Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem póstuma a Chico Mendes, pelo transcurso da data de seu nascimento.

Autor
Júlio Eduardo (PV - Partido Verde/AC)
Nome completo: Júlio Eduardo Gomes Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SENADO.:
  • Homenagem póstuma a Chico Mendes, pelo transcurso da data de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2000 - Página 25470
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SENADO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CHICO MENDES, LIDER, SERINGALISTA, ESTADO DO ACRE (AC).
  • REGISTRO, INICIO, PROGRAMAÇÃO, SEMANA, HOMENAGEM, CHICO MENDES, LIDER, SERINGALISTA, MUNICIPIO, XAPURI (AC), ESTADO DO ACRE (AC).
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, DIRETORIO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, TRIBUNA, SENADO.
  • IMPORTANCIA, APROVAÇÃO, SENADO, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, REAJUSTE, SALARIO MINIMO.
  • AGRADECIMENTO, SENADOR, SERVIDOR, SENADO.

O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, demais presentes, tenho a honra de vir a esta tribuna para comemorar o dia do nascimento de Chico Mendes, dia em que ele completaria 56 anos de idade, não fosse seu caminho interrompido há 12 anos.

Com ele convivi e dele tenho referências que são mantidas vivas nas práticas políticas do meu Partido - o Partido Verde - e no querido Estado do Acre. Chico Mendes, mais que inspiração, incentivo e exemplo, foi apoio concreto e fundamental à formação do PV no Estado do Acre.

Humilde, de presença suave, marcou nossos corações com o exemplo da parcimônia e da coragem, naquele jeito doce de enfrentar as dificuldades e os que queriam apenas locupletar-se com as riquezas de nossas florestas. Tratava sempre com humanidade mesmo quem tramava contra o seu trabalho. Muitas e belas lições aprendemos com ele, principalmente a prática política da paz.

Chico foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988, na sua casa em Xapuri, por Darly Alves e seu filho. Um só tiro de escopeta fez muitas perfurações em seu corpo, o que o levou ao êxodo letal. A dupla Darly/Darcy foi apenas a executora, porque os mandantes reais nunca chegaram ao Tribunal.

Na verdade, aquele tiro era para ter sido desferido oito anos antes, na mesma emboscada que matou Wilson Pinheiro, o primeiro Presidente do então recém-criado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. Contudo, quis o destino que, naquele dia, Chico não pudesse estar em Xapuri.

Aquela gente sofrida, embrenhada na magnífica floresta, ganhava esperança, embalada nos sonhos que Chico compartilhava com seus companheiros. Da esperança, vinha a força, a mudança, a organização. Da união organizada, vinha mais força e mais esperança. E o movimento foi crescendo e começou a incomodar demais os ambiciosos instalados na terra e no poder mal divididos.

Na floresta, com seus pares, Chico sabia que não era da mata derrubada que viria a riqueza. Unidos, empatavam os desmatamentos - homens, mulheres e crianças, obviamente desarmados, agrupavam-se na mata desafiando as ávidas motosserras dos madeireiros e pecuaristas, apenas com as suas pacíficas presenças.

No sonho de Chico Mendes, a hiléia crescia à medida em que seus povos tivessem os meios para fundar uma sociedade harmônica, econômica e socialmente justa e ambientalmente equilibrada.

Hoje, mais do que nunca, Chico Mendes vive. Está aqui entre nós e pertence agora à história viva do Acre, da Amazônia e deste País. É uma referência mundial. Aqueles que tramaram a sua morte, certamente, tinham idéia da sua grandeza - aquela figura singela guardava o líder inquietante, suave e criativo, o militante perseverante e audacioso. Os executores de sua morte jamais suspeitaram que ajudariam a torná-lo imortal e que sua presença incorpórea o faria ainda mais livre e forte na luta dos povos da floresta.

Portanto, é com profunda emoção que reverencio a memória de Chico Mendes, hoje louvando a data do seu nascimento. E falo especialmente por todas as pessoas do meu Partido e do querido Estado do Acre e por todos aqueles que, ambientalistas ou não, desejam que a paz e a harmonia prevaleçam no mundo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inspirado pela justa rebeldia de Chico Mendes, não posso deixar de aqui registrar que, a partir de hoje, dia 15, no Estado do Acre, na cidade de Xapuri, o Comitê Chico Mendes, o Conselho Nacional dos Seringueiros, a Central Única dos Trabalhadores, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Acre, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, a Paróquia de Xapuri, o Partido Verde e a sociedade organizada de Xapuri do Acre iniciam a programação da Semana Chico Mendes, em que se comemora o seu nascimento. Essa programação se encerra no dia 22 de dezembro, data comemorativa da promoção de Chico Mendes a uma esfera superior.

Na programação desta semana, haverá a abertura da Fundação Chico Mendes - que acontece hoje -, um show com banda e artistas locais, atividades no seringal Cachoeira, torneios esportivos, exposição de artes plásticas, gincanas escolares, uma maratona Chico Mendes, assembléia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e visita à casa e ao túmulo de Chico Mendes, onde será realizada uma missa e depois um ato político com um show.

            Numa semana com essa importância histórica, na proximidade do Natal, quero dividir com os nobres Pares a honra de quem, mesmo há pouco tendo chegado a esta Casa, pôde participar de um grande presente que o Senado Federal deu à população brasileira. Tenho certeza de que o Senado se eleva quando aprova a quebra do sigilo fiscal. Tenho certeza de que esse é um marco nas relações do poder financeiro neste País.

            Mas também quero, desta tribuna, manifestar a ansiedade e a vontade de todo o povo brasileiro, que também quer, como um presente de vésperas de Natal, que o Governo, nos seus três níveis - federal, estadual e municipal -, possa contribuir principalmente cortando despesas, enxugando a máquina administrativa. Enfim, o povo espera que as três esferas do Governo possam governar com honestidade, senão a grande ação que esta Casa oferece à Nação brasileira não terá o efeito por que muitos anseiam: melhores dias.

Sabemos que o Parlamento cumpre o seu dever e se eleva quando aprova um novo salário mínimo, mas o povo aguarda também que seus direitos fundamentais sejam respeitados. E, neste momento, quando vivemos o final do milênio, certamente já podemos dizer que esse direito e essa ansiedade são seculares.

Neste contexto, temos o prazer de receber no Senado, na Capital da República, a Direção Nacional do Partido Verde, representada pelo Presidente José Luiz de França Penna, pelo Secretário Domingos Fernandes e pela Drª Vera Lúcia Mota, Secretária Nacional de Assuntos Jurídicos, que nos honram com suas presenças aqui na tribuna de honra.

Estamos reunidos no sentido de buscarmos os melhores caminhos para que o nosso Partido possa oferecer a sua parcela de contribuição no cenário partidário e político nacional. Temos feito reuniões e avaliado como nós, do Partido Verde, administrando de maneira consciente a evolução do Partido nessas últimas eleições, podemos ter a certeza de que hoje as nossas relações de poder financeiro no mundo estão para ruir, como bem disse aqui o ilustre Senador Pedro Simon; exemplos disso são o Muro de Berlim, as disputas do leste europeu e muitos outros símbolos mundiais.

Nós, que tanto prezamos pela consciência plena do que é a soberania da Nação e do povo brasileiro, sabemos que os valores do próximo milênio estarão centrados em riquezas que temos em abundância - há aqui cerca de 10% da água potável do mundo e a maior biodiversidade do planeta. E, certamente, se hoje países como os Estados Unidos se sentem tão poderosos, num futuro próximo, com uma nação ambientalmente justa e bem administrada, os valores do poder consciente, participativo e humanitário estarão como o nosso Brasil.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero ainda registrar o meu agradecimento a todos os meus nobres Pares e aos funcionários desta Casa pelas mensagens e presentes recebidos, desejando a todos que sejamos capazes de continuar contribuindo para uma boa imagem do Parlamento - especificamente do Senado Federal -, que, tenho certeza, é fruto da compreensão e do trabalho coletivos. Espero que possamos chegar a uma novo milênio ambientalmente consciente, justo e saudável, com relações humanas de elevado respeito.

Assim, quero desejar a todos um feliz Natal e boas entradas, extensivos, é claro, aos espectadores da TV Senado, que nos honram muito com o seu acompanhamento.

Assim, encerro o meu último pronunciamento deste ano, deste século, deste milênio.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2000 - Página 25470