Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de posse de S.Exa. no mandato de Senador pela representação do Estado do Acre.

Autor
Júlio Eduardo (PV - Partido Verde/AC)
Nome completo: Júlio Eduardo Gomes Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Discurso de posse de S.Exa. no mandato de Senador pela representação do Estado do Acre.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2000 - Página 20303
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, COMPROMISSO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, OPORTUNIDADE, POSSE, SENADO, SUBSTITUIÇÃO, MARINA SILVA, SENADOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JULIO EDUARDO (Bloco/PV - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, demais Parlamentares, autoridades presentes, querida família, com a minha posse hoje, novamente o pequeno Estado do Acre chega a esta Casa e, pela primeira vez, com o Partido Verde. Este é o motivo inicial pelo qual me alegra este momento: estar aqui representando um partido de sonhos, de ousadias, um partido que nasceu para lutar pelas pessoas e pela natureza, por um mundo melhor, mais generoso, mais civilizado.

Mas não se esgota aí a minha alegria. Sei - e sinto que os senhores e as senhoras compartilham comigo essa convicção - que é tarefa muito especial, comovente mesmo, substituir a Senadora Marina Silva, que orgulha o nosso Estado com uma atuação parlamentar, social, intelectual, humana, ética, que, no mínimo, deve ser qualificada como brilhante. E assim é reconhecida no Acre, no País e no mundo - já posso sentir isso nesta Casa, entre os parlamentares dos diferentes partidos.

Vivo há anos a particular satisfação de ser o seu suplente. E assumo hoje o compromisso de dar continuidade às ações do seu mandato não apenas pelo respeito e apreço que lhe tenho, mas porque somos convergentes em idéias e objetivos políticos e sociais ligados à causa ambiental e aos direitos humanos. O retorno da Senadora a esta Casa será rápido, como uma seringueira de energias renovadas e seiva enriquecida. Tenham certeza, porém, de que estarei empenhado, com o melhor de minha capacidade, em merecer o exercício temporário deste mandato que, acima de tudo, é delegação da sociedade e dever de cidadania.

Quero expor o contexto da minha suplência, pois isso faz parte de um processo de convergência de forças com o objetivo de tirar o Acre das mãos do tradicionalismo político, sob cujas asas criou um dos esquemas mais perversos e truculentos de utilização de mandatos públicos para objetivos anti-sociais que se tem notícia no País e que deu ao Acre uma triste fama. Mas, ao mesmo tempo, a parte sadia da comunidade ia reagindo e buscando alianças para ações em todos os campos capazes de mostrar ao Brasil que o Acre realmente é: uma fronteira, sim, mas de oportunidades, de criação de novos modelos de desenvolvimento socialmente justos e ambientalmente sustentáveis.

O Acre, com a sua história peculiar, na qual tem grande peso o fato de ter lutado para pertencer ao Brasil, é hoje um laboratório do novo, uma sinalização positiva para um futuro de convivência produtiva e equilibrada entre os seres humanos e a natureza. Daí o slogan do atual governo estadual - Governo da Floresta - não ser entendido por nós apenas como uma feliz logomarca do mandato de Jorge Viana ou do PT. É um símbolo daquilo que nos é essencial, é o reconhecimento de que a nossa magnífica floresta é referência de vida, de produtividade. É a riqueza de onde tiraremos, respeitando-a obviamente, condições melhores de crescimento e bem-estar para nossa gente.

Esse sentimento ultrapassa pessoas e partidos e esteve muito presente na constituição, no início dos anos 90, da Frente Popular do Acre, onde se decidiu a suplência do Partido Verde no mandato da Senadora Marina Silva. A Frente materializa uma proposta coerente e consistente para reformular a prática política e um projeto de desenvolvimento inteligente para o nosso Estado. Os "meninos do PT", como jocosamente tentaram rotular os membros dos partidos progressistas constituintes dessa frente, conseguiram, de forma engajada e criativa, levar adiante um movimento irreversível que, apesar das dificuldades, vai mostrando ao povo acreano que uma sociedade melhor começa pelo respeito ao bem público e pelo exercício participativo e compartilhado do poder.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. JULIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Pois não. Ouço o aparte de V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Nobre Senador Tião Viana, como o nobre Senador Julio Eduardo está usando a palavra para uma comunicação pessoal, a Presidência lamenta informar que, neste caso, não é permitido aparte.

Nobre Senador Julio Eduardo, V. Exª continua com a palavra.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Pois não, Sr. Presidente.

O SR. JULIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Nobre Senador Tião Viana, agradeço a V. Exª pela intenção.

Continuando, como todo o movimento inovador, a Frente Popular vive comemorações e momentos de reavaliação do caminho. Nossa luta, contudo, é para que isso sempre aconteça de forma transparente, coesa e respeitosa, abrindo-se cada vez mais para a pluralidade cultural, espiritual e intelectual, pois esse é o fermento que fará crescer o sonho que alimenta todos nós e que me traz aqui, como parte dele, com a responsabilidade de representá-lo e honrá-lo.

O Partido Verde, o Partido dos Trabalhadores e outros importantes parceiros participam desse processo desde o seu início. Aproveito a oportunidade para agradecer ao PT a fundamental ajuda e orientação, à época, para a legalização do PV no Acre. Hoje, o nosso Partido ganha um novo alento, uma vez que cresceu nas últimas eleições. Elegemos 13 prefeitos e 315 vereadores. Triplicamos o número de votos das eleições anteriores. Isso significa que estamos crescendo na exata medida em que conseguimos tornar real, nos municípios, parte do que estamos sonhando para o nosso País. E antes que nos chamem de sonhadores, esses votos que milhares de pessoas nos confiaram confirmam a tese de Raul Seixas, segundo a qual “sonho que se sonha só é só um sonho. Mas sonho que se sonha junto é realidade”.

Aqui, no Congresso, espero contribuir para consolidar esse crescimento, com a divulgação de nossas bandeiras e programas. Vibramos também com a ampliação da Frente Popular no Acre, evidenciada pela conquista de quase metade das prefeituras no Estado. A maior votação de um candidato dessa Frente, na história acreana, foi conseguida em Rio Branco pelo Professor Raimundo Angelim, que, com isso, se firma como mais uma liderança importante na implementação dos nossos objetivos políticos, culturais e sociais, mesmo não tendo sido eleito prefeito por uma pequena margem de votos.

Quero expressar, finalmente, a minha emoção de estar no Congresso Nacional, instituição que me infunde admiração e respeito pelo papel fundamental sempre exercido na história do País e, principalmente, porque é, por excelência, a Casa da democracia e porque é aqui que o Brasil fala abertamente, debate e se expõe, aqui circulam, à luz do dia, idéias, conflitos, projetos, iniqüidades e grandezas. Neste Plenário não vejo Brasília, não vejo a ilha da fantasia de que tanto falam. Vejo o Brasil, com suas limitações e sonhos, lutando com muito empenho para crescer. Vejo também a sociedade, que nos colocou aqui e deve comprometer-se mais com nossa atuação, cobrando, fiscalizando, vindo até aqui, chegando ao cerne da representação política que ainda é a via mais eficaz para a tomada de decisões em uma democracia. Como tem dito a Senadora Marina Silva, representar não é substituir. Os dilemas contemporâneos da democracia representativa devem ser debatidos com mais participação, com mais democracia. Uma democracia no dia-a-dia que não se limita às eleições. Que cria e aperfeiçoa os seus instrumentos, as suas instituições. Que se radicaliza para a esfera econômica, cultural, social e ambiental.

Quero afirmar minha satisfação pessoal e política de estar aqui e conviver com tantas personalidades relevantes para a vida pública brasileira. Não posso deixar de registrar o prazer vivido há dois dias, ao assistir ao discurso da Senadora Marina Silva sobre o tema da pobreza. Não posso deixar também de testemunhar os elogios por ela recebidos do ilustre e admirado Senador Pedro Simon e do ilustríssimo Sr. Presidente do Senado, Senador Antonio Carlos Magalhães, a quem, na pessoa do Senador Carlos Patrocínio, agradeço pela recepção nesta Casa, de maneira extensiva a todas as Srªs e Srs. Senadores, bem como aos funcionários.

Agradeço a atenção de todos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

(Palmas)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2000 - Página 20303