte-americano.

Isso nos deixa preocupados, porque ali está a Floresta Amazônica; ali está a metade do território brasileiro e não se sabe onde começa a Floresta Amazônica brasileira e termina a colombiana ou onde começa a da Venezuela e termina a peruana. São vários os países envolvidos e é fácil imaginar que, iniciada a guerrilha, os colombianos virão ao território brasileiro; e, atrás dos colombianos, virão os norte-americanos. Dessa forma, estará iniciado o conflito, a pretexto do combate ao narcotráfico.

Oito meses atrás, os norte-americanos propuseram um pacto aos países da Floresta Amazônica para que todos se unissem e enviassem pessoas para combater o narcotráfico na Colômbia. Uma união que a Argentina, o Brasil e todos os demais países rejeitaram. Mas os americanos, via Organização dos Estados Americanos, queriam que essa invasão fosse oficial, com a OEA e as tropas de toda a América. Como isso não foi aceito pelos americanos do sul, os norte-americanos, por conta própria, decidiram fazê-lo.

Agora sabemos o que a Secretária de Estado norte-americano esteve falando aqui, há quatro dias, com o Presidente Fernando Henrique. Veio comunicar que isso estava para acontecer.

Amanhã, o Presidente americano estará em território colombiano assinando o acordo, em meio à revolta e em meio ao protesto. E, a partir de depois de amanhã, começa a expectativa. Amanhã é o dia “zero” do que pode acontecer naquela região como conseqüência.

O Governo brasileiro fez bem em colocar as tropas brasileiras de prontidão naquela região. Várias vezes fui ao local e sei que é quase impossível agir-se ali. Olhando-se pelo ar aquela imensidão não se enxerga coisa alguma. Olhando-se de qualquer ângulo, não se tem a mínima idéia do que é Brasil, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru ou Panamá. Ali, o americano resolveu colocar a mão. Amanhã, inicia.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já disse, desta tribuna, que se me perguntarem qual é a maior angústia que tenho com relação ao futuro do Brasil neste novo milênio, responderei: a soberania da Amazônia, que os estrangeiros querem que fique reduzida para nós. Querem criar, naquela região, uma espécie de território da Antártida, onde cada país do mundo tem um pedaço que pode explorar.

É estranho que essas coisas estejam acontecendo com o silêncio tranqüilo do País. É verdade, justiça seja feita, que o Brasil se manifestou, mas também é verdade que o clima que vivemos é da mais absoluta serenidade. Por isso estou aqui, nesta tribuna, formulando este pronunciamento, que é mágoa, ressentimento, mas que é Pátria e patriotismo.

Tenho a convicção, pelo que vi das notícias e iniciados os acontecimentos, de que, no momento em que interferirem no território brasileiro, haverá uma exigência unânime do nosso povo no sentido de respeito a nossa soberania.

Que pena, Sr. Presidente, que, mais uma vez, um presidente americano, às vésperas de encerrar o seu mandato, repita o que outro já fez e deixe a sociedade num clima de terror e numa expectativa imprevisível! Só que, desta vez, nós podemos ser as vítimas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2000 - Página 17577