Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contribuição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, através da Revista do Patrimônio, para a arte e a cultura populares.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Contribuição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, através da Revista do Patrimônio, para a arte e a cultura populares.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2000 - Página 20362
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PUBLICAÇÃO, INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN), PERIODICO, REVISTA DO PATRIMONIO, CONTRIBUIÇÃO, PRESERVAÇÃO, VALORIZAÇÃO, ARTES, CULTURA, FOLCLORE, BRASIL.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio que nossa missão política, na maior parte das vezes concentrada nas preocupações econômicas, deixa de lado uma das questões fundamentais para a nacionalidade brasileira: a nossa cultura. E não me refiro à dita cultura acadêmica e à cultura erudita, que estas sabem se defender melhor e ocupar espaço. Refiro-me, especialmente, à chamada “cultura popular”, ou seja, às manifestações musicais, literárias e de artes visuais nascidas do povo mais simples.

E quero distinguir essas manifestações populares daquelas apropriadas pela mídia, mais calcadas no interesse comercial do que na valorização do povo. Estou falando, pois, em defesa das manifestações como Folia do Divino, Catira, Maracatu, Literatura de Cordel. Isso porque, graças a Deus, o nosso samba tem obtido grande espaço nas rádios e na televisão, ganhando um espaço considerável em relação à música estrangeira.

Garanto que não é desprezível o papel dessa chamada cultura popular, quando se trata de elevar a auto-estima de um povo, quando se trata de construir a nossa “brasilidade” e mesmo quando se trata de projetar a nossa imagem para o exterior.

Nesse sentido, Senhoras e Senhores, venho hoje render minhas homenagens ao IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A edição nº 28 da Revista do Patrimônio é totalmente dedicada à arte e à cultura popular. Com 14 ensaios sobre cultura e arte popular, traça o papel que estas têm no conjunto do patrimônio artístico nacional.

Autores e pesquisadores como Luís da Câmara Cascudo, Sílvio Romero e Mário de Andrade são relembrados como referência de estudiosos que se dedicaram à cultura popular, com o objetivo de registrar hábitos, costumes e a imensa riqueza contidas nessas manifestações aparentemente isoladas no interior do País. Alguns dos trabalhos desses pioneiros só estão sendo compreendidos hoje.

E não é de hoje que intelectuais buscam nas raízes da cultura popular os elementos para a construção da nacionalidade ou mesmo a fonte para a renovação das artes. Um exemplo fortíssimo é o de José de Alencar em seu esforço hercúleo para consolidar uma literatura nacional como uma “língua nacional brasileira”, com características próprias. Em seus livros, mesmo que possam ser considerados “mitificadores”, ele traça um passado brasileiro em que o elemento indígena e os costumes regionais passam a ter lugar, ao contrário das visões eurocentristas que buscavam apagar da memória do Brasil oficial a presença e a cultura dos povos que participaram de sua formação.

Em um dos textos da Revista do Patrimônio, por exemplo, intitulado “Memórias do Divino”, são analisadas as representações da identidade nacional a partir dos registros das comemorações da festa do Divino Espírito Santo no Rio de Janeiro do início do século XIX.

Em outra parte da revista está registrada a importância das coleções e dos colecionadores para a preservação da memória da cultura popular. Nessa parte é reconstituída a trajetória de instituições que contribuem para preservar as expressões folclóricas nacionais. Ficamos sabendo como uma figura como a de Mestre Vitalino, de Caruaru, foi descoberto e passou a ser valorizado nos meios intelectualizados.

A revista traça uma trajetória do modo como a cultura popular vem sendo encarada pelas instituições oficiais ao longo deste século. Em 1930, por exemplo, as manifestações populares de arte eram vistas com certa timidez; mas no período de 1970-1980, tais manifestações são aproveitadas para a afirmação do caráter nacional brasileiro. Nesse último período, além de se fazer um mapeamento do artesanato brasileiro, iniciou-se uma preocupação com o mercado.

Enfim, a Revista do Patrimônio traz um belíssimo retrato da cultura e da arte populares brasileiras. E meu entusiasmo com este tema vai além do aspecto cultural, em si. Estou interessado na significação política da valorização das manifestações culturais. E creio que a publicação do IPHAN tem esse mérito: contribuir para a maior participação das manifestações populares de cultura no cenário nacional. E, com isso, valorizar o nosso povo perante outras culturas que têm acesso aos meios de comunicação e acabam se sobrepondo às nossas manifestações mais autênticas.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2000 - Página 20362