Discurso durante a 173ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de despedida para assumir a Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro.

Autor
Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Discurso de despedida para assumir a Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro.
Aparteantes
Ademir Andrade, Agnelo Alves, Alberto Silva, Alvaro Dias, Antero Paes de Barros, Arlindo Porto, Bernardo Cabral, Carlos Patrocínio, Carlos Wilson, Djalma Bessa, Eduardo Suplicy, Geraldo Melo, Gilberto Mestrinho, Hugo Napoleão, Iris Rezende, Jefferson Peres, José Agripino, José Alencar, José Eduardo Dutra, José Fogaça, José Jorge, José Roberto Arruda, Juvêncio da Fonseca, Lauro Campos, Luiz Otavio, Lúcio Alcântara, Lúdio Coelho, Osmar Dias, Paulo Hartung, Pedro Piva, Pedro Simon, Renan Calheiros, Ricardo Santos, Roberto Freire, Roberto Saturnino, Romero Jucá, Sebastião Bala Rocha, Sérgio Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2000 - Página 24996
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • DESPEDIDA, ORADOR, SENADO, MOTIVO, POSSE, SECRETARIA DE ESTADO, CULTURA, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, CONGRESSO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna para algo em relação ao qual não me sinto preparado: despedir-me desta Casa, na qual, ao longo de seis anos, pude ter a alegria de uma convivência rica, a ampliação de uma experiência pessoal e a continuação de um trabalho parlamentar que completa quatorze anos em Brasília - dois períodos como Deputado Federal e seis anos como Senador.

            Confesso-me despreparado para me despedir. No ser humano há sempre essa contradição entre a perda e, ao mesmo tempo, a expectativa. Fiz um esforço interno de, aos sessenta e cinco anos de idade, abrir uma página nova na minha vida, deixando a convivência deste Senado e aceitando o encargo da Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro, tendo em vista o fato de ser essa a minha cidade natal e de o Rio ser uma expressão cultural de muita força, de muito significado, exportador e criador de uma cultura sui generis, interessante, sobretudo a popular.

            Fui, inclusive, desaconselhado por alguns amigos de deixar a mais elevada Corte Legislativa do País por um trabalho de natureza local, mas considero que os desafios de abertura de caminhos devem estar presentes em nossas vidas e os aceitei, embora, ao fazê-lo, não adivinhasse que, quando alguém está por se despedir de algo, tudo o que lateja no lugar de onde se despede começa a ganhar cada vez mais força: ganham mais força a representatividade do Senado, a amizade dos Senadores e a importância desta Casa. Sobre isso gostaria de dar uma palavra.

            Coube-me viver, em quatorze anos de Brasília, um período da vida brasileira que considero absolutamente magno: o da redemocratização. Esse é o período em que o Parlamento brasileiro mais foi atacado implacavelmente e em que fez - olhando prospectivamente esses quatorze anos, posso dizê-lo - um labor da mais alta qualidade. É o período em que se fez a Constituição de 1988. Tive a oportunidade de ser Relator de capítulos da Constituição, indicado pelo então Líder Mário Covas, e vivi momentos inesquecíveis do sentimento de reconstituição democrática que a Constituição trouxe para o País.

            É verdade que a Constituição tem pontos que ficaram antigos em relação ao avanço da economia sobretudo, os quais estão sendo e foram objeto de reforma aqui. Mas pensemos: e os direitos individuais? E os direitos coletivos? E a ordem institucional do País? E o capítulo de educação? E o capítulo de saúde? E o capítulo dos direitos humanos? Quanta coisa a Constituição brasileira trouxe que está a permitir a estabilidade democrática, dentro da qual há - nessa História brasileira que, desde 1927 até hoje, permitiu a apenas três Presidentes civis chegarem ao fim do mandato - a contrapartida de uma solidez que aprofunda o sentimento democrático, diga-se de passagem com muitos débitos à atitude, na Presidência da República, de José Sarney, de Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso, os três fundamentais mantenedores, na sua ação, dessa estrutura democrática dentro da qual o País trabalha!

            Esse foi um período de grandes leis básicas para o País. Participei de algumas delas, como, por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Tive oportunidade de trabalhar nela por anos, na Câmara, e de concluí-la aqui, sob o comando de Darcy Ribeiro. Trata-se de uma lei fundamental para a educação brasileira.

            Outros exemplos são o Código do Menor e do Adolescente, um documento novíssimo, exemplar, que retira do Estado a ação repressiva e começa a reconhecer os direitos do menor e do adolescente, e a primeira Lei de Informática - não a atual, também tão importante, em que o então Deputado Paulo Hartung muito trabalhou -, que abriu os caminhos da informática brasileira, os quais estavam fechados em nome de idéias, algumas das quais eu mesmo defendia. Fui obrigado, na marcha, a compreender a necessidade de sua transformação. E aí está a realidade: o período de legislações na linha dos direitos humanos absolutamente notáveis e o período da criação da Lei Antidrogas. Sinto deixá-la, eu que sou o Relator dessa matéria na Comissão de Educação do Senado. Espero que, no País, possa existir uma lei que não puna, como fazia, o usuário de drogas, que precisa de amparo e proteção, e seja muito mais dura com quem faz o trafico.

            Enfim, eu poderia ficar aqui a enumerar a quantidade de trabalho parlamentar que este País fez de 1987 até agora. Foram quatorze anos em que tive a oportunidade de viver esse período em intensidade, ainda que nem sempre demonstrando, porque guardo as minhas intensidades.

            Deixo o Senado após haver trabalhado não como uma das suas figuras de proa, não como alguém que protagoniza os acontecimentos políticos desta Casa, mas como alguém que fica nas Comissões a trabalhar essa matéria porque até a considera mais importante do que protagonizar fatos que interessam muito mais ao noticiário do que propriamente ao País.

            Repito: tive a oportunidade de ter participado desse momento. Olho este plenário: quantos de V. Exªs também participaram desse momento! Percebo o esforço que faz esta Casa e a Câmara dos Deputados. O Senado, neste ano, votou mais de quinhentas leis - o País não sabe disso -, e a Câmara, outro tanto. Tudo o que traz o Brasil para a modernidade, com os defeitos que temos como Parlamento e como País, tem sido tratado pelo Parlamento brasileiro. E eu posso dizer que tenho a honra de haver participado, embora modestamente, desse processo, sobretudo compreendendo a importância dessa transição.

            O Brasil é um País que se prepara para a modernidade. É um País que está na ante-sala da modernidade. Pessoalmente acredito que, com erros e acertos, o grande sentido do Governo Fernando Henrique Cardoso é o de ter sabido orientar o rumo do País na direção dessa modernidade, que é a que pode, de alguma maneira, levá-lo adiante.

            Portanto, Srs. Senadores, confesso-lhes que é com muita pena que deixo esta Casa. Tenho, porém, um atenuante nessa pena: o Suplente, do Rio de Janeiro, pessoa que foi escolhida por mim, é um político da mais alta qualidade. Já posso chamá-lo Senador Nilo Teixeira Campos. Está aqui presente, vou apresentá-lo depois aos Srs. Senadores. Trata-se de um homem de formação ética impecável, excelente nível cultural, político militante no Rio de Janeiro, sobretudo um grande construtor partidário. V. Exªs terão a convivência com um homem ameno, inteligente e honrado, o que é, também para mim, uma compensação feliz. Com ele nunca fiz nenhum acordo político; nem ele é poderoso, tampouco parente. Ele é um homem de bem, que vai honrar esta cadeira, levar adiante esse trabalho de alguns anos.

            Dediquei-me, digo, procurei dedicar a minha vida Parlamentar a leis que, para mim, foram fundamentais na área em que trabalho. Trabalhei direta e profundamente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação; trabalhei, de alguma forma, na lei que criou Código do Consumidor ainda na Câmara Federal, documento que está em plena vigência na vida brasileira, com força; trabalhei na antiga Lei de Informática, no Estatuto da Criança e do Adolescente, aqui igualmente nesta Casa. Estou, portanto, emocionado e repleto de esperanças no que vou fazer.

            Tenho desta Casa o mais elevado dos conceitos. É uma Casa de sabedoria. É uma Casa de saber. É uma Casa de serenidade. E espero que ela continue nesse caminho.

            Agradeço a cada Senador particularmente as palavras de amizade, às vezes, de incentivo, de solidariedade e de fraternidade. É fundamental quando uma Casa parlamentar vive da sua fraternidade e da fraternidade entre seus membros. Este, aliás, é um dos apelos que quero deixar aqui: o apelo para que esta Casa retorne à fraternidade. O Senado não ganhará se ficar dividido em lutas, por que não dizê-las, fratricidas. Os Senadores não ganharão com a vitória de um lado sobre o outro, com a vitória de um e o esmagamento do outro. O Senado se origina da idéia que está na raiz da palavra senatus, que tem a ver, tanto no seu lado negativo, com senectude, como no seu lado positivo, com sabedoria, convivência, experiência.

            O nosso Senado - não sei agora, mas até a última Legislatura - já teve, e deve ter por aí, 31 ex-Governadores de Estado, 16 ex-Ministros de Estado. Ora, uma Casa que tem em sua maioria homens com essa experiência é evidente que é uma Casa onde se economiza discurso. Não é uma Casa onde as pessoas estão atrás de auto-afirmação, muito natural e justificável nos primeiros momentos da vida política. Não. É a Casa de quem já se afirmou, é a Casa de quem já contribuiu, é a Casa de quem é capaz de pensar os problemas brasileiros com a serenidade necessária.

            Enfim, Srs. Senadores, quero ter uma palavra de agradecimento, como dizia, a todos.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª, com prazer.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Artur da Távola, há muitos anos, lá se vão mais de 30 anos, havia uma pessoa a quem V. Exª dedicava muita amizade. Era um cidadão que foi cassado como Deputado Estadual, e eu, cassado como Deputado Federal. Esse cidadão, a quem V. Exª dedicava muita amizade, chamava-se Paulo Monteiro de Barros. Veja V. Exª que muitos anos depois, o Deputado Federal cassado se encontra com o Deputado Artur da Távola. E, ao longo desse convívio - estou lhe aparteando para dar um depoimento à Nação.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Repito, ao longo desse convívio, pude testemunhar o quanto o Brasil lhe deve na área de educação pelo seu trabalho na Assembléia Nacional Constituinte. Depois nos encontramos no Senado Federal. E aquela convivência na Assembléia Nacional Constituinte se ampliou e se consolidou a ponto de, em uma viagem ao exterior, estarmos juntos de manhã, de tarde e de noite, varando noites, tratando de problemas culturais. Por isso, penso que V. Exª cria, com a sua ida para a Secretaria de Cultura, um duplo problema, e grave, para o Senado: V. Exª sai do Senado deixando aqui uma lacuna e criando um problema para o seu suplente. Apesar de todos já termos acatado o aval que V. Exª lhe presta por antecipação, sei que também será um problema para ele substituir V. Exª. Imagine esse seu velho amigo! Como é que posso imaginar aquela cadeira ali, ao lado esquerdo, sem a sua presença!? De qualquer sorte, lembro o que dizia d’Alembert: “Ide, e a fé vos irá alentando!” Tenho a certeza de que o alento que V. Exª dará à cultura no Rio de Janeiro - que, de todos nós, é a segunda cidade - será benéfica. Mas, aí de nós! Que saudade! E quando nos reencontrarmos não será para matar as saudades; será para juntarmos as nossas saudades. Seja feliz, Senador! Seja feliz!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª me honra. E, como disse bem V. Exª, saudade não se mata; saudade se alimenta. A convivência com V. Exª é extremamente fraterna, profunda. Temos amizade pessoal ademais. E digo isso porque a política não é o terreno da amizade; é o terreno particular próprio, que pode conter amizade, mas não é o terreno por natureza da amizade, é o terreno do confronto, é o terreno do interesse desde os mais elevados aos menos. Mas ter convivido com V. Exª, ter privado da sua amizade, saber da sua sensibilidade é para mim sempre um motivo de honra muito grande. Agradeço-lhe pelas suas palavras.

            O Sr. Jefferson Péres (Bloco/PDT - AM) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o Senador Jefferson Péres.

            O Sr. Jefferson Péres (Bloco/PDT - AM) - Senador Artur da Távola, li, há poucos dias, um artigo do Jornalista Márcio Moreira Alves, mediante o qual lamentava o fato de que tivesse praticamente desaparecido do Congresso brasileiro a boa oratória parlamentar. Creio que o Márcio não ouviu V. Exª. Dentre as boas lembranças que levarei desta Casa, certamente dentre as mais agradáveis, estão as vezes em que o ouvi nessa tribuna. V. Exª sabe fazer, com arte, a tecitura de um bom período. V. Exª sabe usar o vernáculo como poucos. Não é aquela oratória em catadupas, encachoeirada, de um Carlos Lacerda. É remansosa como um igarapé amazônico. E V. Exª consegue aliar a arte da palavra à uma cultura humanística como poucos nesta Casa. Ainda domingo passado, eu o ouvia, na TV Senado, dissertar, com rara erudição, sobre uma peça sinfônica. Por outro lado, além dessas qualidades intelectuais, V. Exª é ameno no trato. V. Exª sabe ser firme em seus pontos de vista. E demonstrou isso várias vezes. Soube defender muitas posições de seu Partido e suas convicções social-democratas. No entanto, V. Exª faz isso sem agredir. V. Exª, portanto, tem aquilo que hoje está faltando: muita urbanidade. De forma que, Senador Artur da Távola, para não me alongar mais, até porque tantos querem despedir-se de V. Exª, não direi que espero seu breve regresso, porque aí estaria querendo que V. Exª fosse despedido da Secretaria de Cultura, mas, de qualquer forma, leve a minha estima e - realmente, realmente - a minha admiração por V. Exª. Inclua-me no rol de seus amigos.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Jefferson Péres. V. Exª sabe que, diante de um homem com a franqueza que o caracteriza, com a correção e a linearidade impecáveis de seu comportamento e de sua palavra, ouvir de V. Exª tudo isso é motivo de honra, porque sei que é fruto de completa sinceridade.

            Tivemos uma convivência extremamente afetuosa, franca e leal aqui. Enfrentamos juntos algumas batalhas, ao tempo do PSDB. Tenho também de V. Exª essa excelente impressão, de seu caráter e dignidade e da seriedade com que V. Exª realiza seu mandato. V. Exª pode estar certo de que será sempre um referencial. Muito obrigado pelo aparte.

            O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo o aparte ao Senador Romero Jucá.

            O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) - Meu caro Senador Artur da Távola, todos entendemos que este é o momento de reafirmar a admiração que temos por V. Exª. Devo dizer que todos sentirão a falta de sua presença no plenário do Senado e nas Comissões. Nós, do PSDB, sentiremos mais, pois nos privaremos de seu trabalho e de seu brilho também nas reuniões de Bancada e do Partido, nas quais V. Exª tem sido uma bússola, fazendo colocações muito importantes para o momento de diversidade em que vive o Partido. Mas sei que, mesmo sentindo a sua falta, todos percebemos uma ponta de regozijo, porque o PSDB estará emprestando uma de suas maiores figuras para tentar transformar novamente o Rio de Janeiro naquela cidade cultural, humanística, cujo brilho irradiava para o País e para o mundo. Tenho certeza de que o Senado está dando uma grande contribuição ao Rio de Janeiro ao abrir mão da presença de V. Exª nesta Casa. E V. Exª realizará, tenho certeza, um grande trabalho na Cidade Maravilhosa. Temos, todos nós, que recuperar o Rio de Janeiro. Talvez a nossa maior ação não seja a alocação de recursos ou aprovação de projetos ou verbas e, sim, a cessão do Senador Artur da Távola para exercer o cargo de Secretário de Cultura do Rio de Janeiro e fazer a transformação que todos queremos. Tenha certeza de que todos estaremos torcendo e colaborando para o trabalho de V. Exª. Estaremos acompanhando, lá e aqui, o brilho que V. Exª dará à Pasta. O povo do Rio de Janeiro está de parabéns, bem como o seu Prefeito César Maia, por ter dado esse passo acertado ao escolher bem os seus auxiliares. Fica a nossa admiração, a nossa saudade, a nossa certeza e a nossa contribuição à cidade do Rio de Janeiro, ao futuro que a cidade terá, tenho certeza, com o novo Secretário de Cultura. Meus parabéns. Que V. Exª seja vitorioso em mais esta etapa de sua vida.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Romero Jucá. V. Exª, que é um Senador tão combativo, direto e firme em suas lutas, honra-me com essas palavras.

            V. Exª toca em um ponto para mim definitivo, que é o da idéia de que sem uma estrutura, uma base cultural, nenhuma nação, nenhum país, Estado ou município enfrenta a complexidade dos tempos contemporâneos. Ou seja, a cultura não ensina aquilo que o sistema deseja: adestrar pessoas para que sejam bons agentes do desenvolvimento econômico ou qualquer outro. A cultura dá o substrato necessário à compreensão do próprio tempo. Além do que a cultura, a meu juízo, é bem de primeira necessidade. Ninguém vive fora da cultura. Ninguém vive à margem de alguma forma de cultura. E cultura é toda manifestação humana que vise alguma modificação da natureza. E, portanto, qualquer dessas manifestações deve ser amparada.

            O Rio de Janeiro possui uma riqueza cultural, sobretudo a popular, inimaginável. O Rio de Janeiro legou, como os demais Estados, cada um em sua particularidade, na música popular, o choro, o samba, o carnaval, a bossa-nova. O Rio de Janeiro tem uma literatura própria, peculiar, rica. O Rio de Janeiro é um fenômeno urbano de aglutinação da vida brasileira. É, talvez, quem sabe, juntamente com Brasília, a mais brasileira das cidades, porque não é composta por quem nasceu lá e, sim, por quem lá vive ou viveu.

            Podemos ver Estados do Brasil interessantíssimos, pela sua pujança, que são profundamente estaduais, e nisso há méritos. São Paulo é muito paulista; o Rio Grande do Sul é muito gaúcho; o Ceará é muito cearense; a Amazônia inteira é muito amazonense. O Rio de Janeiro é brasileiro. Existem as características cariocas, algumas até de exportação, como a do carioca esperto, malandro. Mas lá está uma cidade de muito trabalho, de muita luta; uma cidade que chegou a seis milhões de habitantes, talvez seja a décima cidade do mundo em volume populacional. Se considerarmos o entorno do Rio de janeiro, que tem a ver com a cidade, estamos na casa dos 11,5 milhões de habitantes.

            Tudo o que aconteceu com a explosão populacional brasileira, de um país que cresceu 70 milhões de pessoas em 30 anos, evidentemente explode, espouca, sobretudo nos principais centros. É, portanto, um amálgama riquíssimo, que gera uma forma de cultura. Daí que, colaborar com ela, tem para mim um sentido profundo que V. Exª destacou com muita precisão, e eu lhe agradeço.

            O SR. RICARDO SANTOS (PSDB - ES) - Senador Artur da Távola, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Ricardo Santos, concedo o aparte a V. Exª, com muito prazer.

            O Sr. Ricardo Santos (PSDB - ES) - Senador Artur da Távola, nas homenagens prestadas a V. Exª e na oportunidade de seu discurso de despedida - gostaríamos não fosse uma despedida, mas um até breve -, quero dizer que para mim foi uma satisfação muito grande ter tido essa breve convivência com V. Exª, nesses seis meses em que estou no Senado. Conheci de perto um grande intelectual que eu conhecia pelas crônicas que V. Exª escrevia nos jornais do Rio de Janeiro. V. Exª é uma feliz associação de intelectual e artista da palavra, como disseram aqui os Senadores Bernardo Cabral e Jefferson Péres, e também um político bem-sucedido, que trouxe para a política toda a sua sensibilidade humana. V. Exª emprestou à política e à sua ação parlamentar um legado muito importante, com a sua participação na Constituinte, em temas de alta relevância para o País, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Estatuto da Criança e do Adolescente e, mais recentemente, como Relator da Lei Antidrogas. A democracia deve muito a V. Exª, portanto. Lembro aqui uma frase de sua autoria, na homenagem que fez à escritora Rachel de Queiroz: “Poucas pessoas conseguem fazer da vida o exercício do próprio ser”. V. Exª consegue fazer isso. Tenho absoluta certeza de que deve ter sido uma decisão sofrida, por mais importante que seja o Rio de Janeiro, que aliás é o grande centro cultural deste País, por mais importante que sejam suas novas funções como Secretário da Cultura daquela cidade. V. Exª conseguiu, como parlamentar, enobrecer e enaltecer o Congresso Nacional e a política brasileira.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Ricardo Santos. V. Exª me permite, com a sua fala tão precisa, abordar - faço o meu discurso de hoje por intermédio dos apartes - um dos temas centrais da vida política: como ajustar a sensibilidade individual aos rigores da ação ação política. Esse é um dos grandes desafios. Todos nós os vivemos. Quase nunca é possível que o melhor de nós apareça na ação política, ou porque estamos esmagados por uma pressão, ou porque estamos tomados por uma ambição, ou porque estamos absolutamente invadidos pelas nossas fantasias de grandeza ou de poder. Quantas vezes, na política, não podemos exercer as nossas melhores dimensões, sobretudo no trato, na maneira de conduzir as coisas? E, ao revés, quantas vezes as nossas melhores dimensões interiores entram na ação política até para massacrar algumas condições pessoais que se gostaria de manter no nível do entendimento? Quantas vezes é preciso lutar acerba e até agressivamente pelas próprias idéias? E mais: e a pressão da sociedade? E mais: e as pressões eleitorais? Somos o que somos ou o que querem que sejamos? Até que ponto sabemos enfrentar esse diário desafio ético: sermos o que somos num ambiente em que as pessoas querem que sejamos algo que desejam e não efetivamente o que somos? Como ajustar o nosso temperamento à ação política? Como viver o melhor da nossa sensibilidade em esbarrões que, muitas vezes, nada têm que ver com sensibilidade, mas apenas com interesse? Essa é uma das grandes lições da vida política que levo, que aprendi e que vou carregar para a minha modesta vida de escritor. Todos nós as vivemos diariamente, cada um resolvendo-a a seu modo.

            Veja V. Exª como se desenha, hoje, no mundo, junto à população, a questão política. A mídia cria um grande espaço virtual, ficcional, dentro do qual elementos da realidade são colocados. Esse espaço criado precisa de personagens, e, naturalmente, os políticos vão deixando, gradativamente, de ser pessoas, para serem personagens. E quanto mais personagens, mais representam um papel - não o que querem, mas o que a mídia deseja - e mais ficam aprisionados na figura do personagem que a mídia deseja que cada político seja. Em compensação, têm da mídia a resposta permanente de presença nela.

            Há políticos que não querem entrar nesse jogo. Há políticos que preferem permanecer a seu modo, pagando o preço de não ter uma notoriedade que, para muitos, é a principal razão de ser. Mas esses também são excluídos da mídia, porque não interessam ao processo; são personagens coadjuvantes ou extras, talvez, como aqueles extras que entram em cena sempre desajeitados, para servir um cafezinho aos atores principais. Até nisso temos que diariamente exercitar um trabalho de compreensão da realidade.

            V. Exª tocou em um ponto que para mim é muito caro: o de haver procurado, até hoje, ser quem sou, arcando com os benefícios e com os aspectos negativos e aparentemente pouco presentes que isso implica. Agradeço o aparte, que enriqueceu enormemente o que pretendia dizer a esse respeito.

            O Sr. Sérgio Machado (PSDB - CE) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o meu Líder, Sérgio Machado.

            O Sr. Sérgio Machado (PSDB - CE) - Meu caro amigo, Senador Artur da Távola, conheci V. Exª ainda na época do movimento estudantil, por meio de seus artigos, que nos inspiravam, naquele momento de luta, o sonho comum de este País voltar a andar no leito da democracia. V. Exª, com seus artigos, dava força e estimulava a todos nós na nossa luta. Eu era leitor dos artigos de V. Exª. Depois, tive o prazer de conviver quatro anos com V. Exª, como meu Líder, na Câmara dos Deputados, onde travamos diversas batalhas - e V. Exª, sempre com o mesmo princípio de ética, sensibilidade, amizade e sinceridade que caracteriza a sua personalidade e com aquela enorme facilidade de fazer, de maneira simples e direta, reflexões bastante profundas. No Senado, tivemos uma convivência extremamente rica, neste momento especial por que passa o País, em que o grande desafio é construir a democracia com que sonhávamos, a democracia social que todos querem - e V. Exª, com seus discursos, colocações e debates na Bancada, muitas vezes em posições divergentes, mas sempre admirando as demais posições. Para mim, foi extremamente rico esse contato, esse convívio que tivemos como parlamentares. Tenho certeza de que isso continuará, e V. Exª, como Secretário, poderá dar uma contribuição enorme à cultura do Rio de Janeiro. Vamos continuar convivendo como tucanos, sonhando, lutando naquele nosso grande objetivo de fazer essa democracia social. V. Exª sai para assumir a Secretaria, e vem o Senador Nilo Teixeira Campos, que, tenho certeza, lutará da mesma forma, será o nosso companheiro nessa batalha. Quero continuar sempre junto de V. Exª, nas nossas lutas, nos nossos sonhos, porque político com a sua sensibilidade humana, com a sua amizade é raro existir. Temos de cultivá-la com todo o carinho. Siga em frente! Siga na sua luta! Siga no seu sonho, nessa estrada de que V. Exª não abre mão! V. Exª não abre mão de seus princípios, daquilo que acredita. É isso que precisamos, cada vez mais, na política nacional.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Sérgio Machado, amigo de tantos anos.

            Quando começava a minha vida pública como Deputado, no Rio de Janeiro, tive oportunidade de conviver com o pai de Sérgio Machado, então Ministro do Governo João Goulart - eu, fogoso Deputado do antigo PTB, naquela luta. Estivemos muitas vezes juntos. Depois, tive oportunidade de conviver com Sérgio, primeiro, na campanha do Covas, em 1989, que foi memorável, depois, como Deputado, por quatro anos, e há seis anos, aqui, no Senado. V. Exª, na condição de nosso Líder, há seis anos vem sendo sempre atencioso, reunindo a Bancada e discutindo. Tenho admiração por V. Exª, sobretudo por sua acuidade política e sua permanente preocupação de levar adiante as idéias socialdemocráticas. Muito obrigado, Senador.

            O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª, Senador Paulo Hartung.

            O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - Quero fazer parte do seu discurso de despedida, registrando a profunda admiração que tenho, primeiro, pelo ser humano Artur da Távola, depois, nessa ordem, pelo político Artur da Távola. Não deve ter sido fácil essa decisão, acredito. Mas penso que ela está certa: primeiro, pelo que penso; segundo, pelo que nós dois pensamos. Ela está certa, porque não desvaloriza o Senado, algo que nunca o Senador Artur da Távola fez durante sua militância política, e também porque valoriza o que é preciso: o poder local, as cidades. Hoje, no mundo, no contexto da organização, as cidades estão tendo um papel muito relevante, ainda muito pouco percebido pelo conjunto dos políticos e até da intelectualidade. Essa é uma opção - aproveitando uma brincadeira que meu filho Gabriel freqüentemente faz comigo - politicamente correta. Há outra vertente dessa decisão, que considero muito importante: na vida, mais importante do que ter razão é ser feliz, e penso que essa decisão guarda uma relação muito forte com a felicidade, com a felicidade do homem que tem uma grande capacidade de produzir e que vai produzir muito mais do que está produzindo no presente momento lá, na cidade do Rio. Que Deus o acompanhe, lhe dê muita força, muita energia e que possamos ver a cultura do nosso País brilhando refletida na cidade que amamos, a cidade do Rio de Janeiro. Quero por último parabenizar o Prefeito César Maia, que nós, do PPS, ajudamos a eleger. Pela excelente equipe que está montando, penso que a presença de V. Exª nela o demonstra mais do que qualquer palavra que eu possa dirigir neste momento. Parabéns pela decisão.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª também me comove porque toca nos pontos sensíveis dessa decisão. Um deles, evidentemente, está ligado à felicidade do fazer. Sou uma pessoa que tem uma compreensão muito profunda da importância do parlamento, por cuja pulsação tenho paixão. Mas confesso, como pessoa, nunca tivera a oportunidade de agir no Poder Executivo e creio que isso fazia também falta na minha formação, no meu trabalho. E fazê-lo na minha cidade, na cidade onde nasci, com as características que ela possui e com a importância que a cidade passa a ter no contexto, sobretudo no contexto de um país altamente centralizado na União, como o Brasil - é uma estranha federação, com um grau de centralização na União praticamente incompreensível, sendo uma confederação de estados, ou seja, de países - traz-me imensa felicidade. Sobretudo nessa circunstância, o fortalecimento da cidade. Porque as pessoas vivem na cidade; não vivem no país. Moram na cidade, comem na cidade, morrem na cidade. Elas não moram no Brasil. Elas moram na cidade. Razão pela qual ali está o lugar da plena realização. É claro que temos aqui um plano macro de ação e legislamos no sentido do interesse geral da população. Mas de novo esse contato com a esquina, sobretudo a esquina do Rio de Janeiro, que é rica em acontecimentos, que tem sanduíche de mortadela de um lado e do outro lado torresmo na vitrine do botequim, que tem uma pessoa cantando samba, que tem churrasquinho de gato. Essa esquina onde tem sempre alguém falando de um modo alegre de coisas tristes e falando de um modo triste de coisas alegres. Isso é o que caracteriza o carioca. Essa esquina também retempera e traz essa felicidade que V. Exª, com muita felicidade, soube me atribuir. Eu lhe agradeço profundamente.

            O Sr. Lúdio Coelho (PSDB - MS) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o nosso sábio e mestre Lúdio Coelho, com muito prazer.

            O Sr. Lúdio Coelho (PSDB - MS) - Senador Artur da Távola, eu estava me perguntando o que seria melhor para a Nação: a permanência de V. Exª no Senado ou V. Exª prestar serviços ao nosso Rio de Janeiro. Senador Artur da Távola, os pronunciamentos que tem feito no plenário do Senado nos dão a impressão de que sempre fala o que está pensando. V. Exª foi um companheiro muito bom. Fiquei feliz por conhecê-lo e estou feliz também por ir prestar serviços ao nosso Rio de Janeiro. A Nação é constituída pelos Municípios, pelos Estados, pelas regiões mais cultas e pelas regiões mais primárias. É importante para a Nação que os Estados sejam bem administrados, e tenho segurança de que V. Exª prestará um serviço muito bom ao Rio de Janeiro. Felicidades a V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Lúdio Coelho. V. Exª sempre me traz algo que não pude viver na minha vida. Sou um ser urbano com enorme nostalgia de uma vida que não tive, a vida do campo, onde o homem se faz sábio, simples, vai direto aos assuntos. V. Exª, sempre já lhe disse isso na Bancada, é admirável de todos nós da Bancada do PSDB, seja também pela sua experiência de vida, é o único que em duas frases define o que às vezes levamos 20 minutos para falar e não conseguimos. De maneira que a essa sabedoria presto homenagem ao agradecer o seu aparte.

            O Sr. José Roberto Arruda (PSDB - DF) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Meu Líder.

            O Sr. José Roberto Arruda (PSDB - DF) - Senador Artur da Távola, V. Exª, nas suas falas aqui no Senado Federal, sempre prendia a atenção do Plenário e nunca ou raramente alguém ousava aparteá-lo. Hoje, o Senador Antero Paes de Barros entrava aqui no plenário e me perguntava o que estava acontecendo, porque todos os Senadores presentes estavam com os seus microfones levantados no desejo de aparteá-lo. Nos dois momentos, quando falou por todos esses anos e hoje no gesto de despedida, a sua presença na tribuna representa unanimidade. Unanimidade no respeito que V. Exª tem de todos nós, unanimidade na admiração que todos temos por V. Exª. E se é despedida e se é que é possível adjetivar a despedida, despedida provisória, gostaria de agradecê-lo. Primeiro agradecer ao Paulo Alberto, meu amigo, pela convivência, fraterna, sincera, leal; agradecer ao Presidente do PSDB Nacional, que me resgatou de volta aos quadros do Partido, numa operação cirúrgica, sem anestesia e sem dor, só possível graças a sua habilidade política; agradecer ao Senador Paulo Alberto e ao Senador Artur da Távola, o único de nós todos que é dois, que consegue nos alimentar de sabedoria política da tribuna e nos brindar, nas nossas horas de folga, com os programas de música clássica e de música popular, que fazem com que a TV Senado e a Rádio Senado sejam muito mais ouvidas do que se reproduzissem apenas os temas muitas vezes áridos das discussões políticas desta Casa. Finalmente, meu caro Senador Artur da Távola, quando ouvi o aparte do Senador Romero Jucá, que traduziu o que nós todos pensamos, que a melhor forma que temos de contribuir com o Rio de Janeiro, é emprestá-lo àquela cidade, me deu vontade, aqui, de dizer, eu que sou um defensor apaixonado de Brasília, como Capital do País, eu que tenho defendido, com tanta intransigência, que todos os órgãos da Administração Pública Federal estejam em Brasília, devo dizer aqui, neste momento, não apenas como gesto, mas como tradução da minha convicção, que há algo que o Rio de Janeiro é e será sempre, que é a Capital Cultural do Brasil. Por questões históricas, pela diversidade e formação do seu povo, a Capital Cultural do Brasil merecia ter, na Secretaria de Cultura, não um Secretário, mas um Ministro. A Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro tem essa representatividade nacional, porque é lá o grande berço da cultura nacional e, mais do que isso, é lá que se reproduzem todas as manifestações culturais e é de lá que se faz eco a todas as manifestações culturais brasileiras. Portanto, o Rio de Janeiro é que está de parabéns. Nós, no Senado, estamos um pouco tristes, vamos vê-lo um pouco mais ao longe, mas temos que cumprimentar a cidade do Rio de Janeiro por tê-lo, integralmente, de volta - se é possível dizer de volta, porque V. Exª nunca deixou o Rio. Tê-lo como Secretário de Cultura da cidade do Rio de Janeiro é um privilégio para todos nós brasileiros.

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Senador Artur da Távola, preliminarmente, quero dizer que V. Exª terá o tempo necessário para ouvir todos os aparteantes. Agora, eu pediria aos aparteantes que fizessem os seus apartes no menor tempo possível, levando em conta a Ordem do Dia. Isso, entretanto, não é para tolher os apartes; todos poderão prestar essa homenagem, que também quero prestar, ao Senador Artur da Távola. Peço, apenas, mais concisão nos apartes, porque isso sei que é muito fácil para os Senadores.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Obrigado, Presidente. Como V. Exª sabe, o Rio de Janeiro é a capital mundial da transgressão, e é possível que eu esteja a provocar aqui a “desordem do dia”, o que é bem carioca, embora pouco parlamentar. E agradeço a V. Exª a boa orientação.

            Senador Arruda, agradeço enormemente as suas palavras. Pena que não exista no Parlamento um prêmio de revelação, porque este seria de V. Exª. Em 6 anos de ação política, V. Exª já ocupou um espaço com enorme brilhantismo, com mais ou menos 17 celulares ao mesmo tempo e 4 ou 5 cambones ao seu lado. Conseguiu ocupar todos os espaços políticos e conversar com toda a imprensa brasileira, dar todos os recados, fazer política em Brasília, ser simpático com todos nós e comandar as votações aqui. Desse modo, saiba que V. Exª é o prêmio revelação de político.

            V. Exª esteve presente no começo do PSDB. Tenho certeza de que, quando ajudei a sua volta, de alguma maneira, e quando pude indicar o seu nome para a Comissão Executiva do Partido, acertei em cheio, porque V. Exª preenche os 17 celulares com absoluta precisão e com uma eficácia que faz inveja a nós todos.

            Muito obrigado.

            O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª com prazer, Senador Antero Paes de Barros.

            O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Artur da Távola, eu gostaria de manifestar a alegria da nossa convivência na Bancada do PSDB, nas reuniões do PSDB e aqui no plenário do Senado. Deixo publicamente um registro. Não sei se há alguma aferição do nível da audiência da TV Senado, mas, com certeza, os nossos familiares que não moram aqui assistem bastante à TV Senado. Não foram poucas as vezes - sempre que V. Exª usa a tribuna, o meu filho Ranufo, que é dos meninos o mais velho, me liga e diz: “Pai, o Senador Artur é o melhor Senador”.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Isso é porque ele não conhece vários outros.

            O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Eu sempre digo para ele das lições e dos ensinamentos que recebemos também diariamente, não apenas no plenário e nas comissões, mas na nossa convivência no PSDB. Todos nós cidadãos brasileiros - sou mato-grossense - somos um pouco cariocas. Todos nós amamos o Rio de Janeiro. O Rio é a “Cidade Maravilhosa” de todos nós. Deixou de ser a Capital, mas não saiu do coração dos brasileiros. Então, pelo Rio, ficamos felizes, e fico até me interrogando: fico feliz pelo Rio; fico feliz pela consideração que o Prefeito eleito do Rio teve; fico feliz por perceber a visão do Prefeito do Rio de Janeiro, que foi meu colega, Deputado Federal Constituinte, mas não posso deixar de ser sincero neste momento. Fico triste por outros não terem percebido que V. Exª teria missões tão importantes ou maiores que essa em nível nacional. Não tenho dúvida em dizer que V. Exª é um dos maiores nomes da cultura brasileira, um dos mais capacitados Parlamentares deste País e uma pessoa que tem a ética como propósito da atividade pública. Parabéns a V. Exª. Tenho certeza de que é apenas um até logo. Parabéns ao Rio de Janeiro.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. Honrado com as palavras de V. Exª, infelizmente sem concordar apenas com um conceito de V. Exª: o de que eu sou um dos maiores nomes da cultura brasileira. Eu sou apenas um autodidata atrevido, inteiramente diferente de alguém que tem uma formação cultural mais profunda. No mais, tenho procurado realizar isso que V. Exª fala e, sobretudo, também a mesma idéia que está sendo comum na fala dos Senadores, da importância da cidade.

            Há uma máxima na História da Arte muito conhecida: “pinta a tua aldeia e serás universal”. Quantos autores querem ser universais, e, às vezes, basta pintar a própria aldeia que a universalidade chega. Assim se deu com grandes pintores, com grandes compositores e escritores. Nenhum de nós está desligado da sua aldeia, seja ela uma grande ou pequena cidade. É impossível.

            Tomemos aqui o caso do nosso Presidente Antonio Carlos Magalhães. Não existe um político mais nacional que Antonio Carlos Magalhães, no sentido da sua ação. Agora, mexam na Bahia para ver se a aldeia não vem para o primeiro plano.

            Nós todos somos a nossa aldeia, razão pela qual eu, concordando com V. Exª, também vou para a minha aldeia, fazer o que eu posso lá.

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Artur da Távola?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço, com prazer, V. Exª.

            O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Meu caro Senador e amigo Artur da Távola, em primeiro lugar, congratulo-me com essa sua nova função, desejando boa sorte. V. Exª realmente é um Senador diferenciado dos demais. Nós temos aqui no Senado muitos políticos experientes, competentes e com anos de vida pública. No entanto, todos nós aqui, que temos de tratar diariamente de questões do dia-a-dia, cada vez problemas diferentes, vamos perdendo, de certa forma, a capacidade de teorizar sobre os assuntos e temas de que tratamos. E V. Exª não! Nesse ponto, V. Exª é diferente: ao mesmo tempo em que trata do dia-a-dia, que trata da coisa prática, V. Exª também não perde a capacidade de teorizar, de trazer novas idéias no campo teórico, para o nosso debate. Acho que, por isso, V. Exª é diferenciado; por isso, os discursos de V. Exª têm tanta repercussão; por isso, todos nós prestamos tanta atenção aos seus discursos. Eles sempre representam um aspecto novo. Por exemplo, há pouco tempo, V. Exª fez um discurso sobre CPIs. Muita gente fala aqui sobre CPIs, mas há determinados aspectos teóricos que só V. Exª coloca. Por tudo isso, V. Exª vai fazer falta, muita falta, aqui no Senado! Boa sorte. O Rio de Janeiro ganha e ganha muito com sua presença.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. Fomos Deputados juntos, somos Senadores juntos, essa convivência me enriqueceu deveras, e toca V. Exª nesse ponto, que para mim é fundamental. Eu me percebo um político atípico e muitas vezes lamento que o seja, porque deixo de ocupar espaços em que ser típico às vezes é melhor, até para melhor desempenho das próprias idéias. Insisto, não sei se por que fui formado vendo os grandes debates na Câmara Federal, ao tempo em que o Parlamento estava um pouco desligado da questão econômica e tratava também das grandes linhas, do grande debate doutrinário e ideológico. Fui formado nessa geração. Tenho a nostalgia do Parlamento que debata também idéias ao lado, evidentemente, dos fatos concretos, que o caracteriza e que hoje o domina. O Parlamento, hoje, é muito mais dominado pela ação direta, concreta na linha econômica do que propriamente pelo debate das idéias.

            Agradeço muito a V. Exª as palavras.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o Senador Pedro Piva.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - Senador Artur da Távola, não sei como chamá-lo. Não sei se o chamo de Ministro,...

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Não faça isso.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - ...não sei se o chamo de Presidente, que foi do meu Partido, não sei se o chamo de mestre, não sei se o chamo de maestro, se o chamo de Senador Artur da Távola, mas vou chamá-lo de meu amigo Paulo Alberto.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Isso. Acertou agora.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - Paulo Alberto, que nome bonito de uma pessoa tão bonita!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - Hoje, quando eu assumo este microfone para inserir no seu discurso o meu aparte, eu o faço também com uma ponta de egoísmo, porque sou eu quem me enalteço. Enriquece o meu currículo aparteá-lo nesse seu discurso de despedida. Sou seu aluno, Senador Paulo Alberto. Quando aqui cheguei, os meus amigos disseram: “Procure o Artur da Távola! Procure o Artur da Távola, ele lhe ensinará o caminho, como um mestre ao seu discípulo!” Eu tentei, meu amigo. Obviamente, não vou conseguir nunca chegar à sua altura, mas me esforço para ter a sua ética, para ter o seu brilho, para ser o Senador que V. Exª é. Falo, Senador, em meu nome e falo também a pedido do Senador Teotonio Vilela e em nome do PSDB. Ironia do destino! V. Exª, que foi o presidente do partido e que me levou para ele, para a executiva, para ser tesoureiro do partido, e eu falando aqui, em nome do partido. O partido é V. Exª. V. Exª fez esse partido, foi um dos fundadores, foi uma das molas propulsoras desse partido. Só temos a lhe agradecer, Senador Artur da Távola. Não vou me alongar, a pedido do Sr. Presidente, mas não posso deixar de me lembrar das nossas discussões. Ouvia os seus discursos sobre a diferença entre cultura e educação e V. Exª, sempre mestre, dizia-me que as duas eram absolutamente compatíveis.

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha)

            Não posso! Se V. Exª me permite, eu falo pouco no plenário, mas não posso, realmente, deixar de completar o meu pensamento em relação ao Senador Artur da Távola. Peço desculpas, Sr. Presidente. Ao Senador Artur da Távola: quando recebi o título de “Cidadão Carioca”, lembrei-me dos versos de Antônio Maria, que diziam: “O Rio de Janeiro continua lindo.” Vai ficar mais lindo ainda com a sua presença naquela cidade. Lembro-me também, Senador Artur da Távola, de um dito de Bilac: “Saudade, presença dos ausentes”. Nós não sentiremos saudades, Senador, porque a vossa presença estará sempre aqui entre nós. Um grande abraço.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Pedro Piva. Fico feliz de hoje vê-lo eloqüente, com esse carinho que transborda.

            Rapidamente, vou contar uma breve história. Quando o Senador Pedro Piva veio assumir a vaga do Senador José Serra, Israel Klabin, ex-prefeito do Rio de Janeiro, com quem me dou há muitos anos, telefonou-me e disse: “Por favor, vai assumir aí um amigo nosso, companheiro de empresa, e eu lhe peço uma gentileza: como você já está enturmado no Senado, apresente-o aos outros Senadores para ele se sentir à vontade. Ele vai ter em você uma pessoa que o oriente”. Disse-lhe: “Perfeitamente, com muito prazer”. Em três meses de Pedro Piva no Senado, ele é que me apresentava às pessoas, dada a sua simpatia, sua mobilidade e essa capacidade formidável, que saiu nas palavras dele, de trazer o afeto ao plano de suas relações e ao primeiro plano da sua ação como ser humano e como político.

            Muito obrigado, Senador, fico honrado com tudo isso.

            O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Com prazer, ouço o meu querido Senador Roberto Saturnino, em quem tenho o péssimo hábito de votar, mesmo quando não devo.

            O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Senador, esse hábito é recíproco. Quero dizer a V. Exª que não considero péssimo esse hábito, porque há certos aspectos que estão acima de alguns compromissos de natureza estritamente política, entre as quais a admiração e a devoção que tenho pela figura de V. Exª, que dá aos aspirantes da vida política no Brasil este exemplo, de um lado, edificante e, de outro, promissor, alvissareiro, animador, de que é possível fazer uma vida política sem abdicar em nada dos compromissos com a ética, sem pretender usar as trombetas da mídia para fins políticos, estritamente pessoais de promoção, sem usar máquina administrativa, máquina de poder, sem ter a seu lado o poder econômico. V. Exª conseguiu isso tudo. Conseguiu ser um político reconhecido pela sua respeitabilidade, pelo seu trabalho, pelo seu valor intelectual. Conseguiu isso que nos leva a sufragar o seu nome, independentemente de compromissos políticos. Quero dizer a V. Exª - e faço isso como uma homenagem neste dia de despedida de V. Exª - que tenho uma diferença de pensamento com V. Exª, uma diferença que me amarga o coração. Gostaria de vê-la resolvida, mas, ao mesmo tempo, ela me anima a manter vivo o pensamento crítico e a pensar sempre: “será que não é ele quem está com a razão nesta sua afirmação por um modelo de modernidade que não é o meu?” Vivo a pensar nisso e o digo com uma identificação de alma muito grande. V. Exª se sentava aqui junto de mim e eu sempre estava a querer conversar sobre os seus pontos de vista e os meus para ver se era possível buscar um encontro. Muito bem, V. Exª deixa esta Casa sem que eu tenha conseguido. Talvez isso até não seja possível e talvez isso é que constitua a verdadeira riqueza da vida democrática, da vida política - isso de se ter uma diferença de alguém que se respeita muito, de quem se gosta muito, a quem se admira muito. Neste momento, eu queria expressar esse meu desconforto, mas, ao mesmo tempo, dizer a V. Exª. que, nem em um milímetro, nem em um átomo, isso diminui a admiração, o afeto e a estima verdadeira que tenho pela figura humana de V. Exª. Anseio por ver o trabalho extraordinário que V. Exª vai desenvolver na Secretaria de Cultura da minha cidade, enriquecendo-a com toda a sua plenitude de realização, de homem da cultura que V. Exª realmente é. Claro que fica aqui a nossa saudade, o nosso lamento de perder a sua companhia, mas fica também a certeza de que o Rio de Janeiro, a minha cidade, vai ganhar um ministro da cultura, como disse o Senador José Roberto Arruda. É verdade.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Roberto Saturnino. Quando V. Exª. falava a meu respeito e citava a questão ética e vários outras, humanas, eu pensava comigo: “Ele está fazendo um retrato dele mesmo”.

            Vou pedir permissão para romper aqui o trato parlamentar e usar “você”, Roberto, que é como nos tratamos. Você é um exemplo da política do nosso Estado, um exemplo completo, pela sua seriedade, pela sua independência, por tudo o que representa. Já estivemos juntos em tantas lutas! O que nos separa é muito pouco doutrinariamente. Não é a visão do mundo. Eu tenho a mesma visão do mundo dos meus anos da juventude. O que nos separa é o nosso conceito de Estado. Apenas isso. Estou, hoje, com um conceito de Estado um pouco diferente do seu. Mas, quanto aos objetivos da ação política, da vida, continuamos fraternos, irmãos, como desde as nossas antigas lutas no velho MDB - vejo que esses objetivos são mantidos. Talvez não sejamos os melhores, mas somos os que restaram daquela luta e que, por isso mesmo, têm o dever de levá-la adiante, com a medida das nossas forças. Muito obrigado.

            Continuo seu eleitor também, ainda quando não deva!

            O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Alberto Silva...

            (O Sr. Presidente Antonio Carlos Magalhães faz soar a campainha.)

            Sr. Presidente, estou às ordens...

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Volto a renovar o apelo para que os aparteantes sintetizem seu pensamento, até porque acho que o Senador Artur da Távola não deseja quebrar, na tribuna, o recorde do Senador Pedro Simon!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Apenas não posso negar o aparte.

            O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB - CE) - Senador Artur da Távola, lance seu olhar para esta metade do Plenário, porque estamos nos sentindo discriminados!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - É verdade! É verdade! Então, dou a palavra ao Senador Alberto Silva e, em seguida, passo para o lado de cá.

            O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senador Artur da Távola, penso que o nosso Presidente poderia muito bem fazer uma sessão especial para que todos pudessem falar. Não tive a felicidade de conhecê-lo nesta Casa e já estou aqui pela segunda vez - acho que sou o mais antigo, ninguém é mais idoso do que eu. Mas eu tenho um privilégio: eu morei na sua aldeia maravilhosa. Quando engenheiro da Central do Brasil, dos 22 aos 32 anos, fui aldeão da cidade do Rio de Janeiro, onde Villa Lobos levava os meninos para o campo do Vasco, onde grandes maestros do Teatro Municipal faziam o Rio de Janeiro mais maravilhoso do que ele era. Só quero dizer uma coisa: aprecio V. Exª de longe, nas colunas dos jornais, e, agora, na TV Senado. Como sou da mesma arte - V. Exª sabe, eu e minha esposa somos do piano -, então, mais ainda, admiro os seus conhecimentos e o que o Rio de Janeiro vai ganhar. Não quero me alongar. Parabéns ao Rio de Janeiro, à aldeia maravilhosa que espero que V. Exª pelo menos na arte, torne-a novamente maravilhosa. Parabéns!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador!

            Quero também lhe fazer uma confissão: embora nos sentando perto, nunca convivemos mais intimamente. Convivi muito com seu filho, quando Deputado. Quero lhe dizer uma passagenzinha breve que me aproximou de V. Exª, ainda que não pessoalmente: certa vez, vi na TV Senado, há uns meses, V. Exª falar sobre a seca. Raramente ouvi alguém falar com tanta precisão, com tanta amplitude, sobre o problema da seca do que V. Exª.

            Quero deixar, nesta minha despedida, este registro que fala da importância da sua ação como ex-Governador do Piauí e como homem do Nordeste ligado profundamente às raízes do que o caracteriza.

            Muito obrigado, V. Exª.

            Bom, vamos mudar um pouquinho de lado para não forçar aqui.

            O Sr. Lauro Campos (Bloco/PT - DF) - Senador Artur da Távola, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Lauro Campos, com muito prazer!

            O Sr. Lauro Campos (Bloco/PT - DF) - Senador Artur da Távola, ainda ontem, V. Exª repetiu em relação à minha pessoa a expressão da delicadeza, a expressão da sensibilidade, que V. Exª demonstra em todos os seus gestos. De modo que não poderia deixar de agradecer a gentileza de V. Ex.ª em seu pronunciamento, ontem, que tratava da Fundação da Universidade do Legislativo. Senador Artur da Távola, considero que, infelizmente, sou um ser que deveria invejar e realmente inveja o ser que é V. Exª, a sua “completude”. V. Exª mostra como é possível cultivar a emoção, educar a emoção. Em minha idade avançada, ainda não consegui fazê-lo. Sou um emocional bruto. Assim, a admiração que sinto por V. Exª, em todas as suas manifestações verbais, é muito profunda. V. Exª é capaz de transformar as produções da cultura popular, principalmente as do Rio de Janeiro, em uma outra expressão poética, cultural, musical, porque as palavras de V. Exª fluem realmente como música e como poesia. Infelizmente, quando eu estava no ginásio e começava a querer cantar com o grupo orfeônico da minha turma, a minha professora de música dizia: “Tem um desentoado ali”. E uma vez ela falou comigo: “Lauro, você é um cretino musical”. “Cretino musical”, nunca esqueci isso. E realmente sou cretino, não tenho sensibilidade, infelizmente, para duas coisas: para a música e para Deus. Procurei demais, mas também, como aconteceu lá no grupo orfeônico, as vezes que me reuni - e foram centenas de vezes -, para ver se despertava a minha sensibilidade, o meu entusiasmo, que é a palavra certa, para com Deus, não consegui chegar lá. E V. Exª chega com tanta naturalidade, com tanta simplicidade, com tanta delicadeza, que realmente me produz - não gosto da palavra - inveja. Sinto-me defeituoso, incompleto diante da completitude de suas manifestações intelectuais, emocionais. Tenho certeza absoluta de que o mundo seria muito pobre, mesmo a Ciência talvez nem existisse se não fosse a emoção humana. Policarp Krush, Prêmio Nobel de Física, afirma que o processo criador, em todas as manifestações humanas, está ligado ao processo emocional. E V. Exª, como ninguém, soube educar a emoção, retirar da emoção aquilo que há de mais precioso nela: a essência da emoção. E todo o seu ser parece que foi preparado para esse privilégio: o tom de sua voz, a maneira de sua expressão, a delicadeza de sua inteligência mostram que V. Exª realmente consegue captar a essência da emoção e traduzi-la para alegria nossa. E essa alegria é que vamos perder, em parte, com a sua ida para o Rio de Janeiro. Um grande abraço e tudo de bom.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Lauro Campos. V. Exª se auto-intitulou um emocional bruto, o que, evidentemente, é uma severidade. Em matéria de bruto, o único que V. Exª aborda aqui é o Produto Interno Bruto, do qual é tirado tanta coisa que de lá não deveria sair para pagar, segundo V. Exª, tantas dívidas que pagas não deveriam ser. V. Exª, ao contrário, nada tem de um emocional bruto. V. Ex.ª é um dos homens que traz o debate doutrinário a esta Casa. V. Ex.ª, nesse sentido, faz parte de um pequeno grupo que discute as idéias, e V. Ex.ª não abre mão disso; eu também faço parte desse grupo.

            V. Exª falou em educar a emoção. V. Ex.ª não sabe o quanto está tocando em algo que me custou na vida muito caminhar. A minha história é uma história de tentativa não acabada de educar a minha emoção e de aproveitá-la do ponto de vista, digamos, criativo, o mais possível. Até porque, por exemplo, a minha emoção cívica tem um poder de tomar conta do meu ser que, às vezes, me leva até a calar-me para que ela não ocupe completamente o panorama.

            V. Ex.ª é, sim, dotado da santa ira, daquela que acompanhou tantos grandes líderes do pensamento religioso, que V. Exª diz temer não ter, que é a indignação pelo que o revolta, que é a colocação clara das próprias verdades e que é - V. Exª tem uma visão muito clara do capitalismo - uma visão crítica. E eu, como V. Exª, acredito que o marxismo é, até hoje, o melhor diagnóstico da sociedade. Eu não diria que o marxismo-leninismo é a proposta do melhor remédio para o que está diagnosticado. E essa foi a ultrapassagem doutrinária que marcou a minha passagem para isso que o Senador Roberto Saturnino chama de “pequenas diferenças na visão de mundo”. V. Exª é um representante dessa idéia, nesta Casa, em estado puro, e a defende. Discordo, sim, de V. Exª só num ponto: quando nos discursos de V. Ex.ª, V. Ex.ª atribui ao Governo males que são do sistema. E, justamente, o Governo não é completamente o sistema, embora aprisionado em muitas das forças do sistema. Este é um ponto do qual discordo, porque creio que será muito mais didático identificar no sistema esses males do que propriamente no Governo, que é o resultado de um conjunto de forças que ele tem que administrar. V. Exª sabe da enorme admiração que lhe tenho expressado várias vezes e, além de admiração, do respeito.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Sou obrigado a reconhecer que o Senador Pedro Simon, portador de um talento geográfico notável, saiu deste lado e foi àquele, que é onde estão os apartes. De modo que não sei se passo por cima do Senador Hugo Napoleão, que é tão gentil e tão tolerante e dou a palavra ao Senador Pedro Simon, pela rapidez com que mudou de lugar, fazendo por onde honrar este orador com seu aparte.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Agradeço. V. Exª está permitindo que vivamos nesta hora talvez uma das páginas mais extraordinárias no Senado Federal. Não me lembro de ter assistido a uma unanimidade em vida, como nesta homenagem que estamos prestando a V. Exª, pois geralmente após a morte há uma unanimidade. Em primeiro lugar, quero dizer, com profundo respeito - não sei como o Sr. Antonio Carlos Magalhães até agora não falou isso -, que V. Exª está saindo daqui para ser Ministro da Prefeitura do Rio de Janeiro. Um homem com a cultura, a capacidade e o saber que V. Exª está demonstrando, com essa capacidade política que todos nós sabemos que V. Exª tem, em seis anos não teve um lugar encontrado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Com toda sinceridade, estamos vivendo uma hora em que eu gostaria que o Presidente Fernando Henrique Cardoso ligasse a TV Senado e visse o homem que Sua Excelência está deixando ir para a Prefeitura do Rio de Janeiro, mas que vai honrar, dignificar e da qual será um Secretário espetacular. O Rio de Janeiro terá um Secretário de Cultura à altura da sua cidade, da sua tradição, da sua história, da sua gente. Parece que estou vendo V. Exª, nas noites do Rio de Janeiro, chamando aquelas pessoas que, de certa forma, só tinham chance de dialogar, debater e sonhar a cultura nos bares da boemia e que, na sua Secretaria, terão a chance e a oportunidade de desenvolver, esbanjar, dar pelo Brasil afora, por meio da TV Educativa do Rio de Janeiro, as oportunidades fantásticas daquela cidade. Faço uma pergunta para, depois, V. Exª me responder. Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª só pode permitir a saída do Senador Artur da Távola desta Casa se S. Exª se comprometer a ficar na Rádio Senado e na TV Senado. Se S. Exª romper o compromisso com a rádio e a TV, V. Exª tem que estipular uma multa muito grande para que o Senador Artur da Távola não largue as atividades. S. Exª tem essa obrigação. O Senador Artur da Távola tem programas espetaculares na Rádio Senado e na TV Senado. No Rio Grande do Sul, é impressionante o número de pessoas que assistem aos programas, se apaixonam e assistem à repetição do programa fantástico de S. Exª sobre cultura, literatura e música. Aqui estou como o Senador Lauro Campos. Com todo o respeito - Deus me perdoe - por mais força que queira ter, sinto uma certa inveja cristã de V. Exª. Digo: esse cidadão entende de tudo, conhece, debate, aprofunda-se, vai ao âmago da questão; conseguiu viver na política do Rio de Janeiro - e que política complicada a do Rio de Janeiro - e continua a ser o mesmo homem puro, o mesmo homem digno, o mesmo homem correto, o mesmo homem sério, o mesmo homem que merece a credibilidade total. Sempre gostei de César Maia. Alguns dizem que é meio maluco. Eu não sei. Penso que fez um bom governo e que o povo do Rio de Janeiro houve por bem reelegê-lo, mas só o fato de escolher V. Exª é uma demonstração da capacidade, da visão que está tendo. Tenho um carinho enorme por V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Que é recíproco.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Para mim, V. Exª é a referência do afeto, da bondade, da grandeza. Ninguém, neste Congresso, sabe divergir melhor do que V. Exª. Ninguém, neste Congresso, sabe passar uma reprimenda com o gabarito e com a capacidade de V. Exª. Ninguém, neste Congresso, sabe dizer o quanto estamos errados numa determinada tese com a beleza da argumentação macia de V. Exª. Foi dito aqui e concordo: creio que o grande estilo do debate, da discussão é o estilo de V. Exª. Assistir a V. Exª desta tribuna é muito bom, mas, em casa, sentado, observá-lo pela televisão, é espetacular! Vendo V. Exª, sonho como deve ser a televisão brasileira um dia: com pessoas como V. Exª entrando nos lares, transmitindo cultura e orientação, com o seu sorriso, mostrando como é simples a música clássica. Repararam como é simples, como é fácil entendê-la? Para mim, de repente, ela parece simples, e as pessoas que estavam ao meu lado dizem: “Não pensei que ela fosse tão simples. Como esse homem é simples. Ele me mostrou como a música clássica é simples”. Esse é V. Exª, de quem vamos sentir falta. Este plenário se esvazia hoje. Não me refiro ao percentual. Fisicamente, é um homem que sai. Mas, no percentual do que representa, é um vazio muito grande que aqui fica. De qualquer forma, isso é natural. É natural que V. Exª tenha ocasião, oportunidade de demonstrar o que vem fazendo, ao longo da sua vida, no rádio, na televisão, no jornal, em prol da cultura. V. Exª terá a chance de abrir caminhos, brechas, oportunidades para que possamos realmente verificar até onde a nossa cultura pode chegar. É um grande dia para a cultura brasileira. O dia de hoje só não é feliz para o nosso querido amigo Fernando Henrique Cardoso. Sua Excelência vai concordar com aquilo que eu lhe dizia: “Vossa Excelência deve olhar ao lado e as pessoas que servem e ver que nem sempre convivem, entre seus companheiros, os mais capazes, os melhores”. Está aí um que, se dependesse de mim, estaria no primeiro time, mas que vai para o Rio. Ficamos aqui surpresos com o abraço, o carinho, o afeto, a amizade, o respeito, a admiração permanente, meu querido irmão, e a tristeza de não ter a chance de vê-lo aqui tantas e tantas vezes.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, eminente Senador.

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Antes de o Senador Artur da Távola responder ao aparte, quero dizer ao Senador Pedro Simon que V. Exª é um homem sério e, por isso mesmo, lamento que roube a minha idéia. Há vários dias, venho conversando com o Senador Artur da Távola e, hoje, concretizei um convite com um ato que vou publicar amanhã, para que S. Exª continue comandando os programas aqui e os ampliando, pois isso é realmente um dever do Senado em relação à cultura brasileira e mais um favor do Senador Artur da Távola ao Brasil.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Obrigado, Sr. Presidente. Realmente, eu ia aludir a esse interesse do Presidente, que me desvaneceu e tocou.

            Agradeço, Senador Pedro Simon. Nós, que temos raízes comuns nos imigrantes que pararam no Rio Grande do Sul, os seus familiares em Caxias do Sul e os meus em Garibaldi, o que nos une também ao longo do tempo, costumo dizer que V. Exª é o protagonista deste Plenário. Sempre disse isso. Ouvir do protagonista do Plenário essas palavras, evidentemente, toca-me muito.

            Falta-me, às vezes - eu percebo -, a chispa de uma certa raiva nos meus discursos. Não falta emoção, mas falta um tipo de argumentação clara e insofismável, como V. Exª faz e faz tão bem para a alegria de todos nós.

            Saiba que a admiração é recíproca e que V. Exª me tocou profundamente com as palavras que me disse. Fico muito feliz e muito honrado.

            O Sr. Luiz Otávio (Sem Partido - PA) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Tem a palavra o Senador Luiz Otávio.

            O Sr. Luiz Otávio (Sem partido - PA) - Senador Artur da Távola, V. Exª deixa nesta Casa a marca de grande legislador, pela sua competência, pelo seu trabalho ao longo de todos esses anos. Mas também a marca de grande Líder, uma vez que V. Exª, no exercício da Liderança do Governo, por várias vezes demonstrou sua competência, sua capacidade e o poder de articulação que tem e teve na condução dos trabalhos em defesa do Governo também no plenário do Senado Federal. Com certeza, V. Exª deixará sua marca na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, e nós nos sentiremos muito orgulhosos de poder dizer que fomos colegas no Senado Federal. V. Exª também deixa a marca mais importante de um homem público: a lealdade, a lealdade ao Presidente Fernando Henrique Cardoso e ao Governo do PSDB, que V. Exª tão bem defendeu e tem defendido até hoje. Muito obrigado.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio. Tenho em V. Exª uma das figuras de renovação da política brasileira. Roberto Saturnino falou na importância do exemplo para atrair novos quadros à política. A política brasileira carece de novos quadros, razão pela qual, quando encontramos um Senador jovem como V. Exª, interessado, é sempre motivo de júbilo. E nosso contato aqui foi extremamente prazenteiro e, para mim, muito honroso. Muito obrigado.

            Concedo a palavra ao Senador Hugo Napoleão.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Sabe V. Exª, Senador Artur da Távola, que Getúlio Vargas dizia que o Rio é o tambor do Brasil - querendo fazer referência de que, de todos os Estados, havia gente no Rio de Janeiro. Todos nós, de certa forma, somos ligados ao Rio. Já disse o Senador Alberto Silva que morou no Rio de Janeiro, como eu também, que morei lá e me formei na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - E tem filhos lá.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Exatamente. Eu ia fazer referência à circunstância de que dois de meus filhos, justamente os mais velhos - uma engenheira e um advogado -, moram no Rio de Janeiro e são eleitores de V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - É uma honra.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Portanto, o pai também é admirador de V. Exª. Se tivesse de resumir a sua personalidade, diria que há um binômio: impecabilidade e preparo. Impecabilidade nas ações, na correção, na lhaneza, no traço de seriedade e na compostura. E preparo nessa imensa cultura universal e humanística de que V. Exª é possuidor, graças ao fruto de seu trabalho, de suas observações e de sua experiência, que chegam às raias da filosofia. Concluo dizendo que assisti certa vez, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, a uma abordagem de V. Exª sobre a ação papal, o que me deixou absoluta e rigorosamente desvanecido. Não fiquei admirado, porque tudo que V. Exª produz é cultura, arte e saber, mas fiquei realmente impressionado também com aquela manifestação. Tenha V. Exª muita sorte - sei que terá - na missão bonita que também cumprirá.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Hugo Napoleão, muito obrigado. V. Exª sempre nos ensinou também lhaneza e uma capacidade de harmonização. Lembrou-se do papado, porque, também na condição de cardeal - V. Exª é um cardeal de seu Partido na política brasileira -, de certa forma poderá chegar ao papado, já que a sua pessoa será sempre importante.

            V. Exª é um político da geração do pensamento liberal competente, como costumo dizer. Aliás, o PFL um dia será melhor compreendido na linha dos liberais modernos de ação competente, como V. Exª, Jorge Bornhausen, José Agripino Maia, José Jorge, Marco Maciel e tantos outros, que representam um avanço do pensamento liberal, incluindo-o não mais na velha idéia do liberalismo reacionário de antes, mas na idéia de um liberalismo progressista, que seguramente dá ao País uma possibilidade muito grande de avanço.

            Muito obrigado, Senador, pelas suas palavras.

            O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Com muito prazer, Excelência.

            O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - Eminente Senador Artur da Távola, vou naturalmente obedecer ao nosso Presidente e apenas levar-lhe duas palavras: uma de congratulações e outra de preocupação. De congratulações com o povo do Rio de Janeiro e com o prefeito César Maia, pelo fato de entregar a Secretaria de Cultura a V. Exª, numa demonstração de que conhece as responsabilidades do Rio. No momento em que, conhecendo as responsabilidades que pesam sobre o Rio, como capital cultural da República, o Prefeito entrega a V. Exª a Secretaria de Cultura, garante ao Rio de Janeiro voltar a ocupar aquele lugar que sempre lhe coube. Gostaria também de dizer que tenho observado a palavra de cada um aqui e percebo uma preocupação de todos com a grande perda para o Senado que representa a ida de V. Exª. Essa perda deve-se não só ao conteúdo de seu discurso, mas à forma: lhano e ao mesmo tempo incisivo. V. Exª defende as questões e as idéias não só com delicadeza, mas intransigentemente - como o sabe muito bem. Congratulo-me com o povo do Rio de Janeiro e também conosco, da Zona da Mata mineira, que aprendemos a viver sob a influência cultural do Rio de Janeiro, não só pelo Real Gabinete Português de Leitura, mas também pela Taberna da Glória. Isso é o Rio de Janeiro, é a sua cultura, que está nas coisas mais simples como o samba e o futebol e até na Galeria Cruzeiro, debaixo do Hotel Avenida, onde nos hospedávamos e víamos ali a venda do Radical, aquele jornal que trazia todas as notícias rápidas do Rio e também a sua cultura, no tempo do Diário da Notícia, do Diário Carioca, do Correio da Manhã e de todos os outros jornais, além dos vespertinos como A Noite e O Globo, que era vespertino na época. Todos aprendemos com a cultura do Rio. A ir ao teatro, não só ao Municipal, como àqueles que estão na Praça Tiradentes, como o Teatro João Caetano, Teatro Carlos Gomes, Teatro Recreio, Teatro República, aqueles do centro como o Serrador, Dulcina e o da Mesbla. Assim, a nossa vida foi ligada ao Rio de Janeiro e, nesse particular, ficamos tranqüilos, porque a cultura do Rio é entregue a V. Exª. Como Senadores, obviamente não podemos deixar de dizer que há hoje um empobrecimento para o Senado, ainda que V. Exª tenha trazido a informação de que será muito bem substituído pelo seu ilustre suplente.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador! Podem estar certos V. Exª e os demais Senadores que o Dr. Nilo Teixeira Campos vai encantá-los com a sua serenidade, com a sua capacidade de aglutinação e com a sua excelente cultura política.

            Devo dizer a V. Exª que sou filho de mineiro. Meu pai era mineiro, nascido em Leopoldina, portanto citado aí por V. Exª. E talvez aprendi, quem sabe, isso que V. Exª chama de lhaneza. É algo que Minas ensina ao País, de fazer política com suavidade, embora com nitidez, com aquele grande pudor que os mineiros têm das suas manifestações emotivas mais profundas e, ao mesmo tempo, com grande sentimento patriótico, às vezes encapado numa aparência de maior recato, esse grande recato. Carlos Drummond de Andrade dizia: “Dizem que o mineiro é sonso! Não é. O mineiro é encabulado. O mineiro é recatado.” É verdade.

            Dessa maneira, tomo as palavras de V. Exª como um pouco também da mineiridade que corre no meu sangue. Embora meu pai tenha morrido quando fosse muito criança, guardei muita coisa dele. Muito obrigado!

            O Sr. Juvêncio da Fonseca (PFL - MS) - Senador Artur da Távola, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo um aparte ao Senador Juvêncio da Fonseca. Em seguida, ao Senador Osmar Dias.

            O Sr. Juvêncio da Fonseca (PFL - MS) - Senador Artur da Távola, o Senador Paulo Hartung disse que faria o aparte a V. Exª para fazer parte do seu discurso, e tenho essa mesma pretensão. Este aparte que faço a V. Exª vai engalanar o meu currículo de Senador, nestes primeiros dois anos. Ao mesmo tempo, a pretensão deste aparte, Senador, é reter V. Exª por mais dois ou três minutos entre nós.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - (Risos.) Muito obrigado!

            O Sr. Juvêncio da Fonseca (PFL - MS) - Sua presença é tão importante e tão rica que, certamente, mais duas ou três palavras que V. Exª profira neste recinto será para todos nós e para a Nação brasileira um momento de riqueza. Riqueza intelectual, riqueza espiritual. E expresso a V. Exª a minha simpatia. Já a fiz pessoalmente em determinada feita, porque V. Exª, na sua expressão, na sua fisionomia, no seu gesto, no seu discurso, traduz para nós solidariedade, traduz para nós credibilidade dos seus conceitos, tão carente que estamos de pessoas assim e de lideranças dessa forma. V. Exª significa para nós essa liderança forte de credibilidade. A aldeia universal de V. Exª, que é o Rio de Janeiro, também é a aldeia universal de todos nós brasileiros. Seja feliz! Que o Rio de Janeiro aproveite bem as suas idéias, a sua cultura, a sua pessoa e o seu humanismo.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Juvêncio.

            Há um músico recentemente falecido, Wilson Simonal, de quem os seus críticos diziam ser um carioca malandro e esperto, porque ele ganhava dinheiro, fazendo os outros cantarem no Maracanãzinho a música “Meu limão, meu limoeiro”. Depois, ele ia para a casa. Quem cantava eram os outros, e era ele quem levava fama.

            Tenho, hoje, embora seja muito difícil num discurso de despedida, a alegria carioca de ver o meu discurso feito por apartes, extremamente amáveis, como o de V. Exª., o que me dá um valor que o próprio discurso não tem, o valor da generosidade de todos. Muito obrigado, Senador Juvêncio.

            O Sr. Osmar Dias (PSDB - PR) - Senador Artur da Távola, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo um aparte ao Senador Osmar Dias.

            O Sr. Osmar Dias (PSDB - PR) - Senador Artur da Távola, como não vou conseguir fazer o aparte mais bonito, quero fazer o mais curto. Apenas para dizer-lhe a minha admiração por V. Exª. Faço isso não de um Senador para outro, mas de um aluno para um mestre. Como já foi dito, V. Exª dá aula de cultura, mas também com V. Exª é possível aprender muitas lições de dignidade, de decência. V. Exª se destaca pela sua inteligência, sobretudo por saber colocar em prática essa sua capacidade para o bem do País. Disse que seria o mais rápido e o serei. Senador Artur da Távola, gostaria de continuar sendo seu aluno. E não será diferente, porque V. Exª continuará a ser importante para o País. Gostaria de dizer que seria seu eleitor também.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Osmar Dias. V. Exª não é meu aluno, não. V. Exª é mestre também em dignidade. Creio que o prêmio de revelação do ano estaria também em suas mãos, como revelação de Senador, num mandato tão rápido, pela seriedade.

            Sempre que vejo V. Exª com essa barba do antigo Senado e com esse rosto moderno - um contraste que o torna inclusive uma pessoa extremamente atraente e agradável ao nosso convívio -, lembro-me dos velhos Quakers, aqueles defensores de uma ética rígida, com muito rigor e com muito valor.

            Desde o princípio, em nossas andanças no mesmo partido, aprendi a admirá-lo.

            Observo V. Exª no comando da Comissão de Assuntos Sociais. Ainda outro dia, ouvia V. Exª dizer que não podia terminar este ano deixando a pauta com projetos a votar, de tal forma que brigava com seus companheiros para que se posicionassem. Esse cuidado, essa exação, essa seriedade, saiba que são observadas e percebidas, e esse é um título que V. Exª carrega. Assim, tomo suas palavras com muita honra, com muito orgulho.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª com muito prazer.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador Artur da Távola, inicialmente, quero registrar que o Senador Tião Viana solicitou-me que também falasse em seu nome nesta homenagem a V. Exª. Naturalmente, o que vou dizer é muito pessoal. Até por temperamento, sou bastante econômico em elogios. Mas vou dizer a V. Exª o que disse para o seu conterrâneo, Deputado Milton Temer, presente aqui há pouco, e o mesmo já fiz a alguns assessores. V. Exª é talvez o único Senador do qual presto atenção em todos os pronunciamentos, independente do assunto a que V. Exª se refira. E quero citar dois episódios em que V. Exª, até involuntariamente, deixou-me humilhado. O primeiro, em uma sessão especial aqui no Senado - não sei se foi pelo Dia da Imprensa ou em homenagem à Federação Nacional de Jornalistas -, requerida por mim. Como requerente, fui o primeiro orador. Fiz um discurso lido, e V. Exª, depois, subiu à tribuna e fez um pronunciamento de improviso, no qual analisou, de forma absolutamente original e competente, essa relação ao mesmo tempo complexa, fascinante e perigosa entre jornalismo, mídia e poder. O outro episódio foi quando tive que me pronunciar após V. Exª, por ocasião da homenagem ao Deputado Luís Eduardo Magalhães, quando fez um pronunciamento que foi uma verdadeira poesia e tive que falar em seguida e só tive a alternativa de elogiar o seu pronunciamento e citar Voltaire, ao final, para não ficar tão humilhado. V. Exª personifica o que é, a meu ver, o grande fascínio do Congresso, a capacidade do debate, a criatividade no uso das palavras. Tivemos algumas vezes em posições opostas e quero dizer que, na última vez, no debate na Subcomissão do Judiciário, no caso Eduardo Jorge, ali naquele debate acredito que perdi de pouco, até porque a causa de V. Exª era bastante inglória, talvez até por isso tenha possibilitado que o placar não tenha sido tão humilhante. Digo essas palavras com absoluta sinceridade por ser, independente das divergências político-ideológicas, um profundo admirador de V. Exª e desejo-lhe toda a sorte do mundo nessa tarefa que está assumindo neste momento. Muito obrigado.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª já é uma referência desta Casa que o respeita, o admira - e eu também. E quero lhe dizer que no plano pessoal V. Exª um dia me deu uma alegria muito grande. Cruzamo-nos por acaso no aeroporto, e V. Exª havia acabado de comprar um livro meu. Isso, não sabe V. Exª, para um autor, o que significa alguém, numa oferta tão grande de leitura, escolher um livro dele.

            A nossa convivência aqui nem é tão estreita no plano pessoal, mas sei que é uma convivência de admiração recíproca e de respeito. Sempre brinco com V. Exª, chamando-o de mujique, ou seja, aquele camponês integral, russo, capaz das grandes causas, das grandes batalhas; e tenho muito admiração pela franqueza de V. Exª que já exerceu em momentos difíceis desta Casa, contrariando até o que humanamente o impeliria a calar-se, como também tenho admiração pela organização interna do seu Partido.

            V. Exª me tem visto tanto discordar de visão política, como de elogiar o PT que, a meu ver, é o único Partido com graus invejáveis de democracia interna dentre todos os Partidos brasileiros. Acredito que, enquanto os Partidos brasileiros não tiverem democracia interna, a política brasileira continuará a ser de cúpula e a luta política será exclusivamente para tomar conta das convenções e não há reforma política que dê jeito nisso. Podemos fazer a reforma política que quisermos, mas se não mudarmos a estrutura partidária, dando valor à democracia interna dos Partidos, inevitavelmente, vamos continuar a repetir os vícios que a política brasileira tem e que redundam, às vezes, em uma qualidade deficiente da representação política.

            Agradeço muito a V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Artur da Távola, em primeiro lugar, quero transmitir a V. Exª o quanto espero que consiga realizar como Secretário de Cultura na cidade do Rio de Janeiro. Espero que seja algo excepcional, muito diferente do que até hoje pôde ser realizado, porque avalio que V. Exª tem condições de fazê-lo por ser um conhecedor tão profundo da vida cultural brasileira e carioca. Mas o que V. Exª deu de contribuição a todos nós, de conhecimento da literatura brasileira, das artes, do cinema da poesia todas as vezes em que aqui se pronunciou, significa que está em condições de levar para o Rio de Janeiro, na sua vida cultural, uma ação transcendente, no sentido em que fala Leonardo Boff no seu último livro sobre a transcendência: como algo para romper tudo que for barreira à cultura, ao desenvolvimento do ser humano. Gostaria de dizer - falo também em nome da Senadora Heloisa Helena, que me pediu que a representasse para abreviar as falas - que V. Exª tem toda condição de propiciar coisas novas ao Rio de Janeiro, cujo ritmo de tambor é ouvido por todo o Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, como em São Paulo, há novos ritmos, novas canções. Existe a presença hoje fortíssma nos morros e na periferia do Rio e de São Paulo do hip-hop e do rap. Ainda outro dia estive lá na entrega do Prêmio Hutus, novo prêmio para os que estão compondo essa nova música, que diz muito do cotidiano da vida da nossa periferia. Também gostaria de transmitir quão agradável foi o embate com V. Exª. Tantas vezes, V. Exª fez questão de debater conosco do Partido dos Trabalhadores, seja sobre o MST, seja sobre a política econômica, seja sobre a presença do Estado. O Presidente Fernando Henrique Cardoso estará perdendo um articulador da sua defesa. Senador Artur da Távola, é possível que, na tarde de hoje, novas revelações estejam vindo à tona no depoimento do Juiz Nicolau dos Santos Neto. Conversei com o Juiz Casem Mazloum e pedi a S. Exª permissão para que eu, a Senadora Heloísa Helena e os Senadores José Eduardo Dutra e Jefferson Péres pudéssemos ouvir, nesta tarde, o depoimento do Juiz Nicolau na Polícia Federal, na Rua Piauí, em São Paulo. No entanto, o Juiz Casem avaliou que seria importante saber do advogado Alberto Toron se, porventura, ele faria alguma objeção. O advogado disse que não, a nossa presença não seria conveniente. Estranhei, entretanto, que ele tenha resolvido abrir o depoimento para a imprensa. Por que Senadores iriam intimidar o Juiz Nicolau, se toda a imprensa poderá ouvir? Relembro esse fato por causa de nossos embates na Comissão que estava averiguando os problemas relacionados com o TRT. O tempo certamente dirá quem estava com a razão. Inevitavelmente, isso virá ao conhecimento de toda a população brasileira, e a defesa do interesse público será, obviamente, resguardada. Meus cumprimentos pela contribuição que deu a todos nós.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy. Tomara que realmente venha tudo a público e que se possa prosseguir naquele andamento que, infelizmente, não prosseguiu aqui na Casa em virtude de questionamentos feitos até pela Oposição, dos quais discordei, embora respeitando-os.

            Ficarei com pena de não ouvir o aparte da Senadora Heloísa Helena, já que V. Exª. falou também em nome dela, porque eu, como um bom masoquista, estava louco para receber uma bronca neste plenário e vou ficar sem essa oportunidade, porque a doçura da Senadora Heloísa Helena recebemos todos os dias, na convivência, embora não se saiba que incorporações espirituais S. Exª tem quando assume essa tribuna e, evidentemente, categoriza com muito vigor a sua opinião política. Infelizmente não vou ser merecedor dessa bronca, mas fica para outra oportunidade.

            O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB - CE) - Permite-me V. Exª. um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o Senador Lúcio Alcântara.

            O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB - CE) - Senador Artur da Távola, serei muito breve para cumprir a recomendação do Presidente, que, aliás, está muito tolerante, porque V. Exª merece. Muitos méritos e muitas qualidade de V. Exª. foram lembrados aqui. Não vou repeti-los, mas vou ficar com uma. Fomos colegas como Deputados Federais e depois nos encontramos aqui, no Senado. A qualidade que destaco é a capacidade que V. Exª. tem de elocubrar sobre a política, sobre a vida, inclusive quando a discussão política é árida, é pragmática, é, às vezes, rasteira. V. Exª sempre traz uma luz de teoria, de humanização, que, realmente, é uma abordagem diferente, que só engrandece V. Exª como humanista, não vou dizer como musicólogo ou literato. Pessoas como V. Exª arejam a política. Às vezes, fecham as janelas para a aragem não entrar, mas, como o vento sempre consegue infiltrar-se pelas frestas, sempre fica alguma coisa do que V. Ex.ª traz. Aliás, hoje podemos ter uma sessão histórica: o presidenciável Senador Pedro Simon formalizou antecipadamente um convite para que, se tiver sucesso, V. Ex.ª ocupe o Ministério da Cultura. E mais, V. Exª vai assumir o cargo de Secretário Municipal da Cultura com status de Ministério, por duas razões: primeiro, pela sua personalidade, pelo seu conhecimento, pelo seu talento, pela sua erudição; segundo, pela cidade, o Rio de Janeiro. Então, V. Exª vai ser Ministro sem tê-lo sido; vai ser Ministro da Cultura da cidade do Rio de Janeiro. Esse título ninguém lhe vai tirar, pois V. Exª o merece e o conquistou pelo seu talento, pelo seu desempenho, pela sua erudição, pelo seu humanismo. Estou falando aqui também em nome do Senador Paulo Souto, que, engenheiro e executivo, preocupa-se com o tempo, com a economia processual. Para alegria minha, incumbiu-me de transmitir a V. Exª o nosso pesar porque não vamos mais poder tê-lo no dia-a-dia e, ao mesmo tempo, a nossa satisfação por ver que V. Exª vai encontrar no Rio de Janeiro um campo para exercitar o seu talento e a sua competência. Nós todos lhe auguramos muitas felicidades em sua nova missão.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª, com quem tanto troco idéias, que é tão importante na formação do pensamento socialdemocrata pelas publicações, que é tão importante para esta Casa ao dirigir um conselho de publicações notáveis que o Senado faz, honra-me não só com o aparte, mas com a sua amizade nesses anos de convivência, em que tantas vezes nos encontramos em momentos - quem sabe? - de solidão e outras vezes de esperança. Sempre fortalecemos uma relação quando trocamos com alguém tanto solidão, desencanto, quanto esperança. A política nada mais é que o jogo entre essas alternativas: a alternativa da solidão e a alternativa da esperança. Agradeço muito a V. Exª essa convivência e tudo o que disse.

            O Sr. Carlos Wilson (PPS - PE) - V. Exª concede-me um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Tem V. Exª a palavra.

            O Sr. Carlos Wilson (PPS - PE) - Senador Artur da Távola, eu não poderia deixar de participar hoje desse discurso de despedida de V. Exª do Senado. Posso dizer-lhe, com toda sinceridade, que, convivendo com V. Exª durante seis anos como Senador, toda vez que entrava neste plenário e via V. Exª, eu sempre tinha a percepção de uma pessoa extraordinária, de uma pessoa talentosa e humana realmente fora de série. Quando V. Exª ocupava a tribuna - o Senador José Eduardo Dutra já disse isso - eu parava imediatamente para ouvi-lo. Hoje, quando V. Exª avisa que vai pedir licença do cargo de Senador para ocupar a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, quero dizer-lhe que também tenho dois momentos: de tristeza, como foi dito aqui pelo Senador José Alencar, porque, com certeza, não veremos, por mais dois anos, esta figura talentosa, esta figura brilhante do Senador Artur da Távola aqui no plenário do Senado. Mas, ao mesmo tempo, todo brasileiro que se preza ama o Rio de Janeiro, todo brasileiro que se preza gosta do Rio de Janeiro, todo brasileiro que se preza sabe que o Rio de Janeiro é uma das cidades mais bonitas do mundo. O Rio será privilegiado, pois terá como Secretário da Cultura o talentoso homem público Artur da Távola, e nós vamos ficar, graças à idéia do Senador Antonio Carlos que aqui foi externada antecipadamente pelo Senador Pedro Simon, acompanhando sempre, com muita ansiedade, a presença de V. Exª na TV Senado e na Rádio Senado. Por isso, Senador Artur da Távola, este Senador se dirige a V. Exª dizendo que externa hoje aquilo que sentiu desde o primeiro dia quando aqui chegou: uma admiração profunda pelo Senador Artur da Távola.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. Fizemos aqui uma relação muito rica em amizade, em respeito mútuo. Tenho por V. Exª igual respeito, vi muitas atuações enérgicas de V. Exª, como ocorreu numa CPI que, infelizmente, não teve a repercussão necessária, aquela das obras inacabadas, na qual V. Exª teve um papel destacadíssimo, enfrentando com muita coragem - que, aliás, é característica de V. Exª -, a dificuldade desse tema e tudo que ele significa de ameaças e vários outros aspectos. Isso só nos prepara para a continuação de um respeito mútuo e de uma amizade que a mim particularmente muito honra.

            Muito obrigado, Senador.

            O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - V. Exª permite-me um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Pois não, Senador Ademir Andrade.

            O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Senador Artur da Távola, V. Exª é realmente um homem muito querido sob todos os aspectos. Veja a manifestação unânime deste Plenário. Entendo que só muito amor à cultura e muito amor ao Rio de Janeiro faz V. Exª deixar o Senado. Espero que não esteja muito decepcionado com esta Casa.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - De maneira alguma.

            O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Realmente só muito amor a sua terra e ao seu trabalho faz V. Exª sair daqui. Tenho grande admiração pela sua maneira de se expressar e pelas aulas que nos dá de filosofia de vida e de trabalho. O Senado sentirá muito a sua falta. Entretanto, o Rio de Janeiro ganhará com a sua Secretaria, e V. Exª, sem sombra de dúvida, será uma expressão nacional conduzindo a Secretaria da Cultura, que agora passa a ser Ministério da Cultura da cidade do Rio de Janeiro, nossa antiga capital. Seja feliz no seu trabalho. V. Exª deixa muita saudades. Quando desejar regressar, estaremos aqui ansiosos pelo seu retorno.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Ademir Andrade, muito obrigado. Oxalá eu possa levar tudo que obtive na apreciação de V. Exª: o seu aguerrimento e a sua capacidade de luta, que fortalecem a ação de qualquer homem público. Nós nos conhecemos desde a Constituinte, e estimo a nossa convivência. Reconheço-lhe essa capacidade.

            Tenho muita admiração por políticos que representam aquilo que chamo de “ferrinho de dentista” - usando uma expressão fácil -, que estão sempre a tocar nas cáries da sociedade, provocando, muitas vezes, uma reação de dor, mas permanentemente lutando e expondo as suas idéias em riste.

            Vejo entre as características de V. Exª essa, que vem desde os tempos da Câmara de Vereadores, que nem a suavidade do Senado Federal pacificou completamente, embora tenha pacificado um pouquinho aquele revolucionário do tempo da Câmara, que agora continua a ser um batalhador aqui no Senado Federal, levemente mais maduro, mas igualmente pujante, como sempre o foi.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o Senador José Fogaça.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Obrigado, Senador Artur da Távola. Já vai longa a hora, mas como não falar?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Estou com a sensação de estar atrapalhando a sessão.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - V. Exª está sendo tão homenageado pelo Senador Antonio Carlos Magalhães que há um projeto que autoriza uma operação financeira de grande interesse da Bahia e S. Exª mantém a nonchalance. A meu ver esse é um ato de reverência; maior homenagem do que essa não poderia haver. Eu não poderia deixar de fazer este aparte. Queria dizer duas coisas a V. Exª, porque é possível que neste mandato V. Exa não retorne a esta Casa.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - É verdade.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Vai ser bem-sucedido na Secretaria de Cultura e ficará lá - quem sabe? - por um período mais longo ainda. Imagino que há lições que devemos apreender, devemos assimilar, e V. Exª é uma lição constante: em cada palavra que aflora, que desabrocha, V. Exª dá uma lição de vida, tem profundidade, tem uma profunda avaliação das relações humanas, das conseqüências dos fatos. É um homem que tem horror à superficialidade, não é um homem de superfície, mas de profundezas. Nesse sentido, quero dizer que V. Exª traz a esta Casa, a mim e a todos os Senadores um exemplo extraordinário. V. Exª é um homem do séc. XX - a geração de V. Exª é quase a mesma que a minha, temos pouquíssima diferença de idade -, é um homem que provém do âmago profundo do séc. XX, do período da Guerra Fria, em que as opções eram muito estreitas, quase binárias na vida, e V. Exª tem a tradição da vertente da esquerda brasileira, libertária. Portanto, tem uma formação comprometida com esse âmago, com esse núcleo, com a centralidade do séc. XX. O historiador Eric Hobsbawn, no livro A Era dos Extremos, diz que o séc. XX começou em 1914, com a Primeira Guerra, e terminou com a queda do Muro de Berlim. E, no meio disso, está o auge, com a ameaça dos mísseis, em 1962, no Governo Kennedy, quando as bases seriam instaladas em Cuba. V. Exª é um homem do âmago deste século, no entanto, foi o primeiro desta Casa a chegar ao séc. XXI, porque deu aqui as lições mais expressivas de modernidade, de reconhecimento do novo, principalmente desse monstro obesiano que é o Estado, desse leviatã que é o Estado. V. Exª não calcula o quanto muitos Senadores, entre eles eu, aprenderam com o que aqui foi dito. Portanto, quero fazer esse reconhecimento a V. Exª, que não deixa de ser um homem deste século, mas chega antes de nós todos ao séc. XXI sem deixar de ser um humanista e sem deixar de ter compromisso com esses princípios inabaláveis que o fizeram um homem de esquerda ao longo de sua vida. A outra coisa que quero dizer é também motivo dessa inveja cristã ou piedosa que já foi referida. V. Exª domina a palavra com arte e justeza, como poucos intelectuais brasileiros. E a palavra é o grande instrumento da política, como é também um grande instrumento da arte, para produzir a beleza. Mas V. Exª, a par de usar a palavra na sua emoção estética, numa inserção sempre adequada e melodiosa e perfeita, esteticamente sensível, tem a extraordinária capacidade de dar à palavra uma eficiência e uma conseqüência notáveis. Essa precisão, essa justeza, essa forma extremamente correta de colocar a palavra no contexto do pensamento, do raciocínio, da seqüência de idéias, da concatenação dos argumentos, faz com que cheguemos ao ponto de invejá-lo, invejá-lo positivamente, reconhecendo que cada discurso, cada pronunciamento feito por V. Exª, que agora não teremos mais, seja uma grande lição. Mas, sobretudo, queria deixar claro também que este apego de V. Exª pela palavra é um apego pelo sentido humano da política, pelo humanismo que se encerra na política e que V. Exª sabe tão bem descobrir em cada fímbria, em cada brecha, em cada momento, nos seus pronunciamentos. Quero deixar isso bem registrado, cumprimentando-o pela indicação, pela nomeação. Sou um admirador do atual Prefeito eleito do Rio de Janeiro. Fui seu Colega como Deputado, também como Senador - ele, na Câmara -, e o vejo como homem extremamente inteligente e muito sério. S. Exª não tem nada de louco, como dizem alguns. Ao contrário, tem muita audácia e muita coragem, isto sim, conforme sempre pude registrar em sua vida parlamentar. E, nesse sentido, V. Exª vai, junto com ele, formar uma dupla importante. O Rio de Janeiro ganha com isso, embora o Senado perca. Obrigado a V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador.

            Eu pensava aqui, em que pese a generosidade de V. Exª, que, pessoalmente, haver eu merecido de alguém essa consideração, pode crer, V. Exª, é algo que justifica inteiramente a minha vida política e me faz ter a certeza de que a Representação do Rio de Janeiro, que procurei compartir com os outros dois Senadores, pude desempenhá-la de maneira a deixá-la honrada.

            Muito obrigado a V. Exª, que tocou profundamente - e com generosidade e um pouquinho de exagero a favor, é verdade - em algo que justamente busquei sempre fazer. Se de alguma maneira obtive êxito, fico inteiramente recompensado. Quanto à palavra, devo dizer que não a domino; a palavra é que me domina, Senador.

            Muito obrigado.

            O Sr. Roberto Freire (PPS - PE) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Artur da Távola?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Pois não, nobre Senador Roberto Freire.

            O Sr. Roberto Freire (PPS - PE) - Senador Artur da Távola, todos têm dito que serão breves. Eu o serei, até porque vou me encontrar muito rapidamente com V. Exª fora daqui. Imaginava que pudéssemos nos encontrar sob um mesmo abrigo de concepção de mundo, de valores da generosidade de uma Esquerda democrática, de que V. Exª é um grande exemplo. No entanto, vamos nos encontrar num abrigo que será comum: V. Exª como secretário de um Governo que nós do PPS ajudamos a eleger...

            O SR. ARTUR DA TAVOLA (PSDB - RJ) - E do qual fazem parte.

            O Sr. Roberto Freire (PPS - PE) - ...e do qual também participaremos. Portanto, estaremos juntos, talvez criando algo. Esse é um grande desafio, o que penso ser muito bom, até porque V. Exª é homem de enfrentar desafios, assim como nós, do PPS, seja no resgate de uma figura, já bem delineada pelo Senador José Fogaça, o futuro Prefeito do Rio de Janeiro, o Sr. César Maia, seja no resgate de uma política democrática, progressista, avançada. Isso foi algo que fizemos. No momento em que apostamos na eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, tivemos dificuldades no campo democrático de Esquerda. Todavia, agora, estamos começando a colher frutos muito concretos. Um deles, sem dúvida alguma, é a presença de uma figura como V. Exª, pelo que gostaria de manifestar a nossa imensa satisfação. Melhor seria se estivéssemos sob o mesmo abrigo, até porque V. Exª estaria nos ajudando tremendamente, a nós que estamos aí tentando construir um Brasil melhor. De qualquer forma, mesmo com opções partidárias distintas, não tenha dúvida de que V. Exª sabe descortinar o caminho para nós. Muito obrigado.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Roberto Freire.

            Certa vez, numa dedicatória que fiz em um livro a V. Exª, coloquei: “Companheiro de nau e de esperança”. Continuamos sendo companheiros da mesma nau e das mesmas esperanças.

            O Sr. Agnelo Alves (PMDB - RN) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª com prazer. Após, ouvirei o Senador Sebastião Rocha e a Bancada do Rio Grande do Norte.

            O Sr. Agnelo Alves (PMDB - RN) - Como vê V. Exª, a Bancada do Rio Grande do Norte está unida na homenagem a V. Exª. Senador Artur da Távola, também estou deixando esta Casa, por motivações diferentes contudo. V. Exª vai para um palco que certamente iluminará com seu talento, sua cultura, seu brilho. Eu volto para o meu chão, humilde, pequenino. Quero dizer a V. Exª que, nesta Casa, que conheço de há muito, desde os tempos do velho Monroe, no Rio de Janeiro, tenho grandes amigos, desde o passado até agora, e incluo V. Exª entre os que mais me ensinaram, pelo conhecimento, pelo discurso correto, retilíneo e coerente. Pensei também em fazer com rápidas palavras uma manifestação de despedida, mas quando eu soube que V. Exª iria fazer uma despedida, pensei em ter cautela. Usando uma linguagem nossa, lá do Rio Grande do Norte, lá do Nordeste, digo que pedirei uma “garupa” ou, no caso de V. Exª, no tempo em que não havia tanto risco, uma “carona” para apresentar à Casa as minhas despedidas. Vamos para destinos diferentes, lugares diferentes. V. Exª não vai me ver prefeito de um pequenina cidade, mas eu, de lá, estarei sempre vendo, ouvindo e aprendendo com a cultura que V. Exª, do Rio de Janeiro, espalhará pelo País. Como traço comum, vamos ter sempre esta Casa maravilhosa, o Senado Federal, e tantos companheiros que aqui conhecemos, deixando muita saudade; uma saudade que, embora invada a alma da gente de uma maneira avassaladora, temos que conter em nome de deveres inerentes à causa que abraçamos. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Agnelo Alves.

            Não há diferenças entre uma cidade pequena e uma cidade grande. Entra aí a reflexão tão conhecida de Fernando Pessoa: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. E V. Exª é um homem de alma grande, com uma grande experiência não só como partícipe de uma família política, mas como jornalista, dos melhores que este País tem, categorizado, respeitado e que hoje vive a experiência do Senado. V. Exª, em pouco tempo, ganhou de todos nós não apenas admiração, mas também um elemento afetuoso de convívio, que faz muito bem a todos nós.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Senador Artur da Távola, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo o aparte a V. Exª.

            O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Querido Senador Artur da Távola, inicialmente quero manifestar toda a estima e todo o carinho que tenho por V. Exª, sentimentos estes, aliás, que vemos serem comuns a todos os Senadores pela grande manifestação de apreço que V. Exª está recebendo neste momento em que se despede para cumprir uma missão junto ao povo da cidade do Rio de Janeiro tão relevante quanto a que encerra o mandato de Senador da República. Também quero dizer que as qualidades de V. Exª são tão grandes e distintas que seria repetitivo mencioná-las. Mas, sem dúvida nenhuma, há de se destacar uma cultura inigualável, o conhecimento profundo dos assuntos aqui tratados e a personalidade firme. V. Exª tem dito que não gosta de ser veemente na abordagem dos assuntos; porém, posso dizer que presenciei, em determinados momentos, V. Exª ser extremamente firme e até veemente em suas posições dada a necessidade que o momento exigia. V. Exª consegue compatibilizar essa veemência com a fineza de estilo, sem dúvida nenhuma própria da cultura que ostenta. Contudo, Senador, quero destacar algo que considero fundamental na pessoa de V. Exª: V. Exª fala com a alma e com o coração e, por isso, fala para a alma e para o coração de quem o ouve. Parabéns pelo desempenho que teve no Senado e sucesso na nova missão.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador.

            V. Exª é sensível à alma e ao coração; assim, generosamente me atribui essas qualidades que são suas e a Casa toda o reconhece.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concederei um aparte ao Senador Iris Rezende, que está há muito tempo de castigo.

            O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Artur da Távola, pela honra que me confere concedendo-me este aparte, mesmo consciente da exigüidade do tempo. Eu gostaria de manifestar a V. Exª, em meu nome e em nome dos Senadores Maguito Vilela e Albino Boaventura, as nossas homenagens e a nossa admiração. Devo confessar que, embora distanciado de V. Exª pela dimensão territorial de nosso País, há muitos anos eu já nutria uma admiração muito profunda por V. Exª, acompanhando, mesmo de longe, seus passos e sua atuação em todas as áreas. V. Exª fez de sua vida um sacerdócio em todas as áreas por onde atuou. Quando nos elegemos Senadores, eu já me realizei parcialmente por integrar uma Legislatura em que V. Exª também participa. Mas devo confessar que essa admiração se agigantou durante o nosso convívio neste Senado. Como brasileiro, sinto-me orgulhoso por V. Exª e posso dizer que mais uma vez esse gesto na aceitação de um convite para ocupar a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro demonstra duas coisas: primeiro, a competência do Prefeito eleito; segundo, mais um lado que é o amor que V. Exª tem pela sua terra e pelo Brasil. Nesta tarde, eu gostaria de me solidarizar com V. Exª, cumprimentando-o. Como disse, inicialmente, V. Exª fez da vida um sacerdócio, por meio do qual serviu seu País e seu povo. Indiscutivelmente, por mais qualidades e competência que tenha o seu suplente, o Senado vai se empobrecer com sua ausência. Esperamos revê-lo aqui para que continuemos a ter aquela segurança, porque V. Exª tem mais esta qualidade: transmitir segurança ao meio onde vive e com os quais convive. Muitas vezes, no café ou no gabinete, participando de longe das discussões, nós deixávamos que as coisas corressem porque V. Exª, como muitos outros, estava presente e supria talvez nossas ausências temporárias. Prestamos a V. Exª nossa homenagem e fazemos votos de que continue na Secretaria de Cultura com o mesmo sucesso, com a mesma determinação e com o mesmo amor ao Brasil.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Iris Rezende. Tenho por V. Exª uma admiração antiga também. Recordo-me ainda de algo que me impressionou muito na sua primeira gestão como Governador: o seu projeto habitacional. Não sei por que guardei a novidade significada por aquele modelo implantado por V. Exª em seu Estado, quando Governador. Vejo em V. Exª uma figura da política que passa pelas alternativas da política. Como essas alternativas ora são gloriosas, ora são dolorosas, nunca ouvi de V. Exª uma palavra de queixa, uma palavra de revolta, uma palavra de mágoa. E essa capacidade de continuar - e isso, curiosamente, vi em Juscelino Kubistchek, que jamais respondeu a uma ofensa recebida.

            Saiba V. Exª que, embora nunca tenha lhe dito isso, ali, do meu canto, sempre fiquei a observar, solidário e respeitoso com tudo que V. Exª significa na vida política brasileira.

            Muito obrigado pelas suas palavras.

            O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço o Senador Renan Calheiros.

            O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senador Artur da Távola, o Regimento nos impõe limitações: a necessidade de produzirmos também. O Senador Antonio Carlos, prudentemente, já me faz um sinal dali. Mas não poderia deixar de lhe fazer um rápido aparte em nome da própria Bancada de Alagoas, no Senado Federal - é pretensão minha, é atrevimento. A Senadora Heloísa Helena está me desautorizando aqui (Risos). O Rio de Janeiro, com certeza, vai ganhar, e vai ganhar muito, mas o Senado não; o Senado vai perder duplamente: em primeiro lugar, vamos perder o convívio amável e inteligente com V. Exª; em segundo lugar, vamos perder a presença do Senador coerente, equilibrado, e vamos, sobretudo, perder as intervenções fantásticas que V. Exª teve a possibilidade de fazer para o Senado e para o Brasil. Portanto, V. Exª leve e guarde consigo a admiração e o respeito de todos nós!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Renan Calheiros. V. Exª é uma pessoa tocada pelo destino para exercer funções as mais árduas, que sempre as enfrentou com muita coragem, uma coragem alagoana por demais, V. Exª tão cedo levado a uma Liderança de Governo, levado ao Ministério da Justiça, levado a um trabalho que fez aqui relativo ao Regimento da Casa, de extrema acuidade e profundidade; a coragem com que V. Exª se houve no Ministério da Justiça, que não é um Ministério fácil. Para ser franco, de V. Exª só discordei da briga com o Mário Covas até hoje. Espero que ela passe e que o tempo seja capaz de relevar a relação com uma figura importante e significativa da vida brasileira. De maneira que V. Exª é tocado por uma estrela - nunca se esqueça disso - e continue a honrar essa estrela que brilha constantemente. Muito obrigado à Bancada das Alagoas pela gentileza de darem V. Exªs a palavra de manifestação.

            O Sr. Geraldo Melo (PSDB - RN) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador Artur da Távola?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Com muita satisfação, ilustre Senador Geraldo Melo, meu prezado companheiro.

            O Sr. Geraldo Melo (PSDB - RN) - Senador Artur da Távola, diante da consagração que V. Exª recebe esta tarde, tão merecida e tão bem conquistada pela sua vida, pela sua personalidade, pelo que é V. Exª, pensei que não precisava dizer mais nada. O que posso dizer? Ao invés de falar para V. Exª, para a Casa, talvez eu devesse, neste momento, falar para mim mesmo, para o espaço interior que V. Exª iluminou durante os anos em que tive o privilégio da sua companhia nesta Casa, com o seu exemplo, com a sua atitude, com essa sua conduta de coragem, sem bravata, de autoridade, sem arrogância, de simplicidade e grandeza ao mesmo tempo; esse espaço que V. Exª iluminou apenas estando presente ao nosso lado. Eu não ia falar, mas o nosso Presidente Teotônio Vilela Filho mandou-me uma mensagem e pediu-me que falasse também por S. Exª, pelo meu Partido, o seu Partido. E quero lhe dizer o quanto me sinto honrado com essa missão. Não estou nem a altura dela; para lhe ser sincero, completamente sincero, eu acho que precisaria de ter uma dimensão muito maior do que a que tenho para que minha voz hoje chegasse a altura de V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Não apoiado!

            O Sr. Geraldo Melo (PSDB - RN) - Quero só dizer-lhe que não me despeço, eu, por enquanto, agradeço o muito que me deu a sua companhia e a sua amizade, a mim, ao Senado, ao nosso Partido, ao nosso País. E quero terminar dizendo que o Rio de Janeiro pode lhe levar - já se falou o que é o Rio de Janeiro para todos nós -, é como se o Brasil emprestasse V. Exª ao Rio de Janeiro, mas eles que não se animem muito, porque o Brasil está vivendo um momento rico de construção e de desenho do seu futuro. Para essa obra - o Rio de Janeiro tenha paciência! - o Brasil não pode abrir mão da presença, da inteligência e do patriotismo de V. Exª. Obrigado pela sua presença. Que navegue bem, como sempre fez, e continue orgulhando os seus amigos da figura que V. Exª é!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª, que honra a Mesa desta Casa na 1ª Vice-Presidência, que honra nosso Partido representando-o e que tem sido uma pessoa com tanta troca rica de experiências, é uma das recordações melhores que levarei desta Casa e dessa convivência de dois anos. Muito obrigado pelas palavras.

            O Sr. José Agripino (PFL - RN) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Tem a palavra V. Exª.

            O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Artur da Távola, tenho a impressão de que a Casa toda já lhe falou. Eu estava observando que cada um preparava-se antes de dirigir-lhe a palavra. Preparava-se porque não ia fazer um aparte qualquer; ia fazer um aparte ao Senado Artur da Távola. Eu estava vindo de um compromisso externo, no carro do Senado, dirigido por um motorista do Senado, e ouvia seu discurso e os apartes. Eu vou lhe transmitir a voz da rua. Meu motorista me disse: “O Senador Artur da Távola está deixando o Senado?” Respondi: “Está deixando”. E ele me perguntou: “O que é mais importante: ser Senador ou ser Secretário Municipal do Rio de Janeiro?” Senador Artur da Távola, processei a pergunta dele. Ele fez aquela pergunta, porque, para ele, que vive aqui, o Senador Artur da Távola é um Senador importante; é homem que fala bem; é homem que escreve falando; é homem equilibrado que atua em momentos importantes nesta Casa e que está deixando o Senado para ser Secretário Municipal do Rio de Janeiro. Eu não disse a ele, mas vou dizê-lo a V. Exª. Onde estiver - e claro que a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro é muito importante - V. Exª vai fazer do lugar um lugar muito importante, principalmente a Secretaria da Cultura do Rio de Janeiro, para onde V. Exª vai por vocação. V. Exª vai ser Secretário porque quer, porque gosta, porque é vocacionado para isso. O Prefeito César Maia o escolheu, e escolheu bem. V. Exª vai ter uma missão que eu invejo. Vai conviver com os artistas. O Rio de Janeiro é a meca da cultura brasileira. Artista é figura curiosa. São pessoas que transitam no mesmo patamar de notoriedade das pessoas mais importantes deste País. E para conviver com artista tem que ser artista e tem que ser importante. V. Exª é um artista no bom sentido da palavra. Por outro lado, V. Exª vai promover a cultura popular. E aí talvez onde esteja o mais importante de sua tarefa: a promoção da cultura do Rio de Janeiro, que é um símbolo. Eu quero lhe dizer, para finalizar, até porque já fui muito longo, é que espero que V. Exª faça da cultura do Rio de Janeiro o brilho maior da administração do Prefeito César Maia. Que Deus o ilumine e que lhe guarde bem!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. A lucidez das palavras de V. Exª, com que nos acostumamos na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania tendo-o como Presidente - e eu me acostumei ao longo desses anos -, lucidez que revela a elegância do seu pensamento - traduziu, melhor do que eu poderia dizer, o significado dessa decisão. Seu motorista tocou no ponto central: como um homem, num determinado momento de sua vida, escolhe fazer um trabalho numa Secretaria - já propus a mudança do nome para Secretaria das Culturas -, deixando uma instituição da importância e do significado do Senado.

            Claro que deixo esta Casa com muito sentimento de perda, mas eu o faço, evidentemente, pelas razões que V. Exª muito melhor do que eu soube explanar, com a lucidez que o caracteriza e com a inteligência e a clareza com as quais nos brinda a cada dia.

            Senador José Agripino, muito obrigado.

            O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Ouço V. Exª com prazer.

            O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Nobre Senador Artur da Távola, não poderia me furtar ao desejo de também aparteá-lo. Os cumprimentos têm de ser dirigidos ao Prefeito César Maia e ao nosso querido Rio de Janeiro, cidade de todos os brasileiros, cidade mais brasileira do País. E César Maia, inteligente como é, nobre Senador Artur da Távola,...

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Não fosse ele um Maia.

            O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - César Maia está provando algo que todos já sabem: V. Exª transcende a tudo, inclusive a mera questão partidária; V. Exª é uma unanimidade. Quero dizer-lhe que todos nós - e essa foi a tônica dos apartes - temos uma admiração singular por V. Exª, que honrou esta Casa e certamente ainda a honrará. O nosso sentimento com relação a V. Ex.ª já é de saudade - de congratulações ao povo carioca e a César Maia e de saudade de V. Ex.ª. Falo em nome do Estado do Tocantins, do povo tocantinense, que tem uma Secretaria de Cultura também muito ativa. Vou orientar nossa secretária para que “bisbilhote” as ações de V. Ex.ª lá na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Falo em nome da Bancada, do Senador Eduardo Siqueira Campos e do Senador Leomar Quintanilha e quero, para finalizar, dizer a V. Ex.ª que, onde estiver, lá na Secretaria da Cultura, no Ministério, no Governo, aqui no Senado, alguém estará, em algum canto deste País, dizendo que ali está sendo desenvolvido um trabalho sério, honesto, competente, recheado de conhecimento, um trabalho benéfico para a comunidade brasileira. Receba nossos cumprimentos.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Senador Carlos Patrocínio, sinto-me muito grato e honrado. Estou levando todas essas manifestações não nos Anais da Casa, mas aqui nos do coração. Saiba V. Ex.ª que poderá contar comigo de modo totalmente desinteressado no que eu puder ajudar nesse trabalho formidável da Universidade do Legislativo, do qual V. Ex.ª tem sido o paladino principal, e que, evidentemente, dá uma maioridade ao Senado Federal. Esta Casa não é mais apenas, na contemporaneidade, o plenário, as Comissões e o debate político; é uma Casa formadora de pensamento, formadora de opinião, divulgadora desse pensamento. É uma Casa que pode chegar com uma grande contribuição para a Nação, além daquela função específica de legislar sobre o Orçamento. É um trabalho que V. Exª, como membro da Mesa, tem feito e saiba que é reconhecido. Já havíamos conversado a respeito: mesmo fora daqui pode contar a qualquer momento com a minha colaboração.

            O Sr. Djalma Bessa (PFL - BA) - Nobre Senador Artur da Távola, V.Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo o aparte ao Senado Djalma Bessa.

            O Sr. Djalma Bessa (PFL - BA) - Senador Artur da Távola, peço-lhe inicialmente desculpas por utilizar de lugar comum. V. Ex.ª vai para o lugar certo. É o homem certo para o lugar certo. Para ser justo, correto e verdadeiro, haverei de dizer que a Secretaria de Cultura não vai prestigiar V. Ex.ª . Não! V. Ex.ª vai prestigiar e projetar a Secretaria da Cultura. Ademais, V. Ex.ª não apenas o orador ouvido, mas é o Senador ouvido e citado. Lembro que V. Ex.ª fez aqui um discurso quando se discutia a denominação do aeroporto de Salvador para Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães. V. Exª impressionou bastante a Bancada da Bahia. Foi citado, vale observar, pelo Senador Antonio Carlos Magalhães no ato da inauguração do nome do aeroporto. Mas, permita-me dizer, em poucas palavras, o que modestamente queria afirmar de V. Ex.ª . É comum um intelectual se destacar em determinado grau do saber, na filosofia, na religião, na ciência, no direito. Mas V. Exª nos impressiona mais pelo fato de seu saber ser um saber amplo, um saber universal. V. Exª tece aqui diversos assuntos, diversas matérias, com uma desenvoltura impressionante, com uma profundidade que realmente nos encanta. Não é só pela forma, mas pelo mérito. V. Exª fala de política, de jornalismo, de tudo, de um universo de assuntos, não sendo exagero algum dizer que seu saber é universal. V. Exª é um cidadão do mundo; é como a música clássica. V. Exª está recebendo essas manifestações sem que se preste qualquer favor, pois estamos apenas fazendo-lhe justiça. V. Exª realmente é um homem que fala com elegância, com eloqüência, impressiona, encanta e convence-nos. Parabéns a V. Exª.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Djalma Bessa. Isso é muito da generosidade baiana, da generosidade de V. Exª. Noto que V. Exª é um grande observador da Casa. V. Exª é um homem muito assíduo nas Comissões, um observador agudo dos comportamentos. Sempre fico imaginando o que V. Exª fica a pensar disso e daquilo. E, quando recebo a generosidade de seu pensamento, isso me faz duplamente feliz, recompensado. Gostaria, efetivamente, de caber dentro desse modelo que V. Exª construiu a meu respeito.

            O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - Senador Artur da Távola, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Concedo um aparte ao Senador Gilberto Mestrinho. Há mais dois Senadores querendo apartear-me, Sr. Presidente. Vou acabar perdendo o apoio do Senador Antonio Carlos Magalhães.

            O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - Eminente Senador Artur da Távola, esta Casa, apesar dos valores extraordinários que tem, vai ficar empobrecida, vai ficar meio vazia com a ausência de V. Exª. A forma brilhante como V. Exª expõe, o conhecimento que tem, a maneira leve com que flui o seu pensamento encanta todos nós. Acredito que V. Exª jamais viverá o drama do Tango de Gardel: a tristeza do que foi, por não ser mais, e não ter a dor de não voltar a ser. V. Exª, com certeza, na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, vai dar um passo importante para a cultura brasileira, porque o Rio é um símbolo nacional, é uma expressão de espalhamento do conhecimento, da cultura, é a capital cultural, como já se disse aqui. E V. Exª poderá dar, por meio da Secretaria de Cultura do Rio, uma dimensão extraordinária na formação de um pensamento novo para a cultura brasileira. Parabéns e sucesso a V. Exª!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Gilberto Mestrinho. Fico honradíssimo por essas palavras, feliz também. Saiba V. Exª que, além de honrado, fico feliz de merecer, de um homem com a sua experiência pública, esse testemunho que ficará eternamente guardado comigo. Muito obrigado a V. Exª!

            O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Artur da Távola?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Pois não, nobre Senador Álvaro Dias.

            O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Artur da Távola, poderia, para resumir e economizar tempo, apenas subscrever o que já foi dito por todos os colegas desta Casa. Mas me permita registrar a minha admiração por V. Exª com algumas palavras a mais. Sem dúvida, está na tribuna um homem público completo. Há poucos nas prateleiras da política do País com o perfil de V. Exª. Formação cultural, postura ética, facilidade de comunicação ímpar e liderança no exercício de funções como a que exerceu na Presidência do nosso partido, o PSDB, em determinado momento, dedicando-se à sua organização e à sua valorização. Sorte tem o Prefeito eleito do Rio de Janeiro, César Maia, de contar com V. Exª numa pasta da maior importância para aquele Estado e para o País, porque aquela que é a caixa de ressonância da cultura brasileira ganhará agora relevo, importância e qualidade, sem dúvida nenhuma.

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador. V. Exª mencionou a Presidência do PSDB. E desse período guardo a alegria de ter trazido V. Exª e elementos importantes do Paraná para o Partido, à custa até de ter perdido algumas amizades nesse processo, mas com a certeza de que o Partido cresceu e se engrandeceu bastante no Paraná.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Artur da Távola?

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Pois não, Senador Arlindo Porto. A voz de Minas Gerais concluirá este já longo trajeto.

            O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - Com muita honra, não obstante o Senador José Alencar já ter deixado a sua mensagem em seu nome e em nome dos mineiros. Na condição de mineiro, mas especialmente na condição de Senador pelo PTB, quero traduzir o sentimento petebista a V. Exª neste momento em que está indo tomar parte num Governo petebista. Quero desejar muito sucesso a V. Exª que, aqui nesta Casa, sempre apresentou os mais altos momentos, com sua cultura, sua serenidade, sua competência, com a sua forte atuação parlamentar. Mas quero também desejar a V. Exª e ao nosso Prefeito César Maia que consigam desempenhar aquilo com que sonham os cariocas, os brasileiros. E esse, naturalmente, é o compromisso do nosso Prefeito. Fazendo parte do Governo do PTB, espero que o nosso Partido possa devolver ao Rio de Janeiro aquilo que é tão sagrado, tão importante: a cultura, a arte, o lazer e o desenvolvimento. Muito sucesso e seja bem-vindo a esse Governo petebista!

            O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB - RJ) - Muito obrigado, Senador Arlindo Porto. Sinto-me honrado com suas palavras. Tenho uma admiração grande pelo período de V. Exª no Ministério, por sua ação, sua seriedade, sua elegância.

            Muito obrigado por essas palavras.

            Srªs e Srs. Senadores, quero concluir dirigindo uma palavra ao nosso Presidente, a quem aprendi a admirar por vários caminhos e por vários momentos e a quem nós todos devemos ter uma gratidão fundamental - concordemos ou não com S. Exª -, a de ter levado adiante o que em dois anos o Presidente José Sarney fez pela figura do Senado: a restituição da presença do Senado brasileiro na vida brasileira, com vigor, com manifestações permanentes de energia, até com essa capacidade que tem de criar um governo paralelo - que era o sonho do PT, mas foi S. Exª que realizou - e, permanentemente, trazer contribuições ao próprio Governo. E é do fundo dessa admiração, Sr. Presidente, que quero lhe deixar um apelo e peço a Casa que o ouça, concorde ou não com ele.

            O nosso Senado, Presidente Antonio Carlos Magalhães, está carecendo da pacificação necessária - e digo como minhas palavras de despedida - para cumprir o grande papel que V. Exª tem conduzido. Lamento não ter aqui a presença do Senador Jader Barbalho, porque acredito que está em mãos de V. Exª a pacificação desse processo. Tenho a certeza de que V. Exª é um homem que tem grandeza d’alma, espírito público para prestar mais este serviço à Nação, por mais que lhe custe no plano pessoal.

            Ninguém, ninguém como V. Exª, pela maturidade, pela energia, pela seriedade com que leva a vida pública, poderá conduzir essa pacificação adiante. O Senado Federal precisa dessa pacificação, o Senado Federal precisa entrar naquilo que ele é efetivamente como instrumento, não o noticiário fácil dos jornais, mas a Casa do saber, do labor, dirigida por um homem que sabe perfeitamente o que isso representa e tem feito.

            Deixo como apelo final, com toda a sinceridade que sempre marcou a nossa relação e com a admiração que V. Exª conhece, cabe talvez a V. Exª, pela maturidade, pelo sofrimento, pela energia, ser o grande artífice dessa pacificação, porque V. Exª tem grandeza para tal.

            Aceite de coração, com toda a sinceridade que me é possível, este apelo final que deixo em nome de um Senado ao qual dei o melhor de mim, ao qual agradeço ter tido a possibilidade de uma convivência tão rica.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


            Modelo14/25/246:57



Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2000 - Página 24996