Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Formalização da candidatura de S.Exa. à Presidência do Congresso Nacional.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Formalização da candidatura de S.Exa. à Presidência do Congresso Nacional.
Aparteantes
Ademir Andrade, Bernardo Cabral, Carlos Wilson, Eduardo Siqueira Campos, Eduardo Suplicy, Heloísa Helena, José Eduardo Dutra, Paulo Hartung, Pedro Simon, Roberto Requião, Roberto Saturnino, Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 07/02/2001 - Página 416
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, MELHORIA, FUNCIONAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, REFERENCIA, RENOVAÇÃO, PRESIDENCIA, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, NECESSIDADE, EMPENHO, GARANTIA, DIREITOS, CIDADÃO, DEFESA, ETICA, EXERCICIO, POLITICA, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por decisão consensual dos Senadores dos Partidos de Oposição, sou candidato ao honroso posto de Presidente do Senado Federal. Uma escolha que me gratifica sobremodo, porque nascida de geração espontânea, sem que eu a buscasse por qualquer meio. Mas aceito-a, porque lhe foi emprestado um sentido de missão, que não me permitiria recusar, ainda que porventura assim o desejasse.

            Sobre as razões da preferência pelo meu nome, caberia aos que o escolheram explicá-las. De minha parte deixo de fazê-lo para não cometer o vitupério do elogio em boca própria, explícito ou implícito, na tentativa de justificar a minha escolha e também para não incorrer na deselegância de atingir meus adversários ao me atribuir supostas qualidades que, por via oblíqua, lhes estaria negando. Finalmente, deixo ainda de fazer maiores considerações sobre a preferência dos meus companheiros para não concluir, quem sabe por uma recusa, vez que sou tão rigoroso nas minhas avaliações, que eu mesmo poderia não me aprovar se fizesse um autojulgamento.

            Importa, no entanto, anunciar que a minha candidatura está posta. Espero que não seja encarada como um gesto simbólico de protesto, mas como o lançamento de um real competidor, em busca de uma difícil, mas não impossível, vitória.

            Conquanto pareça fantasioso e ingênuo contar com o triunfo de um candidato oposicionista, de um Partido pequeno, contra Partidos majoritários e de Situação, eu diria que o sonho só se tornará realidade se a candidatura adquirir um caráter suprapartidário, hipótese que a muitos parecerá delirante, numa Casa que é por natureza visceralmente política.

            Dir-se-á que peco por ingenuidade. Talvez! Mas a crítica me soa antes como laudatória do que demeritória, porque estou convencido de que o ser humano que não conserva dentro de si um pouco de inocência terá perdido muito da sua essência e também, portanto, da sua decência.

            Ademais, não teria sentido permanecer na política se não fosse para lutar utopicamente para vê-la transmudada num palco iluminado e arejado, no qual o interesse público prevalecesse sempre sobre os interesses pessoais e as conveniências partidárias.

            Freqüentemente, verruma-me o espírito uma inquietação. Quantos de nós, políticos - eu inclusive -, nos nossos momentos de solidão, na hora da verdade, perante Deus e a nossa consciência, podemos, sem nos envergonharmos, responder à seguinte pergunta: “quantas vezes, nas decisões que tomei, coloquei o interesse público acima dos interesses pessoais e das conveniências partidárias?”

            Não creio que valesse a pena continuar na vida pública se eu perdesse a capacidade de me indignar e de sonhar. Mas é de se perguntar se estou sonhando, neste instante, ao contar com uma reação cívica desta Casa, na qual ninguém acredita. Admito que a hipótese de vingar uma candidatura como a minha seria irrealista, em outros tempos, em condições normais e em uma eleição interna corporis, à qual a sociedade estivesse alheia. Mas todos sabemos que, desta vez, não é assim.

            Vivemos um tempo de transformações. Essa eleição se processa em circunstâncias atípicas e tem o acompanhamento atento de grande parte da sociedade brasileira. E esta anseia por um Parlamento de novo tipo, transformado por uma revolução de costumes que implique um rompimento com as velhas práticas, que a Nação já não consegue tolerar.

            Creio que uma eleição de resultado surpreendente e inusitado nesta Casa seria o fato novo, diferente, a sinalizar com um aceno de esperança e a catapultar para bem alto o prestígio do Congresso Nacional, ainda mais ao acontecer simbólica e coincidentemente do derrubar de um novo milênio. Esse gesto sinalizador de renovação e mudança seria um fato tão marcante a sublinhar esta Legislatura, que haveria de ficar por longo tempo na memória do povo brasileiro, menos por mim do que, talvez, apesar de mim, não tanto pelas minhas qualidades pessoais, mas pelo papel histórico que circunstancialmente me coube encarnar.

            Posso estar cometendo um engano, mas algo me diz que a maioria dos Senadores terá sensibilidade para perceber o alcance e as implicações de um acontecimento dessa magnitude. Por isso, aceitei a minha candidatura, que ora formalizo, com o compromisso de logo divulgar uma proposta de trabalho, que deixo de apresentar neste momento, porque será elaborada a muitas mãos, pelos Partidos que me dão apoio, inspirada no desejo de levar o Poder Legislativo ao encontro dos anseios populares. Entretanto, desde já, antecipo que terá como pontos fundamentais o princípio da gestão democrática e o papel de relevo a ser dado ao Conselho de Ética no funcionamento desta Casa. Quanto à campanha em busca de apoios, será conduzida de maneira discreta, como é do meu estilo e da tradição do Senado. O pedido a cada um, faço-o agora, de público. A abordagem pessoal será feita com cuidado, não por me constranger em pedir, mas, ao contrário, para poupar de constrangimento aqueles que não queiram ou não possam votar em mim.

            Espero o favor de não ser interpretado erroneamente por este gesto, que, longe de ser demonstração de soberba, é manifestação de respeito pelos meus Colegas. De todos desejo votos que sejam fruto de reflexão crítica e de profunda tomada de consciência. Quem sabe, de repente, contra todas as previsões e expectativas, os Senadores - se não todos, mas muitos - votarão inspirados nos grandes vultos que povoaram este Plenário, como - para lembrar alguns -, Ruy, Nereu Ramos, Milton Campos, Afonso Arinos e, para citar um dos vivos em sua hora crepuscular, esse notável homem público e extraordinária figura humana que é o Governador Mário Covas, que marcou com tinta indelével sua passagem nesta Casa.

            Vou, assim, tranqüilo para essa disputa democrática, certo de que o seu desfecho, seja qual for, em nada afetará o meu navegar. Vitorioso, não há risco de perder o rumo por deslumbramento, pois orientado continuarei a ser pela minha bússola interior, que tem como norte o rígido sistema de valores que rege a minha vida. Derrotado, não me sentirei diminuído nem me ficará na boca o mais leve travo de amargura, até porque me servirá de consolo a sabedoria dos versos camonianos que gosto de repetir: “Honrarias, honrarias melhor é merecê-las sem as ter do que possuí-las sem as merecer.”

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte, Senador Jefferson Péres?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Com todo prazer, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cumprimento V. Exª pela iniciativa e atitude, ao ter sido escolhido, por unanimidade, pelos 16 Senadores que compõem o Bloco de Oposição, para representar a nossa vontade. E, tendo sido escolhido candidato à Presidência do Senado Federal, V. Exª toma uma atitude inédita nesta Casa. Sempre, desde que aqui cheguei, ponderei, sugeri aos possíveis candidatos à Presidência do Senado que tivessem a postura que V. Exª está tendo, ou seja, que, antes mesmo da eleição prevista para o próximo dia 14, pudessem os candidatos expor seus pontos de vista, as razões que levaram V. Exªs a lançarem-se como candidatos à Presidência do Senado. Sugeri, na última quinta-feira, ao outro candidato já definido pelo PMDB, Senador Jader Barbalho, que siga o exemplo de V. Exª e também exponha as razões que o levaram a ser candidato à Presidência, bem como sua plataforma, seu programa. Tenho certeza de que está no caminho certo. As propostas que delineia como base de sua ação dizem respeito aos nossos anseios. V. Exª quer fazer do Senado Federal a mais forte e independente instituição, uma instituição que permita a qualquer Senador, de qualquer partido, exercer na plenitude os objetivos consagrados pela Constituição. É preciso bem legislar, fiscalizar os atos do Poder Executivo e bem representar os Estados. Precisamos de boas condições nesta Casa para ver realizada tal tarefa. V. Exª transmite-nos que, nos próximos dias, estaremos convidados a elaborar com V. Exª o seu programa em mais detalhes. Como V. Exª tornou pública a sua candidatura, essa tão bela disposição, permita que já comece a dizer algumas coisas, porque, acredito, esse seja o propósito de V. Exª. Ainda hoje, no início da tarde, formulei uma sugestão: que o eleito presidente no dia 14, de pronto, convide o Senhor Presidente da República para aqui, no início da sessão legislativa, no dia 15 de fevereiro, comparecer, ele próprio, para transmitir a sua mensagem sobre a situação do País, o seu programa, as suas metas; que isso não seja mais feito simplesmente enviando-se, por intermédio do Ministro Chefe da Casa Civil, uma mensagem para ser lida friamente por aquele que ocupa a Primeira Secretaria do Congresso Nacional; que seja algo mais vivo a exemplo do que ocorre em outros países, onde o Chefe de Estado comparece ao Congresso interagindo com o mesmo, dizendo quais são os seus planos e propósitos. Se na Constituição não está prevista ainda a vinda do Presidente, o assunto está obviamente aberto; o Presidente José Sarney compareceu no último ano do seu mandato, num momento difícil, e leu a mensagem, que foi tão bem recebida. Também que, como presidente do Senado Federal, possa V. Exª instituir um método de trabalho com o propósito de participação efetiva anunciado por V. Exª. Esperamos que haja uma participação mais regular dos membros da Mesa Diretora, a fim de que possam todos os partidos da Casa serem ouvidos e que possam os Senadores Líderes, com regularidade, reunirem-se também com o Presidente para discussão ora da pauta, ora daquilo que é mais importante ao Senado realizar. Da mesma forma, esperamos que V. Exª possa ter como método de trabalho normas que venham a tornar a nossa instituição a mais transparente possível, porque, se temos como atribuição fiscalizar os atos do Poder Executivo, será sempre muito importante que venhamos a dar o exemplo na nossa própria Casa. Portanto, meus parabéns a V. Exª. O comportamento cotidiano de V. Exª desde que ingressou nesta Casa, a forma como agiu e a maneira ética como V. Exª demonstrou estar sempre priorizando o interesse público em detrimento dos interesses do seu Partido ou mesmo interesses pessoais, certamente fizeram com que dezesseis Senadores que compõem o Bloco de Oposição viéssemos, consensualmente, indicar o nome de V. Exª à Presidência do Senado. Convido, portanto, os 81 Srs. Senadores a abraçar a causa de fortalecimento do Senado Federal votando no Senador Jefferson Péres. Meus cumprimentos.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy. Já incorporo à minha plataforma a sua sugestão de providenciar aqui uma réplica do Estado da União, com o Presidente da República presente, no início dos trabalhos legislativos.

            O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Senador Jefferson Péres, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Concedo o aparte a V. Exª.

            O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT - AP) - Senador Jefferson Péres, jornais publicaram um espetacular artigo do jornalista Elio Gaspari a respeito de V. Exª, cujo título é "Jefferson Péres é perigoso. É um homem decente". Diria que, mais do que isso, a história de vida de V. Exª e a sua atuação parlamentar, quer seja na Câmara de Vereadores de Manaus, quer seja muito especialmente aqui no Senado, tem demonstrado que V. Exª é um homem competente. Em sendo assim, nesse pronunciamento em que V. Exª manifesta a decisão, apoiada pelo Bloco de Oposição, de concorrer à Presidência do Senado, portanto do Congresso Nacional, passando à margem do discurso maniqueísta do bem e do mal, não por estar acima do bem e do mal certamente, mas sobretudo por entender que a missão de que pode o destino estar fazendo com que V. Exª alcance este cargo de extremo prestígio na Federação brasileira, demonstra segurança e, sobretudo, serenidade. O Congresso Nacional, presidido por V. Exª, certamente navegará, diante de todas as tempestades que poderão advir dentro do processo democrático do dia-a-dia e dos embates políticos. V. Exª nos conduzirá a todos como bom timoneiro, até porque, sendo originário da Amazônia, mais do que ninguém conhece os princípios da navegação, ofício tão peculiar daquela região. V. Exª transmite a segurança, a tranqüilidade e a serenidade para conduzir bem o Congresso Nacional. Por isso eu diria que, passando à margem desse discurso maniqueísta, V. Exª demonstra que, ao ocupar este papel relevante de candidato ao cargo de Presidente do Senado Federal, está imbuído do propósito de cuidar dos assuntos de interesse público, dos assuntos que dizem respeito aos interesses do povo brasileiro, da imagem do Congresso Nacional, da ética na política e, por isso, Senador Jefferson Péres, sem dúvida nenhuma, V. Exª está perfeitamente qualificado. A candidatura de V. Exª não pode ser vista apenas como uma candidatura de Oposição; tem que ser observada como uma candidatura suprapartidária. V. Exª, sem dúvida nenhuma, pelas suas qualidades, saberá, se eleito, sobrepor-se às questões menores, passar ao lado dos embates que não interessam à Nação brasileira e, independente de ser oposição ao Governo, saberá conduzir o Congresso Nacional dentro da expectativa do povo brasileiro de que o Congresso possa refletir os anseios do povo brasileiro, apoiar os projetos de interesse da coletividade, sejam eles advindos do Governo, de qualquer Parlamentar ou de qualquer iniciativa popular, mas, sobretudo, zelando pela boa imagem do Congresso Nacional e desenvolvendo um trabalho extremamente democrático, fazendo justiça àquilo que a sociedade espera de todos nós, sobretudo do Congresso Nacional. Assim, parabenizo-o pela sua decisão. Embora V. Exª tenha sido indicado candidato com o apoio do Bloco de oposição, pertence-lhe, sobretudo, uma grande parcela dessa decisão pela sua determinação e pela compreensão de que V. Exª está diante de uma missão. V. Exª se colocou à disposição porque entendeu que deveria alguém da qualidade, da envergadura política e da maturidade de V. Exª, que o Congresso Nacional precisava, nessa disputa, ter uma representatividade dessa qualidade. Também não vou entrar nessa polêmica sobre as candidaturas porque estamos diante de um processo democrático e acredito que todos têm o direito de pleitear esse cargo de Presidente do Senado e da Câmara dos Deputados. Não pretendo, portanto, entrar nesse embate de disputas partidárias, de disputas de Lideranças nem da Base do Governo. Se eleito, tenho a plena confiança de que V. Exª conduzirá com extrema honradez e competência invejável o Congresso Nacional e o Senado da República. Parabéns, Senador Jefferson Péres.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Sebastião Rocha.

            O artigo de domingo do jornalista Elio Gaspari, mencionado por V. Exª, comoveu-me. O valor de um elogio depende de quem o faz. Não conheço o jornalista, ele não é meu amigo, é um homem avaro em elogios e me telefonou pedindo algumas informações sobre mim. Depois, surpreendeu-me com aquele artigo. Senador Sebastião Rocha, não quero posar de paladino da moralidade. Ética se tem e se pratica e não se alardeia. Ao desfraldar a bandeira da ética, já se está tentando tirar proveito disso, já não se está sendo ético, como eu disse outro dia na reunião do Bloco. De qualquer modo, o artigo do jornalista me tocou muito.

            A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Concedo o aparte a V. Exª.

            A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Jefferson Péres, a gigantesca maioria dos Parlamentares do PSB, do PV, do PPS, do PDT, Partido de V. Exª, e do PT decidimos coletivamente por não fazer aparte a V. Exª. Assim decidimos porque V. Exª, embora seja uma indicação do Bloco da Oposição, está acima da disputa “ideologizada”, programática, da disputa muitas vezes feroz que se estabeleceu nesta Casa no debate de idéias entre o Governo e a Oposição. E todos os Parlamentares do Bloco da Oposição não levantaram seus microfones para fazer um aparte a V. Exª. porque maior do que o nosso aparte é o silêncio que esta Casa, coletivamente, fez para ouvi-lo. É justamente no silêncio que nos encontramos, com as nossas histórias, com a nossa consciência. Portanto, a mais bela resposta que esta Casa dá a V. Exª. como sinal de respeito é, sem dúvida alguma, o silêncio que foi feito. E mais do que o silêncio, todos os parlamentares do Bloco da Oposição parabenizaram V. Exª. pela coragem, pela determinação de assumir uma candidatura extremamente difícil, uma candidatura que não estava respaldada pelas grandes personalidades de uma disputa desqualificada e “despolitizada” no seio da base de Governo. V. Exª. assumiu não para fazer uma disputa “ideologizada”, não para fazer uma disputa dos partidos da Oposição contra a base governista, mas para fazer o reencontro do Senado com a história que o povo brasileiro espera. Assim, parabenizo V. Exª., não somente em meu nome, mas em nome de todos os parlamentares da Oposição e, tenho absoluta certeza, em nome de muitos parlamentares que, talvez, não levantem o microfone, mas que, silenciosos com sua própria consciência, respeitam V. Exª.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Obrigado, Senadora Heloísa Helena. Vindo de V. Exª., esse aparte me agrada muito, porque costumo dizer que V. Exª. é um dos poucos que ainda costumam ser tomados por aquela santa ira contra as coisas erradas e as mazelas deste País.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Permite-me V. Ex.ª um aparte, eminente Senador Jefferson Péres?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB - AM) - Ouço-o com muita satisfação, eminente Senador José Eduardo Dutra.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador Jefferson Péres, eu também não ia aparteá-lo. Contudo, ocorreu-me fazer um registro ao ver entrar no plenário o Deputado Arthur Virgílio, seu conterrâneo e Líder do Governo no Congresso Nacional, e me lembrei de uma entrevista sua publicada na Folha de S.Paulo, na edição de ontem, que traz um cartaz feito por Henfil, que S. Exª guarda até hoje em seu gabinete. Indubitavelmente, se Henfil fosse vivo e, diante da atual conjuntura nacional, com o esgarçamento da ética, possivelmente faria publicar, em um dos jornais, um daqueles cartazes com a força de dez editoriais, com o bode orelana nas costas do Zeferino e a graúna nas costas do bode orelana, olhando para o horizonte e perguntando: “Você está vendo alguma esperança para o Senado em 2001?”. “Estou”, responderia a graúna. É o Senador Jefferson Péres. Muito obrigado.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB - AM) - Muito obrigado mesmo, Senador José Eduardo Dutra.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Permite-me V. Ex.ª um aparte, eminente Senador Jefferson Péres?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB - AM) - Concedo o aparte a V. Ex.ª, com muita alegria, ilustre Senador Roberto Requião, para encerrar de forma vulcânica.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Os vulcões, de tempos em tempos, são sujeitos a erupções. O Senado precisa de uma erupção vulcânica para discutir esse processo que elegerá o nosso Presidente. Essa passividade e tranqüilidade dos cemitérios não é própria a véspera e a antevéspera de uma decisão desta importância. Quero cumprimentá-lo, Senador, por ter posto a sua candidatura e cumprimentar o Bloco por tê-lo lançado. Está estabelecido o contraditório, a paz dos cemitérios foi quebrada. Cumprimento V. Exª porque tem as credenciais necessárias para esta disputa e quero colocar ao conjunto dos Senadores uma proposta para operacionalizar esta discussão, que não seja a discussão dos corredores, que não seja a discussão dos favores da distribuição das comissões, que seja uma discussão clara feita no Plenário. Eu proponho que V. Exª, indicado pelo Bloco, e o Senador Jader Barbalho, indicado pelo PMDB, se submetam a uma sabatina, como aqui fazemos aos Ministros dos Tribunais Superiores ou aos embaixadores indicados pelo Presidente da República. Uma sabatina no Plenário, trinta minutos para cada pretendente expor a sua plataforma, porque afinal eu tenho o desejo enorme de saber o que propõem os candidatos à Presidência do Senado, o do PMDB e V. Exª. A regra seria a regra regimental a que se submetem os ministros e os embaixadores. Se mais um candidato oficializar a sua candidatura teremos mais um personagem neste processo. Vinte minutos para cada um e a palavra dada aos Senadores conforme as regras regimentais. Senador Jefferson Péres, o PMDB lançou um candidato. Sou peemedebista, mas tenho um critério muito claro de decisão política. Em primeiro lugar, a minha consciência; em segundo lugar, o meu País; e, em terceiro lugar, o Partido. Tenho grande interesse em assistir à discussão das propostas dos candidatos à Presidência do Senado. Que não seja mais uma negociação de cargos e de indicações de Secretarias, mas que o Plenário participe e que os candidatos se posicionem com a mais absoluta transparência diante dos Senadores, apresentando seus programas de administração do Senado Federal nos próximos dois anos. Não sei como operacionalizo essa proposta - talvez em termos de um projeto de resolução -, mas, de qualquer forma, a apresento para a Mesa, para as Lideranças Partidárias e para o conjunto dos Senadores, neste momento. Parabéns por ter aberto o contraditório, no processo de escolha do nosso próximo Presidente, Senador Jefferson Péres.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Grato, Senador Roberto Requião. De minha parte, está aceita a sugestão. Em dia e hora designados, estarei aqui para expor o que eu pretendo fazer na Presidência do Senado.

            O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Tem V. Exª a palavra.

            O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Senador Jefferson Péres, desejo também me congratular com V. Exª. O seu discurso foi absolutamente perfeito, extremamente realista na análise do quadro que ora se avizinha. Lamento profundamente que o Presidente da República não faça realmente o que diz fazer. Sua Excelência diz, e manifesta publicamente, que está fora do processo da decisão dessa questão no Congresso Nacional, mas, na verdade, não está. O discurso de V. Exª, Senador Jefferson Péres, é como o que fazemos em muitos momentos nesta Casa: extremamente bem-intencionado, defendendo o interesse do povo brasileiro mas, quando em votação no Congresso Nacional, somos sempre, na sua grande maioria, derrotados. O Presidente Fernando Henrique Cardoso tem um poder enorme no Congresso Nacional, faz aqui o jogo de troca de cargos, dos favores que oferece e assim por diante. V. Exª tem dito - e é uma realidade - que para ganhar essa eleição deveria ter efetivamente o apoio do PFL; isso tornaria possível a sua vitória. Creio que há muitos Senadores do PFL que desejam ou admitem a possibilidade desse apoio a V. Exª. Mas é justamente aí, Senador Jefferson Péres, que o Presidente Fernando Henrique Cardoso entra na disputa e diz que se votar no Senador Jefferson Péres está votando contra o Governo. Então, o que deseja o Presidente da República? Por que um homem como V. Exª não serve aos interesses na Nação? Por que um homem como V. Exª, com os propósitos que tem, com a moderação que tem e que todos conhecemos, tendo sido eleito inclusive pelo Partido do Presidente, não merece o apoio presidencial? Seria melhor que Sua Excelência ficasse de fora. Entretanto, o Presidente da República mente à Nação brasileira, pois está dentro do processo e, lamentavelmente, contra V. Exª. Infelizmente, o Presidente manda em muitos Senadores desta Casa, o que torna a disputa desigual e difícil. Deixo registrada aqui essa verdade. O Presidente deveria assumir publicamente a sua posição, porque foi justamente quem determinou ao PFL: “Não aceitarei a indicação, senão o PFL estará fora do meu Governo”. Essa era a possibilidade que tínhamos da vitória de V. Exª nesta Casa. Faço este registro parabenizando V. Exª pela coragem e pela disposição. Espero realmente que o Presidente da República se comporte à altura, falando pelo menos a verdade e assumindo os seus atos e as suas responsabilidades.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Senador Ademir Andrade, prefiro continuar acreditando na promessa pública do Presidente da República de não interferir nesta Casa. Prefiro continuar sendo ingênuo, porque, além de ser institucionalmente impróprio a ingerência de um Poder em outro, creio até que mexeria com os brios dos Senadores do PFL. Tenho certeza que S. Exªs possuem brios como todos nós e não acredito que aceitassem esse diktat presidencial em forma de ameaça. Prefiro continuar crendo que o Presidente ficará distante.

            O Sr. Carlos Wilson (PPS - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Ouço V. Exª com prazer.

            O Sr. Carlos Wilson (PPS - PE) - Senador Jefferson Péres, antes de dar início ao aparte, peço desculpas à Senadora Heloisa Helena, porque nós, que formamos o Bloco de Oposição, assumimos o compromisso de não o apartear. Mas senti-me realmente desejoso de fazê-lo, porque tenho por V. Exª um profundo respeito. Chegamos a esta Casa juntos, em 1995, e fomos eleitos pelo mesmo Partido, o PSDB. Desde então, mantivemos sempre um relacionamento muito próximo. Todas as vezes, procurava ouvir a opinião de V. Exª. Fomos os dois únicos Senadores que, eleitos pelo PSDB, deixamos a Legenda mantendo sempre um alto nível de entendimento com os Colegas Senadores do PSDB. A nossa saída do Partido não deixou seqüelas. Lembro-me bem de que, numa das reuniões do Partido, comandada pelo Líder, Sérgio Machado, V. Exª já demonstrava o desconforto de pertencer àquela Legenda, porque sempre se posicionava com independência nesta Casa. Na hora da votação, o Senador Jefferson Péres sempre se manifestava de acordo com a sua consciência. Num dia, os jornais noticiaram: “O Presidente Fernando Henrique fica bastante incomodado com a posição de independência do Senador Jefferson Péres”. E V. Exª um dia falou: “Entre a minha consciência e fazer com que o Presidente Fernando Henrique Cardoso fique satisfeito com a minha postura, vou preferir sair do PSDB e continuar em paz com minha consciência, podendo olhar, com a maior dignidade, para os meus eleitores lá do Amazonas”. V. Exª, quando falou hoje, no seu discurso, referiu-se à sua maneira discreta. Essa maneira discreta é que toca com profundidade a todos nós. Porque, em todos os momentos importantes desta Casa, momentos duros, o Senador Jefferson Péres sempre era designado para compor a linha de frente para enfrentar situações de muitas dificuldades e sempre se comportou com a maior dignidade. Então, Senadora Heloisa Helena, eu não poderia deixar de dar este aparte, porque sei quem é o Senador Jefferson Péres. Convivemos com S. Ex.ª na Bancada do PSDB e aqui, no Senado Federal, cada dia, S. Ex.ª é uma aula de vida para todos nós. Então, o que importa agora não é saber o resultado da eleição da Presidência do Senado Federal. O que importa é que temos um Senador da dimensão do Senador Jefferson Péres.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Grato mesmo, Senador Carlos Wilson. Desde que nos encontramos, pela primeira vez, houve uma identidade muito grande entre nós. Nossos laços não são apenas respeitosos, são mais do que isso, são afetivos. Nossa identidade é tão grande que nem me lembro de ter havido discrepância nas nossas posições dentro da Bancada do PSDB. Pode estar certo de que V. Ex.ª é um dos bons amigos que tenho nesta Casa.

            O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - V. Exª tem a palavra, para encerrar.

            O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - Senador Jefferson Péres, indiscutivelmente estamos vivendo um momento muito delicado aqui no Senado Federal e, por que não dizer, no Parlamento brasileiro. Estamos vivendo um momento de turbulência política nesta Casa. Em um momento como este pode haver dois tipos de resultantes: avanço ou retrocesso. A disposição de V. Ex.ª, lastreada no apoio que o Bloco ofereceu a seu nome, a sua coragem para ganhar ou perder são muito importantes na construção de uma boa política. Isso nada tem a ver com ingenuidade e, sim, com politização. Para mim, que sou Senador no início de mandato, é muito triste ver um movimento político pobre dentro das Casas Legislativas. É muito triste ver o jogo do rolo compressor onde as idéias são deixadas de lado e os questionamentos não são sequer ouvidos por vezes. Parece-me que V. Ex.ª está cumprindo o papel de transformar essa turbulência política em turbulência de construção democrática. Quero parabenizá-lo pela coragem e determinação demonstradas em seu pronunciamento. Eu, que estou a seu lado nessa caminhada, surpreendi-me mais uma vez com V. Ex.ª . E creio que o Plenário também. Este Plenário, que dificilmente pára para ouvir um colega, hoje fez silêncio para ouvi-lo. A Senadora Heloisa Helena fez questão de registrar isso. Isso é um sinal claro. Não sabemos se vamos conseguir construir convergências políticas. Mas o silêncio mostra que muita gente não está em paz com a sua consciência nesse processo. Acho que há tempo. V. Exª deu um bom passo ao apresentar suas idéias, que são nossas também, com tranqüilidade. Vamos tentar, até quarta-feira, transformar essas idéias numa ação política de Mesa. Parabéns! Em meu nome, em nome do Bloco de Oposição, em nome do Senador Roberto Freire, que não está aqui, mas está presente nas minhas palavras, quero me congratular com V. Exª. Tenho certeza de que a Nação, que está nos acompanhando neste momento, tenho certeza de que os telespectadores da TV Senado - até porque esse processo transbordou; transbordou as paredes do Senado da República - estão satisfeitos de ver um homem apresentando suas idéias e propostas tentando contribuir para construir um novo caminho para o Parlamento brasileiro. Parabéns, Senador Jefferson Péres. Fico satisfeito e orgulhoso do candidato que colocamos neste processo. Muito obrigado.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Grato, Senador Paulo Hartung.

            Outro dia eu perguntava a um colega desta Casa como o PSDB deu -se ao luxo de perder um Parlamentar do quilate de V. Exª.

            O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Concedo o aparte a V. Exª.

            O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Senador Jefferson Péres, realmente eu não tinha a intenção de aparteá-lo. Não tinha antes do seu discurso e, muito menos, após o seu discurso. Sua densidade, sua seriedade, a concisão e clareza com que colocou as questões dispensaria qualquer aparte. Fala muito mais do que qualquer acréscimo que qualquer um de nós pudesse dar. Entretanto, não resisto ao impulso de ressaltar uma observação que V. Exª fez no seu discurso que me parece o aspecto decisivo dessa escolha que vamos ter que fazer. A escolha no Senado não se está processando num período normal da vida política do País, mas num período muito especial, onde a consciência do Brasil, que espera ainda, talvez inocentemente, uma transformação revolucionária na vida política do País, olha para esta Casa com uma expectativa ansiosa. Espero que a Casa dê uma resposta a essa expectativa dentro, precisamente, das linhas a que V. Exª se referiu. Entretanto, o especial que se deve considerar é exatamente o momento muito particular de descrença nas instituições do País em que vamos tomar essa decisão. Espero que os nossos nobres Colegas, especialmente os nobres Colegas do PMDB, levem isso em consideração. Repito: especialmente os nobres Colegas do PMDB devem levar isto em consideração, sem fazer qualquer outro julgamento de natureza pessoal: o momento político que vivemos, a natureza política desta Casa, a sua importância na vida política do País. Quero cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Obrigado, Senador Roberto Saturnino, V. Exª que desde que chegou a esta Casa me impressionou pela sua seriedade, pela sua fidelidade, pelas idéias que sempre teve e que jamais renegou, embora sabendo atualizá-las. V. Exª é uma das referências desta Casa. Muito grato por sua intervenção.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Jefferson Péres?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Senador Bernardo Cabral, não posso ceder-lhe o aparte, porque o Senador Pedro Simon levanta a mão e me pede um aparte. V. Exª encerrará os apartes. Concedo o aparte ao Senador Pedro Simon, com muito prazer.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador Jefferson Péres, considero correta a decisão de V. Exª: quem deve encerrar os apartes é o Senador Bernardo Cabral, porque representa, pela sua capacidade, pela sua amizade, a síntese de todos nós. V. Exª disse, e muito bem, que esta candidatura à Presidência do Senado e da Câmara ocorre numa época que não é normal, de uma forma que não é normal, num período que não é normal. A rigor, as eleições de Câmara e Senado - assim como a dos meus tempos de Assembléia Legislativa - sempre foram assim. Sempre houve um certo tumulto, uma certa discussão, um certo debate, uma certa surpresa de última hora. Vou relatar um fato ocorrido no Rio Grande do Sul. O PTB tinha maioria e era garantido que já estava eleito o Presidente. O Presidente veio de roupa nova e com um discurso escrito, e muito bem, a dez mãos. Aí mudou um voto. O Braga Gastal, do Partido Libertador, todo mal vestido, porque era um homem de rádio, passou e disse: “Pelo menos me empresta o discurso para eu ler; tu estás com o discurso pronto.” Essas coisas acontecem, mas este ano foi diferente. O espetáculo que estamos vendo não soma para ninguém: não soma para o Congresso, nem para o Senado, nem para a Câmara, nem para qualquer Parlamentar individualmente, não soma para ninguém. E no meio desse tumulto que há algum tempo estamos vivendo, de repente vem o discurso de V. Exª, que soma para todos. V. Exª se dignifica, dignifica a Casa, dignifica o debate, e queira Deus que, a partir desse pronunciamento, nós passemos a viver uma nova realidade. O opositor de V. Exª deverá vir à tribuna - e espero que use o linguajar de V. Exª - defender suas idéias, seu pensamento, seja o que for. O seu estilo é de uma elegância impressionante, é poético, é profundo, e as palavras são medidas. Eu fiquei profundamente impressionado. Há muito tempo Rui Barbosa não tinha um sucessor no tamanho e no conteúdo das palavras como tem hoje na pessoa de V. Exª da tribuna. V. Exª foi de uma felicidade extrema. Eu tenho o maior carinho por V. Exª, pelas suas idéias, pelo seu pensamento, pela sua independência. V. Exª era do PSDB. Saiu. Nem por isso V. Exª, quando vai à tribuna, é daqueles que faz uma oposição sistemática ou oferece um apoio nesse sentido. V. Exª tem independência total e absoluta, vota de acordo com a sua consciência. Muitas vezes, eu que tenho muita identidade com V. Exª, o procurei para dizer: Mas como V. Exª vai votar essa matéria? E V. Exª disse: - Eu penso assim. Portanto, acho que hoje esta Casa viveu um grande dia. E queira Deus que a partir de hoje esta Casa e a outra sigam este exemplo. Veja como V. Exª falou o que esta Casa deseja pelo silêncio com que foi ouvido, os apartes que foram dados a V. Exª, independente dos que vão votar em V. Exª. E V. Exª disse bem, independente de outros que, por várias razões, não poderão votar em V. Exª, mas que gostariam de fazê-lo. V. Exª conquistou a unanimidade, no carinho, no respeito, na seriedade. Esta Casa vive hoje um grande dia com o pronunciamento de V. Exª. Que este dia sirva para retornarmos ao rumo tradicional, esquecendo os últimos dias, que, cá entre nós, foram trágicos.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Grato, Senador Pedro Simon, mas realmente me comparar a Rui Barbosa é uma hipérbole - atribuo à sua retórica. Mas, se eu for eleito Presidente do Senado e instituir o Estado da União, sugerida pelo Senador Eduardo Suplicy, quem sabe em 2003 V. Exª não esteja aqui fazendo a leitura da sua mensagem para a Nação brasileira?

            O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL - TO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Concedo o aparte a V. Exª e depois, definitivamente, ao Senador Bernardo Cabral.

            O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL - TO) - Veja V. Exª, Senador Jefferson Péres, a dificuldade que V. Exª tem para terminar vosso pronunciamento. Eu não iria, Sr. Presidente e meus nobres Pares, fazer apenas mais um aparte se não houvesse, ao menos no meu entendimento, algo do qual senti falta. Conversei com alguns colegas sobre o que diz a imprensa diariamente a respeito do período que estamos vivendo. Trata-se de um momento importante, ocasião em que as Casas decidem os rumos, os nomes, a Presidência, a instituição, tudo dentro do período da convocação extraordinária. Li nos jornais que serão R$ 9,5 milhões jogados no ralo porque estamos cuidando, cada partido de sua forma, de interesses partidários, não dos desta instituição, muito menos dos interesses desta Nação. Se há algo que não desejo é estar melhor na opinião pública do que meus pares, Deputados e Senadores. No entanto, sinceramente, creio que não vamos chegar a produzir uma pauta, no período da convocação extraordinária, que satisfaça a Nação, a opinião pública e a imprensa. Nada que votarmos terá sido importante, até porque o óbvio irá acontecer. No momento em que os partidos concentram suas atenções em algo importante para a Nação, a Presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, vêm os itens da convocação, a necessidade de regulamentarmos medidas provisórias. Certamente, não os votaremos nesse período, em um quadro de mudanças, como as que ocorreram na Câmara com meu próprio Partido. Sr. Presidente, fiquei imaginando que seria, no mínimo, ridicularizado, e não faria isso - como disse - para ficar bem diante da opinião pública, porque poderia haver uma proposta das duas Casas, para que não recebêssemos por essa convocação extraordinária, até para não estarmos premidos por essa necessidade de votarmos algo importante, o que não conseguiremos fazer. Não somos culpados pela convocação. É uma obrigação constitucional. Mas também não temos obrigação de receber por esse trabalho, quem sabe o próprio Fundo de Combate à Pobreza. Sr. Presidente, não sei, repito sinceramente aos meus colegas que essa situação me incomoda profundamente, diariamente ver o Senado e a Câmara, instituições importantes da nossa sociedade, cobradas porque vão desperdiçar, jogar no ralo R$9,5 milhões. Dentro disso tudo, nobre Senador Jefferson Péres, vim assistir o seu pronunciamento, e sabe bem V. Exª e os demais Pares desta Casa que o meu partido se reunirá para decidir os seus rumos, não posso me antecipar nem tampouco prever qual será a decisão, mas posso afirmar, Senador Jefferson Péres, não há resultado que possa desfavorecer a biografia de V. Exª. Muito obrigado.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Obrigado, Senador Siqueira Campos. Concordo com V. Exª sobre a frustração que vai causar à sociedade essa convocação extraordinária, mas creio que o importante é adotarmos mudanças institucionais que no futuro tornem desnecessárias essas convocações.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Jefferson Péres, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Para encerrar, ouço meu velho amigo e conterrâneo Bernardo Cabral.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Caro colega Jefferson Péres, quando a candidatura de V. Exª foi lançada, os jornalistas da minha terra me procuraram - e lá se vão uns quinze dias - e eu disse a eles que esperava, primeiro, que meu Partido definisse se apresentaria ou não candidato à Presidência do Senado; e o fiz por uma questão de lealdade partidária. Vejo que meu Partido não tem candidato, pelo menos até agora oficial, à presidência da Casa e, conseqüentemente, poderá indicar um candidato fora dos seus quadros. Ao dizer isso, respondia que pediria que meu Partido me liberasse para votar com meu Estado. Por quê? V. Exª nasceu no mesmo mês e ano do meu nascimento. Somos, portanto, diplomados na mesma faculdade. Tive apenas o desprazer de ter nascido oito dias após V. Exª, senão teria me antecipado. Fui a casa de V. Exª quando meu Partido lançava minha candidatura ao Senado e o convidei, por duas vezes, para formarmos a dupla para concorrer ao Senado. Àquela altura, V. Exª dizia que preferia candidatar-se a deputado federal mudando, depois, para alegria do Senado Federal. Senador Jefferson Péres, quero dizer a V. Exª, que me conhece desde os bancos escolares, que nenhuma liderança se afirma pela omissão. Não me vou omitir. Vou pedir ao meu Partido que me libere e já dei conhecimento, ontem, ao seu Líder maior de que iria fazê-lo, porque não posso votar contra alguém que, como eu, representa o meu Estado. E aqui devo ressaltar a figura do nosso companheiro Gilberto Mestrinho, para que não pense que, com a minha atitude, o deixo mal, no sentido de que S. Exª havia me dito, fechada a questão no seu Partido, tendo S. Exª um candidato, não poderia ser outro o seu caminho. Quero falar por mim, com a autorização que teria pedido à Liderança do meu Partido, se tivesse ocorrido a reunião às 12 horas, mas que haverá à noite, para que V. Exª saiba - e aqui não quero, com a omissão de alguns e o silêncio de outros, partilhar o que não me parece oportuno. O que me parece oportuno é que fique em paz com a minha consciência de que não nasci no Amazonas por acaso. O meu voto, portanto, será para V. Exª e para o Estado do Amazonas.

            O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) - Muito obrigado, Senador Bernardo Cabral. O seu gesto só o engrandece. V. Exª, no Amazonas, está em campo político oposto ao meu e, provavelmente, vai concorrer comigo, em 2002. Ao manifestar esse apoio a mim, publicamente, demonstra que não é movido por questões menores, só os medíocres fazem isso, não é o caso de V. Exª.

            Muito obrigado.


            Modelo14/26/246:13



Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/02/2001 - Página 416